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…….. . Historias & Historinhas
O Tomás
que não acreditava no Pai Natal Era
uma vez um menino que não acreditava no Pai Natal e fazia troça de todos os
outros meninos da escola, e dos irmãos e dos primos, e de qualquer pessoa que
dissesse que o Pai Natal existia mesmo e vivia no Pólo Norte. —
Isso são histórias para bebés — dizia o Tomás. E
quando via alguém a escrever uma carta ao Pai Natal, tentava agarrar o papel
e, se conseguia, rasgava-o mesmo! E dizia que não era nada um dos anões do
Pai Natal que vinha buscá-la. O
Tomás ia para a escola todos os dias de autocarro. A mãe levava-o até à
paragem e, se fosse preciso, ele ficava lá sozinho um bocadinho à espera que
o autocarro passasse. Naquele dia foi assim que fez. Mas estava tão distraído
que nem reparou que o autocarro era encarnado e não cor-de-laranja. E quando
ia mostrar o «passe» ao condutor, deu um salto de susto: — O
que é que faz uma rena de nariz encarnado a conduzir um autocarro!? — gritou
ele. A
rena é que não ficou nada incomodada com a má-criação do Tomás e respondeu a
rir: —
Sempre guiei este autocarro! —
Mas para onde é que ele vai? — quis saber o Tomás, já muito aflito. —
Para o Pólo Norte, claro. Temos de que levar pessoas de todo o mundo para
ajudar a tratar dos presentes para o Natal, e por isso vimos buscá-las a
casa, porque há muito poucos aviões para lá… e são muito caros. —
Mas o Pai Natal não existe e o Pólo Norte também não! — exclamou o Tomás,
furioso, a bater com força com as mãos no varão onde as pessoas se seguram
para não cair. Aí
ouviu-se uma gargalhada enorme, que encheu o autocarro todo. O Tomás virou-se
para trás e viu que os lugares estavam todos cheios de pessoas, de duendes e
ursos, e de anões e de rapazes e raparigas como ele. Iam todos para o Pólo
Norte ajudar o Pai Natal, e achavam que a frase do Tomás era a mais idiota
que já tinham ouvido: —
Ah, és daqueles que não acreditam em nada que não vejam — disse um duende, de
orelhas em bico e chapéu verde, enfiado quase até aos olhos. —
Também não precisas de esperar muito para acreditar, porque daqui a duas
horas estamos lá — acrescentou um anão, de picareta pousada no banco do lado. O
Tomás pensou: «Desde esta história dos atentados, não deviam proibir de
entrar nos transportes públicos as pessoas que trazem picaretas de pontas
afiadas?!» Mas
calou-se e não disse nada, porque se havia coisa que detestava, era que
fizessem troça dele. Fazer troça dos outros, como fizera com todos os que
acreditavam no Pai Natal, era divertido, mas ser gozado era completamente
diferente… Sentou-se
no primeiro banco que viu vazio. Ufa! Ainda bem que não tinha uma daquelas
criaturas sentadas ao lado a seringar-lhe o juízo. Quando
um urso polar pequenino se virou para trás e lhe deitou a língua de fora, o
Tomás ainda explodiu: —
Quando a minha mãe disser à polícia que desapareci, vocês vão ver!!! Mas
aí a gargalhada ainda foi maior: — A
polícia não anda atrás de meninos que estão à guarda do Pai Natal! — disseram
todos em coro. E o
Tomás achou mesmo melhor não voltar a abrir a boca. Foi
olhando pela janela e percebeu que o autocarro já não tinha as rodas na
estrada, mas voava pelos céus. O
dia tinha-se transformado em noite e o Tomás, que sabia alguma coisa de
geografia, percebeu que estavam a ir para muito longe. Lá ao longe via neve,
e estrelas… quando na terra dele ainda eram hora de estar na escola. —
Pólo Norte, última paragem! — ouviu-se a voz da rena-motorista a gritar. Toda
a gente se levantou e começaram a empurrar-se uns aos outros, tal era a
pressa de sairem. O
Tomás esperou que se fossem embora e ficou ali sem saber o que fazer. Talvez
o autocarro voltasse agora para Portugal e passasse outra vez na rua dele… E
assim ele voltava para casa, sem se assustar mais. Porque o Tomás estava
assustado… E um bocadinho envergonhado. Mas
não teve sorte nenhuma, porque, quando levantou os olhos, viu o Pai Natal em
pessoa, de pé, parado ao lado do banco onde estava sentado. —
Não me vens ajudar a fazer presentes de Natal? — perguntou o senhor de barba
muito branca. «Realmente,
parece o Pai Natal», pensou o Tomás, «se o Pai Natal existisse, claro». E
porque o Tomás era teimoso e não gostava de dar o braço a torcer (quem é que
gosta?), ainda estendeu a mão para puxar a barba, não fosse isto tudo ser um
teatro e o Pai Natal um daqueles velhos que trabalham nos centros comerciais.
Mas a barba não saía, e o Tomás percebeu que nada daquilo era um sonho e que
estava mesmo no Pólo Norte. E que aquele era o Pai Natal de carne e osso. E
como o Tomás era casmurro, mas não era burro, percebeu que se tinha enganado
e que, já que estava ali (e ainda por cima não tinha de ir à escola!), o
melhor era divertir-se o mais que podia. Durante muitos dias, ajudou a fazer
e a embrulhar presentes para todos os meninos do mundo, e ficou muito amigo
de duendes, anões, ursos e renas, e de todas as outras criaturas estranhas
que por ali apareciam. Mas,
uma noite, não conseguiu adormecer. Não queria dizer nada a ninguém, mas
estava triste porque sabia que não tinha mandado nenhuma carta ao Pai Natal e
que, por isso, não ia receber presentes. — E
até é bem-feito, para ver se aprendo a não ser estúpido — pensou baixinho o
Tomás, cheio de remorsos por ter rasgado as cartas dos irmãos mais pequenos e
de ter troçado tanto dos amigos. Mas,
na manhã seguinte, o Urso Polar Grande, que era tio dos mais pequeninos, veio
ter com ele às escondidas e deu-lhe um papel e um lápis: —
Escreve depressa a tua carta, que eu depois meto-a no cesto das cartas que o
Pai Natal ainda não abriu. O
Tomás nem queria acreditar na sorte que tinha! E escreveu, escreveu e
escreveu, porque sabia que era tudo verdade. Na
noite de Natal, o Pai Natal levou-o com ele no trenó e deixou-o cair pela
chaminé com os presentes para a mãe, para o pai e para os irmãos. A mãe nem
ligou aos presentes dela, só queria pegar no Tomás ao colo e enchê-lo de
beijinhos. O Tomás dizia: —
Blhec, mãe, não me lambuze todo… — mas continuava muito encostadinho a ela. A
mãe fez-lhe um leite com chocolate quente e, quando ia metê-lo na cama,
disse: — E
já foste ver se o Pai Natal te deixou alguma coisa na tua Meia de Natal? –
(nesta casa punham meias ao fundo da cama, em lugar de sapatos na chaminé). Mas
o Tomás abanou a cabeça e respondeu: —
Acho que não tenho nada, porque o Pai Natal deixou-me cá com todos os presentes
e eu não vi nenhum para mim. Só
que, quando olhou para a meia, ela estava cheia de presentes até acima. O
Tomás ficou tão comovido (que é quando os olhos picam de lágrimas e um nó bom
aperta a garganta), que foi a correr para a janela para ver se ainda ia a
tempo de agradecer ao Pai Natal. Lá
longe, viu um trenó e um homem de barbas brancas a dizer-lhe adeus. O Tomás,
naquela excitação, chamou a mãe: —
Mãe! Mãe! É o Pai Natal! A mãe consegue vê-lo? —
Claro que consigo — disse a mãe. E
conseguia mesmo. Isabel
Stilwell, Histórias para contar em 1 minuto e ½, Lisboa, Verso da Kapa, 2005. Adaptado. Para: - Continuar a leitura em: Histórias - Voltar
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