BIBLIA
DOMO DO ROCHEDO
Localizado no coração de Jerusalém, e reverenciado por judeus,
cristãos e muçulmanos, o local é o epicentro do conflito israelense-palestino,
disputado por fundamentalistas de parte a parte. Mas poderia ser um espaço de
tolerância e convivência para toda a humanidade
Por José Tadeu Arantes
Com sua bela cúpula dourada, o Domo do Rochedo é o cartão-postal
da cidade de Jerusalém. O edifício, construído no ano 687 d.C., situa-se
sobre uma área que os judeus chamam de Monte do Templo e os muçulmanos de
Nobre Santuário. Sagrado para o judaísmo, o cristianismo e o islamismo (as
três vertentes do monoteísmo semítico que reivindicam o patriarca Abraão como
ancestral comum), o Rochedo que irrompe em seu interior deveria ser um ponto
de convergência dessas religiões - e, por
decorrência, de todas as religiões do mundo. Mas transformou-se no pomo da
discórdia. Fundamentalistas judeus e muçulmanos disputam seu controle
exclusivo. E, de acordo com sua lógica peculiar, acreditam que qualquer
recurso seja válido para alcançar tal fim. Por que esse lugar provoca tantas
emoções?
Traduzida em linguagem moderna, uma antiga tradição semítica confere ao
Rochedo, que coroa o topo do Monte Moriá, no
coração de Jerusalém, o status de portal entre planos de realidade ou estados
de consciência, possibilitando que o homem transite do mundo terreno para o
mundo subterrâneo e o mundo celestial. A atribuição dessa qualidade mística
ao sítio geográfico parece ser extremamente antiga e se manteve com
surpreendente persistência ao longo de 5 mil anos de história, nos mais
variados contextos culturais. Durante esse intervalo de tempo, enorme se
comparado à escala das civilizações humanas, jebuseus,
judeus, romanos, muçulmanos, cristãos esotéricos e outra vez muçulmanos
utilizaram sucessivamente a área como local de práticas espirituais.
Os primeiros vestígios humanos na região remontam a datas tão recuadas quanto
3000 a.C.. Escavações arqueológicas revelam que havia então, na face sul do
Monte, uma cidade de nome Urusalim - palavra
semítica que significaria Fundação de Deus e deu origem à denominação
Jerusalém. A cidade era então habitada por um amálgama
de povos, que o texto bíblico, redigido em época muito posterior, nomeou
genericamente como jebuzeus. Melquisedeque,
o rei-sacerdote de Salém,
mencionado no Gênesis, o primeiro livro da
Bíblia, poderia ser associado a esses primitivos habitantes, que utilizavam o
Rochedo como lugar de culto ao Deus Altíssimo (El Elyon).
Com toda a probabilidade, a área era também um local de sacrifícios, como o evidencia a lenda de Abraão. Diz a Bíblia, que, atendendo
a uma solicitação de Deus, o patriarca para lá conduziu seu filho, Isaac, com
a intenção de imolá-lo. Segundo o relato, a drástica ordem divina foi depois
revogada por um anjo, que se manifestou no topo do monte. A memória do
sacrifício dos primogênitos, praticado por vários
povos semitas da Antigüidade, preferencialmente nos
lugares altos, sobrevive, de forma parcialmente velada, nessa narrativa
tardia, que apresenta como exceção aquilo que devia
ser a regra.
Por volta do ano 1000 a.C., a cidade de Urusalim
foi capturada pelo rei Davi, que fez dela a capital
política e religiosa dos judeus. O vigoroso monarca logo manifestou o desejo
de edificar, no mesmo sítio do santuário pagão jebuzeu,
um templo a Yahveh, que o monoteísmo judaico
afirmaria ser o único Deus verdadeiro. Mas sua intenção foi frustrada pela
oposição dos religiosos conservadores, personificados no texto bíblico pelo
profeta Natan. Estes apegavam-se às tradições nômades de seus antepassados, pois, antes da construção
do Templo, a Arca da Aliança, que continha as Tábuas da Lei e era considerada
o trono de Deus ou o escabelo de seus pés, ficava guardada no interior de uma
tenda e acompanhava os judeus em suas expedições guerreiras. Aquilo que Davi não pôde fazer seria feito, porém, por seu filho,
Salomão, cerca de 960 a.C.. A edificação do Templo
foi o corolário inevitável do poderio e esplendor de seu reinado.
Construído segundo modelo fenício ou cananeu, o
Templo de Salomão era um edifício de base retangular,
de 60 côvados (31,5 metros) de comprimento por 20 côvados (10,5 metros) de
largura. Dividia-se, a partir da entrada e ao longo do comprimento, em três
compartimentos sucessivos: o Ulam (Vestíbulo), o Hekal (Santo, a grande sala onde se reuniam os fiéis
durante o culto) e o Debir (Santo dos Santos, a
área mais sagrada e interditada, onde ficava a Arca da Aliança). Assentada
sobre fundações de pedra, a edificação tinha piso, paredes e teto de madeira
(cedro e cipreste do Líbano), entalhada em motivos florais e revestida por
lâminas de ouro. Aberto ao exterior e ostentando colunas cobertas de bronze,
um dos lados menores dava acesso ao Vestíbulo. Os outros três eram cercados
por uma construção anexa, composta de três pavimentos baixos, onde ficavam os
depósitos de oferendas e outros aposentos. Embora haja divergências entre os
estudiosos, a tradição sustenta que o Santo dos Santos foi construído exatamente ao redor do Rochedo sagrado.
Salomão levou sete anos erguendo o Templo. E construiu o Palácio Real em área
contígua. Essa íntima conexão entre a esfera religiosa e a esfera política
conferiria aos reis de Judá o controle do culto. Porém o exclusivismo
monoteísta não prosperou. Desde a época do próprio Salomão, outras divindades
além de Yahveh foram reverenciadas no local.
Especialmente venerado era o altar de Asherah. Tal
era o nome que as populações cananéias atribuíam à
Grande Deusa, cultuada por quase todos, senão
todos, os povos da remota Antigüidade. O pluralismo
religioso convinha às alianças matrimoniais da realeza, mas também traduzia o
sentimento profundo das camadas populares. Manteve-se praticamente intacto
até a reforma promovida pelo rei Josias, em 622 a.C.. Nessa data, para centralizar o poder político na
cidade de Jerusalém, e em torno da Casa Real de Judá, Josias
proibiu, em todo o território, os cultos pagãos, mandou matar seus
sacerdotes, destruiu seus objetos rituais e
eliminou seus emblemas sagrados. No entanto, o purismo javista
(de Yahveh) teve curta duração. Pois, em 597 a.C.,
Nabucodonosor, rei da Babilônia, invadiu Jerusalém,
saqueou os tesouros do Templo e deportou a elite da população judaica para a
Mesopotâmia. Dez anos depois, em 587 a.C., a cidade e seu templo foram
destruídos.
Durou cerca de seis décadas o chamado cativeiro judaico. Em 539 a.C., o
exército de Ciro, rei da Pérsia, entrou em Babilônia. Com o tino de um grande estadista, Ciro permitiu que os povos conquistados pelos babilônios recobrassem, sob a tutela persa, parte de sua
antiga liberdade política e religiosa. Aos judeus exilados foi concedido, no
ano seguinte, o direito de regressar à sua terra. E aqueles que voltaram
empenharam-se na construção de um segundo templo. Erguido no mesmo local do
primeiro, porém com menores dimensões e esplendor, suas obras se completaram
em 515 a.C., sob a direção de Zorobabel.
Os antigos objetos rituais, saqueados por
Nabucodonosor, foram devolvidos por Ciro e seu
sucessor, Dario. Mas, entre eles, já não se contava
a Arca da Aliança, cujo paradeiro, para tristeza dos fiéis e fortuna dos
futuros ficcionistas, continua ignorado.
Depois dos persas e dos gregos, os romanos impuseram seu domínio sobre a
Palestina, em 63 a.C.. E, no ano 40 a.C., Herodes, originário da Iduméia,
foi proclamado rei da Judéia pelo senado romano.
Seu pai, Antípatro, ocupara na administração romana
a função de procurador, cargo cuja principal tarefa consistia em
supervisionar a cobrança de impostos. Com muita habilidade política, nenhum
escrúpulo moral, um exército de mercenários e as bênçãos de Roma, Herodes estendeu seu reinado sobre um território que ia
da Síria ao Egito. Foi chamado "o Grande"
graças a um fabuloso programa de obras urbanísticas e arquitetônicas.
Em seu governo, Jerusalém e muitas outras cidades foram reurbanizadas
à moda romana: cortadas de ponta a ponta por grandes avenidas (o Cardo Maximo), subdivididas por ruas formando ângulos retos e embelezadas por palácios, anfiteatros,
hipódromos, piscinas e jardins. Acima de todas as obras, destacou-se sua suntuosa reforma do Templo, com a qual esse rei
estrangeiro e infiel esperava conquistar a simpatia
dos judeus. Mas, se granjeou a adesão dos grandes proprietários rurais, que
compunham a cúpula sacerdotal e o partido dos Saduceus, desagradou ainda mais
os outros segmentos da população, pois o preço de seu frenesi de edificações
foi uma extorsiva carga tributária. Descrito pelo
famoso historiador judeu Flávio Josefo, o espaço
correspondente ao antigo Santo comportava, no templo herodiano,
três divisões: o Átrio de Israel, o Átrio das Mulheres e o Átrio dos Gentios.
Foi nas amplas dependências desse templo reformado que Jesus protagonizou
alguns dos episódios mais dramáticos de sua vida, como a célebre expulsão dos
comerciantes e cambistas que atuavam no local. Para
entender toda a radicalidade desse gesto é preciso saber no que o Templo
havia se transformado. A centralização do culto fortalecera a cúpula
sacerdotal e enriquecera seus integrantes mais ilustres. Com a desagregação
da monarquia, durante o período pós-exílico, esse
alto clero assumiu o controle efetivo da vida
nacional. E manteve sua proeminência mesmo sob os governos de Herodes e seus filhos.
A base econômica do poder
sacerdotal eram os sacrifícios diários de animais (bois, carneiros e
pombos) e a cobrança de impostos realizada no Templo. Os animais a serem
sacrificados passavam por um rigoroso controle de
qualidade, baseado nas regras de pureza estabelecidas no Levítico (um
dos cinco livros que compõem a Torá ou Pentateuco -
as Sagradas Escrituras judaicas, que correspondem à parte inicial do Antigo
Testamento cristão). Essa peneira fina barrava os animais trazidos pelos
fiéis, considerados "impuros", e os obrigava a comprar outros,
vendidos nos pátios do Templo. Ora, esses animais "puros", aptos ao
sacrifício, eram criados pelas próprias famílias sacerdotais ou por grandes
proprietários com elas relacionados.
Os preços flutuavam de acordo com a demanda. E disparavam na época das festas
religiosas. Um pombo, o animal mais barato, chegava a custar então 100 vezes
o seu preço normal, sendo comercializado por um denário - quantia equivalente ao salário pago por um dia de
trabalho. Estudos recentes dão uma idéia da importância econômica
dessas transações. Eles informam que, numa única
data da vida de Jesus, por ocasião da Páscoa, foram imolados no Templo nada
menos do que 250 mil cordeiros!
Os altos sacerdotes não lucravam apenas com a venda dos animais. Tiravam
proveito também da conversão do dinheiro utilizado no pagamento. Pois as
moedas correntes não podiam entrar no Templo. O motivo alegado era que se
tratava de dinheiro "impuro". Mas a verdadeira causa estava na
corrosão de seu valor real, devido à inflação. Tanto é que as moedas comuns deviam
ser trocadas pela Tetradracma Tíria, cunhada na cidade de Tiro, na Fenícia, atual Líbano. Em matéria de "pureza" ritual,
dificilmente poderia ser encontrado algo menos adequado do que esse dinheiro
estrangeiro, que trazia, em uma das faces, a imagem do deus pagão Melkart, protetor dos tirenses, e, na outra, a águia de Júpiter, principal
divindade dos romanos. A diferença é que a Tetradracma
Tíria era uma moeda forte, que não sofreu
qualquer desvalorização em um período de 300 anos. Pela troca do dinheiro, os
cambistas, aliados dos sacerdotes, cobravam ágio de 8%!
Além dos sacrifícios de animais e do câmbio, a cúpula sacerdotal
beneficiava-se ainda com a cobrança do dízimo. Todo judeu do sexo masculino,
com mais de 20 anos, era obrigado a pagar. E o Templo possuía o cadastro de
cerca de um milhão de contribuintes, dentro e fora da Judéia.
Não admira que judeus piedosos, como os essênios,
abominassem o sistema econômico-político-religioso
estruturado em torno do Templo. Muitos deles eram ex-sacerdotes, que haviam
renunciado à sua proveitosa condição social por razões de consciência. Quando
Jesus virou as mesas dos cambistas e os expulsou os vendedores de animais do
Templo, ele se chocou de frente. A resposta não se fez esperar. Dias depois,
o Sinédrio, o senado de Israel, controlado pelo partido dos Saduceus, o
condenou à morte.
Ciosos de seus privilégios, os Saduceus pautavam-se por uma política de
conciliação com as autoridades nomeadas por Roma, que lhes davam sustentação
militar. E procuravam evitar qualquer conflito que pusesse em xeque esse
pacto. Mas de pouco adiantou sua estratégia de panos quentes. A cobrança de
impostos, a opressão política e a ingerência estrangeira em assuntos
religiosos despertavam exaltada oposição judaica e geravam um clima de
revolução iminente. Na década de 60 d.C., 30 anos depois da morte de Jesus, o
país explodiu em levantes generalizados contra o domínio romano. A repressão
ao movimento insurrecional judaico culminou, em 70
d.C., com a destruição de toda Jerusalém pelas legiões comandadas por Tito,
futuro imperador de Roma. Do Templo sobrou apenas uma parte da muralha
exterior, que constitui hoje o Muro das Lamentações, a mais importante ruína
judaica.
Sobre os escombros de Jerusalém, o imperador de Roma Adriano iniciou, no ano
135 d.C., a construção de uma nova cidade, Aelia
Capitolina. No mesmo sítio do antigo templo judeu, ele ergueu um templo
pagão, dedicado a Júpiter, a suprema divindade romana. Mas também este foi
destruído, depois que o Império se tornou cristão, sob o reinado de
Constantino (290-337). Não interessava às novas autoridades cristianizar um
templo cuja destruição Jesus anunciara e que poderia competir em proeminência
com a própria sede do poder imperial, em Constantinopla. Talvez por isso
tenha sido produzida a lenda que atribuiu à imperatriz Helena, mãe de
Constantino, a descoberta em sonho do lugar onde, segundo a tradição, Jesus
fora sepultado, antes de ressuscitar. Nele foi construída a Igreja do Santo
Sepulcro - presumivelmente sobre as fundações de um
velho templo romano, dedicado à deusa Afrodite. Concluídas as obras da
Igreja, em 335 d.C., os cristãos passaram a ter, em Jerusalém, um importante
local alternativo de peregrinações. E se desinteressaram pelo Monte Moriá.
O antigo santuário voltaria à evidência com o Islã.
Pois, segundo a tradição muçulmana, foi do alto do Rochedo que o profeta Muhammad (Maomé) ascendeu aos céus, em sua célebre
Jornada Noturna. De acordo com o relato
tradicional, o fato ocorreu durante o ano de 620 d.C., em uma noite riscada
por relâmpagos e ressoando a trovões. O profeta encontrava-se deitado, mas
não dormindo, quando viu o ambiente inteiro se iluminar. Contemplou então,
pela primeira vez, o Arcanjo Gabriel em sua esplêndida forma cósmica.
Oferecendo-lhe uma fantástica montaria, o Buraq,
espécie de mula alada, Gabriel levou-o a sobrevoar o grande santuário de Meca
e, de lá, conduziu-o a Jerusalém, até o topo do Monte Moriá.
Ao desmontar, Muhammad encontrou-se, ao pé do
Rochedo, com Abraão, Moisés e Jesus. E, escalando-o, iniciou sua Ascensão aos
Céus (Mi'raj). Instruindo-se com anjos e
profetas, Muhammad percorreu
os múltiplos estratos do mundo celestial, até se encontrar sozinho, trêmulo e quase aniquilado, na presença de Deus. Ao
iniciar-se a jornada, uma jarra d'água que se encontrava
à cabeceira da cama fora derrubada pelo Buraq. O
profeta retornou a tempo de impedir que a água derramasse.
Como outras narrativas tradicionais, esse relato, que apresentamos de forma
extremamente resumida, comporta múltiplos níveis de leitura. Um deles, que
nos interessa enfatizar aqui, é a relação de continuidade e mudança que, por
meio dele, os muçulmanos estabelecem entre o judaísmo, o cristianismo e sua
própria tradição. O encontro experimentado por Muhammad
no topo do Monte Moriá o credenciaria como o fruto
mais perfeito da grande árvore do monoteísmo semita, que tem Abraão por raiz,
Moisés por tronco e Jesus por copa. Por outro lado, sua ascensão aos céus
ter-lhe-ia proporcionado um conhecimento de primeira mão,
recebido diretamente do plano divino, que nada
devia aos de seus precursores. Como herdeiros da linhagem abraâmica,
os muçulmanos reivindicavam o papel de guardiões do Santuário de Jerusalém
(tanto quanto o de guardiões do Santuário de Meca, igualmente associado pela
tradição ao patriarca Abraão). Como depositários de uma revelação original,
eles acrescentavam aos antigos atributos do local uma nova camada de
significados místico-religiosos.
Assim, quando após um segundo e breve período de domínio persa, os árabes
islamizados conquistaram Jerusalém, em 638 d.C., o califa Omar
dirigiu-se ao alto do Monte Moriá e, em um dos
muitos gestos espetaculares que povoam sua
biografia (ou sua lenda), começou a remover com as próprias mãos os entulhos
que cobriam o local. Tendo recusado o convite do patriarca de Jerusalém para
rezar na Igreja do Santo Sepulcro, sob a hábil justificativa de que agindo
dessa forma impedia que seus sucessores transformassem a basílica cristã em
uma mesquita muçulmana, Omar estendeu seu tapete de
orações sobre o Monte Moriá, tomando posse do
santuário. Recorrendo ao modelo das Igrejas Bizantinas, seu sucessor, Abd al-Malik, construiu, em
687, o Domo do Rochedo no local.
O projeto arquitetônico
traduz um conjunto de especulações matemáticas que remontam à escola neopitagórica e foram reelaboradas pelo sufismo, a mística muçulmana. Sobre uma base quadrada,
ergue-se um edifício octogonal, encimado por uma cúpula circular. O quadrado
representa o plano terreno, com seus quatro elementos (terra, água, fogo e
ar) e suas quatro direções (norte, sul, leste e
oeste). O círculo - que, de acordo com raciocínio
matemático, é o limite de um polígono cujo número de lados tende ao infinito
- representa o plano celestial. Entre o quadrado e o círculo, o octógono
apresenta-se como um elemento mediador e expressa a própria função do
edifício.
Não se trata de uma construção destinada a acolher a prece dos fiéis, função
desempenhada pela Mesquita de Al-Aqsa, que se ergue
a pequena distância do local, sobre a mesma esplanada, mas de uma construção
destinada a abrigar o santuário propriamente dito. Este materializa-se no
Rochedo (As-Sakhra), que irrompe no piso do
edifício, cercado por uma dupla colunata de mármore e encimado por um domo
que, no passado, era constituído de madeira revestida de ouro puro (por
motivo de estabilidade estrutural, esse material pesado foi substituído, em
tempos recentes, pelo alumínio anodizado).
Durante o período do Reino Latino de Jerusalém, na época das Cruzadas, o
lugar foi guardado pela Ordem dos Cavaleiros Templários, que se afirma ter
sido criada com o único objetivo de protegê-lo.
Esses cristãos esotéricos utilizavam a Mesquita de Al-Aqsa
como moradia e estábulo e realizavam seus rituais secretos no interior do
Domo do Rochedo. Com a reconquista islâmica da cidade, o local voltou ao
controle muçulmano, que se mantém até hoje.
Esta longa história inspira algumas reflexões. Em primeiro lugar, ela nos leva a refletir sobre a impermanência: povos, culturas, tradições religiosas são
realidades transitórias, que não duram para sempre. Tudo passa. Podemos nos
apegar obstinadamente ao passado, resistir à mudança e sofrer quando, a
despeito de todos os nossos esforços, ela se revela inevitável. Ou podemos
perceber nessa transitoriedade um formidável fator
de libertação. Em segundo lugar, ela nos leva a refletir sobre o substrato comum às diferentes formas
religiosas: pagãos, judeus, cristãos, muçulmanos (e isto é igualmente válido
para outras tradições espirituais do planeta) diferem sob vários aspectos,
mas, por trás de cada uma dessas roupagens vistosas, existe um ser humano nu.
Um ser humano que busca a completude.
É preciso prender-se a uma perspectiva infantil para acreditar que esse
anseio de totalidade possa ser satisfeito com a posse física de um lugar, por
mais extraordinário que seja. O Rochedo que buscamos fora se encontra dentro
de nós. De todos nós. Quando aprendermos a fazer desse interior o nosso
santuário, os santuários exteriores deixarão de ser pomos da discórdia para
se tornarem pontos de convergência.
José Tadeu Arantes
(Fonte:http://www.thenewlife.com.br/portal/artigos/tabid/57/ArticleItemId/14/Default.aspx)
Para voltar ao tema: Bíblia
Veja também:
BIBLIA ON-LINE
Orações – pag. 1
Orações – pag. 2
Orações – pag. 3
Santos & Nossas Senhoras
Simpatias Magias & Feitiços Rápidos
Anjos
Não perca: temas
relacionados
....
|
....
Quer ganhar mais dinheiro?
|
Acabe com os seus problemas.
Comece hoje mesmo a ganhar mais.
Veja aqui: ANUNCIOS A&E
|
|