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…….. . Histórias & Historinhas Jeca Tatu de MONTEIRO LOBATO (Adaptação de Maria R. do Amaral) Jeca morava no sítio. Era solteirão, por isso
vivia só. Não totalmente, porque tinha um cão preto, sempre por perto. O
apelido de Jeca Tatu advém da maneira como vivia. Caipira assumido e sempre
muito sujo. Daí o TATU que é um animal que vive em buracos na terra. Morava em uma tapera cheia de buracos, onde a
lua faz clarão. Também não consertava nada. No quintal só viam um frangainho
magricela, um patinho sem mãe e uma leitoazinha que corria por todos os lados
em busca de alguma comida. Jeca, de cócoras, no quintal tomava sol. Não
calçava, pois não tinha sapatos. Um chapéu de palhas, camisa xadrez e uma
calça surrada. Plantar? Qual o que. Tinha muita preguiça. Meia
dúzia de covas para o plantio do milho, e já entregava a rapadura. Buscar
lenha no mato, era outra dificuldade. Vinha sempre com uns poucos gravetos
nas costas. O melhor era descansar. Deitava-se em baixo de
una árvore e ferrava no sono. O cãozinho aderira a vida e o caráter do dono.
Estirado nas pernas do Jeca dormia a sono solto. Ah! Mais a marvada da pinga, estava sempre por
perto. Era o que atrapalhava e muito. Um dia passou por ali um médico que ao ver o
Jeca, naquele estado de penúria, e amarelo de tanta debilidade física,
compadeceu-se dele e pediu para que mostrasse a língua. Logo em seguida
disse; Você esta com a língua muito suja. Com certeza está com estômago e
intestinos em mau estado. Venha á cidade em meu consultório, que vou
providenciar uns exames e ver como está sua saúde. Jeca foi ao consultório do Doutor e depois e
feito alguns exames, o médico concluiu que ele precisava fazer um bom
tratamento, alimentar-se melhor e deixar a cachaça. Além do mais, você precisava andar calçado, pois
pela sola dos pés, é que passam os micróbios que danificam a sua saúde.
Mostrou através de uma lente de aumento a ação dos micróbios. Jeca ficou
abismado com o que ficou sabendo. Até o cãozinho preto do caipira estava de
testemunha do que o doutor falava. Na volta para casa, Jeca passou na farmácia e já
mandou aviar a receita Eram algumas vitaminas e Biotônico Fontoura um
fortificante porreta. Comprou também algumas frutas e legumes ovos e leite,
passando a se tratar melhor. E não deu outra. O nosso Jeca começou a ficar
forte e passando a mão em um machado, cortava lenha em abundância. Depois
quando ia ao mato buscar lenha, trazia um belo feixe na cabeça Começou a
tomar gosto pela coisa e a sua plantação de milho, feijão e mandioca começou
a produzir. Saia para caçar e não tinha medo de nada. Ouvia
a onça rugir e enfrentava a danada com socos e queda de braços. As feras
corriam logo, embrenhavam-se pelo mato e Jeca ficava vitorioso no confronto.
Sua fama alastrou-se na redondeza. Ficou gordo e bonitão. Arrumou até
casamento. Fez uma casa maior e bem feita, com varanda e
tudo mais. Andava de chapelão e botas. Teve filhos que ele também não deixava
que andassem descalços. Pois sabia agora quanto vale a saúde. Tão compenetrado era, com respeito a isso, que
até seus porcos e galinhas, tinham botinas. Criava porcos em pocilgas bem construídas e duas
vezes por ano, levava-os em seu caminhão. Para vende-los no mercado da cidade. Comprou
mais terras e formou uma pequena fazenda a quem deu o nome de Fazenda Feliz. A sua vida, ficou totalmente modificada e para
muito melhor. Tinha telefone, e uma TV que via a noite, sentado em uma
cadeira de balanço. A sua casa era bem arrumada, com um relógio que batia as horas. Enfim, o nosso antigo caipira, era hoje homem de
negócios e aos domingos, ia á cidade, cavalgando um belo cavalo alazão,
soltando boas baforadas de seu charuto.
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