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…….. . Histórias & Historinhas Charlie, o limpa-chaminés e o seu gato
Farrusco Dedicado a todas as crianças que nunca
puderam celebrar o Natal Era
uma vez um rapazinho chamado Charlie, que trabalhava como limpa-chaminés.
Manter as chaminés limpas, para que o fogo que aquece a casa das pessoas
possa arder forte e claro, é um trabalho sujo e difícil. Os limpa-chaminés
têm de ser pequenos para conseguirem rastejar pelo fumeiro das chaminés e
tirarem toda a fuligem e cinza; mas Charlie não se importava com a
dificuldade do trabalho, pois diz-se que os limpa-chaminés trazem a sorte com
eles e assim sendo, todas as pessoas que conhecia eram muito simpáticas para
ele. Sempre
que ia pelas ruas com as suas escovas e vassouras, aproximavam-se pessoas que
lhe tocavam para que ele lhes trouxesse sorte, ou então gritavam-lhe: “Charlie,
quando é que podes vir limpar a minha chaminé?” Ele
respondia de seguida: “Talvez para a semana, agora tenho muito que fazer.” Charlie
estava sempre muito ocupado com as chaminés. Charlie
não tinha bem uma casa à qual pudesse chamar a sua casa, pois ele era órfão e
vivia com o seu gato Farrusco na arrecadação do padeiro Tibbs. Para poder
viver ali, Charlie varria o chão, limpava o forno do pão e dos bolos e a
chaminé da padaria. O trabalho de Farrusco era caçar os ratos que se queriam
enfiar nos sacos de farinha do padeiro Tibbs. O
padeiro Tibbs era um homem simpático sempre com um sorriso no rosto, e sempre
que sobrava um pedaço de bolo ou de torta, dava-o a Charlie para o jantar. Charlie
estava sempre tão ocupado, que nunca tinha tempo para brincar. Todas as
manhãs tinha que se levantar muito cedo para limpar o forno e sair logo a
seguir para varrer as chaminés. Quando tinha trabalho do outro lado da cidade
onde ficavam as casas mais bonitas, parava por vezes um momento, para ficar a
olhar para as crianças que patinavam no lago gelado do parque. “Ai,
ai!” pensava ele, “gostava tanto de poder ficar aqui um bocadinho a andar de
patins…” No
entanto havia sempre demasiado trabalho para ele fazer; para além disso uns
patins de gelo custavam muito dinheiro e Charlie não ganhava muito por cada
chaminé que limpava. Chegava apenas para comprar escovas novas e roupa
quente. Assim,
tinha que se contentar em ver as outras crianças patinar e sonhar que um dia
também ele o poderia fazer com os seus próprios patins. Um
dia, quando mais uma vez observava as crianças, uma rapariga afastou-se das
outras e deslizou até ao lugar onde ele estava. “Olá”,
disse ela alegremente, “como te chamas?” “Charlie”
respondeu ele, “e tu?” “Rebecca”,
retorquiu ela, “mas os meus amigos chamam-me Becky. Já te vi aqui muitas
vezes. Tu és um limpa-chaminés, não és?… Posso tocar-te para que me dês
sorte?” Sorridente
estendeu a sua mão e tocou-lhe na manga. “Porque
é que não vens patinar connosco? Os meus amigos iam gostar de te conhecer.” “Becky”
disse ele atrapalhado, “eu preciso de trabalhar e além disso não tenho
patins.” “Podes
experimentar os meus”, propôs-lhe ela, “servem-te de certeza por cima das
botas e de qualquer modo eu preciso mesmo de descansar, pois estive a patinar
toda a manhã.” “Não
te importas mesmo?” perguntou Charlie visivelmente contente. “Claro
que não”, assegurou-lhe ela, enquanto soltava os cordões das suas botas. No
momento em que Charlie ia apertar os patins apareceu uma senhora que os olhou
de modo severo. “Vem
Rebecca. Não te disse já que não deves falar com estranhos e que não podes
emprestar os teus patins?” “Mas
mãe…”, começou Becky a protestar. “Sem
desculpas, por favor”, interrompeu a mãe bruscamente, “e agora despacha-te,
senão chegamos atrasadas à modista. Além disso, minha menina, não quero que
tornes a falar com este rapaz de aspecto tão desleixado!” “Desculpa
Charlie”, segredou-lhe Becky com voz triste, “a mãe não se anda a sentir
muito bem, ela não quis dizer aquilo. Não fiques zangado com ela.” “Está
bem”, disse Charlie com um ar compreensivo. No entanto a mãe já tinha levado
Becky pela mão antes dele ter tempo de dizer mais alguma coisa. “Espero que a
Becky não venha a ter problemas por minha causa”, pensou Charlie enquanto
olhava para as duas, “mas eu tinha gostado mesmo de ter experimentado os
patins.” O
Natal estava à porta e Charlie tinha ainda mais trabalho que o habitual. O
padeiro Tibbs tinha imensas encomendas para os dias das festas e por isso
Charlie tinha agora muito mais que limpar na padaria do que noutra época do
ano. Muitas pessoas também queriam as suas chaminés bem esfregadas antes das
noites frias de Inverno, para que o lume pudesse arder com mais força.
Charlie andava tão ocupado, que ainda não tinha tido oportunidade de ir ver
de novo as crianças andarem de patins, mas enquanto trabalhava, imaginava o
dia em que juntamente com Becky poderia patinar no lago gelado – nos seus
próprios patins! Depressa
chegou a noite de Natal e Charlie pendurou a sua meia por cima do grande
forno da padaria. “Eu
não queria muitas prendas querido Pai Natal,” disse Charlie em voz alta, “só
adoraria ter uns patins para o gelo.” De
seguida, deu um prato de leite ao Farrusco e saltou para a sua cama feita de
sacos de farinha. Enquanto
do céu chuviscavam flocos de neve e as doze badaladas soavam na torre da
igreja, ouviu-se bater devagarinho na janela da arrecadação. Charlie
sentou-se, completamente desperto, e viu pela janela uma cara com barbas
brancas onduladas que lhe sorria. Era o Pai Natal em pessoa!! Com
um sorriso de grande satisfação, o Pai Natal saltou pela janela para dentro
do quarto e sentou-se aos pés da cama de Charlie. “Eu
pensava que tu chegavas muito devagarinho e que não querias que nenhuma
criança te visse” disse Charlie muito admirado. “Pois”
replicou o Pai Natal sorridente, “normalmente faço isso, mas esta noite quis
vir directamente para aqui e falar contigo, Charlie.” “…
Mas sobre o quê?” perguntou Charlie muito excitado. O
Pai Natal alisou a barba, olhou para o rapaz e disse com um piscar de olhos: “Bem,
meu homenzinho, quando antigamente pelo Natal distribuía os meus presentes,
ficava sempre com as minhas roupas vermelhas todas sujas de fuligem das
chaminés por onde tinha que passar. No entanto, desde que tu estás na cidade
e limpas as chaminés, as minhas roupas chegam ao fim do meu trabalho tão
limpas como quando eu comecei; por isso pensei em passar aqui e
agradecer-te.” Charlie
olhava fixamente para o Pai Natal com os olhos muito abertos. “Tu vieste para
ME agradecer?”…. “Sim,
foi para isso que eu vim”, confirmou o Pai Natal, “e agora tenho ainda outra
surpresa para ti. O que é que tu desejas mais do que tudo?” “Bem,
querido Pai Natal, se não for pedir muito”, disse Charlie timidamente, “então
gostava muito de ter uns patins…” “Desejo
concedido”, disse o bem-disposto Pai Natal, e puxou do seu saco de presentes
o par de patins de gelo mais bonito e reluzente que Charlie alguma vez tinha
visto. “Oh!”,
gritou Charlie, “muito, muito obrigado querido Pai Natal, esta é a prenda
mais maravilhosa que já recebi em toda a minha vida.” “Ainda
tenho aqui mais alguma coisa”, disse o Pai Natal, chegando para perto do
rapazinho um pacote embrulhado em papel colorido. Charlie
abriu o presente muito ansioso e encontrou lá dentro um casaco lindo e
quentinho com um gorro de lã a condizer do qual pendia um pompom gigante.
Além disto, ainda descobriu um cachecol e umas calças novas. Charlie estava
tão emocionado que não conseguia dizer nada. Farrusco roçava-se por entre as
botas do Pai Natal que olhou para baixo e sorriu. “Eu
também não me esqueci de ti, querido amigo” disse ele tirando um pacotinho do
seu saco. “Aí tens um peixe e uma lata de natas, é um miminho de Natal,
Farrusco.” “Agora
Charlie, tenho mesmo de me ir embora”, despediu-se o Pai Natal. “Ainda tenho
muitas prendas por distribuir. Feliz Natal e mais uma vez obrigado por
manteres as chaminés tão limpinhas.” “Muito
obrigado…”, conseguiu apenas responder Charlie, pois o simpático Pai Natal já
tinha pulado de novo pela janela e desaparecido no meio dos flocos de neve.
Charlie ainda não conseguia acreditar no que ali se tinha passado, embora os
patins reluzentes, assim como a roupa nova, ali estivessem lado a lado em
cima da cama. “Oh Farrusco”, exclamou ele, “mas que prenda tão linda!” Farrusco
ronronou parecendo estar totalmente de acordo, olhando para a lata das natas
e para o peixe que o Pai Natal lhe tinha lá deixado. “Ainda é muito cedo para
receberes a tua prenda, Farrusco!” explicou Charlie, pegando no pacotinho.
“Isto é para amanhã, para o teu jantar de Natal”, e dizendo isto colocou o
peixe e as natas no armário da arrecadação. “Agora temos que voltar a dormir,
pois amanhã vamos ter um dia muito especial.” Primeiro
Charlie não adormecia de maneira nenhuma, porque não conseguia deixar de
pensar no seu maravilhoso presente, mas por fim adormeceu profundamente e
sonhou com toda a diversão que iria ter a andar de patins no lago gelado. No
dia de Natal, Charlie foi acordado pelas harmoniosas batidas do relógio da
igreja. Saltou da cama e Farrusco cumprimentou-o com um miado esperançoso. “Feliz
Natal, Farrusco”, disse Charlie. Farrusco
miou mais uma vez, e olhou com desejo para o armário, onde estavam o peixe e
as natas. “Está
bem”, consentiu Charlie risonho, “vou dar-te já. Também não faz mal nenhum se
fizeres a tua refeição especial de Natal logo ao pequeno-almoço.” Deu
o presente ao gato, encheu uma tina com água quente e entrou lá para dentro.
Enquanto tomava banho, cantou todas as músicas natalícias que conhecia de tão
contente que estava naquela linda manhã de Natal. Depois
do banho, vestiu as suas roupas novas, pegou nos seus patins novos cintilantes
e cheio de entusiasmo, correu todo o caminho para o lago. Quando
lá chegou, já lá estavam todas as outras crianças e Becky estava nesse
momento a pôr os seus patins. “Feliz Natal, Becky”, cumprimentou-a Charlie
quando chegou ao pé dela. “Oh,
és tu Charlie”; exclamou ela espantada. “ Feliz Natal. Não te tinha
reconhecido nas tuas roupas novas… e também tens uns patins!” alegrou-se ela.
“Agora já podes patinar comigo no lago.” Enquanto
Charlie atava os seus patins novos, ia contando a Becky a visita do Pai
Natal. Quando acabou a sua história, Becky disse-lhe que estava muito feliz
por ele. Entretanto os patins já estavam bem presos e Charlie estava
preparado para a sua primeira tentativa. “Agarra-te
bem à minha mão”, sugeriu-lhe Becky, “porque no princípio talvez vá ser um
bocadinho difícil para ti.” Contudo,
Charlie só esteve um bocadinho bambo das pernas e em pouco tempo já deslizava
tão bem como todas as outras crianças. Charlie
e Becky estavam a divertir-se tanto, que não repararam como o tempo passou.
De repente, Becky ouviu alguém chamar o seu nome. Eles olharam à sua volta e
viram um senhor de pé na margem do lago, que lhes acenava. “Ai
meu Deus!” exclamou Becky. “Aquele é o meu pai e eu tinha prometido chegar
hoje cedo a casa para comer, mas o tempo voou enquanto patinávamos.” “Espero
que agora o teu pai não esteja zangado” disse Charlie receoso. “Não,
não”, tranquilizou-o Becky, enquanto ambos se dirigiam para o seu pai. “Ele
compreende. O meu pai é muito querido. A minha mãe também é muito simpática”
assegurou-lhe a menina. “Ela não costuma ser tão brusca como foi há dias
quando a viste pela primeira vez, Charlie. Só que às vezes ela enerva-se
muito… eu penso que tem a ver com o meu irmão mais novo. Sabes, ele morreu e
a mãe sente tantas saudades dele, que quando está triste diz coisas que não
queria.” “Eu
entendo isso muito bem”, esclareceu Charlie com muita pena. “Estou
a ter uma ideia fantástica” disse Becky muito excitada. “Porque é que tu não
vens passar este Natal connosco, Charlie? Aí podes ver por ti próprio como a
mãe é uma pessoa maravilhosa.” “Eu
não posso fazer isso” gaguejou ele. “Eu só ia incomodar-vos.” “Oh,
por favor diz que sim, Charlie”, implorou ela. “Eu vou perguntar ao pai, mas
de certeza que ele não tem nada contra.” Chegaram
então ao local onde o pai de Becky estava. “Olá Rebecca” disse o pai
sorridente. “Estava aqui a pensar que hoje não querias o jantar de Natal!”
Mas Becky sabia que ele só estava a brincar. “Pai,
este é o meu amigo Charlie”, disse Becky. “Ele pode ir passar o Natal
connosco…? Sabes, ele não tem família e não pode celebrar o Natal com ninguém
porque vive na padaria e…” “Não
vás tão depressa, senhorita”, pediu o pai de Becky com ar divertido. “Agora
conta-me tudo outra vez, devagar, e pela ordem certa.” Então
Becky contou de novo a história de Charlie ao pai e quando acabou o pai
sorriu. “Claro que podes vir comer connosco, Charlie, és muito bem-vindo. Mas
agora vamos depressa, senão o peru ainda fica frio.” O pai de Becky levou os
dois pela mão e apressaram-se todos a ir para casa. Quando
chegaram, Becky correu para o quarto para vestir o seu vestido mais bonito,
enquanto o pai foi ter com a mãe para lhe dizer que Charlie iria ficar para o
jantar. Enquanto isto se passava, Charlie esperava na sala. Pouco
depois, a mãe de Becky entrou na sala e quando ela se debruçou sobre ele e o
apertou contra ela, Charlie viu que tinha lágrimas nos olhos. “Bem-vindo à
nossa casa, Charlie” disse ela suavemente, “e Feliz Natal… Nenhuma criança
deveria passar um Natal sozinha.” Depois,
pegou-lhe na mão e seguidos por Becky e pelo pai desta, entraram todos na
sala de jantar mais bonita que Charlie alguma vez tinha visto. Num
dos cantos estava uma maravilhosa árvore de Natal enfeitada e quando Charlie
a viu, estremeceu dizendo: “Eu não tenho prendas para ninguém, mas posso vir
amanhã e limpar a chaminé de graça.” “Não
te preocupes com isso” disse-lhe a mãe de Becky, pondo-lhe o braço por cima
dos ombros. “O teu sorriso é a melhor das prendas para nós.” Logo
a seguir sentaram-se todos à mesa, o pai de Becky trinchou o peru e comeram a
melhor refeição que Charlie alguma vez tinha provado. Depois
da comida, desembrulharam os presentes que estavam debaixo da árvore. “Eu
quero partilhar as minhas prendas contigo, Charlie”, disse Becky “vá ajuda-me
a abrir este pacote enorme!” “O
que é que tu dirias, Charlie, se te pedíssemos para ficares a viver aqui
connosco para sempre?” perguntou ele. “Nós íamos ficar muito felizes. Terias
um quarto só para ti e podias ir com a Becky para a escola. Nós gostaríamos
muito de ter, de novo, um rapazinho na nossa família.” Charlie
ficou tão feliz que perdeu a voz. Becky
correu para a mãe e abraçou-a. “Oh mãe, obrigada!” gritou ela. “Estou tão
contente.” Charlie, que tinha finalmente encontrado de novo a voz, perguntou:
“O Farrusco também pode ficar?” “Naturalmente.
Até será engraçado termos um gato”, respondeu o pai de Becky bem-humorado. “Mas
eu tenho que continuar a limpar a padaria do padeiro Tibbs” afirmou Charlie.
“Porque ele se calhar não encontra outra pessoa que lhe faça esse trabalho, e
ele foi muito bom para mim quando eu não tinha ninguém.” “Eu
acho muito bonito da tua parte, não te teres esquecido do padeiro Tibbs”,
disse o pai de Becky. “É
importante que conserves a confiança dos teus amigos.” “Estou
tão feliz de ter agora uma casa tão bonita” disse Charlie, agradecendo-lhes
de todo o coração. A
mãe de Becky beijou-o e Charlie disse: “Talvez eu também vos possa trazer
sorte!” Todos
riram alegremente. Lá fora as sombras tornavam-se maiores e a lua por cima
das casas anunciava que chegava ao fim um dia de Natal perfeito. Bruce
Peardon, Charlie, o limpa-chaminés Para: - Continuar a leitura em: Histórias - Voltar
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