Atenção: páginas “6” e “23”, quando
menciona o vers. 57, cap. I, do Livro da Lei: inserir a letra hebraica
“Tzaddi”:
O LIVRO DE THOTH
Um Curto Ensaio Sobre o Tarô dos
Egípcios
sendo
O EQUINÓCIO, VOLUME III, NÚMERO V
pelo MESTRE THERION
(ALEISTER CROWLEY)
Pintura das
cartas : FRIEDA HARRIS
An Ixviii
Sol in Oº
O’ O” Aries
21 de março
de 1944 e.v. 5:29 p.m.
Tradução:
Edson Bini
Co-tradução:
Marcelo A C
Santos (Adaptação dos títulos das cartas
e trechos extraídos de “O Livro da Lei” e “O Livro das Mentiras)
Í N D I C E
Páginas
PRIMEIRA PARTE: A TEORIA DO
TARÔ.....................................
I. O conteúdo
do Tarô. A origem do Tarô. A teoria das correspondências do Tarô. Evidência de uma tradição de iniciados do
Tarô; 1. Éliphas Lévi e o Tarô; 2. O Tarô nos manuscritos cifrados; 3. O Tarô e
a Ordem
Hermética da Golden Dawn; 4. A natureza da evidência. Resumo das questões até aqui discutidas.
II. O Tarô e
a Santa Qabalah.
O Arranjo de Nápoles. O Tarô e a
fórmula do Tetragrammaton. O Tarô e os elementos. As vinte e duas chaves, atus, ou trunfos do Tarô.
III. O Tarô e
o universo. Teorias dos antigos. A
Árvore da Vida. O Arranjo de
Nápoles. O Tarô e a Árvore da Vida. Os atus de
Tahuti. Os números romanos dos trunfos. O Tarô e a
magia. O Shemhamphorasch e o
Tarô. O Tarô e a magia cerimonial. O Tarô e o animismo. As cartas do Tarô como seres vivos.
SEGUNDA
PARTE: OS ATUS (CHAVES
OU TRUNFOS)............
0. O
Louco. A fórmula do Tetragrammaton - O “homem verde” do festival da
primavera. O “bobo de primeiro de
abril” -
O Espírito Santo - O
“Grande Louco” dos celtas (Dalua) - O
“Rico Pescador”: Percival - O Crocodilo (Mako, filho de Set, ou Sebek) -
Hoor-Pa-Kraat - Zeus Arrhenothelus -
Dionísio Zagreus - Baco
Diphues - Baphomet
- Resumo.
I a XXI. I. O Prestidigitador - II. A Alta Sacerdotisa - III. A Imperatriz - IV. O Imperador - V. O Hierofante - VI. Os Amantes (ou Os Irmãos)
- VII. A Carruagem - VIII.
Ajustamento - IX. O Eremita
- X. Fortuna - XI.
Volúpia - XII. O Pendurado -
XIII. Morte - XIV. Arte
- XV. O Diabo
- XVI. A Torre (ou Guerra)
- XVII. A Estrela -
XVIII. A Lua - XIX. O
Sol -
XX. O Aeon - XXI. O
Universo.
Apêndice.
O Louco; 1. Silêncio; 2. De Sapientia et Stultitia; De Oraculo Summo; 3. De Herba Sanctissima Arabica. De Quibusdam Mysteriis, Quae Vidi; De Quodam
Modo Meditationis; Sequitur De Hac Re; Sequitur De Hac Re; Conclusio De Hoc Modo Sanctitatis; De Via
Sola Solis. O Mago; 1. De Mercúrio;
2. O Senhor da Ilusão. Fortuna, R. O.
T. A.
- A Roda. Volúpia, Babalon. Arte;
A Seta. O Universo; O Universo
Virgem.
TERCEIRA
PARTE: AS CARTAS
DA CORTE.......................
Observações
gerais. Características gerais dos quatro dignitários. Descrição sumária das dezesseis cartas da
corte. Cavaleiro de Bastões; rainha de Bastões; príncipe de Bastões; princesa
de Bastões; cavaleiro de Copas; rainha de Copas; príncipe de Copas; princesa de
Copas; cavaleiro de Espadas; rainha de Espadas; príncipe de Espadas; princesa
de Espadas; cavaleiro de Discos; rainha de Discos; príncipe de Discos; princesa
de Discos.
QUARTA PARTE:
AS CARTAS MENORES...........................
Os quatro
ases; os quatro dois; os quatro três; os quatro quatros; os quatro cincos; os
quatro seis; os quatro setes; os quatro oitos; os quatro noves; os quatro dez.
A raiz dos poderes do fogo - ás de Bastões; Domínio, dois de Bastões;
Virtude, três de Bastões; Conclusão, quatro de Bastões; Disputa, cinco de
Bastões; Vitória, seis de Bastões; Valor, sete de Bastões; Rapidez, oito de
Bastões; Força, nove de Bastões; Opressão, dez de Bastões. A raiz dos poderes da água - ás
de Copas; Amor, dois de Copas; Abundância, três de Copas; Luxúria, quatro de
Copas; Desapontamento, cinco de Copas; Prazer, seis de Copas; Deboche, sete de
Copas; Indolência, oito de Copas; Felicidade, nove de Copas; Saciedade, dez de
Copas. Ás de Espadas; Paz, dois de Espadas; Dor, três de Espadas; Trégua,
quatro de Espadas; Derrota, cinco de Espadas; Ciência, seis de Espadas;
Futilidade, sete de Espadas; Interferência, oito de Espadas; Crueldade, nove de
Espadas. Ruína, dez de Espadas. Ás de Discos; Mudança, dois de Discos;
Trabalho, três de Discos; Poder, quatro de Discos; Preocupação, cinco de
Discos; Sucesso, seis de Discos; Fracasso, sete de Discos; Prudência, oito de
Discos; Ganho, nove de Discos; Riqueza, dez de Discos.
INVOCAÇÃO -
OS ATUS - MNEMÔNICA.................................
APÊNDICE
A...........................................................................................................
O
comportamento do Tarô: seu uso na arte da adivinhação. A significadora; primeira operação; segunda
operação - desenvolvimento da questão; terceira operação - mais um
desenvolvimento da questão; quarta operação -
penúltimos aspectos da questão; quinta operação -
resultado final. Características gerais dos trunfos quando são usados.
APÊNDICE B.............................................................................................................
Correspondências.
Diagrama 1: A escala-chave; diagrama 2 : A atribuição geral do Tarô;
diagrama 3 : O cosmos chinês; diagrama 4 : O caduceu; diagrama 5 : Os números dos planetas; diagrama 6 : Os elementos e seus
símbolos; diagrama 7 : As armas dos
elementos; diagrama 8 : A esfinge; diagrama 9 : As dignidade essenciais dos
planetas. Tabelas: trunfos, as quatro
escalas de cor, atribuições das cartas da corte, atribuições das cartas
menores, as dignidade essenciais dos planetas, a tripla trindade dos planetas,
as triplicidades do zodíaco, as tríades vitais.
LISTA DAS ILUSTRAÇÕES
ILUSTRAÇÕES
DO TEXTO
Página
O hexagrama unicursal, dias da semana, o lupa
duplo no zodíaco...............................
O
caduceu..............................................................................................................
As dignidade
essenciais dos planetas...........................................
LÂMINAS DO
TARÔ E ILUSTRAÇÕES DE
PÁGINA INTEIRA
O
Hierofante............................................................................................................ frontispício
Volúpia..............................................................................................................
Ás de
Espadas.............................................................................................................
Os
Amantes............................................................................................................
Trunfos: O Louco, O
Mago, A Alta Sacerdotisa, A Imperatriz...............
Trunfos: O Imperador,
O Hierofante, Os Amantes, A Carruagem.......
Trunfos: Ajustamento,
O Eremita, Fortuna, Volúpia...................
Trunfos: O Pendurado,
Morte, Arte, O Diabo............................
Trunfos: A Torre, A
Estrela, A Lua, O Sol...................................
Trunfos: O Aeon, O
Universo............................................................
Cartas da corte: Bastões
(cavaleiro, rainha, príncipe, princesa)..............
Cartas da corte: Copas
(cavaleiro, rainha, príncipe, princesa)...............
Cartas da corte: Espadas
(cavaleiro, rainha, príncipe, princesa)...........
Cartas da corte: Discos
(cavaleiro, rainha, príncipe, princesa).............
Cartas menores: Bastões
(ás de Bastões, Domínio, Virtude, Conclusão)...
Cartas menores: Bastões
(Disputa, Vitória, Valor, Rapidez)........
Cartas menores: Bastões
(Força, Opressão); Copas (ás de Copas, Amor).
Cartas menores: Copas
(Abundância, Luxúria, Desapontamento, Prazer).
Cartas menores: Copas
(Deboche, Indolência, Felicidade, Saciedade)
Cartas menores: Espadas
(ás de Espadas, Paz, Dor, Trégua).......
Cartas menores: Espadas
(Derrota, Ciência, Futilidade, Interferência)..
Cartas menores: Espadas
(Crueldade, Ruína); Discos (ás de Discos, Mudança).
Cartas menores: Discos
(Trabalho, Poder, Preocupação, Sucesso).....
Cartas menores: Discos
(Fracasso, Prudência, Ganho, Riqueza)...........
O
Sol............................... .........................................................
O
Universo......
………...........................................................................
A
Escala-chave......................................................................................
Atribuição
geral......................................
O Cosmos
chinês........................ ................................................
A
Rosacruz............................
....................................................................
Os números
dos planetas, os elementos e seus símbolos, as armas dos elementos, a
esfinge...............
RODA E - WHOA !
A Grande Roda de Samsara.
A Roda da Lei (Dhamma).
A Roda do Tarô.
A Roda dos Céus.
A Roda da Vida.
Todas estas Rodas são uma; porém, de
todas elas, apenas a Roda do TARÔ
é de teu proveito consciente.
Medita longa e larga e
profundamente, Oh homem, sobre esta Roda, revolvendo-a
em tua mente!
Seja esta tua tarefa: ver como cada
carta brota necessariamente de outra
carta, na devida ordem, d’O Louco ao Dez de Discos.
Então, quando tu conheceres a Roda
do Destino por completo, tu talvez
percebas AQUELA Vontade que a moveu primeiramente. [Não há
primeiro ou último.]
E eis! tu passaste pelo Abismo.
O Livro das Mentiras
KEF.OH.
PRIMEIRA
PARTE -
A TEORIA DO TARÔ
I
O CONTEÚDO DO
TARÔ
O Tarô é um baralho de setenta e oito cartas.
Há quatro naipes, tal como nos baralhos atuais, que dele são derivadas. Porém,
as cartas da corte são em número de quatro, ao invés de três. Adicionalmente,
existem vinte e duas cartas chamadas de trunfos,
das quais cada qual é uma figura simbólica com um título próprio.
À primeira
vista, pode-se supor que a sua disposição seja arbitrária, mas não é. Ela é
ligada, como se revelará mais tarde, à estrutura do universo e do Sistema Solar
em particular, tal como simbolizado pela Santa Qabalah, o que será explicado no momento oportuno.
A ORIGEM DO
TARÔ
A origem
desse baralho é muito obscura. Algumas autoridades procuram fazê-la recuar aos
antigos Mistérios Egípcios, outras tentam fazê-la avançar a uma época tão
recente quanto o século XV, ou mesmo o XVI. Porém, o Tarô certamente existia
desde o século XIV, sob o que pode ser denominado sua forma clássica, visto que
baralhos dessa data ainda existem, e sua forma não alterou em nenhum aspecto
considerável desde aquela época.
Na Idade
Média, essas cartas eram bastante empregadas na adivinhação e cartomancia,
especialmente pelos ciganos, de modo que era costume referir-se ao Tarô dos Boêmios ou Egípcios. Quando foi descoberto que os ciganos, a despeito da
etimologia da palavra, eram de origem asiática, algumas pessoas tentaram
encontrar a fonte do Tarô na arte e literatura indianas.
Não há
necessidade, aqui, de adentrarmos qualquer discussão acerca desses pontos
controvertidos. *
* Alguns
eruditos supõem que a R.O.T.A. (Rota, roda) consultada no Collegium
ad Spiritum Sanctum (ver o manifesto Fama
Fraternitatis dos irmãos da Rosy
Cross) era o Tarô.
A TEORIA DAS
CORRESPONDÊNCIAS DO TARÔ
Para o nosso
propósito, tradição e autoridade carecem de importância. A Teoria da Relatividade
de Einstein não se apóia no fato de ter sido confirmada quando foi submetida à
prova. A única teoria de fundamental interesse a respeito do Tarô é que ele é
um admirável retrato simbólico do universo, baseado nos dados da Santa Qabalah.
Será
conveniente, no desenrolar deste ensaio, descrever a Santa Qabalah, até certo ponto completamente, e discutir sobre os seus
detalhes relevantes. A parte dela que aqui nos importa chama-se Gematria, uma ciência na qual o valor numérico de uma palavra hebraica
- sendo cada letra também um número - liga tal palavra a outras de valor
idêntico, ou um múltiplo seu. Por exemplo, AChD,
unidade (1 + 8 + 4 = 13), e AHBH, amor (1 + 5 + 2 + 5 = 13). Isto indicaria que a natureza da unidade é o amor. Daí,
IHVH, Jehovah (10 + 5 + 6 + 5 = 26 = 2 x 13). Portanto Jehovah é unidade manifestada na dualidade, e
assim por diante. Uma importante interpretação do Tarô é que ele é um Notariqon da Torah hebraica, a Lei, e
também de ThROA, o portal. Ora, pelas atribuições yetziráticas (ver tabela no final),
pode-se ler nessa palavra “O Universo”,
o sol recém nascido, zero. Esta é a verdadeira doutrina
mágica de Thelema: o zero é igual a
dois. Do mesmo modo, pela Gematria, o valor numérico de ThROA é 671 = 61 x 11. Ora, 61 é AIN, nada ou zero, e 11 é o número da expansão
mágica; desta maneira, também, conseqüentemente, ThROA anuncia aquele mesmo dogma, a única explicação filosófica
satisfatória do cosmos, sua origem,
modo e objeto.
Um completo mistério circunda a questão da
origem deste sistema; qualquer teoria que satisfaça os fatos exige hipóteses
que são inteiramente absurdas. Para explicá-lo cabalmente é preciso apresentar
como postulado, no pretérito obscuro, uma fantástica assembléia de doutos
rabinos que solenemente calcularam todos os tipos de combinações de letras e
números e criaram a língua hebraica com base nessa série de manipulações. Tal
teoria é francamente contrária não apenas ao senso comum como também aos fatos
históricos e a tudo que conhecemos acerca da formação da língua. E, não
obstante, há uma evidência igualmente forte de que existe algo, não um pouco de
algo, mas muito de algo, um algo que exclui todas as teorias de coincidência
plausíveis, na correspondência entre palavras e números.
Constitui
fato inegável que qualquer número não é meramente um a mais que o número
anterior e um a menos que o número subseqüente, mas sim uma idéia individual
independente, uma coisa em si, uma substância espiritual, moral e intelectual,
não apenas equiparável a qualquer ser humano, mas muito superior. Suas relações
meramente matemáticas são realmente as leis de seu ser, mas não constituem o
número, tanto quanto as leis químicas e físicas da reação na anatomia
humana não proporcionam um retrato
completo de um homem.
EVIDÊNCIA DE
UMA TRADIÇÃO DE INICIADOS DO TARÔ
1. Éliphas Lévi e o Tarô
Embora as
origens do Tarô sejam perfeitamente obscuras, há uma porção bastante
interessante da história absolutamente moderna, bem enquadrada na memória do
homem vivo, que é extremamente significativa e em relação à qual se constatará,
à medida em que a tese é desenvolvida, que sustenta o Tarô de uma forma
notabilíssima.
Em meados do
século XIX, surgiu um grande cabalista e estudioso, que ainda incomoda as
pessoas obtusas devido ao seu hábito de divertir-se às suas custas, fazendo-as
de tolas postumamente. Seu nome era Alphonse Louis Constant e era um abade da
Igreja romana. Para obter seu nom-de-guerre,
traduziu seu nome de batismo para o hebraico: Éliphas Lévi Zahed, sendo
conhecido mais comumente por Éliphas Lévi.
Lévi era um
filósofo e um artista, além de ser um supremo estilista em literatura e um
gracejador prático da variedade denominada Pince
sans rire; e, sendo artista e profundo simbolista, era imensamente atraído
pelo Tarô. Quando se achava na Inglaterra, propôs a Kenneth Mackenzie, famoso
estudioso do oculto e maçom de alto grau, a reconstituição e edição de um
baralho concebido cientificamente.
Nas suas obras,
ele apresenta novas representações dos trunfos chamados A Carruagem e O Diabo.
Parece ter entendido que o Tarô era realmente uma forma pictórica da Árvore da
Vida qabalística, que é a base de
toda a Qabalah, a tal ponto que
compôs suas obras apoiando-se sobre essa base. Quis escrever um tratado
completo de magia. Dividiu seu assunto em duas partes: teoria e prática, as
quais denominou respectivamente Dogma e
Ritual. Cada parte possui vinte e
dois capítulos, um para cada qual dos vinte e dois trunfos; cada capítulo trata
do assunto representado pela figura exibida pelo trunfo. A importância da
precisão da correspondência será mostrada no devido tempo.
Neste ponto,
aportamos para uma ligeira complicação. Os capítulos apresentam
correspondência, mas o fazem erroneamente, o que só pode ser explicado pelo
fato de Lévi sentir-se preso pelo seu juramento original de segredo à Ordem dos Iniciados que lhe concedera os
segredos do Tarô.
2. O Tarô nos manuscritos cifrados
Na época da
Revolução Francesa, a partir dos meados do século XVIII, ocorreu um movimento
similar na Inglaterra, cujo interesse se centrava nas religiões antigas, suas
tradições de iniciação e taumaturgia. Sociedades de estudiosos, algumas
secretas ou semi-secretas, foram fundadas ou restabelecidas. Entre os membros
de um desses grupos (a Loja maçônica Quatuor
Coronati), havia três homens: o Dr. Wynn Westcott, um médico legista de
Londres, o Dr. Woodford e o Dr. Woodman. Há uma certa controvérsia quanto a
qual desses homens se dirigiu a Farrington Road, ou se foi a Farrington Road
que se dirigiram. Qualquer que seja o caso, não há dúvida de que, lá, um deles
comprou um livro antigo, de um obscuro livreiro ou o encontrou numa biblioteca.
Isso aconteceu em torno de 1884 ou 1885, e é indiscutível que nesse livro se
encontravam alguns documentos avulsos, cifrados. Esses manuscritos cifrados
continham o material para a fundação de uma sociedade secreta, a qual pretendia
conferir a iniciação por meio de rituais.
Entre aqueles
manuscritos, havia uma correspondência dos trunfos do Tarô às letras do
alfabeto hebraico. Quando isto é examinado, fica absolutamente claro que a
atribuição errada de Lévi relativamente às letras foi deliberada, pois ele
conhecia a correspondência correta e considerava seu dever ocultá-la (tendo-lhe
sido grandemente problemático camuflar seus capítulos!).
Supõe-se que
os manuscritos cifrados datavam dos primeiros anos do século XIX. Há uma nota
numa das páginas que parece ser na letra de Éliphas Lévi. Parece extremamente
provável que ele tenha tido acesso a esse manuscrito quando visitou
Bulwer-Lytton na Inglaterra. De uma forma ou de outra, como já
foi observado, Lévi mostra constantemente que conhecia as correspondências
corretas (com a exceção, é claro, de Tzaddi;
- por que? - veremos na seqüência) e tentou usá-las sem desvelar indevidamente
quaisquer dos segredos que havia jurado guardar.
Tão logo se
esteja de posse das correspondências ou atribuições verdadeiras, o Tarô salta
para a vida. Sua justeza causa perplexidade intelectual. Todas as dificuldades
produzidas pelas atribuições tradicionais, tal como entendidas pelos estudiosos
comuns, desaparecem num átimo. Por esta razão, tende-se a dar crédito à
pretensão dos promulgadores do manuscrito cifrado, de que eram guardiões de uma
tradição da verdade.
3. O Tarô e a Ordem Hermética da Golden Dawn
Deve-se agora
discorrer a respeito da história da Ordem Hermética da Golden Dawn, a sociedade
reconstituída pelo Dr. Westcott e seus colegas, a fim de exibir provas
adicionais da autenticidade da pretensão dos promulgadores do manuscrito
cifrado.
Em meio a
esses documentos, além da atribuição do Tarô, havia certos esboços de rituais,
que pretendiam conter os segredos da iniciação; o nome (com um endereço na
Alemanha) de uma certa Fraülein Sprengel era
mencionado como se fosse o da autoridade emissora. O Dr. Westcott escreveu-lhe
e, mediante a permissão dela, a Ordem da Golden Dawn foi fundada em 1886.
(A G. D. é apenas um nome da Ordem Externa ou
Preliminar da R..R.. et A..C.* , que é, por sua vez, uma
manifestação externa da A\A\**,
que é a verdadeira Ordem dos Mestres*** (ver
Magick).
* Rosae Rubeae et Aureae Crucis (NT).
** Astrum Argenteum (NT).
*** Uma
impudente fraude sem substância e de crescimento meteórico intitulando a si
mesma Order of Hidden Masters apareceu
recentemente... e desapareceu.
O gênio que
tornou isso possível foi um homem chamado Samuel Liddell Mathers. Depois de
certo tempo, Fraülein Sprengel morreu. Uma carta a ela dirigida, solicitando
conhecimento mais avançado, ensejou uma resposta de um de seus colegas. Esta
carta informava ao Dr. Westcott sobre a morte dela e acrescia que o autor da
missiva e seus colegas jamais haviam aprovado a ação de Fr. Sprengel, no sentido
de autorizar qualquer forma de trabalho de grupo, mas que, devido à grande
reverência e estima que tinham por ela, preferiram deixar de adotar uma
oposição aberta. Prosseguia dizendo que “essa correspondência tinha que cessar
agora”, mas que, se eles desejassem mais conhecimento avançado, poderiam
perfeitamente obtê-lo utilizando de maneira apropriada o próprio conhecimento
que já detinham. Em outras palavras, deviam empregar seus poderes mágicos para
fazer contato com os Chefes Secretos da Ordem (o que é, a propósito, um
procedimento bastante normal e tradicional).
Pouco depois,
Mathers, que fizera manobras que o levaram à chefia da Ordem, anunciava que
havia realizado esse vínculo e que os Chefes Secretos o tinham autorizado a
continuar o trabalho da Ordem, sob sua exclusiva orientação. Entretanto, nada
há, neste caso, que evidencie que seu testemunho correspondesse à verdade, pois
nenhum conhecimento novo particularmente importante chegou à Ordem, a ponto de
realmente parecer comprovado existir não mais do que aquilo que Mathers poderia
ter adquirido por meios normais, de fontes bastante acessíveis, como o Museu
Britânico. Estas circunstâncias, somadas a muita intriga trivial, conduziram a
uma séria insatisfação entre os membros da Ordem. Nesse caso, a idéia defendida
por Fr. Sprengel, de que o trabalho de grupo numa Ordem deste tipo é possível,
revelou-se equivocada. Em 1900, a Ordem, sob a forma então existente, estava
destruída.
O motivo
desses dados é simplesmente mostrar que, naquela época, a preocupação principal
de todos os membros sérios da Ordem era entrar em contato com os próprios
Chefes Secretos. Em 1904, o sucesso foi obtido por um dos mais jovens membros
da Ordem, Frater Perdurabo. Os detalhes completos deste acontecimento são dados
em The Equinox of the Gods (O Equinócio
dos Deuses). *
* A mensagem
dos Chefes Secretos é dada n’ O Livro da
Lei, que foi editado privadamente para iniciados e publicado em O Equinócio, vol. I, números 7 e 10;
também em O Equinócio dos Deuses. Em
Português, O Livro da Lei encontra-se
no volume “Qelhma - Os Livros Sagrados de
Thelema” (Equinócio III.9), co-publicado pelas editoras Anúbis e Madras.
Não seria
útil, nesta oportunidade, discutir-se sobre a prova que estabelece a verdade
dessa pretensão. Mas cumpre observar que se trata de evidência interna. Ela
existe no próprio manuscrito. Não faria diferença se a afirmação de quaisquer
das pessoas envolvidas viesse a se mostrar falsa.
4. A natureza da evidência
Esta
digressão histórica foi necessária para a compreensão das condições desta
investigação. Convém considerar agora a numeração peculiar dos trunfos. Parece
natural a um matemático iniciar a série de números naturais com o zero, mas isto incomoda bastante a mente
não treinada matematicamente.
Nos ensaios e
livros tradicionais sobre o Tarô, supõe-se que a carta com o número 0 fica
entre as cartas XX e XXI. O segredo da interpretação dos iniciados, o qual
torna luminoso o significado integral dos trunfos, consiste simplesmente em
colocar essa carta marcada com o “0” em seu lugar natural, onde qualquer
matemático a colocaria, ou seja, à frente do número “Um”.
Mas ainda há
uma peculiaridade, um transtorno na seqüência natural, a saber: as cartas VIII
e XI têm que ser intercambiadas, a fim de preservar a atribuição correta. A
carta XI se chama Força e nela
aparece um leão, sendo bastante óbvia sua referência ao signo zodiacal do Leão,
enquanto que a carta VIII se chama Justiça,
representando a figura simbólica convencional, entronada e munida de espada e
balança, evidentemente se referindo ao signo zodiacal de Libra, a Balança.
Frater
Perdurabo realizara um estudo muito profundo do Tarô desde sua iniciação à
Ordem, em 18 de novembro de 1898; três meses depois, atingira o grau de Practicus e, como tal, teve o direito de
conhecer a atribuição secreta. Manteve-se estudando tal atribuição e os
manuscritos explicativos correlatos. Averiguou todos esses atributos dos números
em relação às formas da natureza e nada descobriu que fosse incongruente. Mas,
em 8 de abril de 1904 e.v., enquanto escrevia O Livro da Lei a partir do ditado do mensageiro dos Chefes
Secretos, parece ter formulado mentalmente uma questão, sugerida pelas palavras
do capítulo I, versículo 57: “a lei da fortaleza, e o grande mistério da Casa
de Deus” (a “ Casa de Deus” é um nome
do trunfo do Tarô de número XVI). A questão era neste sentido: - “Captei estas
atribuições corretamente?” E surgiu uma resposta intercalada: “Todas estas
velhas letras do meu Livro são corretas; mas x não é a Estrela. Isto também é
secreto: meu profeta o revelará ao sábio”.
Isso era
demasiado irritante. Se Tzaddi não
era “a Estrela”, o que era? E o que era Tzaddi
? Durante anos, ele tentou permutar essa carta, A Estrela, de número XVII, com alguma outra. Não teve êxito. A
solução somente lhe veio muitos anos depois. Tzaddi é O Imperador e,
portanto, as posições das cartas XVII e IV têm que ser trocadas. Esta
atribuição é bastante satisfatória.
Sim, mas é
algo bem mais do que satisfatório; é,
para o pensamento lúcido, a evidência mais convincente possível de que O Livro da Lei é uma mensagem genuína
dos Chefes Secretos, já que A Estrela
se refere a Aquário no zodíaco e O
Imperador, a Áries. Ora, Áries e Aquário estão a cada lado de Peixes, tal
como Leão e Libra estão a cada lado de Virgem, ou seja, a correção contida n’O Livro da Lei produz uma simetria perfeita
na atribuição zodiacal, como se fosse um laço formado numa extremidade da
elipse, correspondendo exatamente ao laço existente na outra extremidade.
Estas
matérias soam um tanto técnicas e, de fato, o são. Mas, quanto mais se estuda o
Tarô, mais se percebe a admirável simetria e perfeição do simbolismo. Todavia,
mesmo para o leigo, deve ser evidente que o equilíbrio e o Ajustamento são
essenciais para qualquer perfeição, e a elucidação desses dois embaraços nos
últimos cento e cinqüenta anos representa, indubitavelmente, um fenômeno
bastante notável.
RESUMO DAS
QUESTÕES ATÉ AQUI DISCUTIDAS
1. A origem
do Tarô é totalmente irrelevante, mesmo se for certa. Como um sistema, ele tem
que se sustentar ou cair em função de seus próprios méritos.
2. O Tarô é,
sem qualquer dúvida, uma tentativa deliberada de representar, sob forma
pictórica, as doutrinas da Qabalah.
3. A
evidência para isso é muito semelhante à evidência apresentada por uma pessoa
que está fazendo palavras cruzadas. Ela sabe, pelas pistas da horizontal, que
sua palavra é “ESMAG - espaço vazio - R”;
portanto, é certo, sem possibilidade de erro, que o espaço vazio seja um “A”.
4. Estas
atribuições são, num certo sentido, um mapa simbólico convencional, o qual poderia ser inventado por alguma pessoa ou
algumas pessoas de grande imaginação artística e engenhosidade, combinadas a
uma erudição e clareza filosófica de envergadura quase impensável.
5. Tais
pessoas, porém, por mais eminentes que suponhamos que tenham sido, não seriam
absolutamente capazes de produzir um sistema tão complexo sem a assistência de
superiores, cujos processos mentais pertenciam, ou pertencem, a uma dimensão
mais elevada.
((ilustr.
Hexagrama unicursal - Declarou-se sempre ser impossível traçar um
hexagrama unicursal, mas isto foi agora realizado. As linhas, entretanto, são
estritamente euclidianas... não possuem largura.))
((ilustr. Os
Dias da Semana - Leia em torno do hexágono a Ordem (mágica)
dos Sete Planetas Sagrados. Leia ao longo do hexagrama a ordem dos dias da
semana (acredita-se que esta hábil descoberta se deva ao falecido G. H. Frater
D.D.C. F.))
((Ilustr.
Diagrama do lupe duplo no zodíaco))
Poder-se-ia,
à guisa de analogia, tomar o jogo de xadrez. Este jogo evoluiu a partir de uma
origem bem simples. Tratava-se de uma batalha mímica para guerreiros cansados,
mas as sutilezas do jogo moderno - que atualmente foram, graças a Richard Réti,
bem além do cálculo, para adentrar o domínio da criação estética -
estavam latentes no esquema original. Os criadores do jogo estavam
“construindo melhor do que o sabiam”. É possível, é claro, argumentar que essas
sutilezas surgiram no decorrer do desenvolvimento do jogo, e efetivamente está
bem claro, historicamente, que os primeiros jogadores, cujos jogos estão
registrados, não detinham a concepção consciente de nada além de uma variedade
de estratagemas bastante imperfeitos e elementares. É inteiramente possível
argumentar que o jogo de xadrez é meramente um dos muitos jogos que se
desenvolveram, enquanto diversos outros jogos se extinguiram devido a algum
acidente. Pode-se, também, argumentar que o xadrez moderno esteve latente no
jogo original por mero acaso.
A teoria da
inspiração é realmente muito mais simples e dá conta dos fatos sem violar a lei
da parcimônia.
II
O TARÔ E A
SANTA QABALAH
O assunto a
seguir é a Santa Qabalah. É uma
matéria muito simples e não apresenta dificuldades à mente inteligente ordinária.
Há dez números no sistema decimal, havendo uma razão autêntica para que devam
ser dez números, e somente dez, num sistema numérico que não é meramente
matemático, mas filosófico. É necessário neste ponto apresentar o Arranjo de Nápoles. Porém, antes de mais
nada, é preciso compreender a representação pictórica do universo dada pela
Santa Qabalah (ver diagrama).
Essa figura
representa a Árvore da Vida, a qual é um mapa do universo. Deve-se começar,
como o faria um matemático, com a idéia do zero, zero absoluto, que examinado
se mostra significativo de qualquer quantidade que se possa escolher, mas não,
como em princípio poderia supor o leigo, do nada
no sentido vulgar da palavra, de ausência
de alguma coisa (Ver Berashith,
Paris, 1902).
O Arranjo de
Nápoles
Os qabalistas expandiram essa idéia do nada e obtiveram uma segunda espécie de nada, a que chamaram de Ain Sof - “Sem Limite” (idéia
aparentemente não dessemelhante daquela de espaço). Decidiram, então, que, para
interpretar essa mera ausência de qualquer modo de definição, seria necessário
postular o Ain Sof Aur - “Luz Ilimitada”. Assim, parece que
eles queriam dizer exatamente o que os homens de ciência do período vitoriano
queriam dizer, ou pensavam que queriam dizer, pela expressão “Éter Luminífero” (o continuum espaço-tempo
?)
Tudo isso é
evidentemente sem forma e vazio; são condições abstratas e não idéias
positivas. O passo seguinte tem que ser a idéia de posição. É preciso formular esta tese: se há alguma coisa exceto o nada, tem que existir dentro dessa luz
ilimitada; dentro desse espaço;
dentro desse Nada inconcebível, que
não pode existir como nada, mas tem
que ser concebido como um nada criado
da aniquilação de dois opostos imaginários. Assim aparece o ponto, que não tem “nem partes nem
magnitude, mas somente posição”.
Contudo,
posição não significa coisa alguma, a não ser que haja alguma coisa a mais,
alguma outra posição com a qual ela possa ser comparada. Tem-se que
descrevê-la, e o único modo de fazê-lo é possuir um outro ponto, o que significa que é preciso inventar o número dois, tornando possível a linha.
Mas essa
linha não significa realmente muito, porque não existe ainda medida de
comprimento. O limite do conhecimento neste estágio é que há duas coisas, de
modo que se pode falar sobre elas, mas não se pode dizer que estão uma próxima
da outra ou que estão muito apartadas; é-se apenas capaz de dizer que estão
distantes. Para efetivamente discernir-se entre elas, é necessário que haja uma
terceira coisa. Precisamos ter um outro ponto. Tem-se que inventar a superfície; tem-se que inventar o triângulo. Ao fazer isto, a propósito, a
totalidade da geometria plana surge. É-se capaz de dizer agora: - “A está mais
próximo de B do que A está de C”.
Mas, até agora,
não há nenhuma substância em quaisquer dessas idéias. Na verdade, não há quaisquer
idéias, salvo a de distância e talvez
a de intermediariedade e a de medição angular, de sorte que a
geometria plana, que agora existe em teoria, é, afinal de contas,
completamente dispersiva e incoerente.
Não houve nenhuma aproximação da concepção de uma coisa realmente existente.
Tudo que se realizou foi a fabricação de definições, e tudo num mundo puramente
ideal e imaginário.
Agora, então,
vem o abismo. Não se pode avançar
mais no ideal. O próximo passo tem que ser o real; ao menos, uma abordagem do real. Há três pontos, mas nenhuma idéia de onde qualquer um deles
está. Um quarto ponto é essencial, e este formula a idéia de matéria.
O ponto, a linha, o plano. O quarto
ponto, contanto que não esteja no plano, produz o sólido. Caso se queira saber a posição de qualquer ponto, tem-se
que defini-lo pelo emprego de três eixos coordenados: - “São tantos metros da parede norte, e tantos metros da parede leste, e
tantos pés do piso.”
Assim,
desenvolveu-se do nada um algo do qual se pode dizer que existe.
Chegou-se à idéia de matéria. Mas
esta existência é excessivamente tênue, pois a única propriedade de qualquer
ponto é sua posição em relação a certos outros pontos; nenhuma mudança é
possível; nada é capaz de acontecer. Portanto, ao se analisar a realidade conhecida, deve-se postular
uma quinta idéia positiva, que é aquela do movimento.
A idéia de movimento implica na de tempo, pois somente através do movimento, e dentro do tempo, pode qualquer evento ocorrer. Sem
essa mudança e seqüência, nada é capaz de ser o objeto dos sentidos (cumpre
observar que este número 5 é o número da letra Hé no alfabeto hebraico; esta é a letra tradicionalmente consagrada
à Grande Mãe; é o útero no qual o Grande Pai - que é representado pela letra Yod, a qual é a representação pictórica
de um ponto último - se move e gera a existência ativa).
É possível,
agora, ter-se uma idéia concreta do ponto;
e, finalmente, esse é um ponto capaz de ser auto-consciente, porque pode
ter passado,
presente e futuro. É capaz de definir a si mesmo em termos das idéias
anteriores. Eis aqui o número seis, o
centro do sistema: auto-consciente, capaz de experiência.
Neste
estágio, convém afastarmo-nos por um momento do simbolismo estritamente qabalístico. A doutrina dos próximos
três números (para algumas mentes, ao menos) não é expressa com muita clareza.
É mister olhar para o sistema Vedanta, rumo
a uma interpretação mais lúcida dos números 7, 8 e 9, embora tal interpretação
corresponda muito estreitamente às idéias qabalísticas.
Na análise hindu da existência, os rishis
(sábios) postulam três qualidades: Sat,
a essência do próprio ser; Chit, o
pensamento ou intelecção; e Ananda (usualmente
traduzido por bem-aventurança, êxtase), o prazer experimentado pelo ser no
desenrolar dos eventos. Esse êxtase é evidentemente a causa estimulante da
mobilidade da pura existência. Explica a hipótese da imperfeição por parte da Perfeição. O Absoluto seria nada,
permaneceria na condição de nada;
portanto, a fim de ser consciente de suas possibilidades e gozá-las, precisa
explorar essas possibilidades. Pode-se inserir aqui um enunciado paralelo dessa
doutrina, encontrada no documento chamado O
Livro do Grande Auk para capacitar o estudante a considerar a posição do
ponto de vista de duas mentes diferentes.
“Todos os elementos devem, numa
ocasião, ter estado separados - nesse caso, haveria intenso calor. Quando os
átomos atingem o sol, obtemos aquele calor imenso, extremo, e todos os
elementos são eles mesmos, novamente. Imagine que cada átomo de cada elemento
possua a memória de todas as suas aventuras. A propósito, esse átomo,
fortalecido com a memória, não seria o mesmo átomo; e, no entanto, ele o é,
porque nada ganhou de qualquer lugar, exceto essa memória. Conseqüentemente,
pelo lapso do tempo e em virtude da memória, uma coisa seria capaz de se tornar
alguma coisa a mais do que ela mesma, tornando-se, assim, possível um desenvolvimento
real. Vê-se, então, uma razão para qualquer elemento decidir passar por essa
série de encarnações, porque assim, e somente assim, pode ele prosseguir; e
sofre o lapso da memória que tem durante essas encarnações porque sabe que
passará inalterado.
“Portanto, você pode ter um número
infinito de deuses, individuais e iguais, embora diversos, cada um supremo e
inteiramente indestrutível. Esta é, também, a única explicação de como um ser
poderia criar um mundo no qual a guerra, o mal, etc. existem. O mal é apenas
uma aparência, porque (como o bem) não é capaz de afetar a própria substância,
mas somente multiplicar suas combinações. Isto é algo idêntico ao monoteísmo
místico, mas a objeção a essa teoria é que Deus tem que criar coisas que são
todas partes d’Ele mesmo, de maneira que a interação delas é falsa. Se
pressupomos muitos elementos, sua interação é natural.”
Essas idéias
de ser, pensamento e êxtase constituem as qualidades mínimas possíveis que um ponto precisa possuir para ter uma experiência sensível e real de
si mesmo. Correspondem aos números 9, 8
e 7. A primeira idéia de realidade, tal como conhecida pela mente, é portanto
conceber o ponto como se constituído por aqueles nove desenvolvimentos sucessivos,
anteriores ao zero. Aqui, então,
finalmente está o número dez.
Em outras
palavras, para descrever a realidade sob
forma de conhecimento é preciso
postular essas dez idéias sucessivas. Na Qabalah
são chamadas de Sephiroth, o que
significa Números. Como se poderá ver
na seqüência, cada número possui um significado própria; cada um corresponde a
todos os fenômenos, de uma maneira tal que sua disposição na Árvore da Vida (v.
diagrama) é um mapa do universo. Esses dez números são representados no Tarô pelas
quarenta cartas menores.
O Tarô e a
fórmula do Tetragrammaton
O que são,
então, as cartas da corte? Esta
questão envolve um outro aspecto do sistema de desenvolvimento. Qual foi o
primeiro processo mental ? Na obrigação de descrever o nada, o único modo de fazê-lo sem destruir sua integridade foi
representá-lo como a união de um mais
alguma coisa com um menos alguma
coisa equivalente. Pode-se chamar estas duas idéias de o ativo e o passivo, o Pai e a Mãe. Mas, a despeito de o Pai e a Mãe serem capazes
de realizar uma perfeita união, retornando assim ao zero - o que é um
retrocesso - são eles capazes também de avançar para a matéria, de modo que sua união produza um Filho e uma Filha. Na
prática, a idéia funciona como um método de descrever como a união de duas
coisas quaisquer produz uma terceira coisa que não é nenhuma delas.
A mais
simples ilustração disso se encontra na química. Se tomamos os gases hidrogênio
e cloro e passamos uma faísca elétrica através deles, ocorre uma explosão,
produzindo-se ácido hidroclórico. Temos aqui uma substância positiva, que nos é
possível chamar de o Filho do casamento desses elementos, sendo um avanço para
a matéria. Mas, também, no êxtase da união, liberam-se luz e calor, fenômenos
que não são materiais no mesmo sentido em que o ácido hidroclórico é material;
esse produto da união é, portanto, de uma natureza espiritual, correspondendo à
Filha.
Na linguagem
dos alquimistas, por uma questão de conveniência, tais fenômenos foram
classificados sob a figura de quatro elementos.
O fogo, o mais puro e mais ativo, corresponde ao Pai; a água, ainda pura,
porém passiva, é a Mãe; da união de ambos resulta um elemento que participa das
duas naturezas, sendo distinto, entretanto, tanto de uma quanto da outra,
elemento ao qual deram o nome de Ar.
É preciso
lembrar constantemente que os termos empregados pelos filósofos antigos e
medievais não significavam em absoluto o que significam atualmente. Água não significa para eles o composto
químico H2O; trata-se de uma idéia extremamente abstrata e existe em
toda parte. A ductibilidade do ferro é uma qualidade aquosa.(*) A palavra elemento não quer dizer elemento
químico. Significa um conjunto de idéias, resumindo certas qualidades e
propriedades.
(*) Sua
virtude magnética (similarmente) é ígnea; sua condutividade, aérea; e seu peso
e dureza, terrestres. Contudo, o peso é apenas uma função da curvatura do continuum espaço-tempo: “A terra é o
trono do espírito”.
Parece
dificilmente possível definir esses termos, de modo que os seus significados se
tornem claros para o estudante. Este deve descobrir por si mesmo, pela prática
constante, o que eles significam para ele. Nem sequer se conclui daí que ele
atingirá as mesmas idéias, o que não quer dizer que uma mente esteja certa e a
outra errada, porque cada um de nós possui seu próprio universo para si mesmo,
que não é idêntico ao universo de outra pessoa. A lua vista por A não é a lua que B, de pé ao seu lado, vê. Neste caso, a diferença é tão
infinitesimal que não existe na prática; e, todavia, há uma diferença. Mas se A e B
olharem para um quadro numa galeria, não será mesmo o mesmo quadro para os
dois, porque a mente de A foi
treinada para observá-lo em função de sua experiência de milhares de outros
quadros; B provavelmente viu um
conjunto inteiramente diferente de quadros. A experiência deles somente
coincidirá no que diz respeito a alguns
quadros famosos. Além disso, suas mentes são essencialmente diferentes de
diversas outras maneiras. Assim, se A
não gosta de Van Gogh, B tem pena
dele; se C admira Bougereau, D dá-lhe os ombros. Não há certo ou
errado acerca seja lá de que assunto for. Isto é verdade, até mesmo, em
matérias da ciência mais estrita. A descrição científica de um objeto é
universalmente verdadeira e, contudo, não é completamente verdadeira para
qualquer observador isolado.
O fenômeno
chamado de Filha é ambíguo. Foi
explicado anteriormente como o ingrediente espiritual no resultado do casamento
do Pai e a Mãe, mas isto não passa de uma interpretação.
O Tarô e os
elementos
Os antigos
concebiam o fogo, a água e o ar como elementos puros. Estavam vinculados às
três qualidades de ser, conhecimento e
alegria (êxtase), mencionadas
anteriormente. Correspondem, inclusive, ao que os hindus chamam de três Gunas - Sattvas, Rajas e Tamas, que se pode traduzir a grosso modo como calma, atividade e escuridão indolente. Os alquimistas
tinham três princípios similares de energia, dos quais são compostos todos os
fenômenos existentes: enxofre, mercúrio e
sal. Este enxofre é atividade, energia, desejo; mercúrio é fluidez,
inteligência, o poder da transmissão; o sal é o veículo destas duas formas de
energia, mas ele próprio possui qualidades que reagem a elas.
O estudante
deve ter em mente todas essas classificações tripartidas. Em alguns casos, um
conjunto será mais útil que os outros. De momento, convém concentrar-se na
série fogo, água, ar. Estes elementos são representados no alfabeto
hebraico pelas letras Shin, Mem e Aleph. Os qabalistas as chamam de Três
letras-mãe. Neste grupo particular, os três elementos envolvidos são formas
completamente espirituais de energia pura; somente podem se manifestar na
experiência sensível afetando os sentidos cristalizando-se num quarto elemento
que eles chamam de terra,
representado pela última letra do alfabeto, Tau.
Esta, então, é uma outra interpretação totalmente diferente da idéia da
Filha, que é aqui considerada um apêndice do triângulo. É o número dez
suspenso do 7, 8, 9 no diagrama.
Estas duas
interpretações precisam ser mantidas na mente ao mesmo tempo. Os qabalistas, planejando o Tarô,
produziram figuras dessas idéias extremamente abstratas do Pai, Mãe, Filho e
Filha, e as denominaram Rei, Rainha, Príncipe e Princesa. É
confuso, mas também foram chamadas de Cavaleiro,
Rainha, Rei e Princesa. Às vezes,
ainda, o Príncipe e a Princesa são denominados Imperador e Imperatriz.
O motivo
dessa confusão está relacionado com o doutrina d’O Louco do Tarô, o lendário
viandante que ganha a filha do Rei, uma lenda que está ligada ao antigo e
extremamente sábio plano de selecionar o sucessor de um rei por sua habilidade
para conquistar a Princesa entre todos os competidores (O Ramo Dourado, de Frazer, constitui a autoridade sobre este
assunto).
Achamos
melhor, para o baralho que aqui apresentamos, que adotássemos os termos Cavaleiro, Rainha, Príncipe e Princesa para representar a série Pai, Mãe, Filho, Filha, porque assim
exige a doutrina envolvida, extraordinariamente complexa e difícil. O Pai é Cavaleiro, porque é representado montando
um cavalo. Pode-se proporcionar mais clareza em relação a isto descrevendo-se
os dois sistemas principais, o hebraico e o pagão, como se fossem (e tivessem
sempre sido) concretos e separados.
O sistema
hebraico é direto e irreversível. Postula Pai
e Mãe, de cuja união surgem o Filho e a Filha. E ponto final. É apenas a especulação filosófica posterior
que deriva a díade Pai-Mãe de uma
Unidade manifesta, e a mais posterior ainda que busca a fonte dessa Unidade no nada. Este é um esquema concreto e limitado,
tosco, com seu início sem causa e seu fim estéril.
O sistema
pagão é circular, auto-gerado, auto-nutrido, auto-renovado. É uma roda sobre
cujo aro estão Pai - Mãe - Filho - Filha; eles se
movem em torno do eixo imóvel do Zero; eles se unem à vontade; eles se
transformam entre si; não há início nem fim para a órbita; nenhum é superior ou
inferior ao outro. A equação “nada = muitos = dois = um = tudo = nada” está
implícita em todo modo do ser do sistema.
Por mais difícil que isso seja, ao menos um resultado
bastante desejável foi atingido: explicar o por que do Tarô ter quatro cartas
da corte, e não três. Também explica o por que de haver quatro naipes. Os
quatro naipes são nomeados como se segue: bastões,
atribuídos ao fogo; Copas, à água; Espadas, ao ar; e Discos (Discos ou pantáculos), à terra. O estudante
perceberá esta interação e permuta do número 4. É igualmente importante para
ele observar que mesmo no arranjo décuplo, o número 4 desempenha seu papel. A
Árvore da Vida pode ser dividida em quatro planos: o número 1 corresponde ao
fogo; os números 2 e 3, à água; os números 4 a 9, ao ar; e o número 10 à terra.
Esta divisão corresponde à análise do homem. O número 1 é sua essência
espiritual, sem qualidade ou quantidade; os números 2 e 3 representam seus
poderes criativos e transmissivos, sua virilidade e sua inteligência; os
números 4 a 9 descrevem suas qualidades mentais e morais tal como estão
concentradas em sua personalidade humana; o número 6, por assim dizer, é uma
elaboração concreta do número 1; e o número 10 corresponde à terra, que é o
veículo físico dos nove números anteriores. Os nomes destas partes da alma são:
1, Jechidah; 2 e 3, Chiah e Neschamah; 4 a 9, Ruach; e,
por último, 10, Nephesch.
Estes quatro
planos correspondem, mais uma vez, aos chamados Quatro Mundos, cujas naturezas podem ser compreendidas por
referência, com todas as devidas reservas, ao sistema platônico. O número 1 é Atziluth, o Mundo Arquetípico, mas o
número 2, sendo o aspecto dinâmico do número 1, é a sua atribuição prática. O
número 3 é Briah, o Mundo Criativo,
no qual a Vontade do Pai toma forma através da Concepção da Mãe, exatamente
como o espermatozóide ao fertilizar o óvulo torna possível a produção de uma
imagem de seus pais. Os números 4 a 9 compreendem Yetzirah, o Mundo Formativo, no qual uma imagem intelectual, uma
forma apreciável da idéia, é produzida; e essa imagem mental se torna real e
sensível no número 10, Assiah, o
Mundo Material.
É caminhando
por todas essas atribuições confusas (e às vezes aparentemente contraditórias),
com infatigável paciência e persistência, que se chega, por fim, a uma lúcida
compreensão, a uma compreensão que é infinitamente mais clara do que qualquer
interpretação intelectual poderia ser. É um exercício fundamental no caminho da
iniciação. Caso se seja um racionalista superficial, será fácil captar furos em
todas essas atribuições e hipóteses ou quase-hipóteses semi-filosóficas, mas é
também absolutamente simples provar matematicamente ser impossível golpear uma
bola de golfe.
Até aqui, o
principal tema deste ensaio foi a Árvore da Vida em sua essência: as Sephiroth. Convém considerar agora as
relações das Sephiroth entre si (ver
diagrama). Perceber-se-á que vinte e duas linhas são empregadas para completar
a estrutura da Árvore da Vida. No devido tempo, será explicado como tais linhas
correspondem às letras do alfabeto hebraico. Nota-se que, em alguns aspectos, a
maneira como são unidas parece arbitrária. É de se notar que existe um
triângulo equilátero - que pode-se encarar como uma base natural para as
operações de filosofia - que consiste dos números 1, 4 e 5. Mas não há
linhas unindo 1 e 4, ou 1 e 5. Isto não é acidental. Em lugar algum da figura
há uma triângulo equilátero ereto, embora haja três triângulos equiláteros com
o ápice para baixo. Isso ocorre por causa da fórmula original “Pai, Mãe, Filho”, que se repete por três
vezes numa escala descendente de simplicidade e espiritualidade. O número 1
está acima desses triângulos, porque é uma integração do zero e depende do
tríplice véu do Negativo.
Por outro
lado, as Sephiroth, que são emanações
do número 1, como já foi mostrado, são coisas-em-si,
quase no sentido kantiano. As linhas que as unem são forças da natureza, de um
tipo muito menos completo; são menos abstrusas, menos abstratas.
As vinte e
duas chaves, atu, ou trunfos do Tarô
Eis um
excelente exemplo da doutrina do equilíbrio que a tudo permeia. Lê-se sempre a
equação ax2 + bx + x = 0. Se não for igual a zero, não é uma
equação. E assim, sempre que qualquer símbolo perde importância em um lugar na Qabalah, ele a ganha em outro. As cartas
da corte e as cartas menores formam o esqueleto do Tarô em sua principal
função, como mapa do universo. Mas, no
que diz respeito ao significado especial do baralho como chave para fórmulas mágicas, os vinte e dois trunfos adquirem
importância peculiar.
A que
símbolos são atribuídos? Não podem ser identificados com nenhuma das idéias
essenciais, porque este lugar está tomado pelas cartas de 1 a 10. Não podem
representar primordialmente o complexo
Pai, Mãe, Filho, Filha em sua plenitude, porque as cartas da corte já
assumiram essa posição. Sua atribuição é a seguinte: as três letras-mãe do
alfabeto hebraico, Shin, Mem e Aleph, representam os três elementos
ativos; as sete chamadas letras duplas, Beth,
Gimel, Daleth, Kaph, Pé, Resh e Tau representam os sete planetas sagrados.
As doze letras restantes, Hé, Vau, Zain,
Cheth, Teth, Yod, Lamed, Nun, Samekh, Ayin, Tzaddi e Koph representam os signos do zodíaco.
Há um ligeiro
emparamento ou sobreposição nesse
arranjo. A letra Shin tem que servir
tanto para o fogo quanto para o espírito, da mesma maneira que o número 2
participa da natureza do número 1; e a letra Tau representa tanto Saturno, quanto o elemento terra. Nessas
dificuldades reside uma doutrina.
Mas não se
pode dispensar essas vinte e duas letras assim casualmente. A pedra que os
construtores rejeitaram torna-se a parte mais importante do canto. Essas vinte
e duas cartas adquirem uma personalidade própria: uma personalidade muito
curiosa. Seria inteiramente errado afirmar que elas representam um universo
completo. Parecem representar fases bastante curiosas do universo. Não parecem
fatores essenciais na estrutura do universo. Mudam de tempos em tempos em sua
relação com os eventos correntes. Um olhar no elenco de seus títulos parece não
mostrar mais o espírito estritamente filosófico e científico de austera
classificação encontrado nas outras cartas. A linguagem do artista salta sobre
nós. Os títulos são: O Louco, O Prestidigitador (NT: O Mago), A Alta
Sacerdotisa, A Imperatriz, O Imperador, O Hierofante, Os Amantes, A Carruagem,
Volúpia, A Roda da Fortuna (NT: Fortuna), Ajustamento, O Pendurado, Morte, Arte,
O Diabo, A Casa de Deus (NT: A Torre), A
Estrela, A Lua, O Sol, O Aeon, O
Universo. É óbvio que não são
representações simbólicas francas, diretas dos signos, elementos e planetas
envolvidos. São mais hieróglifos de mistérios peculiares vinculados a cada um.
Pode-se começar a suspeitar que o Tarô não é uma mera representação direta do
universo ao modo impessoal do sistema do Yi
King. O Tarô começa a se parecer com propaganda. É como se os Chefes
Secretos da Grande Ordem, que é a guardiã dos destinos da espécie humana,
tivessem desejado apresentar certos aspectos particulares do universo,
estabelecer certas doutrinas especiais, declarar certas modalidades de trabalho
apropriados às situações políticas existentes. Diferem tal como uma composição
literária difere de um dicionário.
Foi bastante
lamentável, embora absolutamente inevitável, ser obrigado a ir tão longe na
argumentação, e que esta argumentação tenha envolvido tantas digressões a
título de notas preliminares sobre a descrição direta do baralho. Talvez tudo
se torne mais simples procedendo-se à sumarização das afirmações acima.
Eis uma
afirmação simples sobre o plano da
Árvore da Vida. Os números, ou coisas-em-si, são dez emanações
sucessivas provenientes do tríplice véu do Negativo. As cartas menores,
numeradas de 1 a 10 correspondem às Sephiroth.
Essas cartas são exibidas sob forma quádrupla, porque não são os puros números
abstratos, mas símbolos particulares desses números no universo da
manifestação, que é, por questão de conveniência, classificado sob a figura de
quatro elementos.
As cartas da
corte representam os próprios elementos, cada elemento dividido em quatro
sub-elementos. Por comodidade, segue abaixo uma lista dessas cartas:
Cavaleiro de
Bastões fogo do fogo
Rainha de
Bastões água do fogo
Príncipe de
Bastões ar do fogo
Princesa de
Bastões terra do fogo
Cavaleiro de
Copas fogo da água
Rainha de
Copas água
da água
Príncipe de
Copas ar da água
Princesa de
Copas terra da água
Cavaleiro de
Espadas fogo do ar
Rainha de
Espadas água do ar
Príncipe de
Espadas ar do ar
Princesa de
Espadas terra do ar
Cavaleiro de
Discos fogo da terra
Rainha de
Discos água da terra
Príncipe de
Discos ar da terra
Princesa de
Discos terra da terra
Os trunfos do
Tarô são vinte e dois e representam os elementos entre as Sephiroth ou coisas-em-si, de sorte que a posição deles na Árvore
da Vida é bastante significativa. Eis dois exemplos: a carta chamada Os Amantes, cujo título secreto
é Os
Filhos da Voz, o Oráculo dos Poderosos Deuses, conduz do número 3 ao número
6. O número 6 é a personalidade humana de um homem; o número 3, sua intuição
espiritual. Portanto, é natural e significativo que a influência do 3 sobre o 6
seja aquela da voz da intuição ou da inspiração. É a iluminação da mente e do
coração pela Grande Mãe.
Considere
novamente a carta que une o número 1 ao número 6. Seu nome é A Alta Sacerdotisa e é atribuída à lua.
A carta representa a Ísis Celestial, sendo um símbolo de completa pureza
espiritual e iniciação em sua forma mais secreta e íntima, descendo sobre a
consciência humana a partir da suprema consciência divina. Contemplada de
baixo, é a aspiração pura e inabalável do homem à divindade, sua fonte. Será
adequado tratar mais detalhadamente dessas matérias quando estivermos com as
cartas separadamente.
Do exposto
até aqui, transparece que o Tarô ilustra, primeiramente, a Árvore da Vida em
seu aspecto universal e, em segundo lugar, o comentário particular que ilustra
a fase da Árvore da Vida que interessa particularmente ãs pessoas encarregadas
da guarda da espécie humana no momento específico da produção autorizada de
dado baralho. É, conseqüentemente, correto para aqueles guardiões alterar o
aspecto do baralho quando lhe parecer bom fazê-lo. O próprio baralho
tradicional foi submetido a numerosas modificações, adotadas de acordo com a
conveniência. Por exemplo, O Imperador e a A Imperatriz nos baralhos medievais se referiam de maneira
absolutamente definida ao Santo Imperador Romano e sua consorte. A carta
originalmente denominada O Hierofante,
representando Osíris (como é mostrado pelo formato da tiara) tornou-se, no
período renascentista, O Papa. A Alta Sacerdotisa passou a ser chamada
de Papisa Joana, representando uma certa lenda simbólica que circulava entre os
iniciados e se tornou vulgarizada na fábula de uma papisa. Ainda mais
importante, O Anjo, ou O Juízo Final, representava a destruição
do mundo pelo fogo. Seu hieróglifo é, de
uma certa forma, profético, pois quando
o mundo era destruído pelo fogo em 21
de março de 1904,* a atenção de alguém era inevitavelmente atraída para a
semelhança dessa carta com a Estela da Revelação. Sendo este o início do novo aeon, pareceu mais adequado exibir o
início do aeon, pois tudo que se sabe
do próximo aeon, vigente por 2.000
anos, é que seu símbolo é aquela de cetro duplo.** Mas o novo aeon produziu alterações tão fantásticas
na ordem estabelecida das coisas, que seria evidentemente absurdo tentar
proceder às tradições desgastadas, pois “os rituais de outrora são negros.” Por
conseguinte, o esforço deste escriba tem sido no sentido de preservar aquelas
características essenciais do Tarô, que são independentes das alterações
periódicas do aeon, ao mesmo tempo
modernizando os aspectos dogmáticos e artísticos do baralho que acabaram por se
tornar ininteligíveis. A arte do progresso consiste em manter incólume o eterno
e, contudo, adotar uma posição de vanguarda, talvez em alguns casos quase
revolucionária, com respeito aos acidentes que estão sujeitos ao império do
tempo.
* Ver O
Equinócio dos Deuses.
** Ver O
Livro da Lei, III, 34. A referência é a Maat, Têmis, Senhora do equilíbrio.
III
O TARÔ E O
UNIVERSO
O Tarô é uma representação pictórica das
forças da natureza, concebida pelos antigos segundo certo simbolismo
convencional.
O Sol é uma
estrela. Ao redor dele giram diversos corpos chamados planetas, inclusive a
Lua, um satélite da Terra.
Esses corpos
giram numa única direção apenas. O sistema solar não é uma esfera, mas sim uma
roda. Os planetas não permanecem em alinhamento exato, oscilando por uma certa
extensão (relativamente pequena) de um lado do plano para o outro. Suas órbitas
são elípticas.
Os antigos
imaginaram essa roda com clareza maior do que as mentes modernas estão
habituadas a fazer. Prestaram particular atenção no aro imaginário. Dentro dos
limites desse aro, perceberam que as estrelas fixas à distância se achavam, de
um modo especial, ligadas ao movimento aparente do Sol. Deram o nome de zodíaco
a esse aro ou cinturão da roda. As constelações fora desse cinturão não
pareciam ter muita importância para a humanidade, porque não se encontravam na
linha direta da grande força giratória da roda (T. A. R. O. = R.O.T.A. = roda).
TEORIAS DOS
ANTIGOS
1. Na
antigüidade, supunha-se que a Terra era o centro do universo. Como o céu estava
acima da Terra - eles não o compreendiam como estando igualmente abaixo
dela -
era o mesmo tido como sendo de natureza divina. E, como reconheciam
imperfeições e irregularidade nos assuntos mundanos, acharam que os movimentos
dos corpos celestes, que observados por eles pareciam regulares, deviam ser
perfeitos.
Principiaram,
então, algum pensamento “a priorístico”. Seus
matemáticos tiveram a idéia de que um círculo
era uma figura perfeita. Conseqüentemente, (afirmaram com característico raciocínio
teológico que) todos os corpos celestes tem que se mover em círculos. * Essa hipótese religiosa causou enorme
transtorno para os astrônomos. À medida que suas medições se tornaram mais
amplas e precisas, descobriram ser cada vez mais difícil reconciliar a
observação com a teoria, ou ao menos fazê-lo sem colocar a si mesmos num
tremendo incômodo em seus cálculos. E assim inventaram ciclos e epiciclos para explicar os movimentos observados.
* Eles não
compreendiam que o círculo constitui apenas um caso da elipse: aquele no qual
os focos coincidem.
Por fim, esse
aborrecimento incitou Copérnico a sugerir que seria realmente bem mais
conveniente (se apenas a idéia não fosse tão perversa) imaginar que o Sol, e
não a Terra, fosse o centro do sistema.
Em matemática
não há fatos fixos. Bertrand Russel diz que nessa matéria “ninguém sabe do que
está falando e não interessa a ninguém se ele está certo ou errado”. Por
exemplo, comece supondo que a Lua é o centro imóvel do universo. Ninguém é
capaz de contradizê-lo; simplesmente se alteram os cálculos para o Ajustamento.
A objeção prática que se faz é que isso
não facilitaria o trabalho dos navegadores.
É importante
ter essa idéia em mente, pois, caso contrário, não se conseguirá compreender o
espírito inteiro da moderna ciência-filosofia. Ele não visa a verdade, não
concebe a verdade (em qualquer sentido ordinário da palavra) como possível;
visa, sim, à conveniência máxima.
2. Voltando à figura do sistema solar, o Sol é o
cubo da roda, o planeta mais afastado está no seu aro. E além, mas lateralmente
dentro deste aro, se encontram as doze constelações do zodíaco.
Por que doze
?
A grosso
modo, a primeira divisão do círculo é em quatro, em conformidade com as
estações observadas. Essa escolha pode também ter sido influenciada pela
divisão dos elementos em quatro: fogo, ar, água e terra (estes não significando
os objetos atualmente entendidos por estas palavras, como explicado
anteriormente). Talvez porque eles julgassem necessário introduzir um número
tão sagrado como o três em tudo que fosse celeste, ou, ademais, porque
aconteceu que as constelações observadas eram naturalmente divididas em doze
grupos, daí dividiram o zodíaco em doze signos, três para cada estação.
Observou-se
que a influência do Sol sobre a Terra mudava à medida em que ele passava pelos signos.
Assim, aconteciam coisas absolutamente simples, tais como a medida do tempo
entre o nascer e o pôr do sol.
Quando se
afirma que o Sol entra no signo de Áries, quer-se dizer que se uma linha reta
fosse traçada da Terra ao Sol e prolongada até as estrelas, essa linha passaria
através do início daquela constelação. Suponha, por exemplo, que alguém observa
a lua cheia no primeiro dia da primavera e será capaz de ver, atrás dela, as
estrelas do início de Libra, o signo oposto a
Áries.
Observou-se
que a Lua levava aproximadamente vinte e oito dias para passar de cheia a
cheia, e a cada dia foi atribuído aquilo a que se deu o nome de casa. Supôs-se que a misteriosa
influência da Lua se alterava em cada casa. Esta teoria não diz respeito diretamente
ao Tarô, mas deve ser mencionada para ajudar a esclarecer uma certa confusão
que está na iminência de complicar a questão.
3. Astrônomos antigos calcularam que o sol
levava trezentos e sessenta dias para fazer a volta do zodíaco. Este era um segredo
dos sábios rigorosamente guardado, de sorte que o ocultaram sob o nome divino Mithras, que soma de acordo com a
convenção grega (M - 40, I - 10, Th - 9,
R - 100, A - 1, S - 200) 360. Uma melhor observação demonstrou que 365 dias
eram mais precisos, de modo que decidiram chamá-lo de Abraxas (A - 1, B - 2, R - 100, A - 1, X - 60, A - 1, S - 200).
Quando os outros descobriram isto, se corrigiram alterando a ortografia para Meithras, que soma, como Abraxas, 365. Nisto ainda persistiu um
erro de não menos de seis horas, de modo que no decorrer dos séculos o
calendário se manteve incerto. Só assumiu sua forma presente no tempo do Papa
Gregório.
O ponto a ser
destacado em tudo isso, na divisão que fizeram do círculo do zodíaco em 360
graus, é que se trata de uma base conveniente para o cálculo.
Deu-se o nome
de decanato a cada medida angular de
10 graus; destas há, assim, trinta e seis, dividindo cada signo do zodíaco em
três seções. Supôs-se que a influência do signo era muito rápida e impetuosa no
primeiro decanato, poderosa e equilibrada no segundo, espiritualizada e cadiva
no terceiro.
Uma curta
digressão. Uma das mais importantes doutrinas dos antigos foi aquela do macrocosmo e microcosmo. O ser humano é
ele mesmo um pequeno universo; é uma cópia minúscula do grande universo. Esse
argumento foi, é claro, empregado em sentido contrário, de modo que as
características das qualidades dos três decanatos no signo, dadas acima, se
deram provavelmente graças a uma analogia com o curso de uma vida humana.
4. As
observações que acabamos de fazer dão uma idéia razoavelmente completa da
apresentação arbitrária, ou majoritariamente arbitrária, do cosmos, feita pelos antigos, a começar pela divisão em quatro elementos.
Estes elementos permeiam tudo. Eles argumentariam algo semelhante a respeito do
Sol. Diriam que ele era principalmente fogo por razões óbvias; mas teria também
em si a qualidade aérea da mobilidade. A porção aquosa se mostraria por seu
poder de criar imagens e a porção
terrestre por sua imensa estabilidade.
De maneira
análoga, em relação a uma serpente,
considerariam seu poder de morte, ígneo; sua rapidez, aérea; seu movimento
ondulante, aquoso; e seu hábito de vida, terrestre.
Essas
descrições são, evidentemente, bem inadequadas. Têm que ser completadas pela
atribuição de qualidades planetárias e zodiacais a todos os objetos. Assim, o
Touro, no zodíaco, é um signo da terra, e este é o signo central dos três
através dos quais o Sol passa durante a primavera, no hemisfério Norte (outono,
no Hemisfério Sul). Mas a natureza bovina é também gentil e, partindo daí, eles
afirmaram que Vênus rege o signo de Touro. A vaca, ademais, é o principal animal produtor de leite, de sorte que
fizeram dela a Grande Deusa Mãe, identificando-a, assim, com a Lua, a Mãe do
céu, tal como o Sol é o Pai. Representavam essa idéia ao dizer que a Lua é exaltada em Touro, ou seja, que ela
exerce o aspecto mais benéfico de sua influência quando está nesse signo.
5. É inicialmente confuso, mas muitíssimo
instrutivo e esclarecedor quando o princípio é inteiramente assimilado,
observar como todos esses elementos se
subdividiam e se juntavam. Somente se pode alcançar a compreensão de qualquer
um desses símbolos quando se produz
um quadro composto dele e de todos os outros em proporção variável. Assim cada
um dos planetas oferece uma certa porção de sua influência a qualquer objeto.
Este hábito de pensamento conduz a um entendimento da unidade da natureza (com sua exaltação adequada e espiritual) que
dificilmente pode ser atingido de qualquer outro modo; produz uma harmonia
interna que finda numa aceitação da vida e
da natureza.
Agora, é
quase tempo de se analisar e definir as características tradicionais desses
símbolos, mas talvez seja melhor, primeiramente, construir sobre uma base
segura pela consideração do número dois,
o qual até aqui não foi levado em conta.
Há somente
duas operações possíveis no universo: análise e síntese, dividir e unir. Solve et coagula, diziam os alquimistas.
Se alguma
coisa deve ser mudada, ou se divide um objeto em duas partes, ou se soma uma
outra unidade a ele. Este princípio repousa na base de todo o pensamento e
trabalho científicos.
O primeiro
pensamento do homem de ciência é classificação,
medição. Ele diz: “Esta folha de carvalho é semelhante àquela folha de
carvalho; esta folha de carvalho é diferente daquela folha de faia”. Enquanto
não se apreender este fato, não se começa a compreender o método científico.
Os antigos
estavam plenamente cientes dessa idéia. Os chineses, particularmente, baseavam
toda a sua filosofia nessa divisão primária do nada original. Era preciso começar com o nada; caso contrário, surgiria a seguinte questão: - “de onde veio
este algo que se postula?” E assim
eles escreveram a equação: zero é igual a mais
um mais menos um, 0= (+ 1) + ( -
1).
O mais um chamaram de Yang, ou princípio masculino; o menos
um chamaram de Yin, ou princípio
feminino. Estes então se combinam em proporção variável, dando a idéia de Céu e
Terra em perfeito equilíbrio, o Sol e a Lua em equilíbrio imperfeito, e os
elementos sob forma desequilibrada (ver o diagrama o cosmos chinês).
Este arranjo
chinês é, assim, décuplo, e se revela admiravelmente equivalente ao sistema que
foi anteriormente examinado.
6. O antigo
esquema dos elementos, planetas e signos zodiacais foi resumido pelos qabalistas em sua Árvore
da Vida.
Tal
identidade entre os dois sistemas foi mascarada até muito recentemente * pelo
fato dos chineses prosseguirem com seu sistema de duplicação, transformando
assim seus oito trigramas em sessenta e quatro hexagramas, enquanto os sábios
da Ásia ocidental juntaram seus dez números na Árvore da Vida por meio de vinte
e dois caminhos.
* Este autor
descobriu este fato no desenrolar de seu estudo - incompleto ainda - do Yi
King.
Os chineses,
deste modo, têm sessenta e quatro símbolos principais em comparação com os
trinta e dois da Árvore, mas os qabalistas dispõem de uma concatenação
de símbolos capaz de interpretação e manipulação muito sutis, que também é mais
apropriada para descrever as relações internas de seus elementos. Ademais, cada um pode ser multiplicado ou subdividido à
vontade, como convier.
A ÁRVORE DA
VIDA
1. Esta figura deve ser estudada muito
cuidadosamente, visto ser a base de todo o sistema sobre o qual o Tarô se
funda. É absolutamente impossível dar uma explicação completa dessa figura,
porque ela é absolutamente universal, não podendo, portanto, significar o mesmo
para esta e aquela pessoa. O universo de A não é o universo de B. Se A e B
estiverem sentados um frente ao outro à mesa, A verá o lado direito da lagosta,
e B, o esquerdo. Se ficarem lado a lado e olharem para uma estrela, o ângulo
será diferente; embora esta diferença seja infinitesimal, ela existe. Mas o Tarô
é o mesmo para todos, do mesmo modo que qualquer fato ou fórmula científicos
são os mesmos para todos. É de importante lembrar-se de que os fatos da
ciência, embora universalmente verdadeiros em abstrato, não são, entretanto,
precisamente verdadeiros para todos os observadores individualmente
considerados, porque, mesmo se a observação de um objeto comum for feita por
duas pessoas de reações sensoriais idênticas e a partir do mesmo ponto, ela não
poderá ser feita pelos dois ao mesmo tempo, e mesmo a mais ínfima fração de um
segundo é suficiente para mover tanto o objeto quanto o observador no espaço.
É preciso
frisar este fato, porque não se deve tomar a Árvore da Vida como uma fórmula
fixa e morta. Ela é, num certo sentido, um eterno padrão do universo,
exatamente por ser infinitamente elástica, e deve ser empregada como um
instrumento em nossas pesquisas sobre a natureza e suas forças. Não se deve
produzir aqui uma desculpa para o dogmatismo. O Tarô deveria ser aprendido na
vida o mais cedo possível, sendo um fulcro para a memória e um esquema para a
mente. Deve ser estudado continuamente, como um exercício diário, pois é
universalmente elástico e cresce proporcionalmente ao uso inteligente que dele
se faz, tornando-se um método extremamente engenhoso e excelente para a
apreciação da totalidade da existência.
2. É provável que os qabalistas que inventaram a Árvore da Vida tenham sido inspirados
por Pitágoras, ou que tanto este quanto aqueles tenham extraído o seu
conhecimento de uma fonte comum na antigüidade mais remota. Seja qual for o
caso, ambas as escolas concordam no que diz respeito a um postulado
fundamental, a saber: a realidade última
é melhor descrita pelos números e sua interação. É interessante notar que a
moderna física matemática também chegou a uma certa suposição similar. Ademais,
a tentativa de descrever a realidade por
um único termo definido foi abandonada. O pensamento moderno concebe a realidade sob a imagem de um anel de dez
idéias, tais como potencial, matéria e assim por diante. Cada idéia carece de
significado em si mesma, só podendo ser compreendida nos termos das outras.
Esta é exatamente a conclusão que aparece anteriormente neste ensaio com
respeito à maneira pela qual os planetas, elementos e signos seriam todos
dependentes e compostos uns dos outros.
Mas a
tentativa posterior para atingir a realidade
fez com que os qabalistas somassem
as qualidades dessas idéias, um tanto vagas e literárias, atribuindo-as aos
números da escala decimal.
São os
números, então, o acesso mais próximo à realidade que se mostra nesse sistema.
O número 4, por exemplo, não é tão somente o resultado da soma de um ao três,
ou o quadrado de dois, ou a metade de oito. Ele é uma coisa-em-si, com todos os
tipos de qualidades morais, sensíveis e intelectuais. Simboliza idéias como lei, restrição, poder, proteção e estabilidade.
No sistema qabalístico, a idéia original é o zero, * que aparece sob três formas,
seja como na filosofia chinesa - o Tao se
torna manifestado pouco a pouco através do Teh
- seja como no melhor dos sistemas indianos - o deus da destruição e do
aniquilamento, Shiva, se torna
manifestado através da energia infinita,
Sakti. O sistema começa, portanto, com Ain, o nada; Ain Sof, o ilimitado e Ain
Sof Aur, a luz ilimitada.
* A repetição
aqui, em outra linguagem, das idéias já explicadas neste ensaio é intencional.
Pode-se,
agora, passar a imaginar qualquer ponto nessa luz, a fim de selecioná-lo para observação; o fato de fazê-lo o torna positivo. Isto produz o número 1, que é
chamado de Kether, a Coroa. Os outros
números surgem em razão da necessidade
do pensamento, tal como explicado na tabela a seguir:
O ARRANJO DE
NÁPOLES **
** Assim
chamado porque primeiramente elaborado naquela cidade.
61= 0.
61+146 = 0
como (espaço) indefinido.
61+ 146 + 207
= 0 como base de vibração possível.
1. O ponto:
positivo, contudo indefinível.
2. O ponto:
distinguível de 1 outro.
3. O ponto:
definido por relação a 2 outros.
O abismo
-- entre o ideal e o real.
4. O ponto:
definido por 3 coordenadas: matéria.
5. Movimento (tempo) - Hé, o útero, pois somente
através do movimento e no tempo podem os eventos ocorrer.
6. O ponto:
agora auto-consciente, porque capaz de definir a si mesmo nos termos acima
indicados.
7. A idéia do
ponto de êxtase (Ananda).
8. A idéia do
ponto de pensamento (Chit).
9. A idéia do
ponto de ser (Sat).
10. A idéia
do ponto de si mesmo, preenchido em
seu complemento, como determinado por 7, 8 e 9.
Poder-se-á
perceber, a partir do exposto acima, que por meio desses dez números positivos,
mas não por qualquer número menor, é-se capaz de atingir uma descrição positiva
de qualquer objeto ou idéia dados.
Até este
ponto, o argumento foi construído sobre uma base rígida, matemática, contando
apenas com o mais leve colorido filosófico para dar-lhe forma. Mas é neste
ponto que, visando a descrever os objetos do pensamento e dos sentidos, devemos
unir nossos esforços aos dos astrólogos. Agora o problema é: atribuir ao número puro as idéias morais que o
acompanham. Isto é, em parte, uma questão de experiência, em parte, de tradição
derivada de experiência mais antiga. Seria tolo descartar-se a tradição movido
por total desprezo, porque todo o pensar está limitado pelas leis da própria mente,
e a mente tem sido formada através de
milhares de anos de evolução em cada homem pelos pensamentos de seus
ancestrais. As células de todos os cérebros vivos são exatamente tanto a prole
dos grandes pensadores do passado como o desenvolvimento dos órgãos e membros.
Há
pouquíssimas pessoas hoje em dia que ouviram falar de Platão e Aristóteles. Nem
uma em mil, talvez em dez mil, dessas poucas pessoas jamais leu um ou outro,
mesmo traduções. Mas há também pouquíssimas pessoas cujo pensamento não tenha sido condicionado pelas idéias
desses dois homens.
Na Árvore da
Vida, portanto, é encontrada a primeira tentativa de conectar o ideal com o real. Os qabalistas
dizem, por exemplo, que o número 7 contém a idéia de Vênus, e o número 8, a de
Mercúrio; que o caminho de ligação entre 1 e 6 se refere à Lua, e aquele entre
o 3 e o 6, ao signo de Gêmeos.
E então qual
é o verdadeiro significado, na categoria do real,
desses planetas e signos ? Novamente nos defrontamos com a impossibilidade
de uma definição exata, porque as possibilidades de pesquisa são infinitas;
ademais, a qualquer momento, em qualquer pesquisa, uma idéia se funde com uma
outra e obscurece a definição exata das imagens. Mas esse, é claro, é o
objetivo. São todos estes passos cegos no caminho para a Grande Luz: quando o universo é percebido como uno, contudo com
todas as suas partes, cada uma necessária, e cada uma distinta das demais.
O início
deste trabalho é, entretanto, suficientemente fácil. Tudo que se requer é
conhecimento clássico elementar. Falando a grosso modo, para começar, as
naturezas dos planetas são descritas por meio de deuses de acordo com os quais
os corpos celestes foram nomeados, conforme as antigas idéias astrológicas da
influência deles em assuntos humanos. O mesmo vale, em menor medida, no que diz
respeito aos signos do zodíaco. Não há tanta informação disponível sobre as
suas naturezas, mas é útil observar que planeta rege que signo, e em que signo
quais planetas são exaltados. As estrelas
fixas individuais não entram no sistema do Tarô.
O TARÔ E A
ÁRVORE DA VIDA
O Tarô,
baseado nessas atribuições teóricas, foi concebido como um instrumento prático
de cálculos qabalísticos e de
adivinhação. Nele há pouco espaço para idéias abstratas. O assunto do livro - o Tarô é chamado de O Livro de Thoth ou Tahuti - é a
influência dos dez números e das vinte e duas letras sobre o ser humano,
e seus melhores métodos de manipulação das forças desses números e letras. Não
há, portanto, menção dos Três Véus do Negativo, o que foi discutido
na descrição da Árvore da Vida. A
descrição começa com as cartas menores,
numeradas de 1 a 10, que são divididas em quatro naipes, de acordo com os
quatro elementos.
Assim o Ás de Bastões é chamado de Raiz das Forças do Fogo. Pertence a Kether e
pretende representar a primeira manifestação positiva da idéia do fogo.
O 2 pertence
a Chokmah, mas aqui já não se
encontra mais a simplicidade da idéia do fogo. Uma idéia em ação ou em
manifestação não é mais a pura idéia.
Essa carta é
atribuída ao primeiro decanato do signo ígneo de Áries, que é regido por Marte,
dando a este, então, a idéia de uma força violenta e agressiva. A carta é
chamada, por conseguinte, de Senhor do
Domínio. Esta progressiva degradação da idéia do fogo prossegue crescendo
através do naipe. Cada carta que se sucede torna-se menos ideal e mais real, de
modo crescente, até que, com o número 6, o qual corresponde ao Sol, o centro de
todo o sistema, a idéia ígnea ressurge, equilibrada e conseqüentemente pura,
embora complexa. Além daí, a força começa a despender a si mesma, ou
espiritualizar-se nas cartas do decanato de Sagitário. Mas a melhor fixação da
força ígnea é encontrada no 9, número que é a fundação da estrutura da Árvore
da Vida, sendo, assim, esta carta chamada de Senhor da Força. O fogo foi purificado, eterizado e equilibrado,
mas no 10, exibindo completa materialização e redundância, o efeito do fogo é
impulsionado ao seu limite extremo. Sua morte é iminente, mas ele reage contra
isso o melhor que pode, aparecendo como Senhor
da Opressão, superficialmente formidável, mas com as sementes do declínio
já germinando. O resumo acima pode ser facilmente aplicado pelo estudante aos
outros naipes.
As cartas da corte são em número de
dezesseis, quatro para cada naipe. Há, assim uma subdivisão de cada elemento
dentro de seu próprio sistema. Os cavaleiros
representam o elemento do fogo, de maneira que o Ás de Bastões representa a parte ígnea do fogo; o Cavaleiro de Copas, a parte ígnea da
água. De modo análogo, as princesas ou
imperatrizes representam a terra, de modo que a Imperatriz de Discos representa a parte terrestre da terra.
Essas cartas
têm muitas manifestações nos fenômenos naturais. Assim, o Cavaleiro de Bastões tem a atribuição de Áries e representa rápida
violência de ataque, o relâmpago. Mas
a parte aérea do fogo é simpática a Leão, a força estável da energia, o Sol. Finalmente, na parte aquosa do
fogo, a harmonia é com Sagitário, que mostra o reflexo ou translucência
efêmeros, espiritualizados, da imagem do fogo, e isto sugere o arco-íris (ver tabela das triplicidades
do zodíaco).
OS ATU DE
TAHUTI *
Ou: as vinte e duas casas da sabedoria,
Ou: os vinte
e dois trunfos
do Tarô.
* Atu, casa ou chave em egípcio antigo. Tahuti, deus egípcio da sabedoria,
magia, ciência e também ilusão; em copta, Thoth,
em grego, Hermes, em latim, Mercúrio. Os deuses hindu e escandinavo
correspondentes são formas corrompidas.
Vinte e dois
é o número das letras do alfabeto hebraico. É o número dos caminhos do Sepher Yetzirah. Esses
são os caminhos que unem os dez números na figura chamada Árvore da Vida.
Por que há
vinte e dois deles ? Porque este é o número das letras do alfabeto hebraico,
cabendo uma letra a cada caminho.
Por que
deveria ser assim ? Por que estes caminhos devem ser dispostos na Árvore da
maneira mostrada pelo diagrama ? Por que não deveria haver caminhos ligando os
números 2 e 5, e os números 3 e 4 ?
Não se pode
responder a qualquer uma destas perguntas. Quem sabe “Como A conseguiu
permissão para um boi ser, não o camelo”, dizem os judeus, “que é G”? *
Sabe-se somente que esta foi a disposição convencional adotada por quem
quer que seja que inventou o Tarô.
* A é Aleph, a primeira letra do alfabeto
hebraico, e quer dizer boi; G é Gimel, a terceira e quer dizer camelo
(NT).
E, o que é
pior, parece muito confuso, muito irritante. Abala a nossa fé nesses grandes
sábios. Mas, ao menos, não há dúvida que assim é que é.
As letras do
alfabeto hebraico são vinte e duas. Há três letras-mãe para os elementos, sete letras duplas para os planetas e doze letras simples para os signos do
zodíaco.
Mas existem quatro elementos e não três. Ou,
incluindo o elemento espírito (um
assunto importante para os iniciados), existem cinco.
Há,
conseqüentemente, duas letras do alfabeto que precisam trabalhar em dobro. O
elemento fogo é muito estreitamente aparentado à idéia de espírito, de maneira que a letra Shin, pertencente ao fogo, pode ser tomada para significar espírito, também. Há uma razão especial
para que assim seja, embora só se aplique em épocas posteriores, a partir da
introdução do dogma segundo o qual o espírito
rege os quatro elementos e da formação do Pentagrama da Salvação ligado à palavra hebraica IHShVH, Yeheshuah.
No que
concerne à terra, considerou-se adequado fazer a letra Tau, pertencente a Saturno, corresponder também à terra.
Tais
acréscimos são uma clara evidência que o Tarô deu passos definidos, porém
arbitrários, para afirmar a redescoberta em magia por volta de dois mil anos
atrás, pois não há sistema mais rígido que o hebraico, e o sistema do Sepher Yetzirah é o mais profundamente
enraizado de todos os elementos do sistema hebraico, o mais dogmático de todos.
O Tarô não é
justificado por fé, mas por obras. Os pontos de partida da Qabalah original, completamente seca, têm sido justificados pela
experiência. Percebe-se que o ponto (levantado acima) sobre a maneira na qual
os caminhos são selecionados para unir certos números, e não outros, expressa
importantes doutrinas ligadas aos fatos da iniciação. É preciso ter-se sempre
em mente que o Tarô não é apenas um
atlas para registro de fatos, mas sim um livro-guia, que mostra como viajar por
esses países previamente desconhecidos.
Viajantes na
China ficam a princípio desnorteados quando lhes dizem que são 100 li de Yung Chang a Pu Peng, mas somente
40 li de Pu Peng a Yung Chang. A
resposta é que li é uma medida de
tempo de marcha e não de distância. A diferença numérica de cálculo é explicada
às pessoas pelo fato do caminho para Pu Peng ser um longo aclive.
Coisa
idêntica sucede com o Tarô. O Seis de
Bastões se refere a Júpiter em Leão e é chamado de Senhor da Vitória. Isto não indica apenas com o que a vitória se assemelha,
mas também as condições a serem preenchidas a fim de obter a vitória. Há
necessidade da energia ígnea do naipe de Bastões, do equilíbrio do número 6, da
coragem obstinada de Leão e também da influência de Júpiter, o bocadinho de
sorte que faz a balança se inclinar.
Estas
considerações são particularmente importantes ao se lidar com os Atu ou trunfos. Os planetas já estão
representados nos números ou Sephiroth da
Árvore da Vida, mas também são atribuídos a certos caminhos.
Alguns
etimologistas ociosos tentaram derivar a
palavra francesa atout do ATU que significa casa. Talvez seja mais simples sugerir que atout seja uma abreviação de bon
à tout, que significa bom para tudo,
visto que o trunfo toma qualquer carta de qualquer naipe.
Os Atu de Tahuti, que é o Senhor
da Sabedoria, são também chamados de chaves.
São guias, condutores. Dão a você o mapa do reino do céu e também o melhor caminho para tomá-lo à força. Uma
completa compreensão de qualquer problema mágico é necessária antes de se poder
solucioná-lo. São sempre abortivos o estudo e a ação realizados do exterior. A
compreensão desse caráter extremamente especializado dos trunfos é de suma
importância.
Dizer que o
trunfo de número III, chamado de A
Imperatriz, representa Vênus significa muito menos e também muito mais do
que parecerá se Vênus for estudada de um ponto de vista estritamente
astrológico.
Abandona-se a
contemplação do todo para se tirar vantagem prática de uma parte, tal como a
tática difere da estratégia. Um grande general não pensa a guerra no abstrato,
mas sim limita sua atenção a uma minúscula parte de seu talvez vasto
conhecimento do assunto, considerando a disposição de suas forças num dado
lugar e tempo, e o melhor modo de empregá-las contra seu adversário. Isto se revela
verdadeiro, é claro, não apenas em relação aos trunfos, mas em relação a todas
as outras cartas, tendo que ser verdadeiro no que se refere a quaisquer estudos
especializados. Se alguém entra numa loja e pede um mapa de um certo país não é
possível que consiga um mapa completo, porque um tal mapa se fundiria
necessariamente ao universo, à medida que se aproximasse da completitude, pois
o caráter de um país é modificado pelos países adjacentes, e assim por diante
para sempre. Nem mesmo seria completo um mapa útil e prático mais vulgar sem
levar à confusão. O vendedor da loja desejaria saber se o cliente deseja um
mapa geológico, um mapa orográfico, um mapa comercial, um mapa indicativo da
distribuição da população, ou um mapa estratégico, e assim por diante para
sempre.
O estudante
do Tarô não deve, portanto, esperar encontrar nada além de uma seleção
cuidadosa dos fatos a respeito de qualquer carta dada, uma seleção feita para
um propósito mágico bem definido.
E, contudo, o
Tarô tenta resumir num símbolo pictórico único o máximo possível de aspectos
úteis da idéia. Ao estudar qualquer carta, não se deve negligenciar qualquer
das atribuições, porque cada classe de atribuição realmente modifica a forma e
a cor da carta e o uso desta. Neste ensaio se fará um esforço, na seção
descritiva de cada carta, no sentido de incluir o máximo possível de
correspondências.
OS NÚMEROS
ROMANOS DOS TRUNFOS *
* Em alguns
parágrafos desta seção, serão repetidas, em frases ligeiramente diferentes,
afirmações já feitas nas páginas anteriores. É proposital.
Os trunfos
são numerados mediante algarismos romanos, para evitar a confusão com os
algarismos arábicos das Sephiroth.
Foi desconcertante para os escritores tradicionais que se ocuparam do Tarô,
admitirem que esses números devessem ir de 0 a XXI. Parecem ter pensado que
seria adequado supor que o “0” era O
Louco porque era uma nulidade, um imprestável. Fizeram esta suposição
simplesmente porque desconheciam a doutrina secreta do zero qabalístico. Desconheciam matemática elementar. Não sabiam que
os matemáticos começam a escala decimal pelo zero.
Para deixar
absolutamente claro, aos iniciados, que não compreendiam o significado da carta chamada O Louco, eles o colocaram entre as
cartas XX e XXI, por um motivo cuja concepção só pode aturdir a imaginação
humana. Atribuíram então a carta número I, O
Prestidigitador, à letra Aleph. Desta maneira simples, porém
habilidosa, obtiveram a atribuição errada de todas as cartas, exceto a de O Universo, XXI.
Enquanto isso,
a verdadeira atribuição foi bem guardada no Santuário
e somente se tornou pública quando o texto secreto da lição emitida para os
membros do grau de Practicus da Ordem Hermética da Aurora Dourada foi
publicado como resultado da catástrofe que atingiu o ramo inglês da Ordem, em
1899 e 1900 e.v., e da reconstrução de toda a Ordem em março e abril de 1904
e.v.. Colocando-se a carta “0” em seu lugar correto, onde qualquer matemático a
teria colocado, as atribuições caem numa ordenação natural, que é confirmada
por toda investigação.
Havia,
entretanto, um enroscamento na corda. A carta de nome Ajustamento é marcada com o número VIII; a carta de nome Volúpia é
marcada com o número XI. Para manter a seqüência natural, Volúpia deve ser
atribuída a Libra, e Ajustamento a Leão. ** Isto está evidentemente errado,
porque a carta chamada Ajustamento
mostra realmente uma mulher com espada e balança, enquanto que a carta chamada
Volúpia mostra uma mulher e um leão.
** Os títulos antigos destas cartas eram
respectivamente Força e Justiça, inadequados ou enganosos.
Foi
inteiramente impossível compreender o motivo por que da ocorrência dessa
inversão até os eventos de março e abril de 1904, que são narrados
detalhadamente em O Equinócio dos Deuses.
Basta uma citação aqui: “Todas estas velhas letras do meu Livro são
corretas; mas x não é a Estrela.” (AL. I, 57) . Isto tornava a escuridão mais
profunda. Estava claro que a atribuição de A
Estrela à letra Tzaddi era
insatisfatória, mas se levantava a questão de como descobrir uma outra carta
que ocupasse seu lugar. A respeito disto, uma quantidade incrível de trabalho
foi realizada... em vão. Passados quase vinte anos surgiu a solução.
A Estrela
representa Nuit, os céus estrelados,
“...Eu sou o Infinito Espaço e as Infinitas Estrelas de lá...” (AL. I, 22). Ela
é representada com duas ânforas, uma vertendo água, símbolo da luz, sobre si
mesma e a outra sobre a terra. Trata-se de um glifo da economia do universo. Ele verte continuamente energia e
continuamente a reabsorve. É a realização do movimento perpétuo, que jamais é verdadeiro quanto a qualquer
parte, mas necessariamente verdadeiro quanto ao todo, pois se assim não fosse,
haveria algo desaparecendo no nada, o que é matematicamente absurdo. O
princípio de Carnot (a segunda lei da termodinâmica) é somente verdadeiro em
equações finitas.
A carta que
deve ser permutada com A Estrela é O Imperador, o qual tem o número IV, que
significa poder, autoridade, lei e é atribuída ao signo de Áries. Isto se
mostra muito satisfatório. Mas se tornou infinitamente mais satisfatório logo
que se percebeu que essa substituição esclarecia o outro mistério acerca de Força e Justiça, pois Leão e Libra são, devido a essa troca, mostrados em rotação em torno de
Virgem, o sexto signo do zodíaco, o que equilibra a revolução de Áries e
Aquário em torno de Peixes, o décimo segundo signo. Esta é uma referência a um
segredo peculiar dos antigos que foi estudado com muita profundidade por
Godfrey Higgins e outros de sua escola. Seria inútil aprofundar-se nesta
matéria aqui. Mas a posição fica suficientemente clara mediante o diagrama de
que dispomos. Poder-se-á perceber, de relance, que agora pela primeira vez
existe uma perfeita simetria estabelecida no Tarô.
A justeza da
troca revela-se evidente quando se
considera a etimologia. É natural que a Grande Mãe deva ser atribuída a Hé, que é a sua letra no Tetragrammaton, enquanto que a letra Tzaddi é a letra natural de O Imperador
no sistema fonético original, como é indicado nas palavras Tsar, Czar, Kaiser, Caesar, Senior, Seigneur, Señor, Signor, Sir.
O TARÔ E A
MAGIA
A magia é a
ciência e arte de fazer com que ocorra mudança em conformidade com a vontade. Em outras palavras, a magia é ciência,
pura e aplicada.
Esta tese foi
desenvolvida extensivamente pelo Dr. Sir J.
G. Frazer. Mas, na linguagem corrente, a palavra magia tem sido usada com o significado do tipo de ciência que as
pessoas comuns não compreendem. É neste sentido restrito, na maioria das
partes, que essa palavra será empregada neste ensaio.
O negócio da
ciência é explorar a natureza. Suas primeiras perguntas são: O que é isto ?
Como se constituiu? Quais são suas relações com outros objetos ? O conhecimento adquirido pode então ser usado
na ciência aplicada, que indaga: Como podemos empregar da melhor forma esta ou
aquela coisa ou idéia para o propósito que nos parece adequado ? Um exemplo
pode esclarecer isto.
Os gregos da
antigüidade estavam cientes de que pelo friccionamento de âmbar (que eles
denominavam electron) na seda aquele
adquiria o capacidade de atrair para si objetos leves como pedacinhos de papel.
Mas eles pararam por aí. Sua ciência teve seus olhos vendados por teorias
teológicas e filosóficas do tipo a
priori. Foram precisos bem mais de
2.000 anos para que esse fenômeno fosse correlacionado com outros fenômenos
elétricos. A idéia de medição era mal
conhecida por quem quer que seja salvo por matemáticos como Arquimedes e
astrônomos. Os fundamentos da ciência, como é entendida hoje, foram efetivamente formulados há não
mais que duzentos anos. Havia uma imensa quantidade de conhecimento, mas era
quase todo ele qualitativo. A classificação dos fenômenos dependia
principalmente de analogias poéticas. As doutrinas das correspondências e assinaturas
eram baseadas em semelhanças fantásticas. Cornélio Agrippa escreveu sobre a
antipatia entre um golfinho e um
remoinho de água. Se uma meretriz se sentava sob uma oliveira, esta não daria mais frutos. Se alguma coisa
parecia com alguma outra coisa, passava a participar de alguma forma misteriosa
de suas qualidades.
Hoje em dia,
isso soa como mera ignorância supersticiosa e absurdo, mas não se trata disto
em absoluto. O antigo sistema de classificação era às vezes bom, às vezes ruim,
dentro de seus limites. Mas em caso algum ele ia realmente muito longe. A
engenhosidade natural de seus filósofos naturais, de fato, compensava
largamente a debilidade de suas teorias, e acabou finalmente por levá-los
(especialmente através da alquimia, onde eram forçados pela natureza do
trabalho a acrescer o real às suas observações ideais) a introduzir a idéia de medida. A ciência moderna, intoxicada
pelo sucesso prático atingido por essa inovação, tem simplesmente fechado a
porta para qualquer coisa que não pode ser medida. A velha guarda recusa-se a discuti-lo. Mas a perda é imensa. A
obsessão com qualidades estritamente físicas tem bloqueado todos os valores
humanos reais.
A ciência do
Tarô é inteiramente baseada nesse
sistema mais antigo. Os cálculos envolvidos são muito precisos, mas nunca
perdem de vista o incomensurável e o imponderável.
A teoria do animismo estava sempre presente nas
mentes dos mestres medievais. Qualquer objeto natural detinha não apenas suas
características materiais, como era também uma manifestação de uma idéia mais
ou menos tangível da qual ele dependia. A lagoa era uma lagoa... tudo bem, mas
também havia uma ninfa cujo lar era a lagoa. E, por sua vez, a ninfa era
dependente de um tipo superior de ninfa, a qual era bem menos intimamente
ligada a qualquer lagoa em particular, porém mais às lagoas em geral, e assim
por diante, até a suprema Senhora da Água,
que exercia uma supervisão geral sobre a totalidade de seu domínio. Ela, é
claro, estava subordinada ao Regente Geral
de todos os quatro elementos. É
exatamente a mesma idéia no caso do oficial de polícia, que tem seu sargento,
inspetor, superintendente, comissário, sempre se tornando mais nebuloso e
remoto até se alcançar o indistinto Ministro da Justiça, que é, ele próprio, o
servo de um fantasma completamente intangível e incalculável chamado de a vontade do povo.
Pode-se
duvidar até que ponto a personificação dessas entidades era concebida como real
pelos antigos, mas a teoria era que, enquanto alguém com um par de olhos
conseguisse ver a lagoa, não conseguiria ver a ninfa, salvo por algum acidente.
Mas achavam que um tipo superior de pessoa, por meio de pesquisa, estudo e
experimento poderia obter esse poder geral. Uma pessoa ainda mais avançada
nessa ciência podia entrar em contato real com as superiores - porque mais
sutis - formas de vida. Podia,
talvez, fazê-las manifestar-se sob forma
material.
Muito disso
repousa no idealismo platônico, no qual se sustentava que qualquer objeto
material era uma cópia impura e imperfeita de alguma perfeição ideal. Assim, os
homens que desejavam avançar na ciência e filosofia espirituais empenhavam-se
sempre em formular para si mesmos a idéia pura. Tentavam proceder do particular ao geral, princípio que serviu muitíssimo à ciência ordinária. A
matemática de 6 + 5 = 11 e 12 + 3 = 15 se achava toda aos pedaços. O avanço só
chegou quando escreveram suas equações em termos gerais. X2 - Y2
= (X + Y) (X - Y) cobre todos os
casos possíveis de subtração do quadrado de um número do quadrado de um outro.
E, assim, o sem sentido e abstrato, quando compreendido, possui
muito mais sentido do que o inteligível e
concreto.
Tais
considerações se aplicam às cartas tomadas do Tarô. Qual é o significado do Cinco de Bastões ? Esta carta está sujeita
ao Senhor do Fogo porque é um bastão e à Sephira Geburah porque é um cinco. Está sujeita também ao signo do
Leão e ao planeta Saturno porque este planeta e signo determinam a natureza da
carta. Isto não é mais do que dizer que um martini
seco tem em si algum junípero e algum álcool e algum vinho branco e ervas e
um bocado de casca de limão e algum gelo. É uma composição harmoniosa de vários
elementos que, uma vez misturados, formam um composto único do qual seria muito
difícil separar os ingredientes; e, todavia, cada elemento é necessário à
composição.
O Cinco de Bastões é, portanto, uma personalidade, cuja natureza é resumida
no Tarô, chamando-o de Disputa.
Isto
significa que, se usado passivamente na adivinhação, diz-se, quando trazido à
tona, “vai haver uma luta”. Se usado ativamente, significa que o curso
apropriado de conduta é a contenda. Mas há
um outro ponto sobre esta carta, a saber, ela é governada do mundo
angélico por dois seres, um durante
as horas de luz, o outro durante as horas de escuridão. Conseqüentemente, a fim
de utilizar as propriedades dessa carta, uma das maneiras é entrar em
comunicação com a Inteligência envolvida
e induzi-la a desempenhar sua função. Há, assim, setenta e dois anjos assentados sobre as trinta e seis
cartas menores; estes são derivados do Grande
Nome de Deus de vinte e duas letras, chamado Shemhamphorasch.
O SHEMHAMPHORASCH E O
TARÔ
Esta palavra
significa o Nome Dividido. O Nome é
Tetragrammaton: I.H.V.H., chamado
comumente Jehovah. Ele é o Supremo Senhor dos Quatro Elementos que
compõem fundamentalmente o universo inteiro.
Há três
versículos no Êxodo (xiv, 19, 20, 21), cada um contendo setenta e duas letras.
Escrevendo-se o primeiro destes e, abaixo dele, o seguinte versículo de trás
para frente, e, embaixo deste, o último versículo para a frente, são obtidas
setenta e duas colunas de três letras cada. Estas são lidas de cima para baixo
e as terminações AL ou AH, se masculinas ou femininas, respectivamente, são
juntadas. Há também uma atribuição dessas Inteligências,
uma para cada um dos quinários ou segmentos de cinco graus do zodíaco; há,
ademais, outros inumeráveis anjos, demônios, imagens mágicas, senhores de
triplicidades, anjos assistentes menores e assim por diante, com demônios
correspondentes. É inteiramente inútil estudar todas essas atribuições.
Poderiam ser necessitadas somente no caso de se desejar entrar em efetiva
comunicação com uma dessas Inteligências,
com algum propósito especial. Essas matérias são mencionadas aqui por uma
questão de completitude, mas o Tarô perderá toda sua vitalidade para quem se
deixar ser desviado por seu pedantismo.
O TARÔ E A
MAGIA CERIMONIAL
O Tarô está
assim intimamente vinculado às artes puramente mágicas da invocação e evocação. Entende-se
por invocação a aspiração à mais
elevada, à mais pura parte de si mesmo, que se deseja por em ação.
A evocação
é muito mais objetiva. Não implica em perfeita simpatia. A atitude em relação
ao ser evocado pode inclusive ser, ao
menos superficialmente, hostil. Então, é claro que, quanto mais avançado se
estiver na iniciação, menos a idéia de hostilidade penetrará a mente. Tout comprendre, c’est tout pardonner.*
Assim, para compreender qualquer carta, é preciso identificar-se com ela
completamente naquele momento, e uma maneira de fazê-lo é induzir ou forçar a
Inteligência que rege a carta a se
manifestar aos sentidos, pois, como explicado anteriormente, a antiga teoria do
universo incluía a tese segundo a qual todo objeto na natureza possui um
guardião espiritual. Falando a grosso modo, isto não se aplicava tanto a
objetos fabricados, embora haja exceções, como no caso dos deuses do lar, da padieira e similares, ou no
caso de anjos ou espíritos que se supõe estarem interessados na espada ou
lança. Uma arma particularmente poderosa provavelmente conquistaria a reputação
de não ter sido fabricada em absoluto por mãos humanas, mas sim ter sido
forjada em vulcões ou na terra das
fadas, e imbuída assim de poderes sobrenaturais. Algumas espadas famosas tinham
nomes e eram consideradas seres vivos; eram passíveis de voar pela janela se
seu dono brincasse com elas demasiadamente, em lugar de matar as pessoas, como
apropriado.
* Em francês
no original, tudo compreender é tudo perdoar (NT).
O TARÔ E O
ANIMISMO
É apenas
natural, portanto, que, numa época na qual representações pictóricas ou
escritas de idéias estavam além do entendimento da grande maioria das pessoas,
na qual a própria escrita era tida como mágica e a imprensa (como ela é) uma
invenção do diabo, as pessoas encarassem os hieróglifos (escritos ou
desenhados) como coisas vivas que detinham poder em si mesmas. Pode ser que
mesmo hoje em dia haja casas no ponto mais sombrio de Shropshire onde alguém
que coloque um outro livro sobre a Bíblia da família seja comunicado a não
aparecer mais como visita. Ação automática é atribuída em todo lugar a objetos
inanimados, por exemplo ferraduras nas portas. Há toda uma classe de tais
superstições. O problema de como uma dada superstição surgiu nem sempre foi
satisfatoriamente resolvido. Pode-se (ignorantemente) ver a origem do absurdo
dos treze sentados à mesa na lenda da
Última Ceia (a propósito,
dificilmente deve ter sido a primeira vez em que aqueles treze se sentaram à
mesa).
Contudo, as
superstições realmente primitivas não podem ser explicadas com tal
simplicidade. Parece mais provável que tenham se originado do hábito
não-científico (extremamente comum entre os homens de ciência) de generalizar a
partir de fatos em quantidade demasiadamente pequena. Poderia acontecer, por
acaso, que, em meia dúzia de ocasiões dentro de um curto período, um caçador,
caminhando sob lua cheia, fosse morto. A velha falácia do post hoc propter hoc viria à tona, e o povoado diria: - “Traz
desgraça ir caçar na lua cheia”. Isto ganharia força ao ser repetido através
das gerações em função da preguiça
mental e não sofreria qualquer transtorno porque o tabu tornaria improvável a recorrência da coincidência original. Se,
entretanto, algo similar ocorresse na lua nova haveria uma nova superstição, e
logo haveria um completo nexo do tabu em
relação à lua.
Um caso
recente. O falecido Sr. S. L. Mathers
publicou em 1898/1899 a tradução de um manuscrito intitulado The Sacred Magic of Abramelin the Mage ***
numa pequena edição privada. Algumas centenas de pessoas o compraram. Um grupo
de compradores em especial, sob a observação pessoal de Mathers, foi todo, ou
quase todo, atingido pela desgraça. Dentro de um ano as pessoas diziam que era
terrivelmente perigoso ter o tal livro na prateleira da estante.
*** O título
completo é The Book of the Sacred Magic
of Abramelin the Mage, publicado no Brasil por esta editora (O Livro da Magia Sagrada de Abramelin, o
Mago) (NT).
Resistiria esta
teoria ao exame estatístico? Quem
poderia dizê-lo? Mas, suficientemente curioso, em 1938 e.v., um exemplar
descurado foi retirado de seu esconderijo numa prateleira obscura.
Imediatamente, ocorreram desastres à maioria das pessoas envolvidas, e àquelas
com as quais estas estavam em relação estreita. Post hoc propter hoc. Mas quem pode ter certeza ?
AS CARTAS DO
TARÔ COMO SERES VIVOS
A ciência
vitoriana, inflamada com sua vitória sobre o sobrenaturalismo, estava
absolutamente certa ao declarar o incomensurável “fora
dos limites”. Tinha o direito de fazê-lo no campo técnico e constituiu uma
necessidade estratégica de sua ofensiva, mas ela tolheu a si mesma limitando seu alcance. Fez-se
vulnerável aos ataques mais letais da filosofia. Então, especialmente a partir
do ângulo da física matemática, suas próprias generalidades traíram seu
dogmatismo. A essência da ciência atualmente é bem mais misteriosa do que as
mais nebulosas especulações de Leibnitz, Spinoza ou Hegel; a moderna definição
de matéria lembra as pessoas irresistivelmente da definição de espírito dada
por místicos como Ruysbroek, Boehme e Molinos. A idéia do universo na mente de
um matemático moderno é uma singular reminiscência dos desvarios de William
Blake.
Mas os
místicos estavam todos errados quando eram piedosos e sustentavam que seus
mistérios eram demasiado sagrados para serem analisados. Deviam ter sondado a
idéia de medida. Isto é exatamente o que foi feito pelos magos e qabalistas. A dificuldade foi que as
unidades de medida foram elas mesmas um tanto elásticas, tendendo, inclusive, a
ser literárias. Suas definições eram tão circulares quanto, mas não mais
fugazes do que, as definições dos físicos de hoje. Seus métodos eram empíricos
a despeito de seu esforço para os tornarem precisos, pois a falta de medidas
exatas e aparelhos padrões não o permitia, porque eles não haviam formulado
ainda qualquer teoria científica verdadeira.
Mas seus
êxitos foram numerosos. Tudo dependia de habilidade individual. Preferir-se-ia,
em caso de doença, confiar-se ao médico nato do que aos especialistas de
laboratório de Battle Creek.
Uma das
grandes diferenças entre a antiga e a moderna química é a idéia dos alquimistas
de que a substância em seu estado natural é, de um modo ou outro, uma coisa viva.
A moderna tendência é insistir no comensurável. Pode-se entrar num
museu e ver fileiras de esferas e frascos de vidro que contêm as
substâncias químicas que se combinam para constituir o corpo humano, mas esta
coleção está bem longe de ser um homem. E ainda é incapaz de explicar a
diferença entre Lord Tomnoddy e Bill
Sykes. Os químicos do século XIX realizaram um grande esforço para
analisar o ópio e isolar seus alcalóides, mais ou menos como uma criança desmontando
um relógio para ver o que o faz funcionar. Eles tiveram êxito, porém os
resultados não foram completamente saudáveis. A morfina tem efeito hipnótico
muito mais direto que o ópio; sua ação é mais rápida e mais violenta, mas é
também uma droga muito perigosa e seus efeitos são amiúde desastrosos. A ação
da morfina é sensivelmente modificada pelos outros vinte alcalóides indefinidos
que existem no ópio. O efeito intoxicante do álcool varia, dependendo se sua
absorção é através de Richebourg ‘29 ou gim sintético. Um exemplo ainda mais
espantoso vem da Venezuela, onde mensageiros-corredores mascam folhas de coca,
cobrem sua centena de milhas por dia e dormem até estarem descansados. Não
experimentam reação adversa e não adquirem o hábito. Com a cocaína, a história
é diferente. Os adeptos do Tarô diriam simplesmente: - “Nós e a planta estamos
vivos, de maneira que podemos ser amigos. Se você matar a planta primeiro,
estará procurando encrenca.”
Tudo isso é
aqui escrito em defesa do sistema dos criadores e usuários do Tarô, de seus
métodos de lidar com a natureza, de executar experimentos sem a atenção
indevida ao desejo de ter as coisas feitas rapidamente. Eles exporiam uma
mistura aos raios do sol ou da lua durante semanas ou meses, achando que tudo
se estragaria se a fervessem violentamente. “Os processos da natureza”, diriam,
“são lentos e brandos: vamos imitá-los!”
Deve ter
havido boas razões para essas opiniões. A experiência conduz a essa conclusão.
O acima
exposto serviu de introdução a uma tese bastante necessária para a compreensão
do Tarô. Cada carta é, num certo sentido, um ser vivo, e suas relações com seus
vizinhos poderiam ser qualificadas de
diplomáticas. Compete ao estudante construir com estas pedras animadas o seu templo vivo.
SEGUNDA PARTE - OS
ATU (CHAVES OU TRUNFOS)
((ilustr.
carta Volúpia))
II
0. O LOUCO *
Esta carta é
atribuída à letra Aleph, que significa boi, embora por sua forma a letra hebraica
(assim é dito) represente uma relha de arado, de modo que a significação é
primordialmente fálica. É a primeira das letras-mãe, Aleph, Mem e Shin que
correspondem, de várias maneiras entrelaçadas, a todas as tríades que ocorrem
nestas cartas, notadamente fogo, água e ar; Pai, Mãe e Filho; enxofre, sal e
mercúrio; Rajas, Sattvas e Tamas.
* Note-se que
o inglês Fool deriva de follis,
saco de vento, de sorte que até a etimologia concede a atribuição ao ar.
Além disso, inflar as bochechas é um gesto que sugere estar pronto para criar,
na linguagem de sinais de Nápoles. Pior, alguns guardiões ingleses da
democracia imputam loucura aos outros pelo Razzberry.
O traço
realmente importante dessa carta é que seu número deve ser 0. Representa,
portanto, o negativo acima da Árvore
da Vida, a fonte de todas as coisas. É o
zero qabalístico. É a equação do
universo, o equilíbrio inicial e final dos opostos; o ar, nessa carta, por
conseguinte, significa quintessencialmente o vácuo.
No baralho
medieval, o título da carta é Le Mat,
adaptação do italiano Matto, que
significa louco ou tolo; a propriedade desse título será considerada na
seqüência deste ensaio. Mas há uma outra, ou melhor (poder-se-ia dizer), uma
teoria complementar. Se supusermos que o Tarô é de origem egípcia, será
possível conjeturar que Mat (esta
carta sendo a carta-chave do baralho inteiro) representa Maut, a deusa-abutre, que é uma modificação mais antiga e mais
sublime da idéia de Nuit do que Ísis.
Há duas
lendas ligadas ao abutre. Supõe-se que ele possua um pescoço em espiral, o que
possivelmente se refere à teoria (recentemente ressuscitada por Einstein, mas
mencionada por Zoroastro em seus Oráculos)
de que a forma do universo, a forma daquela energia que é chamada de universo,
é espiral.
Na outra
lenda supõe-se que o abutre reproduza sua espécie mediante a intervenção do
vento; em outras palavras, o elemento ar é considerado como o pai de toda a
existência manifestada. Existe um paralelo disso na filosofia grega, na escola
de Anaxímenes.
Essa carta é,
portanto, tanto o pai, quanto a mãe, sob a forma mais abstrata destas idéias.
Não se trata de uma confusão, mas sim de uma identificação deliberada do macho
e da fêmea, o que é justificado pela biologia. O óvulo fertilizado é sexualmente
neutro. É apenas um elemento determinante que no curso do desenvolvimento que
define o sexo.
É necessário
se aclimatar com isso, que é, à primeira vista, uma estranha idéia. Logo que se
tenha decidido a considerar o aspecto feminino das coisas, o elemento masculino
deve surgir imediatamente, no mesmo lampejo de pensamento, para
contrabalançá-lo. Esta identificação é completa em si, filosoficamente falando.
Será somente mais tarde que se considerará a questão do resultado da formulação
do zero como mais 1 mais menos 1. O resultado de fazer-se deste
modo faz surgir a idéia do Tetragrammaton.
A FÓRMULA DO TETRAGRAMMATON
Foi explicado
neste ensaio que todo o Tarô é baseado na Árvore da Vida e que a Árvore da Vida
é sempre cognata ao Tetragrammaton.
Pode-se sintetizar a doutrina inteira muito resumidamente como se segue.
A união do
Pai e da Mãe produz gêmeos, o filho avançando para a filha, a filha devolvendo
a energia ao pai. Através deste ciclo de mudança são asseguradas a estabilidade
e a eternidade do universo.
A fim de compreender o Tarô, faz-se mister
voltar na história até a era matriarcal (e exogâmica), na qual a sucessão não
se dava através do filho primogênito do rei, mas sim através de sua filha. O
rei não era, portanto, rei por herança, mas por direito de conquista. Nas
dinastias mais estáveis, o novo rei era sempre um estranho, um estrangeiro; e
mais, ele tinha que matar o velho rei e casar com a filha deste rei. Este
sistema garantiu a virilidade e capacidade de todo rei. O estranho precisava
conquistar sua noiva numa competição aberta. Nos antigos
contos de fadas, este motivo é continuamente reiterado. O ambicioso estranho é
geralmente um troubadour, quase
sempre disfarçado, com freqüência sob forma repulsiva. A Bela e a Fera é um conto típico. Há, usualmente, uma camuflagem
correspondente por parte da filha do rei, como no caso de Cinderela e da
Princesa Encantada. A narrativa de Aladin proporciona o todo desta fábula sob
uma forma muito elaborada, acondicionada com contos técnicos de magia. Eis aqui
o fundamento da lenda do Príncipe Errante
- e, note bem, ele é sempre “o louco da família”. A conexão entre loucura e
santidade é tradicional. Não se trata de zombaria quando se decide que o parvo
da família vá para a igreja. No Oriente, acredita-se que o louco seja possuído,
um homem santo ou profeta. Esta identidade é tão profunda que está realmente
embutida na linguagem. Silly [tolo,
estúpido, ingênue, em Inglês - NT] significa vazio - o vácuo do ar - zero, “os baldes vazios no convés”. E a palavra deriva do alemão selig, santo, abençoado. É a inocência
do Louco o que o caracteriza mais intensamente. Ver-se-á na
seqüência quão importante é este aspecto da história. Para assegurar a sucessão,
concebia-se, portanto: primeiro, que o sangue real devesse ser efetivamente o
sangue real, e segundo, que este procedimento fosse fortalecido pela introdução
do estranho conquistador, em lugar de ser atenuado pela procriação
consangüínea.
Em certos
casos, exagerava-se com esta teoria. Havia provavelmente muita tramóia a
respeito desse príncipe sob disfarce. É possível que o rei, seu pai, lhe
fornecesse cartas de apresentação bastante secretas; em suma, que o velho jogo
político já fosse velho até naquelas épocas remotas.
Tal costume,
assim, evoluiu para a condição bem investigada por Frazer em A Rama Dourada (esta rama sendo, sem dúvida, um símbolo da
própria filha do rei). “A filha do rei é toda gloriosa interiormente; seu traje
é de ouro lavrado.”
Como teria
ocorrido tal evolução ?
Pode ter
havido uma reação contra o jogo político. Pode ter havido uma glorificação,
antes de tudo do “fidalgo-assaltante”, finalmente do mero chefe de quadrilha,
mais ou menos como temos visto, no nosso próprio tempo, na reação contra o
vitorianismo. As credenciais do “príncipe errante” foram meticulosamente
examinadas; a não ser que fosse um criminoso fugitivo, não podia ser escolhido
para a competição; tampouco era suficiente para ele conquistar a filha do rei
numa competição aberta, viver no regaço do luxo até que o velho rei morresse e
sucedê-lo pacificamente. Era forçado a assassinar o velho rei com suas próprias
mãos.
À primeira
vista, pareceria que a fórmula é a união do extremamente masculino, a grande fera loura, com o
extremamente feminino, a princesa que não conseguia dormir se houvesse uma
ervilha sob seus sete leitos de penas. Mas todo este simbolismo derrota a si
mesmo. O macio se torna o duro, o áspero se torna o liso. Quanto mais se sonda
a fórmula, mais a identificação dos opostos se torna estreita. A pomba é a ave de Vênus, mas também é um
símbolo do Espírito Santo, ou seja, do falo,
sob sua forma mais sublimada. Não há, portanto, qualquer razão para
surpreender-se com a identificação do pai com a mãe.
Naturalmente,
quando idéias tão sublimes se tornam vulgarizadas, deixam de exibir o símbolo
com lucidez. O grande hierofante, frente a um símbolo inteiramente ambíguo, é
obrigado, exatamente devido ao seu cargo de hierofante, ou seja, daquele que
manifesta o mistério, a “rebaixar a mensagem para o cão”. Tem que fazer isto
exibindo um símbolo da segunda ordem, um símbolo que se ajuste à inteligência
da segunda ordem de iniciados. Este símbolo, em lugar de ser universal,
ultrapassando assim a expressão ordinária, precisa ser adaptado à capacidade
intelectual de um conjunto particular de pessoas, as quais ao hierofante
compete iniciar. Uma tal verdade, conseqüentemente, aparece para o vulgo como
fábula, parábola, lenda e mesmo credo.
No caso deste
símbolo muito abrangente de O Louco,
há no âmbito do conhecimento real, diversas tradições, completamente distintas,
de grande clareza e, historicamente, de grande importância.
Essas
tradições devem ser examinadas em separado, de maneira que se possa compreender
a doutrina única da qual todas brotaram.
O “Homem verde” do festival da primavera. “ O bobo de
primeiro de abril.” O Espírito Santo.
Esta tradição
representa a idéia original adaptada à compreensão do camponês médio. O Homem
Verde é uma personificação da influência
misteriosa que produz os fenômenos da primavera. É difícil dizer porque tem de
ser assim, mas é assim: há uma conexão com as idéias de irresponsabilidade, de
desregramento, de idealização, de romance, de devaneio radiante.
O Louco se
agita dentro de todos nós no retorno da primavera; e, por estarmos um tanto
desnorteados, um tanto constrangidos, pensou-se ser salutar o costume de se
exteriorizar o impulso subconsciente mediante recursos cerimoniais. Era uma
forma de facilitar a confissão. Relativamente a todos esses festivais, pode-se
dizer que são representações sob a forma mais simples, sem introspecção, de um
fenômeno perfeitamente natural. Deve-se observar, em particular, o costume do ovo de páscoa e do poisson d’avril [O Peixe do Salvador é abordado em outra
parte deste ensaio. A precessão dos equinócios fez a primavera começar com a
entrada do Sol em Áries (O Carneiro) em lugar de Pisces (Peixes), como foi o caso nas épocas mais primitivas].
O “Grande
Louco” dos celtas (Dalua)
Constata-se
aqui um considerável avanço em relação aos fenômenos puramente naturais
descritos logo acima. No Grande Louco
existe uma doutrina definida. O mundo está sempre procurando um salvador, e a
doutrina em pauta é filosoficamente mais do que uma doutrina: é um simples
fato. A salvação, seja lá o que possa isto significar, não é para ser obtida
mediante quaisquer termos razoáveis. Razão
é um impasse, razão é danação; só a loucura, loucura divina, oferece uma saída.
A lei do Ministro da Justiça não servirá; o legislador pode ser um condutor
epilético de camelos como Maomé, um filho da fortuna provinciano e
megalomaníaco como Napoleão, ou mesmo um exilado, três partes sábio, uma parte
maluco, um morador de sótão em Soho, como Karl Marx. Há somente uma coisa em
comum entre essas pessoas: são todas loucas, quer dizer, inspiradas. Quase
todos os povos primitivos possuem essa tradição, ao menos sob forma diluída.
Respeitam o lunático errante, pois pode ser que ele seja o mensageiro do
Altíssimo. “Este estrangeiro esquisito ? Vamos tratá-lo bondosamente. Talvez
estejamos lidando com um anjo sem o saber ”.
Estreitamente
vinculada a essa idéia, está a questão da paternidade. Necessita-se de um salvador.
O que se requer com certeza nas suas qualificações ? Que não seja um homem
comum (nos Evangelhos, as pessoas sofismavam em torno da afirmação de que Jesus
era o Messias porque vinha de Nazaré, uma cidade perfeitamente conhecida,
porque conheciam sua mãe e sua família; em síntese, argumentavam que ele não
possuía qualificações para candidato a salvador). O salvador tem que ser uma
pessoa peculiarmente sagrada; dificilmente se acredita que ele seja
efetivamente um ser humano. No mínimo, sua mãe precisa ser uma virgem e, para
se combinar a esta maravilha, seu pai não pode ser um homem ordinário;
portanto, seu pai tem que ser um deus. Mas, como um deus é um vertebrado
gasoso, urge que ele seja alguma materialização de um deus. Ótimo! Que ele seja
o deus Marte, sob a forma de um lobo; ou Júpiter, como um touro, ou uma chuva
de ouro, ou um cisne; ou Jeová, sob a forma de uma pomba; ou alguma outra
criatura fantástica, de preferência disfarçado sob alguma forma animal. Há
inúmeras formas dessa tradição, mas todas concordam em um ponto: o salvador só
pode aparecer como o resultado de algum acidente extraordinário, absolutamente
contrário a tudo que seja normal. A mais ínfima sugestão de alguma coisa
razoável nesta matéria destruiria o argumento todo. Mas como é preciso contar
com alguma figura concreta, a solução geral é representar o salvador como o
Louco (tentativas no sentido de atingir esta condição aparecem na Bíblia;
observe-se a “capa multicolorida” de José e de Jesus; é o bufão * que livra seu
povo da escravidão).
* Chame-o de Arlequim e um Tetragrammaton evidentemente bufoneando a Sagrada Família salta à
vista: Pantaleão, o idoso “antique-antic”;
palhaço e arlequim, dois aspectos do Louco, e Columbina, a virgem. Mas, ao ser
burlesca, a tradição se torna confusa e o significado profundo é perdido, tal
como ocorreu com a peça de mistério medieval de Pôncio e Judas, que se tornou
uma farsa, com variantes tópicas oportunistas, Polichinelo e Judy.
Na seqüência
se verá como esta idéia está ligada àquela do mistério da paternidade, e também
da iridescência do mercúrio alquímico em um dos estágios da Grande Obra.
O “Rico
Pescador”: Percival
A lenda de
Percival, que integra o mistério do Deus-Peixe Salvador e do Sangraal, ou Cálice Sagrado, tem origem
controvertida. Aparece, certamente, em primeiro lugar, na Bretanha, a terra
mais amada da magia, a terra de Merlin, dos druidas, da floresta de
Broceliande. Alguns eruditos supõem que a forma galesa desta tradição, que
empresta muito de sua importância e sua beleza ao ciclo do rei Artur, é ainda
mais antiga. Isto não tem relevância aqui, mas é vital compreender-se que a
lenda, como aquela d’O Louco, é
puramente pagã originalmente e chega a nós através de recensões latino-cristãs:
não há nenhum traço de quaisquer de tais matérias nas mitologias nórdicas
(Percival e Galahad eram “inocentes”: esta é uma condição da guarda do Cálice). Note-se, ademais, que
Monsalvat, montanha da salvação, lar do Graal
(Cálice), a fortaleza dos cavaleiros guardiões, fica nos Pirineus.
Convém, aqui,
introduzir a figura de Parsifal, porque ele representa a forma ocidental da
tradição do Louco e porque sua lenda foi altamente elaborada por iniciados
eruditos (a encenação dramática do Parsifal,
de Wagner, foi arranjada pelo então chefe da O. T. O.).
Parsifal, em
sua primeira fase é Der reine Tor, O
Louco Puro. Seu primeiro ato é atirar no cisne sagrado. É o desregramento da
inocência. No segundo ato, é a mesma qualidade que o capacita a resistir aos
agrados das damas no jardim de Kundry. Klingsor, o mago mau, que pensava em
preencher as condições da vida pela auto-mutilação, vendo seu império ameaçado,
arremessa a lança sagrada (que havia furtado da Montanha da Salvação) em
Parsifal, mas esta se mantém suspensa sobre a cabeça do menino. Parsifal a
agarra; em outras palavras, atinge a puberdade (esta transformação será vista
nas outras fábulas simbólicas na seqüência).
No terceiro
ato, a inocência de Parsifal amadureceu em santificação; ele é o sacerdote
iniciado cuja função é criar. É Sexta-Feira Santa, o dia das trevas e da morte.
Onde buscará ele sua salvação ? Onde é Monsalvat, a montanha da salvação, que
ele buscou por tanto tempo em vão ? Ele
venera a lança: imediatamente, o caminho, há tanto tempo fechado para ele, está
aberto; o cenário muda rapidamente, não havendo necessidade para que ele se
mova. Ele chegou ao Templo do Graal. Toda religião cerimonial verdadeira deve
ser solar e fálica em caráter. É o ferimento de Amfortas que removeu a virtude
do templo (Amfortas é o símbolo do deus
que morre).
Conseqüentemente,
a fim de redimir toda a situação, destruir a morte, reconsagrar o templo,
basta-lhe mergulhar a lança no Cálice Sagrado. Ele redime não só Kundry, mas a
si mesmo (esta era, então, uma doutrina somente apreciável em sua plenitude
pelos membros do Santuário Soberano da Gnosis do Nono Grau da O. T. O.).
O Crocodilo
(Mako, filho de Set, ou Sebek)
A mesma
doutrina de máxima inocência evoluindo para máxima fertilidade é encontrada no
antigo Egito no simbolismo do deus-crocodilo, Sebek. A tradição diz que o
crocodilo era desprovido do meio de perpetuar sua espécie (comparar com o que
foi mencionado anteriormente sobre o abutre Maut). Não a despeito disto, mas
devido a isto, ele era o símbolo da energia criativa máxima (Freud, como se
verá mais tarde, explica esta aparente antítese).
Mais uma vez,
o reino animal é invocado para desempenhar a função de gerar o redentor. Às
margens do Eufrates os homens veneravam Oannes, ou Dagon, o deus-peixe. O peixe
na qualidade de símbolo de paternidade, de maternidade, de perpetuação da vida
geralmente, se reitera constantemente. A letra Nun (correspondente ao N e que em hebraico significa peixe) é um
dos hieróglifos originais que representa essa idéia, aparentemente por causa
das reações mentais estimuladas na mente pela contínua repetição dessa letra.
Há, assim, diversos deuses, deusas e heróis epônimos cujas lendas são funções
da letra N (com referência a esta letra, ver o Atu XIII). Está ligada ao norte e, assim, com os céus estrelados em
torno da Estrela Polar; também com o vento do norte, e a referência é com os
signos da água. Daí estar presente a letra Nun
(N) nas lendas do dilúvio e dos deuses-peixes. Na mitologia hebraica, o
herói pertinente é Noé. Note-se, inclusive, que o símbolo do peixe foi
escolhido para representar o redentor ou falo,
o deus cuja virtude faz o homem atravessar as águas da morte. O nome vulgar
deste deus ao sul da Itália atualmente, e alhures, é pesce. E assim, também, sua contraparte feminina, kteis, é representada pela Vesica Piscis, a bexiga do peixe, e sua
forma é continuamente exibida em muitas janelas de igrejas e no anel episcopal.
*
* “ ICQUS,
que significa peixe e,
Muito adequadamente, simboliza Cristo.”
O
Anel e o Livro
A palavra é
um Notariqon de Iesous Christos Theou Huios Soter (Jesus Cristo, Filho de Deus,
Salvador).
Na mitologia
de Yucutan eram os “antigos cobertos de penas que emergiam do mar “. Alguns
viram nesta tradição uma referência ao fato de o homem ser um animal marinho;
nosso aparelho respiratório ainda possui guelras atrofiadas.
Hoor-Pa-Kraat **
** O Louco é,
também, obviamente, um aspecto de Pã, mas esta idéia é mostrada em seu
desenvolvimento mais pleno pelo Atu XV,
cuja letra é a semivogal Ayin,
cognata de Aleph.
Ao atingir-se
a teogonia altamente sofisticada, aparecerá um símbolo perfeitamente claro e
concreto desta doutrina. Harpócrates é
o deus do Silêncio, e este silêncio possui um significado muito especial (ver
ensaio anexo, apêndice). O primeiro é
Kether, o ser puro, inventado como um
aspecto do nada puro. Em sua
manifestação, ele não é um, mas dois; ele só é apenas um porque é 0. Ele existe; Eheieh, seu nome divino, que significa Eu sou ou Eu serei, é meramente uma outra maneira de dizer que ele Não É,
porque o um não conduz a lugar algum, que é de onde ele veio. Assim a única
manifestação possível é em dois, e
esta manifestação tem que ser em silêncio, porque o número 3, o número de Binah, Compreensão, não foi ainda
formulado. Em outras palavras, não há Mãe. Tudo que se tem é o impulso dessa
manifestação e este tem que ocorrer em silêncio, quer dizer, há, até agora, não
mais que o impulso, que é não formulado; é somente quando ele é interpretado
que se torna a Palavra, o Logos (ver Atu I ).
Agora, que se
considere a forma tradicional de Harpócrates. Ele é um bebê, isto é, inocente,
e ainda sem atingir a puberdade; uma forma mais simples de Parsifal, ele é
representado na cor rosa-cravo (rosa clara). É a aurora, a insinuação da luz
prestes a chegar, mas de modo algum esta luz; ele tem uma mecha de cabelos
negros encaracolados pela sua orelha, e
esta é a influência do Altíssimo descendo sobre o chakra Brahmarandra. O ouvido é o veículo de Akasha, o Espírito. Este é o único símbolo que sobressai, é a única
indicação de que ele não é meramente o bebê calvo, porque é a única cor na
bolha de rosa-cravo. Mas na outra mão, seu dedo polegar está, ou contra seu
lábio inferior, ou em sua boca, o que é não se pode dizer. Há aqui uma disputa
entre duas escolas; se ele está pressionando seu lábio inferior, enfatiza o
silêncio como silêncio, se seu polegar está na boca, enfatiza a doutrina de Eheieh: Eu serei. De qualquer modo, no
fim estas doutrinas são idênticas.
Este bebê
está num ovo azul, que é evidentemente o símbolo da Mãe. Esta criança, de uma
certa maneira, não nasceu; o azul é o azul do espaço; o ovo está assentado
sobre um lótus, e este lótus cresce no Nilo, sendo um outro símbolo da Mãe, e o Nilo é também um símbolo do Pai
fertilizando o Egito, Yoni ( mas, também, o Nilo é o lar de
Sebek, o crocodilo, o qual ameaça Harpócrates).
Todavia,
Harpócrates nem sempre é representado assim. Ele é mostrado por algumas escolas
em pé; acha-se em pé sobre os crocodilos do Nilo (referência ao crocodilo de
que se falou logo anteriormente, o símbolo de duas coisas exatamente opostas).
Há, aqui, uma analogia. Um lembra Hércules - o Hércules menino - que fiava na
roca da Casa das Mulheres, o outro lembra Hércules já homem forte, que era
inocente, que foi, por fim, um louco que destruiu sua esposa e os filhos. É um
símbolo cognato.
Harpócrates é
(num certo sentido) o símbolo da aurora
no Nilo e do fenômeno fisiológico que acompanha o ato do despertar. Percebe-se
na outra extremidade da oitava do pensamento a conexão desse símbolo com a
sucessão ao poder real descrita anteriormente. O símbolo de Harpócrates ele
mesmo tende a ser puramente filosófico. Harpócrates é também a absorção mística
da obra da criação, a Hé final do Tetragrammaton. Harpócrates é, na
verdade, o lado passivo de seu gêmeo, Hórus.
E contudo, ao mesmo tempo, é um símbolo “de
emplumamento completo para voar” dessa idéia, que é o vento, que é o ar,
a impregnação da Deusa-Mãe. É imune a todo ataque devido a sua inocência pois
nesta inocência está o silêncio perfeito, o qual é a essência da virilidade.
O ovo não é
tão-somente Akasha *, mas também o
ovo original no sentido biológico. Este ovo brota do lótus, que é símbolo do yoni.
* O ovo negro do elemento espírito em algumas escolas hindus. Dele
procedem os outros elementos, ar, água, terra e fogo (nesta ordem).
Há um símbolo
asiático cognato de Harpócrates e embora não se refira diretamente a esta
carta, precisa ser considerado em conexão com ela. Trata-se do Buddha-Rupa. Ele é representado com mais
freqüência sentado sobre um lótus, e geralmente há atrás dele desdobrado o
capelo da serpente. A forma deste
capelo é, mais uma vez, o yoni
(note-se os usuais ornamentos deste capelo, fálico e frutiforme).
O crocodilo
do Nilo é chamado de Sebek ou Mako, o Devorador. Nos rituais oficiais, a idéia
é geralmente aquela do pescador, que deseja proteção dos assaltos de seu
animal-tótem.
Há, contudo,
uma identidade entre o criador e o destruidor. Na mitologia indiana, Shiva
desempenha as duas funções. Na mitologia grega, dirige-se ao deus Pã como Pamphage, Pangenetor, o devorador de
tudo, o gerador de tudo (note-se que o valor numérico da palavra Pan é
131, como o é o de Samael, o anjo destruidor hebraico).
Além disso,
no simbolismo dos iniciados, o ato de devorar é o equivalente à iniciação, como
o místico diria “Minha alma é tragada em Deus” (compare com o simbolismo de Noé
e a Arca, Jonas * e a baleia, e
outros).
* Note-se o N
de Jonas e o significado do nome: pomba.
É preciso ter
sempre em mente a bivalência de todo símbolo. Insistir em uma ou outra das
atribuições contraditórias inerentes a um símbolo é simplesmente uma marca de
incapacidade espiritual e isto acontece ininterruptamente devido ao preconceito.
Constitui o mais simples teste de iniciação que todo símbolo seja compreendido
instintivamente como contendo esse significado contraditório em si mesmo.
Marque bem a passagem seguinte em The
Vision and the Voice, ** pg. ...):
** A Visão e
a Voz (NT).
“É mostrado a
mim que este coração é o coração que se regozija, e a serpente é a serpente de
Da’ath, pois aqui todos os símbolos são intercambiáveis, pois cada um contém em
si mesmo seu próprio oposto. E este é o grande Mistério dos Superiores que
estão além do Abismo, pois abaixo do Abismo contradição é divisão, mas acima do
Abismo, contradição é Unidade. E não poderia haver nada verdadeiro exceto por
virtude da contradição que está contida em si mesma.”
Constitui
característica de toda visão espiritual elevada a formulação de qualquer idéia
ser imediatamente destruída ou cancelada pelo surgimento da contraditória.
Hegel e Nietzsche tiveram lampejos desta idéia, mas ela é descrita de maneira
completa e simples em The Book of
Wisdom or Folly*** (ver citação na seqüência, apêndice).
*** O Livro
de Sabedoria ou Loucura (NT).
Esse ponto em
torno do crocodilo é de grande importância porque muitas das formas
tradicionais de O Louco do Tarô mostram decididamente o crocodilo. Na
interpretação ordinária da carta, os escoliastas
dizem que a figura é a de um jovem alegre, descuidado com um saco cheio de
loucuras e ilusões, dançando à beira de um precipício, insciente de que o tigre
e o crocodilo mostrados na carta estão na iminência de atacá-lo. É a visão da Igrejinha Protestante. Mas para os
iniciados esse crocodilo ajuda a determinar o significado espiritual da carta
como retorno ao zero qabalístico original;
é o processo da “Hé final” na fórmula
mágica de Tetragrammaton. Por um
movimento rápido do pulso, ela pode ser transmudada para reaparecer como o Yod original e repetir o processo todo a
partir do início.
A fórmula
inocência-virilidade é novamente sugerida pela introdução do crocodilo visto
ser esta uma das superstições biológicas na qual fundaram sua teogonia - que
o crocodilo, como o abutre, contava com um método misterioso de se reproduzir.
Zeus
Arrhenothelus
Ao se lidar
com Zeus, é-se colocado imediatamente frente esta deliberada confusão do
masculino e o feminino. Nas tradições grega e latina acontece a mesma coisa.
Dianus e Diana são gêmeos e amantes; tão logo um profere a feminino isto leva à
identificação com o masculino, e vice-versa,
tendo que ser o caso em vista dos fatos biológicos da natureza. É somente no
Zeus Arrhenothelus que se obtém a verdadeira natureza hermafrodita do símbolo
sob forma unificada. Este é um fato de grande monta, especialmente para o
presente propósito, porque imagens desse deus aparecem e reaparecem na alquimia.
É quase impossível descrever isto claramente; a idéia diz respeito a uma
faculdade da mente que está “acima do Abismo”, mas todas as águias bicéfalas
com símbolos aglomerando-se em torno delas constituem indicações dessa idéia. O
sentido último parece ser o de que o deus original é tanto macho quanto fêmea,
o que é, está claro, a doutrina essencial da Qabalah; e a coisa mais difícil de entender a respeito da tradição
posterior adulterada do Velho Testamento * é que ele representa o Tetragrammaton como masculino a despeito
dos dois componentes femininos. Zeus se tornou demasiado popular e,
conseqüentemente, demasiadas lendas se agruparam em torno dele, mas o fato
importante relativamente ao propósito em pauta é que Zeus era de maneira
peculiar o Senhor do Ar. ** Homens
que buscaram a origem da natureza nos tempos mais primitivos tentaram descobrir
essa origem em um dos elementos ( a
história da filosofia descreve a controvérsia entre Anaximandro e Zenócrates, depois
Empédocles). Pode ser que os autores originais do Tarô estivessem tentando
promulgar a doutrina segundo a qual a origem de tudo era o ar. Entretanto, se
assim fosse, transtornaria todo o Tarô tal como nós o conhecemos, já que a
ordem de origem faz do fogo o primeiro pai. É o ar como zero que reconcilia a antinomia.
* Era um
necessidade tribal dos nômades selvagens ter um demiurgo incivilizado e simples como deus; as complexidades e
refinamentos das nações estabelecidas eram para eles mera debilidade.
Observe-se que no momento em que eles conseguiram uma Terra Prometida e um
Templo, sob Salomão, ele andou “se prostituindo atrás de mulheres estranhas” e
deuses. Isto enfureceu os profetas de linha dura, levando em poucos anos à
ruptura entre Judá e Israel, e desde então a toda uma seqüência de desastres.
** Os relatos
mais primitivos relacionam a distribuição dos três elementos ativos fazendo
corresponder Dis (Plutão) ao fogo, Zeus (Júpiter) ao ar e Poseidon (Netuno) à
água.
Dianus e
Diana, é verdade, eram símbolos do ar e os Vedas em sânscrito afirmam que os
deuses da tempestade eram os deuses originais. Contudo, se os deuses da
tempestade realmente presidiram a formação do universo como nós o conhecemos,
eles eram certamente tempestades de fogo, com o que os astrônomos concordam.
Mas esta teoria seguramente implica numa identificação do ar e o fogo, e parece
como se eles fossem pensados como
anteriores à luz, ou seja, ao Sol;
anteriores à energia criativa, isto é, o falo,
e esta idéia continuamente sugere, ela mesma, que existe aqui alguma doutrina
contrária à nossa própria doutrina mais razoável: aquela na qual a confusão original dos elementos, o Tohu-Bohu, deve ser proposta como a
causa da ordem, em lugar de como uma massa
plástica na qual a ordem impõe a si mesma.
Nenhum
sistema verdadeiramente qabalístico faz
do ar no sentido convencional o elemento original, embora Akasha seja o ovo do espírito, o ovo negro ou azul escuro.
Isto sugere uma forma de Harpócrates. Neste caso, por “ar ” entende-se
realmente “espírito”. E embora assim
possa ser, o símbolo real é perfeitamente claro e deveria ser aplicado ao seu
devido lugar.
Dionísio
Zagreus. Baco Diphues.
Convém tratar
os dois deuses como um. Zagreus só tem importância com referência ao presente
propósito porque possui chifres e porque (nos Mistérios de Elêusis) se dizia
que ele foi despedaçado pelos titãs. Mas Atena salvou seu coração e o levou a
seu pai, Zeus. Sua mãe era Deméter, sendo ele assim o fruto do casamento do Céu
e da Terra, o que o identifica como a Vau
do Tetragrammaton, mas as lendas
de sua “morte” se referem à iniciação, o que está de acordo com a doutrina do
Devorador.
Nesta carta,
entretanto, a forma tradicional é muito mais claramente expressiva de Baco
Diphues, que representa uma forma mais superficial de veneração; o êxtase
característico do deus é mais mágico do que místico. Este último requer o nome Iacchus, enquanto que Baco teve Sêmele
por mãe, a qual foi visitada por Zeus sob a forma de um relâmpago que a
destruiu. Mas ela já tinha sido engravidada por ele e Zeus salvou a criança.
Até a puberdade, ele foi escondido na “coxa” (isto é, no falo) de Zeus. Hera, a título de vingança contra a infidelidade do
marido com Sêmele, enlouqueceu o menino. Aqui reside a conexão direta com a
carta.
A lenda de
Baco diz, antes de mais nada, que ele era Diphues, de dupla natureza, o que
parece significar mais bissexual do que hermafrodita. A loucura dele é também
uma fase de sua intoxicação, pois ele é preeminentemente o deus da vinha. Ele
dança através da Ásia, circundado por vários companheiros, totalmente insano
com entusiasmo; eles portam cajados encimados por pinhas e entrelaçados de
hera; eles também percutem pratos e em algumas lendas estão munidos de Espadas,
ou envolvidos por serpentes. Todos os semi-deuses da floresta são os
companheiros masculinos das bacantes. Em suas ilustrações seu rosto ébrio e o
estado lânguido de seu lingam o vinculam à lenda já mencionada
sobre o crocodilo. Seu assistente constante é o tigre, e em todos os melhores
exemplos existentes da carta, o tigre ou pantera é representado saltando sobre
ele por trás, enquanto que o crocodilo está pronto para devorá-lo pela frente.
Na lenda de sua jornada através da Ásia,
dizia-se que ele montara um asno, o que o liga a Príapo, que, dizem, tinha sido
seu filho com Afrodite. Isto também lembra da entrada triunfal em Jerusalém no
Domingo de Palma. É curioso, ainda, que segundo a fábula do nascimento de
Jesus, a Virgem-Mãe é representada estando entre um boi e um asno e lembramos
que a letra Aleph significa boi.
No culto de
Baco havia um representante do deus, o qual era escolhido por sua qualidade de
homem jovem e viril, mas efeminado. No desenrolar dos séculos, o culto
naturalmente degradou-se. Outras idéias se somaram à forma original, e em parte
devido ao caráter orgíaco do ritual, a idéia do Louco assumiu forma definida.
Daí, ele passou a ser representado com um chapéu de Bobo, evidentemente fálico
e trajado de bufão, o que novamente lembra a capa multicolorida envergada por
Jesus e por José. Este simbolismo não é apenas mercurial, mas também zodiacal.
José e Jesus, com doze irmãos, ou doze discípulos, igualmente representam o sol
no meio dos doze signos. Foi só muito posteriormente que alguma significação
alquímica foi atribuída a isso, e isto numa época na qual os sábios da
Renascença conseguiram marcar algum ponto descobrindo alguma coisa séria e
importante em símbolos que eram, na realidade, completamente frívolos.
Baphomet
É indubitável
que esta misteriosa figura é uma imagem mágica dessa mesma idéia, desenvolvida
em muitos símbolos. Sua correspondência pictórica é mais facilmente percebida
nas figuras do Zeus Arrhenothelus e Babalon, e nas representações
extraordinariamente obscenas da Virgem-Mãe encontradas entre os restos da
iconologia cristã primitiva. Este assunto é tratado com certos detalhes em
Payne Knight, onde a origem do símbolo e o significado do nome são
investigados. Von Hammer-Purgstall estava seguramente certo ao supor Baphomet
uma forma do deus-touro, ou melhor, o deus matador de Discos, Mithras, pois Baphomet deveria ser escrito com um “r“
no final, sendo assim claramente uma corruptela que significa Pai Mithras. Há aqui também uma conexão
com o asno, pois foi como um deus de
cabeça de asno que se tornou um objeto de veneração por parte dos Templários.
Os cristãos
primitivos também foram acusados de venerar um asno ou deus de cabeça de asno,
e isto, mais uma vez, está relacionado ao asno selvagem do deserto, o deus Set,
identificado com Saturno e Satã (ver Atu XV).
Ele é o sul, como Nuit é o norte: os egípcios possuíam um deserto e um oceano
nesses quadrantes.
Resumo
Pareceu
conveniente abordar separadamente tais formas principais da idéia do Louco, mas
nenhuma tentativa foi feita, ou deveria ser feita, no sentido de impedir a
justaposição e fusão das lendas. As variações da expressão, mesmo quando
contraditórias na aparência, devem conduzir a uma apreensão intuitiva do
símbolo por meio de uma sublimação e transcendência do intelectual. Todos estes
símbolos dos trunfos em última análise existem numa região além
da razão e acima dela. O estudo destas cartas tem como objetivo mais importante
o treinamento da mente de modo a pensar com clareza e coerência dessa maneira
exaltada.
Isto sempre
foi característico dos métodos de iniciação tais como entendidos pelos
hierofantes.
No período
confuso, dogmático do materialismo vitoriano, foi necessário à ciência
desacreditar todas as tentativas de transcender o modo racionalista de
abordagem da realidade; e, não obstante, foi o progresso da própria ciência que
reintegrou esses diferenciais. A partir do próprio começo deste século, a
ciência prática do mecânico e do engenheiro foi constrangida mais e mais a
descobrir sua justificativa teórica na física matemática.
A matemática
tem sido sempre a mais severa, abstrata e lógica das ciências. Contudo, mesmo
na matemática relativamente precoce do garoto de escola, o conhecimento tem que
ser extraído do irreal e do irracional. Os números irracionais e as séries
infinitas são as próprias formas radicais do pensamento matemático avançado. A
apoteose da física matemática é agora a admissão do malogro em descobrir a
realidade em qualquer idéia inteligível isolada. A moderna resposta à questão O que é alguma coisa ? é que é
relativamente a uma cadeia de dez idéias, qualquer uma delas que possa ser
interpretada em termos das restantes. Os gnósticos teriam sem dúvida chamado
isso de “uma cadeia de dez aeons”. Essas dez idéias não devem de modo algum ser
consideradas como aspectos de alguma realidade ao fundo. Da mesma maneira que a
suposta linha reta que era a estrutura do cálculo se mostrou ser uma curva, o
ponto que fora sempre tomado como o tipo de existência tornou-se o anel.
É impossível
duvidar que ocorre aqui uma aproximação continuamente mais estreita da ciência profana do mundo exterior da
sabedoria sagrada do iniciado.
- - -
O desenho da
carta em questão resume as principais idéias do que foi exposto anteriormente.
O Louco pertence ao ouro do ar. Possui os chifres de Dionísio Zagreus e entre
eles se acha o cone fálico de luz branca representando a influência proveniente
da Coroa * atuando sobre ele. Ele é mostrado contra o fundo do ar, rompendo
como aurora do espaço e sua atitude é daquele que explode inesperadamente sobre
o mundo.
* Kether: ver a posição do Caminho de Aleph
na Árvore da Vida.
Está trajado
de verde, conforme a tradição da primavera, mas seus calçados têm o ouro fálico
do sol.
Em sua mão
direita ele segura o bastão, encimado por uma pirâmide de branco, do Todo Pai.
Na mão esquerda ele segura a pinha flamejante, de significado similar, porém
indicando mais decididamente o crescimento vegetal; e de seu ombro esquerdo
pende um cacho de uvas cor de púrpura. Uvas representam fertilidade, doçura e a
base do êxtase. Este êxtase é mostrado pelo pedúnculo do cacho desdobrando-se
em espirais dos matizes do arco-íris. A forma do universo. Isto sugere o
Tríplice Véu do Negativo manifestando pela intervenção dele em luz dividida.
Sobre esse verticilo existem outras atribuições da divindade: o abutre de Maut,
a pomba de Vênus (Ísis ou Maria) e a hera sagrada para os seus devotos. Estão
presentes também a borboleta de ar
multicolorido e o globo alado com suas serpentes gêmeas, símbolo que tem eco e
é fortalecido pelos infantes gêmeos que se abraçam na espiral mediana. Acima
destes está suspensa a bênção das três flores em uma. O tigre faz festas para
ele e sob seus pés no Nilo com suas
hastes do lótus rasteja o crocodilo. Resumindo todas as suas muitas formas e
muitas imagens multicoloridas no centro da figura, o foco do microcosmo é o sol
radiante. A figura toda é um glifo da luz criativa.
I. O PRESTIDIGITADOR *
* Ainda neste
mesmo ensaio e na própria carta por ele mesmo concebida, Crowley optará pelo
título “O Mago”, em lugar de “O
Prestidigitador” (NT).
Esta carta se
refere à letra Beth, que significa casa, e é atribuída ao planeta Mercúrio. As idéias ligadas a este símbolo
são tão complexas e tão multifárias que parece melhor vincular a esta descrição
geral certos documentos que sustentam diferentes aspectos desta carta. O todo
formará então uma base adequada para a interpretação plena da carta mediante
estudo, meditação e uso.
O título
francês desta carta no baralho medieval é Le
Bateleur, o portador do bâton. **
Mercúrio é preeminentemente o portador do bastão: energia emitida. Esta carta representa, portanto, a Sabedoria, a
Vontade, a Palavra, o Logos pelos
quais os mundos foram criados (ver o Evangelho segundo São João, capítulo I).
Representa a Vontade. Em suma, ele é o Filho, a manifestação em ato da idéia do
Pai. Ele é o correlativo masculino d’A Alta Sacerdotisa. Que não haja confusão
aqui por conta da doutrina fundamental do Sol e a Lua como a Segunda Harmonia
para o lingam e o yoni, pois, como se perceberá na citação
de The Paris Working, *** (ver apêndice) o criativo Mercúrio tem a
natureza do Sol. Entretanto, Mercúrio é o caminho
conduzindo de Kether a Binah, a Compreensão e assim ele é o mensageiro dos deuses,
representando precisamente esse lingam,
a Palavra de criação cujo discurso é silêncio.
** Variante: Le Pagad, de origem desconhecida.
Sugestões de possíveis origens:
(1) PChD, terror (esp. pânico),
um título de Geburah; também coxa,
isto é, membro viril; por analogia
com o árabe, PAChD,
causador de terror: valor 93 !!
(2) Pagode, um memorial fálico:
similar e igualmente apropriado.
*** A
Operação de Paris (NT).
Mercúrio,
contudo, representa ação em todas as formas e fases. Ele é a base fluídica de
toda transmissão de atividade e na teoria dinâmica do universo é, ele mesmo, a
substância do universo. Ele é, na linguagem da moderna física, aquela carga
elétrica que é a primeira manifestação do anel de dez idéias indefiníveis, como
explicado anteriormente. Ele é assim criação contínua.
Logicamente
também, sendo a Palavra, ele é a lei da razão ou da necessidade ou acaso, que é
o significado secreto da Palavra, que é a essência da Palavra e a condição de
seu pronunciamento. Sendo assim, e especialmente porque ele é dualidade, ele
representa tanto verdade quanto falsidade, tanto sabedoria quanto loucura.
Sendo o inesperado, ele desestabelece qualquer idéia estabelecida e portanto é
enganador. Ele não tem consciência, sendo criativo. Se não consegue atingir
seus fins através de meios limpos, ele usa meios sujos. As lendas do jovem
Mercúrio são portanto lendas da astúcia. Ele não pode ser compreendido porque
ele é a Vontade Inconsciente. Sua posição na Árvore da Vida mostra a terceira Sephira, Binah (Compreensão) como ainda
por ser formulada; ainda menos a falsa Sephira,
Da’ath, conhecimento.
Do exposto
acima parecerá que esta carta é a segunda emanação da Coroa, e portanto, num
certo sentido, a forma adulta da primeira emanação, O Louco, cuja letra é Aleph, a unidade. Estas idéias são tão
sutis e tão tênues nestes planos exaltados do pensamento que a definição é
impossível. Na verdade, não é sequer desejável, porque é da natureza dessas
idéias fluírem uma para a outra. Tudo
que se pode fazer é dizer que qualquer dado hieróglifo representa uma ligeira
insistência sobre alguma forma particular de uma idéia pantomorfa. Nesta carta,
a ênfase é sobre o caráter criativo e dualístico do caminho de Beth.
Na carta
tradicional, o disfarce é o de um prestidigitador.
Esta
representação do Prestidigitador é uma das mais grosseiras e menos
satisfatórias do baralho medieval. Ele é usualmente representado com uma
cobertura de cabeça de forma semelhante ao sinal do infinito em matemática
(mostrado minuciosamente na carta chamada dois
de Discos). Segura um bastão com uma saliência arredondada em cada
extremidade, o que se ligava provavelmente à polaridade dupla da eletricidade;
mas é também o bastão oco de Prometeu que traz fogo do céu. Sobre uma mesa ou
altar, atrás do qual ele está de pé, estão as três outras armas elementares.
“Com a
baqueta, Ele cria.
Com a Taça, Ele preserva.
Com a Adaga, Ele destrói.
Com a Moeda, Ele redime.
Liber Magi
vv. 7-10.”
A carta que
apresentamos aqui foi desenhada principalmente com base na tradição
greco-egípcia, pois a compreensão dessa idéia foi certamente mais avançada
quando essas filosofias modificaram-se reciprocamente do que em outra parte em
qualquer época.
A concepção
hindu de Mercúrio, Hanuman, o deus-macaco, é abominavelmente degradada. Nenhum
dos aspectos mais elevados do símbolo é encontrado em seu culto. A meta de seus
adeptos parece principalmente ter sido a produção de uma encarnação temporária
do deus enviando as mulheres da tribo todo ano ao interior da selva. Tampouco
localizamos qualquer lenda de alguma profundidade ou espiritualidade. Hanuman é
seguramente pouco mais que o macaco
de Thoth.
A principal
característica de Tahuti ou Thoth, o Mercúrio egípcio, é em primeiro lugar ter
a cabeça da íbis. A íbis é o símbolo da concentração porque se supunha que esta
ave permanecia continuamente sobre uma perna, imóvel. Trata-se muito
evidentemente de um símbolo do espírito meditativo. Pode ter havido também
alguma referência ao mistério central do Aeon
de Osíris, o segredo guardado tão cuidadosamente do profano, que a intervenção
do macho era necessária para a produção de filhos. Nesta forma de Thoth, ele é
visto portando o bastão da fênix, simbolizando ressurreição mediante o processo
generativo. Em sua mão esquerda está Ankh, que representa uma correia de
sandália, ou seja, o meio de progresso através dos mundos, que é a marca
distintiva da divindade. Mas, por sua forma, este Ankh (crux ansata) é realmente uma outra forma da Rosacruz, não sendo este fato talvez tal
acidente como modernos egiptólogos,
preocupados com sua tentada refutação da escola fálica de arqueologia, nos
fariam supor.
A outra forma
de Thoth o representa primariamente como Sabedoria e Palavra. Ele segura na mão
direita o estilo, na esquerda o papiro. Ele é o mensageiro dos deuses;
transmite a vontade deles por meio de hieróglifos inteligíveis ao iniciado e
registra os atos deles. Mas foi notado desde tempos remotos que o uso do
discurso, ou escrita significou a introdução da ambigüidade na melhor das
hipóteses e da falsidade na pior; representaram, portanto, Thoth seguido por um
macaco, o cinocéfalo, cuja função era distorcer a Palavra do deus, arremedar,
simular e ludibriar. Na linguagem filosófica, pode-se dizer: a manifestação
implica na ilusão. Esta doutrina é encontrada
na filosofia hindu, onde o aspecto do Tahuti de que estamos falando é
chamado de Maya. Esta doutrina também
é encontrada na imagem central e típica da escola Mahayana do budismo (realmente idêntica à doutrina de Shiva e
Shakti). Uma visão dessa imagem será
achada no documento intitulado O Senhor da Ilusão (ver Apêndice).
A presente
carta se empenha em representar todas as concepções acima expostas. E, contudo,
nenhuma imagem verdadeira é possível de modo algum pois, primeiro, todas as
imagens são necessariamente falsas como tais, e segundo, sendo o movimento
perpétuo e sua taxa aquela do limite, c,
o grau de velocidade de luz, qualquer êxtase contradiz a idéia da carta: esta
figura é, portanto, dificilmente mais do que apontamentos mnemônicos. Muitas
das idéias expressas no desenho estão bem expostas nos extratos de The
Paris Working (ver Apêndice).
II. A ALTA SACERDOTISA
Esta carta se
refere à letra Gimel, que significa
camelo (o simbolismo do camelo é elucidado na seqüência).
A referência
da carta é à Lua. A Lua (sendo o símbolo feminino geral, o símbolo da segunda
ordem correspondendo ao Sol como o yoni corresponde
ao lingam) é universal e vai do mais
alto ao mais baixo. Trata-se de um símbolo que reaparecerá freqüentemente nestes hieróglifos. Mas nos
primeiros trunfos a concorrência é com a natureza abaixo do Abismo; A Alta Sacerdotisa é a primeira
carta que liga a Tríade Superior com a Héxade, e seu caminho, como é mostrado
no diagrama, produz uma conexão direta entre o Pai em seu aspecto mais elevado
e o Filho em sua manifestação mais perfeita. Este caminho está em equilíbrio
exato no Pilar do Meio. Há aqui, portanto, a mais pura e mais exaltada
concepção da Lua (no outro extremo da escala está o Atu XVIII, q. v.).
A carta
representa a forma mais espiritual de Ísis, a virgem eterna, a Ártemis dos gregos. Ela está trajada tão-somente
do véu brilhante de luz. É importante para a alta iniciação considerar a Luz
não como a perfeita manifestação do Espírito Eterno, mas, preferivelmente, como
o véu que oculta este Espírito. Ela assim o faz sumamente efetiva devido ao seu
brilho incomparavelmente deslumbrante. *
Assim ela é luz e o corpo de luz. Ela é a verdade atrás do véu de luz.
Ela é a alma de luz. Sobre os joelhos dela está o arco de Ártemis, que é também
um instrumento musical pois ela é caçadora e caça por encantamento.
Agora que se
considere esta idéia como a partir de detrás do Véu de Luz, o terceiro Véu do nada original. Esta luz é o mênstruo da
manifestação, a deusa Nuit, a possibilidade da Forma. Esta manifestação
primeira e maximamente espiritual do feminino toma para si um correlativo
masculino ao formular em si mesma qualquer ponto geométrico a partir do qual se
contempla a possibilidade. Esta deusa virginal é então potencialmente a deusa
da fertilidade. Ela é a idéia por trás de toda a forma; logo que a influência
da tríade desce abaixo do Abismo ocorre a conclusão da idéia concreta.
* A tradição
das melhores escolas do misticismo hindu possui um paralelismo preciso. O
obstáculo final à Iluminação plena é exatamente esta Visão de Efulgência
Amorfa.
Os capítulos
seguintes, de The Book of Lies (falsely so-called), ** pode
auxiliar o estudante a compreender essa doutrina por meio de meditação:
** O Livro
das Mentiras (falsamente assim chamado) (NT).
DIABOS DE PÓ
No Vento da mente, nasce a
turbulência chamada Eu.
Ele rompe; inunda os pensamentos
estéreis.
Toda vida é sufocada.
Este deserto é o Abismo onde está o
Universo. As Estrelas
são apenas cardos nesta aridez.
Contudo, este deserto é apenas um
lugar amaldiçoado num
mundo de glória.
Agora e novamente, Viajantes cruzam
o deserto; eles vêm do
Grande Mar, e para o Grande Mar eles vão.
Enquanto caminham, eles derramam
água; um dia eles irrigarão o
deserto, até que floresça.
Vê! cinco pegadas de um Camelo! V.V.V.V.V.
No fundo da carta, há figuras
nascentes, cristais, sementes, simbolizando o início da vida. No meio, está o
Camelo que é mencionado no capítulo cotado acima. Nesta carta, está a ligação
entre os mundos arquetípico e criativo.
Considerou-se este caminho, até
aqui, pelo fato de ele descer direto da Coroa; mas para o Aspirante, ou melhor,
para o Adepto que já está em Tipharet, tendo alcançado o Conhecimento e Conversação
do Sagrado Anjo Guardião, este é o caminho que leva para cima; e esta carta, em
um sistema chamada de “A Princesa da Estrela Prateada”, simboliza o pensamento
(melhor: a radiância inteligível) do Anjo. Em resumo, este é um símbolo da mais
alta iniciação. Mas é uma condição da iniciação que suas chaves sejam
comunicadas, por aqueles que as possuem, para todos os verdadeiros aspirantes.
Esta carta é, portanto, um glifo muito peculiar do trabalho da A\A\ Uma
idéia dessa fórmula é dada neste outro capítulo do Livro das Mentiras:
A OSTRA
Os
Irmãos da A\A\são
um com a Mãe da Criança. (4)
Os
Muitos são adoráveis ao Um, como o Um o é para os Muitos. Este é o
Amor Destes; criação-parto é a Glória do
Um; coito-dissolução é a Glória
de Muitos. O Todo, assim combinado com
Estes, é Glória.
Nada
está além da Glória.
O
Homem delicia-se ao unir-se com a Mulher; a Mulher em parir uma
Criança.
Os
Irmãos da A\A\são
Mulheres: os Aspirantes à A\A\são
Homens.
É importante
refletir que esta carta é inteiramente feminina, inteiramente virginal pois
representa a influência e o meio de manifestação (ou, de baixo, de obtenção) em
si mesma. Representa possibilidade em seu segundo estágio sem qualquer começo
de consumação.
Cumpre
observar, em particular, que as três letras consecutivas, Gimel, Daleth e Hé (Atu II, III, XVII) exibem o símbolo feminino (Yin) sob três formas compondo a Deusa
Tri-una. Esta trindade é imediatamente seguida pelos três Pais correspondentes
e complementares, Vau, Tzaddi, Yod (Atu
IV, V, IX). Os trunfos 0 e I são hermafroditas. Os catorze trunfos
restantes representam estas Quintessências Primordiais do Ser em conjunção,
função ou manifestação.
III. A IMPERATRIZ
Esta carta é
atribuída à letra Daleth, que
significa porta e se refere ao planeta Vênus. A carta é, a julgar pela
aparência, o complemento de O Imperador, mas suas atribuições são muito mais
universais.
Na Árvore da
Vida, Daleth é o caminho que conduz
de Chokmah a Binah, unindo o Pai à Mãe. Daleth
é um dos três caminhos que estão completamente acima do Abismo. Há,
ademais, o símbolo alquímico de Vênus, o único dos símbolos planetários que
abrange todas as Sephiroth da Árvore
da Vida. A doutrina implícita é que a fórmula fundamental do universo é o Amor
( o círculo toca as Sephiroth 1, 2,
4, 6, 5, 3; a cruz é formada por 6, 9, 10
e 7, 8).
É impossível
resumir os significados do símbolo da mulher
por esta razão mesma, a saber, ela continuamente reaparece sob forma
infinitamente variada. “A de muitos tronos, muitas disposições, muitas manhas,
filha de Zeus.”
Nesta carta,
ela é mostrada em sua manifestação mais geral. Combina as qualidades
espirituais mais elevadas com as materiais mais baixas. Por esta razão, ela
está apta a representar uma das três formas alquímicas da energia, o Sal. O Sal
é o princípio inativo da natureza, é matéria que precisa ser energizada pelo
Enxofre para preservar o equilíbrio rotativo do universo. Os braços e o tronco
da figura, por conseguinte, sugerem a forma do símbolo alquímico do Sal. Ela
representa uma mulher com coroa e trajes imperiais sentada a um trono, cujas
colunas de apoio sugerem chamas azuis torcidas, simbolizadoras de seu
nascimento da água, o feminino, elemento fluido. Em sua mão direita ela segura
o lótus de Ísis, o lótus representando o feminino ou poder passivo; suas raízes estão na terra sob
a água, ou na própria água, mas ele abre suas pétalas para o Sol cuja imagem é
o bojo do cálice. É, portanto, uma forma viva do Cálice Sagrado (O Santo Graal) santificada pelo sangue
do Sol. Empoleirados nas colunas de apoio em forma de chama de seu trono estão
duas de suas aves mais sagradas, o pardal e a pomba. O ponto essencial deste
simbolismo precisa ser buscado nos poemas de Catulo e Marcial. Há abelhas sobre
seu manto e também dominós, circundados por linhas espirais contínuas. A
significação é similar em toda parte.
Em torno
dela, como um cinto, se acha o zodíaco.
Sob o trono
há um piso coberto de tapeçaria bordada com flores-de-lis e peixes, os quais
parecem estar adorando a rosa secreta,
que é mostrada à base do trono. A significação destes símbolos já foi
explicada. Nesta carta todos os símbolos são cognatos devido à simplicidade e
pureza do emblema. Não há aqui nenhuma contradição; a oposição que parece
existir é apenas a oposição necessária ao equilíbrio, o que é indicado pelas
luas giratórias.
A heráldica
da Imperatriz é dupla: de um lado o pelicano da tradição alimentando seus
filhotes do sangue de seu próprio coração, do outro, a águia branca do
alquimista.
Com
referência ao pelicano, seu simbolismo total só estava disponível para
iniciados do quinto grau da O. T. O.. Em
termos gerais, pode-se sugerir o significado identificando-se o próprio
pelicano fêmea com a Grande Mãe e sua
prole, com a Filha na fórmula do Tetragrammaton.
É porque a filha é a filha de sua mãe que ela pode ser guindada
ao seu trono. Em outras palavras, há uma continuidade da vida, uma herança de
sangue, que junta todas as formas da natureza.
Não há ruptura entre luz e trevas. Natura
non facit saltum.* Se estas considerações fossem inteiramente entendidas,
possibilitaria a reconciliação da teoria quântica com as equações
eletromagnéticas.
* Em latim no
original, A natureza não dá saltos (NT).
A águia branca neste trunfo corresponde à águia vermelha da carta-consorte, O
Imperador. Aqui é preciso trabalhar em sentido inverso, pois nestas cartas mais
elevadas se acham os símbolos da perfeição; tanto a perfeição inicial da
natureza quanto a perfeição final da arte; não apenas Ísis, mas também Néftis. Conseqüentemente, as minúcias do
trabalho pertencem a cartas subseqüentes, especialmente Atu VI e Atu XIV.
Ao fundo da
carta está o arco ou porta, que é a interpretação da letra Daleth.
Esta carta, em síntese, pode ser denominada Porta do Céu. Contudo, devido à beleza do símbolo, devido à sua apresentação
omniforme, o estudante que está deslumbrado por qualquer dada manifestação pode
extraviar-se. Em nenhuma outra carta é
tão necessário desconsiderar as partes para se concentrar no todo.
IV. O
IMPERADOR
Esta carta é
atribuída à letra Tzaddi e se refere ao signo de Áries no
zodíaco. Este signo é regido por Marte e aí o Sol é exaltado. Este signo é assim
uma combinação de energia em sua forma mais material com a idéia de autoridade.
O sinal TZ ou TS sugere isso na forma original, onomatopaica da linguagem. É
derivado de raízes do sânscrito significando cabeça e idade e é
encontrado hoje em palavras como Caesar,
Tsar, Sirdar, Senate, Senior, Signor, Señor, Seigneur.
A carta
representa uma figura masculina coroada, de vestes e insígnias da dignidade
imperial. Está sentado no trono cujos remates de coluna são as cabeças do
carneiro selvagem do Himalaia, já que Áries significa carneiro. Aos seus pés,
deitado com a cabeça levantada está o cordeiro
com o estandarte para confirmar essa
atribuição no plano inferior, pois o carneiro, por natureza, é um animal
selvagem e corajoso se solitário em sítios solitários, enquanto que quando
domesticado e forçado a repousar em pastos verdes, é reduzido a um animal
dócil, covarde, gregário e suculento. Esta é a teoria do governo.
O Imperador é
também uma das mais importantes cartas alquímicas, constituindo com o Atu II e III a tríade: Enxofre,
Mercúrio, Sal. Seus braços e cabeça formam um triângulo ereto; abaixo, as
pernas cruzadas representam a cruz. Esta figura é o símbolo alquímico do
Enxofre (ver Atu X ). O Enxofre é a
energia ígnea masculina do universo, o Rajas
da filosofia hindu. Esta é a energia criativa ágil, a iniciativa de todo o
Ser. O poder do Imperador é uma generalização do poder paterno, daí tais
símbolos como a abelha e a flor-de-lis, exibidos nesta carta. Com
referência à qualidade desse poder, é forçoso notar que ele representa
atividade súbita, violenta, porém não pertinente. Se persistir tempo demais,
queima e destrói. Trata-se de energia distinta da energia criativa de Aleph e
Beth: esta carta está abaixo do
Abismo.
O Imperador
porta um cetro (encimado pela cabeça de um carneiro pelas razões já expostas) e
uma esfera encimada por uma cruz de Malta, que significa que sua energia
atingiu uma emissão bem sucedida, que seu governo foi estabelecido.
Há ainda um
outro símbolo importante. Seu escudo representa a águia bicéfala coroada por
uma disco carmesim. Isto representa a tintura vermelha do alquimista, da
natureza do ouro, como a águia branca mostrada no Atu III pertence à sua consorte, a Imperatriz, e é lunar, de prata.
Deve-se
finalmente observar que a luz branca que desce sobre ele indica a posição desta
carta na Árvore da Vida. A autoridade do Imperador provém de Chokmah, a sabedoria criativa, a
Palavra, e é exercida sobre Tiphareth,
o homem organizado.
V. O HIEROFANTE
Esta carta se
refere à letra Vau, que significa
prego, sendo que nove pregos aparecem no alto da carta, os quais servem para
fixar o oriel atrás da principal
figura da carta.
A carta é
referida a Touro, de sorte que o trono do Hierofante é circundando por
elefantes, que participam da natureza de Touro, estando o Hierofante realmente
sentado sobre um touro. Ao redor dele estão as quatro bestas ou Kerubs, uma em cada canto da carta, visto
que estes são os guardiões de todo santuário. Mas a principal referência é ao
arcano particular que constitui o negócio maior, o essencial, de todo trabalho
mágico: a união do microcosmo ao macrocosmo. Conseqüentemente, o oriel é diáfano. Diante do manifestador do Mistério há um hexagrama
representando o macrocosmo e no centro deste um pentagrama, contendo e
representando uma criança do sexo masculino dançando. Isto simboliza a lei do
novo Aeon da criança Hórus, o qual
suplantou o Aeon do deus que morre, que governou o mundo por
dois mil anos. Também diante do Hierofante está a mulher com a espada à
cintura, que representa a Mulher
Escarlate na hierarquia do novo Aeon. Este simbolismo é adicionalmente
efetivado no oriel, onde, por trás da
cobertura fálica de cabeça, a rosa de cinco pétalas desabrocha.
O simbolismo
da serpente e da pomba faz alusão a este versículo de O Livro da Lei (cap. I,
v. 57) : “... pois existe amor e amor. Existe a pomba, e existe a serpente.”
Este símbolo
reaparece no trunfo de número XVI.
O fundo da carta
toda é o azul escuro da noite estrelada de Nuit, de cujo útero nascem todos os
fenômenos.
Touro, o
signo do zodíaco representado por esta carta, é ele mesmo o Kerub-Touro, ou seja, a Terra sob sua
forma mais forte e mais equilibrada.
O regente
desse signo é Vênus, que é representado pela mulher em pé diante do hierofante.
No capítulo
III de O Livro da Lei, versículo xi, se lê:
“Que a mulher
seja cingida com uma espada diante de mim”. Esta mulher representa Vênus como
ela agora está neste novo Aeon, não
mais o mero veículo de seu correlativo masculino, mas armada e militante.
Neste signo a
Lua é “exaltada”; sua influência é representada não só pela mulher como também
pelos nove pregos.
É impossível
na atualidade explicar esta carta na sua inteireza pois somente o curso dos
eventos poderá mostrar como a nova corrente de iniciação funcionará.
É o Aeon de Hórus, da criança. Embora o rosto do Hierofante pareça benigno e sorridente e
a própria criança pareça alegre com desregrada inocência, é difícil negar que
na expressão do iniciador há algo
misterioso, mesmo sinistro. Ele parece estar gozando uma piada muito secreta às
custas de alguém. Há um aspecto distintamente sádico nesta carta, e naturalmente,
considerando-se que ela provém da lenda de Pasiphae, o protótipo de todas as
lendas dos deuses-tDiscos. Estas ainda persistem em religiões como o saivismo
e (depois de múltiplas degradações)
no próprio cristianismo.
O simbolismo
do bastão é peculiar; os três anéis entrelaçados que o encimam podem ser
tomados como representativos dos três Aeons
de Ísis, Osíris e Hórus com suas fórmulas mágicas que se entrosam. O anel
superior está marcado de escarlate para Hórus, os dois inferiores de verde para
Ísis e amarelo pálido para Osíris, respectivamente. Todos estes estão baseados
no azul escuro, a cor de Saturno, O
Senhor do Tempo, pois o ritmo do Hierofante é tal, que ele se move apenas a
intervalos de 2.000 anos.
VI. OS AMANTES
(OU OS IRMÃOS)
Esta carta e
sua gêmea, XIV (Arte), são os mais obscuros e difíceis dos Atu. Cada um destes símbolos é em si mesmo duplo, de modo que os
significados formam uma série divergente e a integração da carta só pode ser
reconquistada mediante casamentos e identificações reiterados, e alguma forma
de hermafroditismo.
E, no
entanto, a atribuição é a essência da simplicidade. O Atu VI se refere a Gêmeos,
regido por Mercúrio. A letra hebraica correspondente é Zain, que significa espada, e a estrutura da carta é portanto o arco de Espadas abaixo do qual o casamento real acontece.
A espada é
primeiramente um engenho de divisão. No mundo intelectual - que é o mundo do
naipe de Espadas - ela representa análise. Esta carta e o Atu XIV juntos compõem a máxima alquímica abrangente: Solve et coagula.
Esta carta é,
por conseguinte, uma das mais
fundamentais do Tarô. É a primeira carta na qual mais de uma figura aparece (o macaco de Thoth no Atu I é apenas uma sombra). Em sua forma original, foi a história
da Criação.
Acrescemos
aqui, em função de seu interesse histórico, a descrição desta carta em sua
forma primitiva, o que é extraído de Liber
418.
“Há uma lenda
assíria de uma mulher com um peixe e há também uma lenda de Eva e a Serpente,
pois Caim era o filho de Eva e a Serpente, e não de Eva e Adão; e, portanto,
quando ele assassinara seu irmão, que foi o primeiro assassino por ter
sacrificado coisas vivas ao seu demônio, Caim recebeu a marca em sua fronte,
que é a marca da Besta referida no Apocalipse e o sinal da iniciação.
“O
derramamento de sangue é necessário pois Deus não ouviu os filhos de Eva até
que o sangue fosse derramado. E isto é religião externa; mas Caim não falou a
Deus nem recebeu a marca de iniciação sobre sua fronte, de sorte que fosse
evitado por todos os homens, até que tivesse derramado sangue. E este sangue
foi o sangue de seu irmão. Este é um mistério da sexta chave do Tarô, que não
deve ser chamada de Os Amantes, mas sim Os Irmãos.
“No meio da
carta posta-se Caim; em sua mão direita está o martelo de Thor com o qual ele assassinara seu irmão, e está todo
tinto de seu sangue. Sua mão esquerda ele mantém aberta como um sinal de
inocência. Sobre sua mão direita está sua mãe Eva, ao redor da qual a serpente
se enrosca com seu capelo desdobrado atrás da cabeça dela, e sobre sua mão esquerda
encontra-se uma figura um tanto semelhante a Kali indiana, mas muito mais
sedutora. Todavia, eu sei que é Lilith. E acima dele está o Grande Sigillum da Seta, voltado para
baixo, atingindo o coração da criança. Esta criança é também Abel. E o significado
desta parte da carta é obscuro, mas este é o desenho correto da carta do Tarô;
e esta é a fábula mágica correta da qual os escribas hebreus, que não eram
iniciados completos, furtaram sua lenda da Queda
e os eventos subseqüentes.”
É bastante
significativo que quase toda sentença deste trecho parece inverter o
significado da anterior. Isto é porque a reação é sempre igual e oposta à ação.
Esta equação é, ou deveria ser, simultânea no mundo intelectual, onde não
existe grande retardamento de tempo; a formulação de qualquer idéia cria sua
contraditória quase no mesmo momento. A contraditória de qualquer proposição
está implícita nela mesma. Isto é necessário para preservar o equilíbrio do
universo. A teoria foi explicada na exposição sobre o Atu I, O Prestidigitador, mas faz-se mister que seja agora
enfatizada a fim de se interpretar esta carta.
A chave é que
a carta representa a Criação do Mundo. Os hierarcas mantinham este segredo como
de transcendente importância. Conseqüentemente, os iniciados que publicaram o
Tarô para uso durante o Aeon de Osíris substituíram
a carta original acima descrita em The Vision and the Voice. Estavam
interessados em criar um novo universo próprio; eles eram os pais da Ciência.
Seus métodos de trabalho, agrupados sob o termo genérico de alquimia, jamais
foram tornados públicos. O ponto interessante é que todos os desenvolvimentos
da ciência moderna nos últimos cinqüenta anos têm proporcionado às pessoas
inteligentes e instruídas a oportunidade de refletir que toda a tendência da
ciência tem sido retornar aos objetivos e mutatis
mutandis aos métodos alquímicos. O segredo observado pelos alquimistas
tornou-se necessário devido ao poder de perseguição de Igrejas. Tão amargamente
quanto os beatos intolerantes lutavam entre si, eles estavam igualmente
preocupados em destruir a ciência infante, a qual, como reconheciam
instintivamente, colocaria um fim na ignorância e na fé das quais dependiam o
poder e a riqueza deles.
O assunto
desta carta é a análise, seguida pela
síntese. A primeira pergunta feita
pela ciência é: “Do que são compostas as coisas ? “ Respondida esta pergunta, a
seguinte pergunta é: “ Como iremos recombiná-las para o nosso máximo proveito
?” Isto resume toda a política do Tarô.
A figura
encapuzada que ocupa o centro da carta é uma outra forma de O Eremita, o qual é
elucidado na seqüência no Atu IX. Ele próprio é uma forma do deus Mercúrio
descrito no Atu I; ele está rigorosamente encoberto, como para significar que a
razão última das coisas está num domínio além da manifestação e do intelecto
(como explicado alhures, apenas duas operações são, no final das contas,
possíveis: análise e síntese). Ele está de pé no sinal do entrante, como se projetando as forças misteriosas da
criação. Ao redor de seus braços se acha um rolo de pergaminho, indicativo da
Palavra que é semelhante à essência e mensagem dele. Mas o sinal do entrante é também o sinal
da bênção e da consagração, de
maneira que sua ação nesta carta é a celebração
do casamento hermético. Atrás dele estão as figuras de Eva, Lilith e Cupido. Este simbolismo foi incorporado
para preservar em alguma medida a forma original da carta e mostrar sua origem,
sua herança e sua continuidade com o passado. Na aljava de Cupido está inscrita
a palavra Thelema que é a Palavra da Lei (ver Liber AL, cap. I, versículo 39). Suas setas são quanta de Vontade. É assim indicado que
esta fórmula fundamental de operação
mágica, análise e síntese persiste através dos Aeons.
Podemos
passar agora a considerar o próprio casamento
hermético.
Esta parte da
carta é uma simplificação de o Casamento
Químico de Christian Rosenkreutz, uma obra prima excessivamente extensa e
prolixa para ser citada proveitosamente aqui. Mas a essência da análise é a
gangorra contínua de idéias contraditórias. É um glifo da dualidade. As pessoas
da realeza envolvidas são o rei negro ou mouro com uma coroa de ouro e a rainha
branca com uma coroa de prata. Ele
está acompanhado do leão vermelho, e
ela da águia branca. Estes são símbolos dos princípios masculino e feminino na
natureza; são, portanto, igualmente, em vários estágios da manifestação Sol e
Lua, Fogo e Água, Ar e Terra. Em química eles se apresentam como ácido e
álcali, ou (mais profundamente) metais e não-metais, tomando-se estas palavras
em seu mais lato sentido filosófico a fim de incluir o hidrogênio por um lado e
o oxigênio, por outro. Neste aspecto, a figura encapuzada representa o elemento
protéico do carbono, a semente de
toda a vida orgânica.
O simbolismo
do masculino e o feminino é continuado ainda pelas armas do rei e da rainha.
Ele porta a Lança Sagrada e ela, o Cálice Sagrado; as outras mãos deles
estão unidas, como que consentindo com o casamento.
Suas armas são apoiadas por crianças gêmeas, cujas posições estão trocadas,
pois a criança branca não só oferece apoio ao cálice como também carrega rosas, enquanto que a criança negra,
segurando a lança de seu pai, carrega
também o porrete, um símbolo equivalente. Na base do conjunto está o resultado
do casamento sob forma primitiva e
pantomórfica: o ovo órfico alado. Este ovo representa a essência de toda essa
vida sujeita a esta fórmula do masculino e feminino. Prossegue o simbolismo das
serpentes com as quais o manto do rei
está ornamentado, e das abelhas que adornam o manto da rainha. O
ovo é cinza, misturando branco e preto, de modo a significar a cooperação das
três Superiores da Árvore da Vida. A
cor da serpente é púrpura, Mercúrio
na escala da rainha. É a influência
desse deus manifestada na natureza, enquanto que as asas têm cor carmesim, a
cor (na escala do rei) de Binah, a
Grande Mãe. Neste símbolo existe, portanto, um glifo completo do equilíbrio
necessário ao começo da Grande Obra. Mas, no que concerne ao mistério final,
isto é deixado sem solução. Perfeito é o plano para produzir a vida, porém a
natureza desta vida é ocultada. É capaz de assumir qualquer forma possível, mas
qual forma ? Isto depende das influências presentes na gestação.
A figura no
ar apresenta certa dificuldade. A interpretação tradicional diz que se trata de
Cupido, e não fica claro, a princípio, o que Cupido tem a ver com Gêmeos.
Nenhuma luz é lançada sobre este ponto ao considerar-se a posição do caminho
na Árvore da Vida, pois Gêmeos conduz de
Binah a Tiphareth. E aí, conseqüentemente, se levanta toda a questão de
Cupido. Os deuses romanos geralmente representam um aspecto mais material dos
deuses gregos dos quais são derivados, neste caso, Eros. Eros é o filho de
Afrodite e a tradição diverge quanto a seu pai ser Ares, Zeus ou Hermes, quer dizer, Marte, Júpiter ou Mercúrio.
Sua aparência nesta carta sugere que Hermes seja o verdadeiro progenitor e este
parecer é confirmado pelo fato de não ser em absoluto fácil distingui-lo da
criança Mercúrio pois eles têm em comum o desregramento, a irresponsabilidade e o gosto por pregar
peças. Mas nesta imagem existem características peculiares. Ele carrega um arco
e flechas numa aljava dourada (é representado, por vezes, com uma tocha); tem
asas douradas e está vendado. Daí pode parecer que ele representa a vontade
inteligente (e, ao mesmo tempo, inconsciente) da alma de unir a si mesma com
tudo e todos, como foi explicado na fórmula geral relativa à agonia da
separação.
Não se
atribui importância muito especial em figuras alquímicas ao Cupido. Contudo,
num certo sentido, ele é a fonte de toda a ação, a libido para expressar zero como
dois. De um outro ponto de vista, é
possível considerá-lo como o aspecto intelectual da influência de Binah sobre Tiphareth pois (em uma tradição) o título da carta é “Os
Crianças da Voz, o Oráculo dos Deuses Poderosos”. Deste ponto de vista, ele
é um símbolo da inspiração, descendo sobre a figura encapuzada, que é, neste
caso, um profeta que opera a união do rei e a rainha. Sua flecha representa a
inteligência espiritual necessária nas operações alquímicas, mais do que a mera
fome de executá-las. Por outro lado, a flecha é peculiarmente um símbolo de
direção, e é, portanto, apropriado colocar a palavra Thelema em letras gregas sobre a aljava. Deve-se também observar
que a carta contraposta, Sagitário, *
significa Aquele que porta a Flecha,
ou o Arqueiro, uma figura que não aparece sob forma alguma no Atu XIV. Estas
duas cartas são tão complementares que não podem ser estudadas isoladamente
para completa interpretação.
* Isto é, Arte
(Atu XIV) (NT).
VII. A
CARRUAGEM
O Atu VII se
refere ao signo zodiacal Câncer, o signo
para dentro do qual o Sol se move no solstício
de verão. **
** Note-se
que Cheth
- Cheth 8 - Yod 10
- Tau 400 totalizam o valor 418. Este é um dos
números-chaves mais importantes de Liber
AL. É o número da palavra do Aeon,
ABRAHADABRA, a chave da Grande Obra ( ver
The Equinox of the Gods, pg. ... e também The Temple of Solomon the King). Um volume completo poderia, e deveria,
ser escrito tão-só acerca desta palavra.
Câncer é o
signo cardeal do elemento água, ***e
representa a primeira investida incisiva desse elemento. Câncer também
representa o caminho que conduz da grande Mãe Binah a Geburah, sendo
assim a influência das Superiores através
do Véu da Água (que é sangue) sobre a energia do homem, assim inspirando-a.
Corresponde, desta maneira, a O Hierofante, que do outro lado da Árvore da
Vida, traz para baixo o fogo de Chokmah (ver
diagrama).
*** Daí o dia
de São João Batista e os vários cerimoniais ligados à água.
O desenho da
carta aqui apresentada foi muito influenciado pelo trunfo retratado por Éliphas
Lévi. O dossel da Carruagem é o azul de céu noturno de Binah. As colunas são as quatro colunas do universo, o regímen de Tetragrammaton. As rodas escarlates
representam a energia original de Geburah
produtora do movimento giratório.
Essa
carruagem é puxada por quatro esfinges compostas dos quatro Kerubs, o touro, o leão, a águia e o homem. Em cada esfinge estes elementos estão permutados, de maneira
que o todo representa os dezesseis sub-elementos.
O auriga está trajado com a armadura cor
de âmbar apropriada ao signo. Está mais entronizado na carruagem do que o conduzindo
porque todo o sistema de progressão é perfeitamente equilibrado. Sua única
função é portar o Cálice Sagrado.
Acima de sua
armadura estão dez Estrelas de Assiah,
a herança de rocio celestial de sua mãe.
Como cimeira
do elmo ele tem o caranguejo
apropriado ao signo. A viseira de seu elmo está abaixada pois nenhum homem pode
olhar seu rosto e viver. Por razão idêntica, nenhuma parte de seu corpo está
exposta.
Câncer é a
casa da Lua. Há assim certas analogias entre esta carta e a da Alta Sacerdotisa.
Mas, também, Júpiter é exaltado em Câncer e neste caso lembra-se da carta
chamada Fortuna (Atu X) atribuída a
Júpiter.
O traço
central e mais importante da carta é seu centro - o Cálice
Sagrado. É de ametista pura da cor de
Júpiter, mas sua forma sugere a lua cheia e o Grande Mar de Binah.
No centro do Cálice Sagrado está o sangue radiante, de que se infere a vida espiritual;
luz nas trevas. Estes raios, ademais, giram, enfatizando o elemento jupiteriano
no símbolo.
VIII. AJUSTAMENTO
Esta carta no
baralho antigo era chamada de Justiça. Esta palavra detém somente um sentido
puramente humano e, conseqüentemente, relativo, de modo a não ser considerada um dos fatos da natureza. A natureza não é justa de acordo
com qualquer idéia teológica ou ética, mas sim exata.
Esta carta
representa o signo de Libra, regido por Vênus e onde Saturno é exaltado. O
equilíbrio de todas as coisas é aqui simbolizado. É o Ajustamento final na
fórmula de Tetragrammaton, quando a
filha, redimida por seu casamento com o filho, é por isso instalada no trono da
mãe; assim, finalmente, ela “desperta a
Longevidade do Todo-Pai.”
No maior
simbolismo de todos, entretanto, o simbolismo além de todas as considerações
planetárias e zodiacais, esta carta é o complemento feminino de O Louco, pois
as letras Aleph, Lamed constituem
a chave secreta d’O Livro da Lei, e isto é a base de um sistema qabalístico completo de profundidade e
sublimidade maiores que qualquer outro. As minúcias deste sistema ainda não
foram reveladas. Foi julgado correto, entretanto, dar a entender sua existência
mediante o equacionamento dessas duas cartas. Não apenas em conseqüência,
porque Libra é um signo de Vênus, mas também porque ela é a parceira do Louco,
a deusa é representada dançando, sugerindo Arlequim.
A figura é a
de uma mulher jovem e esbelta equilibrada com exatidão sobre as pontas dos
dedões. Ela está coroada com as plumas de avestruz de Maat, a deusa egípcia da
Justiça e sobre sua fronte está a serpente Uraeus,
o Senhor da Vida e da
Morte. Ela está mascarada e sua
expressão demonstra sua secreta e íntima satisfação pelo domínio sobre todo
elemento de des-equilíbrio no
universo. Esta condição é simbolizada pela espada
mágica que ela segura nas duas mãos
e os pratos de balança ou esferas nos quais ela pesa o universo, Alfa, o Primeiro equilibrado exatamente
com Ômega, o Último. Estes são os Judex e Testes do Juízo Final; os Testes,
em particular, simbolizam o andamento secreto do julgamento por meio do
qual toda experiência corrente é absorvida, transmudada e finalmente passada à
frente, em virtude da operação da espada, à outra manifestação. Tudo isto
ocorre dentro do losango formado pela figura que é a Vesica Piscis através da qual essa experiência sublimada e ajustada
passa à sua manifestação seguinte.
Ela se
equilibra ante um trono composto de esferas e pirâmides (em número de quatro,
significando lei e limitação), as quais, elas mesmas, mantêm a mesma eqüidade
que ela própria manifesta, embora num plano completamente impessoal, na estrutura
dentro da qual todas as operações têm lugar. Fora, mais uma vez, no canto da
carta, são indicadas esferas equilibradas de luz e trevas, e raios
constantemente equilibrados a partir destas esferas formam uma cortina, a
interação de todas essas forças que ela resume e adjudica.
É preciso
aprofundar-se mais filosoficamente: este trunfo representa A Mulher
Satisfeita. O equilíbrio permanece apartado de quaisquer preconceitos
individuais, e portanto o título na França deveria ser preferivelmente Justesse. Neste sentido, a natureza é
escrupulosamente justa. É impossível deixar cair um alfinete sem desencadear
uma reação correspondente em toda Estrela. A ação perturbou o equilíbrio do
universo.
Esta
deusa-mulher é Arlequim. Ela é a parceira e o cumprimento de O Louco. Ela é a
ilusão última que é manifestação; ela é a dança, de muitas cores, de muitas
manhas, da própria vida. Em rodopio constante, todas as possibilidades são desfrutadas
sob o espetáculo-fantasma do espaço e
do tempo: todas as coisas são reais,
a alma é a superfície precisamente porque elas são instantaneamente compensadas
por este Ajustamento. Todas as coisas são harmonia e beleza; todas as coisas
são verdade porque se compensam.
Ela é a deusa
Maat e tem sobre sua nêmis as penas
de avestruz da verdade dupla.
Desta coroa, tão delicada que o mais débil
alento do pensar tem que agitá-la, dependem pelas cadeias da causa os pratos em que Alfa, o primeiro
é posto em perfeito equilíbrio com
Ômega, o último. Os pratos da balança são as duas testemunhas nas quais toda palavra será estabelecida. Ela deve
ser entendida, portanto, avaliando a virtude de todo ato e exigindo satisfação
exata e precisa.
Mais do que
isso, ela é a completa fórmula da díade. A palavra AL é o
título de O Livro da Lei, cujo número é 31, a mais secreta das chaves numéricas
daquele Livro. Ela representa manifestação
que é possível sempre se compensar pelo equilíbrio dos opostos.
Ela está
envolvida numa capa de mistério, e mais
misteriosa porque diáfana; ela é a esfinge sem segredo porque é puramente uma
matéria de cálculo. Na filosofia oriental ela é
karma.
Suas
atribuições desenvolvem esta tese. Vênus rege o signo da Balança * e isto é
mostrar a fórmula: “Amor é a lei, amor sob a vontade”. Mas Saturno representa,
acima de tudo, o elemento tempo, sem o qual o Ajustamento não pode
ocorrer, pois toda ação e reação ocorrem no tempo, e portanto, o tempo sendo
ele mesmo meramente uma condição dos fenômenos, todos os fenômenos são
inválidos porque não compensados.
* Libra (NT).
A Mulher
Satisfeita. Da capa do desregramento vívido de suas asas dançantes brotam suas
mãos; estas seguram o punho da espada fálica do mago. Ela segura a lâmina
entre suas coxas.
Mais uma vez
um hieróglifo de “Amor é a lei, amor sob a vontade”. Toda forma de energia tem
que ser dirigida, tem que ser aplicada com integridade para a satisfação plena
de seu destino.
IX. O EREMITA
Esta carta é
atribuída à letra Yod , que significa mão. Por isso, a mão,
que é a ferramenta ou instrumento por excelência, está no centro da ilustração. A letra Yod é o fundamento de todas as outras
letras do alfabeto hebraico, que são
meramente combinações dela em maneiras variadas.
A letra Yod é a primeira letra do nome Tetragrammaton e este simboliza o Pai,
que é sabedoria; ele é a forma mais
elevada de Mercúrio, e o Logos, o
Criador de todos os mundos. Conseqüentemente, seu representante na vida física
é o espermatozóide e esta é a razão da carta ser chamada O Eremita.
A figura do
próprio Eremita lembra a forma da letra Yod
e a cor de sua capa é a cor de Binah,
na qual ele gesta.
Em sua mão
ele segura uma lâmpada cujo centro é
o Sol, retratada à semelhança do sigillum
do grande rei do fogo (Yod é o fogo secreto). Parece que ele está
contemplando - num certo sentido, adorando - o
ovo órfico (de cor esverdeada) porque
este é contérmino do universo, enquanto que a serpente que o envolve é
multicolorida significando a iridescência de Mercúrio, pois ele não é só
criativo, mas também é a essência fluídica da luz, que é a vida do
universo.
O mais
elevado simbolismo nesta carta é, portanto, fertilidade no seu sentido mais exaltado e
isto é refletido na atribuição da carta
ao signo de Virgem, que é um outro aspecto da mesma qualidade. Virgem é um
signo da terra e se refere especialmente ao cereal,
de maneira que o fundo da carta é um campo de trigo.
Virgem
representa a forma mais inferior, mais receptiva, mais feminina da terra e
forma a crosta sobre o Hades. E além de Virgem ser regido por Mercúrio,
Mercúrio é exaltado em Virgem. Confrontar com o dez de Discos e com a doutrina geral segundo a qual o clímax da descida à matéria é o sinal para a
reintegração pelo espírito. É a fórmula
da Princesa, o modo de realização da Grande Obra.
Esta carta
lembra a lenda de Perséfone e aqui há um dogma. Ocultada no interior de
Mercúrio há uma luz que penetra todas as partes do universo igualmente; um
dos títulos dele é Psicopompo, o condutor da alma pelas regiões inferiores. Estes
símbolos são indicados por seu bastão-serpente,
que está realmente brotando do Abismo, e é o espermatozóide desenvolvido como
um veneno e manifestando o feto. Cérbero, o cão
tricéfalo do inferno, o qual ele domou, o segue. Neste trunfo é mostrado o
inteiro mistério da vida nas suas
operações mais secretas. Yod = Falo =
Espermatozóide = Mão = Logos = Virgem. Há uma perfeita identidade, não meramente equivalência dos extremos,
a manifestação e o método.
X. FORTUNA
Esta carta é
atribuída ao planeta Júpiter, o grande benéfico na astrologia.
Corresponde à letra Kaph, * palma da mão, em cujas linhas, de
acordo com uma outra tradição, pode-se ler a fortuna. Seria tacanhez pensar em
Júpiter como boa fortuna; ele
representa o elemento sorte, o fator incalculável.
* Kaph 20, Pé 80 = 100, Qoph, Peixes. As
iniciais K Ph são as de kteis e fallos.
Esta carta
representa assim o universo em seu aspecto de contínua mudança de estado.
Acima, o firmamento de estrelas, as quais aparecem sob forma distorcida embora
estejam equilibradas, algumas brilhantes e algumas escuras. Delas, através do
firmamento, brotam raios que o agitam transformando-o numa massa de penachos de
cores azul e violeta. No meio de tudo isso está suspensa uma roda de dez raios, de acordo com o número
das Sephiroth e da esfera de Malkuth, indicando o governo dos
assuntos físicos.
Sobre essa
roda estão três figuras: a esfinge com a
espada, Hermanúbis e Tífon. Eles simbolizam as três formas de energia que
governam o movimento fenomênico.
A natureza
dessas qualidades requer uma descrição cuidadosa. No sistema hindu há três Gunas -
Sattvas, Rajas e Tamas. A palavra Gunas é intraduzível.
Não é bem um elemento, uma qualidade, uma forma de energia, uma fase ou um
potencial: todas estas idéias entram nela. Todas as qualidades que podem ser
predicadas de alguma coisa podem ser atribuídas a um ou mais dessas Gunas. Tamas é trevas, inércia, indolência, ignorância, morte e similares;
Rajas é energia, excitação, fogo,
brilho, agitação; Sattvas é calma,
inteligência, lucidez e equilíbrio. Correspondem às três principais castas
hindus.
Um dos mais
importantes aforismos da filosofia hindu é: “as Gunas giram”. Isto significa que de acordo com a doutrina da
mudança contínua nada é capaz de permanecer em qualquer fase em que uma dessas
Gunas é predominante; não importa quão densa e inerte essa coisa possa ser, um
tempo virá no qual começará a agitar-se. O fim e a recompensa do esforço é um
estado de lúcida quietude, o qual, entretanto, tende por fim a se afundar na
inércia original.
As Gunas são
representadas na filosofia européia pelas três qualidades, enxofre, mercúrio e sal, já retratadas nos Atus I, III e IV. Mas
nesta carta a atribuição é um tanto diferente. A esfinge é composta dos quatro Kerubs
exibidos no Atu V, o touro, o leão, a águia e o homem. Estes correspondem,
adicionalmente, às quatro virtudes mágicas: saber,
querer, ousar e manter silêncio. * Esta esfinge representa o elemento
enxofre e é exaltada, temporariamente, sobre o cimo da roda. Está armada de uma
espada curta de tipo romano, segura ereta entre as patas do leão.
* Estes são
os quatro elementos, somados a um quinto, espírito,
para formar o pentagrama, e a virtude mágica correspondente é Ire,
ir. “Ir “ é o sinal da divindade, como explicado em referência à correia de
sandália ou Ankh, a crux ansata, que por sua vez, é idêntica
ao símbolo astrológico de Vênus, compreendendo as dez Sephiroth (ver diagrama).
Subindo o
lado esquerdo da roda vê-se Hermanúbis, que representa o mercúrio alquímico.
Ele é um deus composto, mas o elemento símio predomina nele.
Do lado
direito, precipitando-se para baixo, vê-se Tífon, que representa o elemento sal. Contudo, nestas figuras há também
um certo grau de complexidade pois Tífon era um monstro do mundo primitivo que
personificava o poder destrutivo e a fúria de vulcões e tufões. Na lenda, ele
tentou lograr suprema autoridade tanto sobre deuses quanto seres humanos, mas
Zeus o destruiu mediante um raio. Dizia-se ser ele o pai dos ventos
tempestuosos, quentes e venenosos, e também das harpias. Mas esta carta, como o
Atu XVI pode também ser interpretada
como uma unidade de suprema realização e deleite. Os raios que destróem, também
geram; e a roda pode ser considerada como o olho
de Shiva, cuja abertura aniquila o universo, ou como uma roda sobre o Carro de Jaganath, cujos devotos atingem
a perfeição no momento em que ela os esmaga.
Uma descrição
desta carta tal como aparece em The
Vision and the Voice, com certos significados interiores, é dada num Apêndice.
XI. VOLÚPIA
Este trunfo
era chamado anteriormente de Força. Mas ele implica em muitíssimo mais do que
força no sentido ordinário da palavra. Uma análise técnica mostra que o caminho que corresponde a esta carta não
é a força de Geburah, mas a influência proveniente de Chesed sobre Geburah, o caminho equilibrado tanto
vertical quanto horizontalmente na Árvore da Vida (ver diagrama). Por esta
razão, julgou-se melhor mudar o título tradicional. Volúpia sugere não apenas
força, mas inclusive a alegria da força exercida. Trata-se de vigor e do
arrebatamento do vigor.
“Saí
, ó crianças, sob as estrelas, &
tomai vossa fartura de amor!
Eu estou acima de vós e em vós. Meu êxtase
está no vosso. Minha alegria é ver vossa
alegria.”
“Beleza e
força, gargalhada e langor delicioso, força e fogo são de nós.”
“Eu sou a
Serpente que dá Conhecimento & Deleite e glória brilhante, e agita o
coração dos homens com embriaguez. Para me adorar, tomai vinho e drogas
estranhas das quais Eu direi ao meu profeta, & embebedai-vos deles. Eles
não vos ferirão em nada. Isto é uma mentira, esta tolice contra o ser. A
exposição de inocência é uma mentira. Sê forte, ó homem! deseja, aproveita
todas as coisas de sentido e êxtase: não temas que Deus algum te negue por
isto.”
“Vede! estes
são graves mistérios; pois há também amigos meus que são eremitas. Agora, não
penseis em encontrá-los na floresta ou na montanha; mas em camas de púrpura,
acariciados por magníficas bestas de mulheres com extensos membros, e fogo e
luz em seus olhos, e massas de cabelos
em chamas em volta delas: lá vós os encontrareis. Vós os vereis no governo, em
exércitos vitoriosos, em toda a alegria; e neles haverá uma alegria um milhão de vezes maior do que esta. Cuidado,
para que um não force ao outro, Rei contra Rei! Amai-vos uns aos outros, com
corações ardentes; nos homens baixos, pisai no violento ardor de vosso orgulho,
no dia da vossa ira.”
“Há
uma luz diante de teus olhos, ó profeta, uma luz indesejada, muito desejável.
Eu
estou erguido em teu coração; e o beijo das estrelas chove forte sobre teu
corpo.
Tu estás
exausto na voluptuosa plenitude da inspiração; a expiração é mais doce que a
morte, mais rápida e risonha que uma carícia do próprio verme do Inferno!“
Este trunfo é
atribuído ao signo do Leão no zodíaco. É o Kerub
do fogo e é regido pelo Sol. É a
mais poderosa das doze cartas zodiacais e representa a mais crítica de todas as
operações mágicas e alquímicas. Representa o ato do casamento original como
ocorre na natureza, em oposição à forma mais artificial ilustrada na Atu VI;
não há nesta carta nenhuma tentativa de dirigir o curso da operação.
O assunto
principal da carta se refere à mais antiga coletânea de lendas ou fábulas. Aqui
se faz necessário entrar um pouco na doutrina mágica da sucessão dos Aeons, a qual está ligada à progressão
do zodíaco. Assim, o último Aeon, o
de Osíris, se refere a Áries e Libra, como o anterior a este, o de Ísis, estava
especialmente relacionado aos signos de Peixes e Virgem, enquanto que o
presente Aeon, o de Hórus, está
vinculado a Aquário e Leão. O mistério
central nesse Aeon passado foi o da encarnação;
todas as lendas de homens-deuses se fundaram em alguma história simbólica desse
tipo. O essencial em todas essas histórias consistia em negar a paternidade
humana do herói ou homem-deus. Na maioria dos casos, afirma-se ser o pai um
deus sob alguma forma animal, o animal
sendo escolhido conforme as qualidades que os criadores do culto desejavam ver
reproduzidas na criança.
Assim, Rômulo
e Remo foram gêmeos gerados numa virgem pelo deus Marte e foram amamentados por
uma loba. Toda a fórmula mágica da cidade de Roma foi fundada sobre isso.
Neste ensaio
já foram feitas referências às lendas de Hermes e Dionísio.
Dizia-se que
o pai de Gautama Buda era um elefante de seis presas, o qual apareceu a sua mãe
num sonho.
Há também a
lenda do Espírito Santo sob a forma de uma pomba impregnando a Virgem Maria. Há
aqui uma referência à pomba da arca de Noé trazendo boas novas sobre a salvação
do mundo das águas ( os moradores da arca são o feto, as águas, o fluido
amniótico).
Fábulas
similares devem ser encontradas em toda religião do Aeon de Osíris: é a fórmula
típica do deus que morre.
Nesta carta,
portanto, surge a lenda da mulher e o leão, ou melhor serpente-leão (esta carta é atribuída à letra Teth, que significa serpente).
Os videntes
dos primeiros tempos do Aeon de Osíris previram a manifestação deste Aeon vindouro no qual vivemos agora, e eles o
encararam com intenso horror e medo, não compreendendo a precessão dos Aeons, e
considerando toda mudança como catástrofe. Eis a interpretação real e a razão
para as invectivas contra a Besta e a Mulher Escarlate nos capítulos XIII, XVII
e XVIII do Apocalipse. Mas na Árvore da
Vida o caminho de Gimel, a Lua,
descendo do mais alto, corta o caminho de Teth,
Leão, a casa do Sol, de modo que a mulher
na carta pode ser considerada como um forma da Lua, sumamente iluminada
pelo Sol, e intimamente unida a ele de uma tal maneira que produz encarnados
sob forma humana o representante ou representantes do Senhor do Aeon.
Ela monta a
Besta de maneira escarranchada; na mão esquerda segura as rédeas, que
representam paixão que os une. Na mão direita segura nas alturas a taça, o
Cálice Sagrado inflamado de amor e morte. Nesta taça estão misturados os
elementos do sacramento do Aeon. O Livro das Mentiras devota um capítulo a este
símbolo.
A FLOR DE
WARATAH
Sete
são os véus da dançarina do harém d’ELE.
Sete
são os nomes, e sete são as lâmpadas ao lado da cama Dela.
Sete
eunucos A guardam com espadas desembainhadas; Nenhum
Homem aproxima-se Dela.
Em seu
copo de vinho estão as sete torrentes de sangue dos Sete Espíritos
de Deus.
Sete
são as cabeças d’A BESTA na qual Ela Cavalga.
A
cabeça de um Anjo: a cabeça de um Santo; a cabeça de um Poeta: a
cabeça de Uma Mulher Adúltera: a cabeça de
um Homem Valoroso; a
cabeça de um Sátiro; e a cabeça de um
Leão-Serpente.
Sete
letras tem Seu mais sagrado nome, que é
-----------------------------(ver
figura no original)---------------------
Este é
o Selo sobre o Anel que está no Indicador d’ELE: e este é o Selo
sobre as Tumbas daqueles a quem Ela
assassinou.
Aqui está
sabedoria. Que aquele que tem Compreensão conte o Número
de Nossa Senhora; pois que ele é o Número de
uma Mulher; e Seu
Número é
Cento e Cinqüenta e Seis.
Há uma outra
descrição em The Vision and the Voice (ver Apêndice).
Há nesta
carta uma embriaguez ou êxtase divinos. A mulher é mostrada mais do que um
pouco ébria, e mais do que um pouco insana; e o leão está também inflamado de
volúpia. Isto significa que o tipo de energia descrito é de ordem criadora
primitiva, completamente independente da crítica da razão. Esta carta retrata a
vontade do Aeon. Ao fundo vêem-se as imagens lívidas dos santos, sobre as quais
esta imagem viaja, pois a vida inteira deles foi absorvida no Cálice Sagrado.
“Agora
vós sabereis que o sacerdote & apóstolo escolhido do espaço infinito é o
sacerdote-príncipe, a Besta; e em sua mulher, chamada a Mulher Escarlate, está
todo o poder dado. Eles reunirão minhas crianças em seu cercado: eles levarão a
glória das estrelas para os corações dos homens.
Pois ele é
sempre um sol, e ela uma lua. Mas para ele é a chama alada secreta, e para ela
a descendente luz estelar.”
Este
sacramento é a fórmula físico-mágica para atingir a iniciação, para a
realização da Grande Obra. Na alquimia é o processo de destilação operado pelo
fermento interno, e a influência do Sol e da Lua.
Atrás das
figuras da Besta e sua Noiva existem dez
círculos refulgentes; são as Sephiroth latentes
e ainda não ordenadas pois todo novo Aeon exige um novo sistema de
classificação do universo.
No alto da
carta é mostrado um emblema da nova luz com dez chifres da Besta, que são
serpentes, enviadas em todas as direções para destruir e recriar o mundo.
Maior estudo
desta carta pode ser feito pelo exame rigoroso de Liber XV (v. Magick).
XII. O PENDURADO
Esta carta,
atribuída à letra Mem, representa o
elemento água. Seria talvez melhor
dizer que representa a função espiritual da água na economia da iniciação; é um
batismo que é também uma morte. No Aeon de Osíris, esta carta representava a
suprema fórmula de adeptado, pois a figura do afogado ou pendurado possui seu
próprio significado especial. As pernas estão cruzadas de maneira que a perna
direita forma um ângulo reto com a perna esquerda e os braços estão esticados a
um ângulo de 60 graus, de sorte a formar um triângulo eqüilátero, o que produz
o símbolo do triângulo encimado pela cruz, que representa a descida da luz ao
interior das trevas para redimi-la. Por esta razão há Discos verdes - verde, a cor de Vênus, significa graça - nas terminações dos membros e da
cabeça. O ar acima da superfície da água também é verde infiltrado pelos raios
da luz branca de Kether. A figura
toda está suspensa do Ankh, um outro
modo de figurar a fórmula da Rosacruz,
enquanto que em torno do pé esquerdo está a serpente,
criadora e destruidora, que opera toda a transformação (o que será visto na
carta que se segue a esta).
Pode-se notar
que há um aparente aumento de escuridão e solidez à proporção que o elemento
redentor se manifesta, mas a cor verde é a cor de Vênus, da esperança que
reside no amor. Isto depende da formulação da Rosacruz, do aniquilamento do eu no amado, a condição de progresso. Nesta escuridão inferior de morte,
a serpente da nova vida começa a se agitar.
No Aeon
anterior, o de Osíris, o elemento ar,
que é a natureza deste Aeon, não
antipatiza com a água ou o fogo; acordo era a marca desse período.
Mas agora, sob um Senhor Ígneo do Aeon, o elemento aquoso, na medida em que a
água está abaixo do Abismo, é definitivamente hostil, a menos que a oposição
seja a oposição correta implícita no casamento. Mas nesta carta a única questão
é da “redenção” do elemento submerso e, portanto, tudo está invertido. Esta
idéia do sacrifício é, em última análise, uma idéia errônea.
“Eu dou
inimagináveis alegrias sobre a terra: certeza, não fé, enquanto em vida, sobre
a morte; paz indescritível, descanso, êxtase; e Eu não peço algo em sacrifício.”
“Todo homem e
toda mulher é uma estrela.”
A idéia
inteira do sacrifício é uma concepção equívoca da natureza e estes textos d’O
Livro da Lei são a resposta a isso.
A água é o
elemento da ilusão; é possível
encarar este símbolo como um legado mau do velho Aeon. Para usar uma analogia
anatômica: é um apêndice vermiforme espiritual.
Foi a água e
os moradores da água que assassinaram
Osíris; são os crocodilos que ameaçam Hoor-Pa-Kraat.
Esta carta é
bela de uma maneira estranha, imemorial, moribunda. É a carta do deus que morre; sua importância no
presente baralho é simplesmente aquela do cenotáfio.
Ela diz: “Se acontecer das coisas se tornarem más daquele jeito novamente,
na nova Idade das Trevas que parece
ameaçar, este é o modo de acertar as coisas.” Mas se as coisas têm que ser
acertadas, isto indica que estão muito erradas.
A principal meta dos sábios deveria ser livrar a espécie humana da
insolência do auto-sacrifício, da calamidade da castidade; a fé tem que ser
morta pela certeza e a castidade pelo êxtase.
Está escrito
em O Livro da Lei: “Não te apiedes dos caídos! Eu nunca os conheci. Eu não
sou para eles. Eu não consolo: Eu odeio o consolado & o consolador.”
Redenção é
uma palavra ruim; implica numa dívida. Pois toda estrela possui riqueza
ilimitada; o único meio adequado de lidar com os ignorantes é conduzi-los ao
conhecimento de sua herança de estrela. Para fazê-lo é necessário comportar-se
como deve ser feito a fim de entrar em acordo com os animais e as crianças:
tratá-los com absoluto respeito, mesmo, num certo sentido, com veneração.
- - -
Note-se na Precessão dos Aeons. “O Pendurado” é uma invenção dos Adeptos
da fórmula do I.N.R.I.- J.A.O.. No Aeon anterior ao osiríaco, o de Ísis (água), ele é “O Afogado”. As duas colunas de suporte da forca mostrada nos
baralhos medievais eram, no sistema partenogenético de explicação e regência da
natureza, o fundo do mar e a quilha
da arca. Neste Aeon todo nascimento
era considerado uma emanação, sem intervenção masculina, da Deusa-Mãe ou
Deusa-Estrela, Nuit. Toda a morte é um retorno a Ela. Isto explica a atribuição
original do Atu à água e o som M o
retorno ao silêncio eterno, como na
palavra AUM. Esta carta é, portanto, especialmente sagrada ao místico, sendo a
atitude da figura uma postura ritual na prática
denominada “O Sono de Shiloam”.
- - -
A importância
alquímica desta carta é tão estranha a todas as implicações dogmáticas que se
afigurou melhor tratá-la completamente em separado. Suas qualidades técnicas
são independentes de qualquer maneira de
todas as outras doutrinas. Temos aqui uma matéria de significado estritamente
científico. O estudante será prudente ao ler em conexão com estas observações o
capítulo XII de Magick.
O Atu
representa o sacrifício de “uma criança do sexo masculino de perfeita inocência
e elevada inteligência” - estas palavras foram escolhidas com o mais
extremo cuidado. O significado de sua atitude já foi descrito, e do fato de ser
dependurado de um Ankh, um equivalente da Rosacruz. Em algumas cartas antigas a
forca é um pilone, ou o galho de uma árvore, cuja
forma sugere a letra Daleth (((grafar
a letra Daleth))), Vênus, Amor.
Ao fundo do
Pendurado há uma grade imensa de pequenos quadrados. São as plaquetas elementares que exibem os nomes
e sigilla de todas as energias da
natureza. Através de seu trabalho uma criança é gerada, como é mostrado pela serpente se agitando na escuridão
do Abismo abaixo dele.
Contudo, a
carta em si é essencialmente um glifo da água.
Mem é uma das três grandes letras-mãe, e seu valor é 40, o poder de
Tetragrammaton plenamente
desenvolvido por Malkuth, o símbolo
do universo sob o demiurgo. Outrossim,
a água é de maneira peculiar a
letra-mãe pois tanto Shin quanto Aleph (as outras duas) representam
idéias masculinas; e na natureza, o Homo sapiens é um mamífero marinho e
nossa existência intra-uterina é passada no fluido
amniótico. A lenda de Noé, da arca e
do dilúvio não passa de uma apresentação hierática dos fatos da vida. É então a
água que os Adeptos sempre
contemplaram para a continuação (num
sentido ou outro) e o prolongamento, e talvez a renovação da vida.
A lenda dos
Evangelhos, abordando os Mistérios
Maiores da Lança e da Taça (aqueles do deus Iacchus
= Iao) como superiores aos Mistérios Menores (aqueles do deus Íon = Noé, e os deuses-N em geral), nos
quais a espada mata o deus de modo
que sua cabeça possa ser oferecida num prato, ou disco, diz: E um soldado com uma lança perfurou seu flanco, tendo
saído sangue e água. Este vinho,
colhido pelo Discípulo Amado e a Virgem Mãe, que esperavam sob a cruz ou árvore com essa finalidade, numa taça ou cálice, este é o Cálice Sagrado ou Santo Graal (Sangraal) de Monsalvat, a Montanha da Salvação. [Graal (gréal) significa realmente
recipiente em forma de prato, xícara: francês antigo graal, greal, grasal, provavelmente uma corruptela do latim gradale, este uma corruptela de crater, tigela, vaso grande de boca
larga, copo grande]. Este sacramento
é exaltado no zênite em Câncer. Ver Atu VII.
É de extrema
importância para o estudante percorrer circularmente de modo contínuo esta roda de simbolismo até que as figuras se
fundam imperceptivelmente umas nas outras numa dança intoxicante de êxtase;
enquanto não atingir isto não será capaz de partilhar do sacramento e executar para si mesmo
- e para todos os homens ! - a
Grande Obra.
Mas que ele
se lembre também do segredo prático enclausurado em todos estes corredores de
música varridos pelo vento, o real preparo da Pedra dos Sábios, a Medicina dos
Metais e o Elixir da Vida !
XIII. MORTE
Esta carta é
atribuída à letra Nun, que significa peixe, o símbolo da vida sob as águas, a vida se
movendo através das águas. Refere-se ao signo zodiacal do Escorpião, que é
regido por Marte, o planeta de energia ígnea sob sua forma mais baixa, que é,
portanto, necessária para produzir o impulso. Na alquimia, esta carta explica a
idéia da putrefação, o nome técnico dado por seus adeptos à série de alterações
químicas que desenvolve a forma final da vida a partir da semente latente
original no ovo órfico.
Este signo é
um dos dois mais poderosos do zodíaco, mas não possui a simplicidade e
intensidade de Leão. É formalmente dividido em três partes: a mais baixa é
simbolizada pelo escorpião, que
supunham os antigos observadores da natureza, comete suicídio ao se encontrar
cercado por um anel de fogo, ou, de outra maneira, numa situação desesperada.
Isto representa putrefação sob sua forma mais baixa. A tensão do ambiente
tornou-se intolerável e o elemento atacado voluntariamente se sujeita à
alteração; assim, o potássio arrojado à água se torna inflamado e aceita o
abraço do radical hidroxilo.
A
interpretação mediana deste signo é dada pela serpente, a qual é, ademais, o
tema principal do signo. * A serpente é sagrada, Senhora da Vida e da Morte, e
seu método o de progressão sugere a
ondulação rítmica daquelas fases gêmeas da vida que chamamos respectivamente de
vida e morte. A serpente é também, como já previamente explicado, o principal símbolo
da energia masculina. A partir disto se perceberá que esta carta é, num sentido
rigorosíssimo, o complemento da carta chamada Volúpia, Atu XI e o Atu XII
representa a solução ou dissolução que as une.
* Os qabalistas incorporaram ao Livro do
Gênesis, caps. I e II, esta doutrina da regeneração. NChSh, a Serpente do Éden tem o valor 358, bem como MShICh, Messias. Ele é,
conseqüentemente, na doutrina secreta, o Redentor.
Esta tese pode ser desenvolvida de maneira extensiva e detalhada. Na lenda,
mais tarde, a doutrina reaparece num simbolismo ligeiramente diferente como a
história do dilúvio, explicada
alhures neste ensaio. Certamente, o peixe é idêntico em essência à serpente,
pois Peixe=
NVN=Escorpião=Serpente. Além disso, Teth,
a letra de Leão, significa serpente. Mas Peixe é também Vesica ou útero e Cristo, e assim por diante. Este símbolo resume a
Doutrina Secreta inteira.
O aspecto
mais elevado da carta é a águia, que
representa exaltação acima da matéria sólida. Os antigos químicos entenderam
que em certos experimentos os elementos mais puros (isto é, os mais tênues) presentes eram desprendidos
como gás ou vapor. São assim representados nesta carta os três tipos essenciais
de putrefação.
A própria
carta representa a dança da morte. A figura é um esqueleto manipulando uma
foice, sendo tanto o esqueleto quanto a foice importantes símbolos saturninos.
Isto parece estranho, visto que Saturno não tem nenhuma conexão clara com
Escorpião; todavia, Saturno representa a estrutura essencial das coisas
existentes. Ele é aquela natureza elementar das coisas que não é destruída
pelas alterações ordinárias que ocorrem nas operações da natureza. Além disso, o esqueleto está
coroado com a coroa de Osíris, representando Osíris nas águas de Amenti. E, ainda, ele é o deus criativo
original, secreto e masculino: ver Atu XV, “Redeunt
Saturnia regna.” Foi somente a corrupção da tradição, a confusão com Set, e o culto do deus que morre, incompreendido, deformado e distorcido pela Loja Negra, que o transformaram num
símbolo senil e monstruoso.
Pela
varredura de sua foice o esqueleto cria bolhas nas quais começam se configurar
as novas formas que ele cria em sua dança, sendo que estas formas também
dançam.
Nesta carta o
símbolo do peixe é soberano. O peixe (IL
PESCE, como o chamam em Nápoles e muitos outros lugares) e a serpente são
os dois principais objetos de veneração em cultos que ensinaram as doutrinas da
ressurreição ou reencarnação. Assim
temos Oannes e Dagon, deuses-peixes, na Ásia ocidental. Em muitas outras partes
do mundo existem cultos similares. Mesmo no cristianismo, Cristo era
representado como um peixe. Supunha-se que a palavra grega ICQUS, “ que significa peixe e muito
adequadamente representa Cristo”, como Browning lembra, fosse um notariqon, as iniciais de uma sentença
que significa “Jesus Cristo Filho de Deus, Salvador “. Também não é por
acidente que São Pedro fosse um pescador. Os Evangelhos, inclusive, estão
cheios de milagres envolvendo peixes e o peixe é sagrado para Mercúrio devido
ao seu sangue frio, sua celeridade e seu
brilho. Há, ademais, o simbolismo sexual. Isto lembra novamente a função de
Mercúrio como guia dos mortos e como o contínuo elemento elástico na natureza.
Esta carta,
portanto, deve ser considerada de uma maior importância e catolicidade do que
se poderia esperar da simples atribuição zodiacal. Chega a ser um compêndio de
energia universal na sua forma mais secreta.
XIV. ARTE
Esta carta é
o complemento e o cumprimento do Atu VI, Gêmeos. Pertence a Sagitário, o oposto
de Gêmeos no zodíaco e, portanto, “segundo uma outra maneira” um com ele.
Sagitário significa o arqueiro e a
carta é ( sob sua forma mais simples e mais primitiva) um retrato de Diana, a
Caçadora. Diana é, em primeiro lugar, uma das deusas lunares, embora os romanos
tenham produzido uma certa degradação da
deusa a partir da “Artemis virgem” grega,
que é também a Grande Mãe da Fertilidade, Diana dos efésios, a de muitos seios (uma forma de
Ísis -
ver Atu II e III). A conexão entre a Lua e a caçadora é indicada pelo
formato do arco, e a significação oculta de Sagitário é a seta perfurando o
arco-íris; os últimos três caminhos da Árvore da Vida compõem a palavra Qesheth, arco-íris e Sagitário porta a
flecha que perfura o arco-íris pois seu caminho conduz da Lua de Yesod ao Sol de Tiphareth (esta explicação é altamente técnica, o que se justifica
porque a carta representa uma importante fórmula científica, que não pode ser
expressa em linguagem apropriada à compreensão comum).
Esta carta
representa a consumação do casamento real
que ocorreu no Atu VI. Os
personagens negro e branco estão agora unidos numa única figura andrógina.
Mesmo as abelhas e as serpentes em seus mantos fizeram uma aliança. O leão vermelho tornou-se branco e cresceu
em tamanho e importância, enquanto que a águia
branca, semelhantemente expandida, tornou-se vermelha. Ele trocou seu
sangue vermelho pelo glúten branco dela ( só é possível explicar estes termos a
estudantes avançados de alquimia).
O equilíbrio
e a permuta são efetuados completamente na própria figura: a mulher branca
possui agora uma cabeça negra, o rei
negro, uma branca. Ela usa a coroa de ouro com uma faixa de prata, ele, a coroa
de prata com uma fita de ouro, mas a cabeça branca à direita é prolongada na ação por um braço branco à
esquerda que segura a taça do glúten branco, enquanto que a cabeça negra à
esquerda tem o braço negro à direita segurando a lança que se tornou uma tocha
e verte seu sangue ardente. O fogo queima a água, a água extingue o fogo.
O manto da
figura é verde, o que simboliza crescimento vegetal: aqui reside uma alegoria
alquímica. No simbolismo dos pais da ciência, todos os objetos “reais” eram
considerados como mortos; a dificuldade de transmutar os metais era que os
metais, como ocorrem na natureza, tinham a natureza de excrementos porque não
cresciam. O primeiro problema da alquimia era elevar o mineral à vida vegetal.
Os Adeptos acharam que o modo correto de fazer isso era imitar os processos da
natureza. Destilação, por exemplo, não era uma operação a ser executada
aquecendo-se alguma coisa numa retorta sobre uma chama; tinha que ocorrer
naturalmente, mesmo se meses fossem exigidos para consumar a obra (naquele período da civilização meses estavam à disposição das mentes
inquiridoras).
Muito do que
as pessoas consideram hoje ignorância, sendo estas ignorantes do que os homens
de outrora pensavam, procede desse mal-entendido. Na base desta carta, por
exemplo, são vistos o fogo e a água misturados harmoniosamente. Mas
isto é apenas um símbolo rudimentar da idéia espiritual, que é a satisfação do
desejo do elemento incompleto de um tipo em satisfazer sua fórmula por
assimilação de seu igual e contrário.
Este estado
da Grande Obra portanto consistia na
mistura dos elementos contraditórios num caldeirão. Este é aqui representado
como dourado ou solar, porque o Sol é o Pai de toda a Vida e (particularmente)
preside a destilação. A fertilidade da Terra é mantida pela chuva e o sol. A
chuva é formada por um processo lento e suave e é tornada efetiva pela
cooperação do ar, que é ele mesmo alquimicamente o resultado do casamento do fogo e a água. Assim,
também a fórmula do prolongamento da vida é morte, ou putrefação. Aqui é
simbolizado pelo caput mortuum sobre
o caldeirão, um corvo pousado sobre uma caveira. Em termos de agricultura, isto
é a terra inculta.
Há uma
interpretação particular desta carta que é apenas para ser compreendida pelos
iniciados do Nono Grau da O. T. O., visto que contém uma fórmula mágica prática
de tal importância que torna impossível sua comunicação aberta.
Elevando-se
do caldeirão, como resultado da operação aí realizada, vê-se um jorro de luz
que se transforma em dois arco-íris que formam a capa da figura andrógina. No
centro uma seta aponta para cima. Isto se liga ao simbolismo geral previamente
explicado, a espiritualização do resultado da Grande Obra.
O arco-íris
simboliza, além disso, um outro estágio no processo alquímico. Num certo
período, como resultado da putrefação, observa-se um fenômeno de luzes
multicoloridas (a “capa de muitas cores” que se dizia ter sido usada por José e
Jesus, nas antigas lendas, se refere a isso. Ver também Atu 0, o traje de bufão do Homem Verde, redentor-sonhador).
Em síntese, o
conjunto desta carta representa o teor oculto do ovo descrito no Atu VI. É a mesma fórmula, mas num estágio mais
avançado. A dualidade original foi completamente compensada; mas depois do
nascimento vem o crescimento; depois do crescimento, a puberdade, e depois da puberdade, purificação.
O estágio
final da Grande Obra é, portanto,
prenunciado nesta carta. Atrás da figura, estando suas bordas coloridas com o
arco-íris que agora emergiu dos arco-íris gêmeos formadores da capa da figura,
há uma auréola encerrando a inscrição VISITA INTERIORA TERRAE RECTIFICANDO
INVENIES OCCULTUM LAPIDEM (“Visita as partes interiores da terra: pela retificação tu descobrirás a
pedra oculta.” Suas iniciais formam a palavra V.I. T. R. I. O. L., o solvente universal, do qual se tratará
na seqüência (seu valor é 726 = 6 x 11 = 33 x 22).
Essa “pedra
oculta” é chamada também de medicina
universal. Por vezes é descrita como uma pedra, por vezes como um pó, às
vezes como uma tintura. Divide-se novamente em duas formas, o ouro e a prata, o
vermelho e o branco, mas sua essência é sempre a mesma e sua natureza só pode ser compreendida pela
experiência. É porque os alquimistas lidavam com substâncias na fronteira da
“matéria” que compreendê-los é tão difícil. O tema da química e da física
modernas é o que eles teriam chamado de estudo das coisas mortas, pois a
diferença real entre coisas vivas e mortas é, numa primeira instância, o
comportamento delas.
As iniciais
da divisa alquímica dada acima formam a palavra Vitriol. Isto não tem nada a
ver com os sulfatos seja do hidrogênio, do ferro ou do cobre, como poderia ser supor a partir do
uso moderno. Representa uma combinação equilibrada dos três princípios
alquímicos, enxofre, mercúrio e sal. Estes nomes não têm nenhuma
conexão com as substâncias assim denominadas pelo vulgo. Já foram descritos nos
Atu I, III e IV.
O conselho
para “visitar o interior da terra” é uma recapitulação (num plano mais alto) da
primeira fórmula da Obra que tem sido o tema tão constante das exposições deste
ensaio. A palavra importante na prescrição é a central RECTIFICANDO, que sugere
a condução certa da nova substância viva
na senda da Vontade Verdadeira. A pedra filosofal, a medicina
universal deve ser um talismã de uso em qualquer evento, um veículo
completamente elástico e completamente rigoroso da Vontade Verdadeira dos alquimistas. Trata-se de fertilizar e trazer
à Vida manifesta o ovo órfico.
A seta, tanto nesta carta como no Atu VI,
é de suma importância. A seta é, na verdade, o glifo mais simples e mais puro de
Mercúrio, sendo o símbolo da Vontade dirigida. Convém enfatizar este fato
mediante uma citação do Quarto Aethyr,
LIT, em The Vision and the Voice (ver Apêndice).
XV. O DIABO
Esta carta é
atribuída à letra Ayin, que significa
olho, e se refere a Capricórnio no zodíaco. Na Idade das Trevas do
cristianismo, foi completamente incompreendida. Éliphas Lévi a estudou muito
profundamente devido à sua conexão com a magia cerimonial - seu assunto
favorito - e a redesenhou, identificando-a com Baphomet, o ídolo de cabeça de asno dos Cavaleiros do Templo. *
Mas, naquela época, a pesquisa arqueológica não tinha ido muito longe, a
natureza de Baphomet não sendo totalmente compreendida (ver Atu 0 nas páginas anteriores). Mas, ao menos, ele
conseguiu identificar o bode, retratado na carta, com Pã.
* Os cristãos
primitivos também foram acusados de adorar um asno, ou deus de cabeça de asno. Ver Browning, The Ring and the Book ( O Papa).
Na Árvore da
Vida, os Atu XIII e XV estão simetricamente dispostos. Conduzem de Tiphareth, a consciência humana, às
esferas nas quais Pensamento (por um lado) e Êxtase (por outro) são
desenvolvidos. Entre eles o Atu XIV conduz, de modo semelhante, à esfera que
formula a Existência (ver nota acerca do Atu X e arranjo). Estas
três cartas podem, conseqüentemente, ser sintetizadas como um hieróglifo dos
processos pelos quais a idéia se manifesta como forma.
Essa carta
representa a energia criativa, sob a sua forma mais material. No zodíaco, Capricórnio
ocupa o zênite. É o mais exaltado dos signos; é o bode saltando com volúpia
sobre os cumes da terra. Este signo é regido por Saturno, que tende para o
egoísmo e a perpetuidade. Neste signo, Marte é exaltado, mostrando em sua
melhor forma a ígnea energia material da criação. A carta representa Pan Pangenetor,
o gerador de tudo. É a Árvore da Vida
vista contra um fundo das mais primorosamente tênues, complexas e fantásticas
formas de loucura, a loucura divina da primavera, já prevista na loucura meditativa
do inverno, pois o Sol se volta para o norte ao entrar neste signo. As raízes
da Árvore são tornadas transparentes, a
fim de exibir os inumeráveis saltos da seiva; diante dela, posta-se o bode do
Himalaia, com um olho no centro de sua testa, representando o deus Pã na
superfície das mais elevadas e mais secretas montanhas da Terra. Sua energia
criativa está velada no símbolo do bastão
do Adepto Maior, coroado com o globo alado e as serpentes-gêmeas de Hórus e
Osíris.
“Ouve-me, Senhor das Estrelas,
Pois a ti tenho venerado sempre
Com máculas, pesares e cicatrizes,
Com jubiloso, jubiloso Esforço.
Ouve-me, ó bode alvo como o lírio
Viçoso como uma moita de espinhos
Com um colar de ouro para tua garganta,
Um arco escarlate para teus cornos.”
O
signo do Capricórnio é rude, severo, sombrio, mesmo cego; o impulso para criar
não leva em conta a razão, o costume ou a precaução. É divinamente
inescrupuloso, sublimemente negligente do resultado. “..tu não tens direito
senão fazer tua vontade. Faze isso, e
nenhum outro dirá não. Pois vontade
pura, desaliviada de propósito, livre da sede de resultado, é toda senda
perfeita.” (AL. I, 42-44)
Cumpre
observar, ademais, que o tronco da Árvore
perfura os céus; em torno dele está indicado o anel do corpo de Nuit.
Analogamente, o eixo do bastão desce indefinidamente para o centro da terra.
“Se eu levanto minha cabeça, Eu e minha Nuit somos um. Se eu abaixo minha
cabeça, e lanço veneno, então há êxtase da terra, e eu e a terra somos um.” (AL. II, 26)
A fórmula
desta carta é então a completa apreciação de todas as coisas existentes. Ele se
regozija no áspero e no estéril não menos do que no suave e no fértil. Todas as
coisas o exaltam igualmente. Ele representa a descoberta do êxtase em todo fenômeno,
não importa quão naturalmente repugnante; ele transcende todas as limitações;
ele é Pã; ele é Tudo.
É importante
observar algumas outras correspondências. As
três consoantes-vogais do alfabeto hebraico, Aleph, Yod, Ayin, estas três letras formam o nome sagrado de Deus,
I A
O. Estes três Atu, IX, 0 e XV oferecem assim uma explicação tripla da
energia criadora masculina, porém esta carta especialmente representa a energia
masculina no máximo da masculinidade. Saturno, o regente, é Set , o deus de
cabeça de asno dos desertos egípcios; ele é o deus do sul. O nome se refere a
todos os deuses contendo essas consoantes, como Shaitan ou Satã (ver Magick, pgs. ...). As cercanias são
essenciais ao simbolismo - sítios estéreis, especialmente lugares elevados.
O culto da montanha é um paralelo exato. O Velho Testamento está repleto de
ataques a reis que celebravam o culto em “lugares elevados”; isto muito embora
Sião fosse uma montanha ! Este sentimento persistiu, mesmo até os dias do sabá das
feiticeiras, realizado, se possível, num cume desolado, mas (caso
não se dispusesse de nenhum) ao menos num local selvagem, não contaminado pela
artificialidade dos homens.
Note-se que Shabbathai, a “esfera de Saturno”, é o sabá. Historicamente, o ânimo contra as
feiticeiras diz respeito ao medo dos judeus, cujos ritos, suplantados pelas
formas cristãs de magia, haviam se tornado misteriosos e terríveis. O pânico
sugeria que crianças cristãs eram furtadas, sacrificadas e devoradas. A crença
perdura até os dias de hoje.
Em todo
símbolo desta carta existe a alusão às coisas mais elevadas e mais remotas.
Mesmo os cornos do bode são espirais para representar o movimento da energia
que tudo permeia. Zoroastro define Deus como “possuindo uma força espiral”.
Comparar aos mais recentes, se menos profundos, escritos de Einstein. *
* Compare
Saturno, num extremo dos Sete Viandantes
Sagrados, com a Lua no outro: o ancião e a jovem -
ver “A Fórmula de
Tetragrammaton”. São ligados como nenhuma outra dupla de planetas já que 3 ao
quadrado = 9 e cada um contém em si mesmo os extremos de sua própria idéia.
XVI. A TORRE
(OU GUERRA)
Esta carta é
atribuída à letra Pé, que significa
boca. Refere-se ao planeta Marte. Segundo sua interpretação mais simples
concerne à manifestação da energia cósmica sob sua forma mais grosseira. A
ilustração mostra a destruição do material existente pelo fogo. Pode ser tomada
como o prefácio ao Atu XX, O Juízo Final, isto é, a Vinda de um Novo Aeon. Sendo assim, parece indicar a qualidade
quintessencial do Senhor do Aeon. **
** Ver Liber AL.
III, 3-9; 11-13; 17-18; 23-29; 46 ; 49-60; 70-72.
Na parte
inferior da carta, portanto, é mostrada a destruição do velho Aeon outrora
estabelecido pelo raio, chamas, engenhos de guerra. No canto direito vêem-se as
mandíbulas de Dis vomitando flamas na raiz da estrutura. Figuras quebradas da
guarnição caem da torre. Pode-se notar que perderam sua forma humana,
convertendo-se em meras expressões geométricas.
Isto sugere
uma outra (e totalmente diversa) interpretação da carta. A fim de
compreendê-la, é necessário voltar-se para as doutrinas da yoga, especialmente aquelas
mais largamente difundidas e correntes no sul da Índia, onde o culto a Shiva, o
Destruidor, é soberano. Shiva é representado dançando sobre os corpos de seus
devotos. A compreensão disto não é fácil para a maioria das mentes ocidentais.
Em termos sumários, a doutrina é que a realidade última (que é perfeição) é Nada. Por conseqüência, todas as manifestações, não importa quão
gloriosas, quão prazerosas sejam, são máculas. Para atingir a perfeição, todas
as coisas existentes têm que ser aniquiladas. Pode-se, portanto, entender pela
destruição da guarnição sua emancipação da prisão da vida organizada, que os
confinava. Prender-se a ela era a insensatez dos membros da guarnição.
O acima
exposto deveria deixar claro que símbolos mágicos têm que ser sempre
compreendidos num sentido duplo, um contraditório do outro. Estas idéias se
combinam naturalmente com a significação mais elevada e mais profunda da carta.
Há uma
referência direta a esta carta n’O Livro da Lei. No capítulo I, versículo 57, a deusa Nuit fala: “Invocai-me sob
minhas estrelas! Amor é a lei, amor sob a vontade. Que os tolos não confundam o
amor; pois existe amor e amor. Existe a pomba, e existe a serpente. Escolhei
bem! Ele, meu profeta, escolheu, conhecendo a lei da fortaleza, e o grande
mistério da Casa de Deus.” ***
*** Por esta
razão o antigo título, hoje não muito inteligível, foi retido. Caso contrário,
poderia ter sido chamada Guerra.
A figura que
se destaca nesta carta é o olho de Hórus.
Este é também o olho de Shiva, na
abertura do qual, conforme a lenda deste culto, o universo é destruído.
Além disso,
há um especial significado técnico mágico, o qual é explicado abertamente
apenas aos iniciados do décimo primeiro
grau da O. T. O., um estágio tão
secreto que não é nem elencado nos documentos oficiais. Não é mesmo para ser
compreendido pelo estudo do olho no
Atu XV. Talvez seja lícito mencionar que os sábios árabes e os poetas persas
escreveram, nem sempre com reservas, sobre o assunto.
Banhadas na
efulgência desse olho (que agora
assume até um terceiro sentido, o indicado no Atu XV) vêem-se a pomba carregando um ramo de oliveira e a
serpente, como na citação acima. A
serpente é retratada como a serpente-leão Xnoubis
ou Abraxas. Estas representam as duas formas de desejo, o que
Schopenhauer teria chamado de vontade de
viver e vontade de morrer. Representam
os impulsos feminino e masculino; a nobreza deste último é possivelmente
baseada no reconhecimento da futilidade
do primeiro. Esta é talvez a razão porque a renúncia do amor em todos os
sentidos ordinários da palavra tem sido tão constantemente anunciada como o
primeiro passo rumo à iniciação. Esta é uma opinião de inflexibilidade
desnecessária. Este trunfo não é a única carta no baralho e nem são a “vontade
de viver “ e a “vontade de morrer “ incompatíveis. Isto se torna claro tão logo
vida e morte são compreendidas (ver Atu XIII) como fases de uma única
manifestação de energia.
XVII. A ESTRELA
Esta carta é
atribuída à letra Hé, como foi
explicado em outra parte. Refere-se ao signo zodíaco do Aquário, o aguadeiro. A
ilustração representa Nuit, nossa Senhora das Estrelas. Para a compreensão do
significado pleno desta sentença é necessário compreender o primeiro capítulo
d’O Livro da Lei.
A figura da
deusa é mostrada em manifestação, quer dizer, não como o espaço circundante do
céu mostrado no Atu XX, onde ela é a pura idéia filosófica contínua e
omniforme. Nesta carta ela é definitivamente
personificada como uma figura de aparência humana. É representada
segurando duas taças, uma delas dourada, sustentada bem acima de sua cabeça, da
qual ela verte água (estas taças se assemelham a seios, como está escrito: “o
leite das estrelas de suas tetas; sim, o leite das estrelas de suas tetas”).
O universo é
aqui decomposto em seus elementos últimos (é-se tentado a citar da Visão do Lago Pasquaney, “O Nada com
cintilações. . . mas que cintilações
!”) Atrás da figura da deusa está o
globo celeste. Salientando-se em meio ao seus componentes vê-se a Estrela de sete pontas de Vênus, como
se declarando que a principal característica de sua natureza é o Amor (ver
novamente a descrição no capítulo I, d’O Livro da Lei). Da taça dourada ela
verte essa água etérea, que é também leite e azeite e sangue, sobre sua própria
cabeça, indicando a eterna renovação das categorias, as possibilidades
inesgotáveis da existência.
A mão
esquerda, abaixada, segura uma taça prateada, da qual ela também verte a bebida
imortal de sua vida (esta bebida é a Amrita dos filósofos indianos, o nepenthe e ambrósia dos gregos, o alkahest e a medicina universal dos
alquimistas, o sangue do Graal; ou
melhor, o néctar que é a mãe deste sangue. Ela o despeja na junção de terra e
água. Esta água é a água do grande Mar de Binah;
na manifestação de Nuit num plano inferior ela é a Grande Mãe, pois o Grande
Mar está sobre a praia da terra fértil, como representado pelas rosas no canto
direito da ilustração. Mas entre mar e terra está o “Abismo” e este é ocultado pelas nuvens que rodopiam como um
desenvolvimento do cabelo dela: “... meu cabelo, as árvores da Eternidade”.
(AL. I, 59)
No canto
esquerdo da ilustração está a estrela de
Babalon, o Sigillum da Fraternidade
da A. A., pois Babalon é ainda uma outra
materialização da idéia original de Nuit; ela é a Mulher Escarlate, a
Prostituta sagrada que é a senhora do Atu XI. Desta estrela, atrás da própria esfera celeste brotam os raios
encaracolados de luz espiritual. O próprio céu nada mais é que um véu ante a
face da deusa imortal.
Percebe-se
que toda forma de energia nesta ilustração é espiral. Zoroastro diz: “Deus é
ele, tendo a cabeça de um falcão, tendo uma força espiral”. É interessante
notar que este oráculo parece antecipar o presente Aeon, o do Senhor de cabeça
de falcão, e também da concepção matemática da forma do universo tal como
calculada por Einstein e sua escola. É somente na taça inferior que as formas
de energia emitidas exibem características retilíneas. Nisto é possível
descobrir a doutrina que afirma que a cegueira da humanidade à toda a beleza e
maravilha do universo é devida a esta ilusão de retidão. É significativo que
Riemann, Bolyai e Lobatchewsky pareçam ter sido os profetas matemáticos da Nova
Revelação, pois a geometria euclidiana depende da concepção de linhas retas, e
foi somente porque descobriu-se que
o postulado
paralelo era incapaz de prova que os matemáticos começaram a conceber que a
linha reta não tinha verdadeira correspondência com a realidade. *
* A linha
reta não é nada mais do que o limite de qualquer curva. Por exemplo, é uma
elipse cujos focos estão uma distância “infinita” separados. Aliás, tal uso do calculo é o único modo certo de
assegurar a “retidão”.
No primeiro
capítulo d’O Livro da Lei, a conclusão tem importância prática. Concede a
fórmula decisiva para a obtenção da verdade.
“Eu dou
inimagináveis alegrias sobre a terra: certeza, não fé, enquanto em vida, sobre
a morte; paz indescritível, descanso, êxtase; e Eu não peço algo em
sacrifício.”
“Mas amar-me
é melhor que todas as coisas: se sob as estrelas noturnas no deserto tu
presentemente queimas meu incenso diante de mim, invocando-me com um coração
puro, e a chama da serpente ali, tu virás um pouco a deitar em meu seio. Por um
beijo, tu então estarás querendo dar
tudo; mas quem quer que dê uma partícula de pó perderá tudo nessa hora.
Vós reunireis bens e provisões de mulheres e especiarias; vós vestireis ricas
jóias; vós excedereis as nações da terra em esplendor e orgulho; mas sempre no
amor de mim, e então vós vireis à minha alegria. Eu vos ordeno seriamente a vir
diante de mim num robe único e cobertos com um rico adorno na cabeça. Eu vos
amo! Eu anseio por vós! Pálido ou purpúreo, velado ou voluptuoso, Eu, que sou
todo prazer e púrpura, e embriaguez no sentido mais íntimo, vos desejo. Colocai
as asas e elevai o esplendor enroscado dentro de vós: vinde a mim!
Em todos os
meus encontros convosco dirá a sacerdotisa - e seus olhos queimarão com desejo,
enquanto ela se mantém nua e regozijante em meu templo secreto - A mim! A mim!
estimulando a chama dos corações de todos em seu canto de amor.
Cantai
a extasiante canção de amor a mim! Queimai perfumes a mim! Vesti jóias a mim!
Bebei a mim, pois eu vos amo! Eu vos amo!
Eu
sou a filha de pálpebras azuis do Pôr do Sol; eu sou o brilho nu do voluptuoso
céu noturno.
A
mim! A mim!
A
manifestação de Nuit está por um fim.”
XVIII. A LUA
O décimo
oitavo trunfo é atribuído à letra Qoph, que representa Peixes no zodíaco.
Chama-se A Lua.
Peixes é o
último dos signos. Representa o último estágio do inverno. Poderia ser
denominado a Porta da Ressurreição (a
letra Qoph significa nuca e está
vinculada às potências do cerebelo). No sistema do velho Aeon, a ressurreição
do Sol não era somente a partir do inverno, mas também a partir da noite. E
esta carta representa a meia-noite.
“Há um amanhã
em botão na meia-noite”, escreveu Keats.
Por esta razão aparece na base da carta, abaixo da água que está colorida de
gráficos de abominação, o escaravelho sagrado,
o Kephra egípcio, prendendo em suas
mandíbulas o disco solar. É este escaravelho que transporta o Sol em seu silêncio através da escuridão da noite e
da severidade do inverno.
Acima da
superfície da água há uma paisagem sinistra e ameaçadora. Vemos uma senda ou
corrente tingida de sangue que flui de uma
brecha entre duas montanhas áridas; nove gotas de sangue impuro, no
formato de Yods, caem sobre ela
provenientes da Lua.
A Lua,
participando como participa do mais alto e do mais baixo e preenchendo todo o
espaço intermediário, é o mais universal dos planetas. Em seu aspecto mais
elevado, ocupa o lugar do vínculo entre
o humano e o divino, como é exibido no Atu II. Neste trunfo, seu avatar mais baixo, ela se une à esfera
terrestre de Netzach com Malkuth, a culminação na matéria de
todas as formas superiores. Trata-se da lua minguante, a lua da feitiçaria e
dos feitos abomináveis. Ela é a escuridão envenenada que é a condição do
renascimento da luz.
Esta senda é
guardada pelo tabu. Ela é impureza e
bruxaria. Acima das colinas estão as torres negras do mistério inominado, do
horror e do medo. Todo o preconceito, toda a superstição, a tradição morta e a
aversão ancestral, tudo se combina para obscurecer seu rosto perante os olhos
dos homens. É necessária uma coragem insuperável para começar a trilhar esta
senda. Aqui reside a vida fatídica, enganosa. O sentido do fogo se frustra. A
lua não tem ar. O cavaleiro empenhado nesta busca tem que contar com os três
sentidos inferiores: tato, paladar e olfato. * A luz que possa aqui existir é
mais fatal que as trevas e o silêncio é ferido pelo uivo de bestas selvagens.
* Ver O Livro
das Mentiras, cap. pb, Bortsch.
A que deus
nos dirigiremos à procura de ajuda ? É Anúbis, o vigilante do crepúsculo, o
deus que se posta no limiar, o deus-chacal de Khem, que permanece sob forma
dupla entre os caminhos. Aos seus
pés, à espreita, aguardam os próprios chacais, para devorar as carcaças
daqueles que não O viram, ou que ignoravam seu
nome.
Este é o
limiar da vida; este é o limiar da morte. Tudo é dúbio, tudo é misterioso, tudo
é intoxicante. Não a intoxicação benigna, solar de Dionísio, mas sim a
horrível insanidade de drogas
perniciosas; trata-se da embriaguez dos sentidos após a mente ter sido abolida
pelo veneno desta Lua. Isto é o que é escrito de Abraão em O Livro do Princípio: “Um horror de trevas imensas abateu-se sobre
ele.” É-se lembrado do eco mental de compreensão subconsciente daquela suprema
iniqüidade que os místicos constantemente celebraram em seus relatos da noite
sombria da alma. Mas os melhores
homens, os homens verdadeiros não consideram o assunto em tais termos de modo
algum. Sejam quais forem os horrores que possam afligir a alma, as abominações
que possam excitar a aversão do coração, os terrores que possam assaltar a
mente, a resposta será a mesma em todo estágio: “Quão esplêndida é a aventura
!”
XIX. O SOL
Em linguagem
heráldica esta carta representa “o Sol com a divisa de uma rosa sobre um monte
verde.” **
** Cf. o brasão da família do autor deste livro.
Esta é uma
das cartas mais simples. Representa Heru-ra-ha,
o Senhor do Novo Aeon em sua manifestação à raça dos homens como o
Sol espiritual, moral e físico. Ele é o Senhor
da Luz, Vida, Liberdade e Amor. Este Aeon
tem como sua finalidade a completa emancipação da espécie humana.
A rosa
representa o florescimento da influência solar. Ao redor da totalidade da
figura vemos os signos do zodíaco em suas posições normais, Áries surgindo no oriente e assim por diante. Liberdade traz
sanidade. O zodíaco é um tipo de representação infantil do corpo de Nuit, uma
diferenciação e classificação, um cinturão selecionado, um cinto de Nossa
Senhora do espaço infinito. A conveniência da descrição escusa o engenho.
O monte verde
representa a terra fértil, sua forma, por assim dizer, aspirando aos céus. Mas
em torno do topo do monte há uma muralha, o que indica que a aspiração do novo
Aeon não significa ausência de controle. Todavia, fora desta muralha estão as
crianças gêmeas que (de uma forma ou outra) têm reaparecido tão freqüentemente
em todo este simbolismo. Representam o macho e a fêmea, eternamente jovens, despudorados
e inocentes. Dançam na luz e, contudo, habitam sobre a terra. Representam o
próximo estágio a ser atingido pela espécie humana, em que a liberdade total é
semelhante à causa e o resultado do novo
acesso de energia solar sobre a terra. A restrição de idéias tais como pecado e
morte em seu velho sentido foi abolida. Aos seus pés encontram-se os mais
sagrados sinais do velho Aeon, a combinação da Rosa e a Cruz da qual eles
surgem, formando ainda seu suporte.
A própria
carta simboliza esta ampliação da idéia da Rosacruz. A cruz expandiu-se agora
para o Sol, do qual, é claro, ela se originou. Seus raios são doze - não
apenas o número dos signos do zodíaco, como também do mais sagrado título dos Antigos mais santos, os quais são Hua (a palavra HUA, “ele”, tem o valor
numérico 12). A limitação da lei mundana, que está sempre associada ao número
Quatro, desapareceu. Desaparecidos estão os quatro braços de uma cruz limitada pela lei; a energia
criadora da cruz se
expande livremente; seus raios perfuram em toda direção o corpo de Nossa
Senhora das Estrelas.
Com
referência à muralha, convém observar que circunda completamente o topo do
monte, o que é para frisar que a fórmula da Rosacruz é ainda válida em matérias
terrenas. Mas há agora, como não foi o caso anteriormente, uma aliança estreita
e definida com o celeste.
É também
sumamente importante observar que a fórmula da Rosacruz (indicada pelo monte
cintado pela muralha) completou a mudança ígnea para “algo rico e estranho”,
pois o monte é verde, quando se esperaria que fosse vermelho, e a muralha é
vermelha onde se esperaria que fosse verde ou azul. A indicação deste
simbolismo é que deve ser um dos grandes avanços no Ajustamento do novo Aeon
para resolver de maneira simples e sem preconceito os formidáveis problemas que
foram criados pelo crescimento da civilização.
O homem tem
avançado até aqui a partir do sistema social, embora não fosse um sistema, do
troglodita, a partir da concepção primitiva de propriedade do corpo carnal
humano. O homem tem avançado até aqui a partir da classificação anatômica rudimentar da alma de qualquer dado ser humano; conseqüentemente
aterrissou a si mesmo no mais horrível lodo de psicopatologia e psicanálise. Os
preconceitos das pessoas que datam moralmente de cerca de 25 000 a. C. são
enfadonhos e espinhosos. Largamente devido à sua própria intransigência, essas
pessoas nasceram sob uma lei espiritual diferente; acham-se não apenas
perseguidas por seus ancestrais, como também desnorteadas por sua própria
incerteza de um ponto de apoio. Tem que constituir a tarefa dos pioneiros do
novo Aeon acertar isso.
XX. O AEON
Nesta carta
foi necessário partir completamente da
tradição das cartas para prosseguir esta tradição.
A velha carta
era chamada de O Anjo, ou O Juízo Final. Representava um anjo ou mensageiro
soprando uma trombeta, à qual estava presa uma bandeira portando o símbolo do
Aeon de Osíris. Abaixo dele abriam-se os túmulos e os mortos se levantavam.
Eles eram três. O do centro tinha suas mãos erguidas em ângulo reto com os
cotovelos e ombros, de maneira a formar a letra Shin, que se refere ao fogo. A carta representava, portanto, a
destruição do mundo pelo fogo. Isto foi levado a cabo no ano 1904 da era vulgar
quando o deus do fogo Hórus assumiu o
lugar do deus do ar Osíris no Oriente como Hierofante (ver Atu V). No início,
então, deste novo Aeon, é adequado exibir a mensagem daquele anjo que trouxe a
notícia do novo Aeon à Terra. A nova carta é assim, necessariamente, uma
adaptação da Estela da Revelação.
Circundando o
alto da carta está o corpo de Nuit, a deusa-estrela, a qual é a categoria da
possibilidade ilimitada; seu companheiro é Hadit, o ponto de vista onipresente,
a única concepção filosoficamente sustentável da realidade. Ele é representado por um globo de fogo, tipificando a
energia eterna; é alado para mostrar seu poder de Ir. Como resultado do casamento destes dois, nasce a criança Hórus.
Ele é, entretanto, conhecido por seu nome especial, Heru-ra-ha. É um deus duplo; sua forma extrovertida é Ra-hoor-khuit e a passiva ou
introvertida é Hoor-pa-kraat (ver nas
páginas anteriores a Fórmula de Tetragrammaton).
Ele é também de caráter solar, sendo mostrado, por conseguinte, brotando em luz
dourada.
Todo este
simbolismo é inteiramente elucidado n’O Livro da Lei.
Convém notar,
a propósito, que o nome Heru é
idêntico a Hru, que é o grande Anjo constituído como regente do Tarô.
Este novo Tarô pode, portanto, ser considerado como uma série de ilustrações
para O Livro da Lei, cuja doutrina está implícita em toda parte.
Na parte
inferior da carta vemos a própria letra Shin sob a forma sugestiva de uma flor;
os três Yods são ocupados por três
figuras humanas que surgem para participar da essência do novo Aeon. Atrás desta letra há uma representação do
signo de Libra, prenunciando o Aeon que deve suceder o presente Aeon,
presumivelmente em cerca de 2.000 anos
- “a queda do Grande Equinócio;
quando Hrumachis erguer-se-á, e aquele da dupla baqueta assumirá meu trono e
lugar.” O presente Aeon é jovem demais
para proporcionar uma representação mais definida deste evento futuro. Mas em
relação a isto, deve-se atentar para a figura de Ra-hoor-khuit: “Eu sou o
Senhor da Dupla Baqueta de Poder; a baqueta da Força de Coph Nia - mas minha
mão esquerda está vazia, pois eu esmaguei um Universo; & nada permanece.”
Há muitos outros detalhes relativamente ao Senhor do Aeon que deveriam ser
estudados em O Livro da Lei.
É também
importante estudar integralmente e meditar sobre este Livro a fim de apreciar
os eventos espirituais, morais e materiais que têm marcado a transição
catastrófica do Aeon de Osíris. O tempo
para o nascimento de um Aeon parece ser indicado por grande concentração de
poder político acompanhada de melhorias nos meios de viagem e comunicação, com
um avanço geral da filosofia e a ciência, com uma necessidade geral de
consolidação do pensamento religioso. É bastante instrutivo comparar os
acontecimentos dos quinhentos anos que precedem e sucedem a crise de
aproximadamente 2.000 atrás, com aqueles de períodos similares, centrados em 1904, da velha era. Constitui um pensamento nada
confortador para a presente geração que 500 anos de Idade das Trevas estão
provavelmente sobre nossas costas. Mas, se a analogia for boa, este é o caso.
Felizmente, hoje dispomos de tochas que iluminam mais e de mais portadores de
tochas.
XXI. O UNIVERSO
A primeira e
mais óbvia característica desta carta é que ela se coloca ao fim de todos os
trunfos, sendo, portanto, o complemento de O Louco. É atribuída à letra Tau. Estas duas cartas juntas,
conseqüentemente, indicam a palavra Ath, que significa essência. Toda a realidade está, por conseguinte, comprometida
dentro da série da qual essas duas letras formam o início e o fim. Este início
era o Nada, de modo que o fim tem que ser também o Nada, mas Nada em sua
completa expansão, como foi previamente explicado. O número 4, preferivelmente
ao número 2, foi escolhido como a base dessa expansão, em parte, sem dúvida,
por uma questão de conveniência, para ampliar o “universo do discurso”, em
parte para enfatizar a idéia de limitação.
A letra Tau significa o sinal da cruz, ou seja, da extensão e esta extensão é simbolizada
como quádrupla devido à conveniência de construir o símbolo revolvente do Tetragrammaton. No caso do número 2, a
única saída é o retorno à unidade ou ao negativo. Nenhum processo contínuo pode
ser convenientemente simbolizado; mas o número 4 se presta não apenas a essa
extensão rigorosa, os duros fatos da natureza, como também à transcendência do
espaço e do tempo por uma mudança continuamente auto-compensadora.
A letra Tau é atribuída a Saturno, o mais remoto
e lento dos sete planetas sagrados; em função destas qualidades de inércia e
peso, o elemento terra foi imposto ao símbolo. Os três elementos originais,
fogo, ar e água eram suficientes para o pensamento primitivo. Terra e espírito representam um acréscimo
posterior. Tampouco são encontrados nos vinte e dois caminhos originais do Sepher Yetzirah. O mundo de Assiah, o mundo
material, não aparece senão como um pendente da
Árvore da Vida.
Identicamente,
o elemento espírito é atribuído à
letra Shin como um ornamento adicional, de um certo
modo da mesma maneira que se dizia ser Kether
simbolizada pelo ponto mais elevado do Yod
de Tetragrammaton. É constantemente indispensável distinguir entre os
símbolos da teoria filosófica e aqueles símbolos mais elaborados baseados neles
que são necessários ao trabalho prático.
Saturno e
Terra têm algumas qualidades em comum: pesadume, frieza, secura, imobilidade,
lentidão e similares. Todavia, Saturno aparece em Binah devido ao seu negrume na escala da Rainha, que é a escala da natureza observada, mas sempre, tão logo
o fim de um processo é atingido, ele retorna automaticamente ao início.
Na química,
são os elementos mais pesados que são incapazes sob condições terrestres de
suportar a solicitação e o esforço de
suas estruturas internas; conseqüentemente, irradiam partículas do caráter mais
sutil e da mais alta atividade. Num ensaio escrito em Cefalù, Sicília, a
respeito da segunda lei da termodinâmica, foi sugerido que no zero absoluto do
termômetro de ar, poderia existir um elemento mais pesado que o urânio, de uma
tal natureza que seria capaz de reconstituir a série inteira dos elementos. Era
uma interpretação química da equação 0 = 2.
Torna-se,
portanto, plausível argumentar a partir da analogia que visto que o fim tem que
gerar o início, o simbolismo acompanha tal coisa; conseqüentemente, o negrume
também é atribuído ao sol, de acordo com uma certa tradição oculta há muito
tempo. Um dos choques para candidatos aos “Mistérios” era a revelação: “Osíris
é um deus negro”.
Saturno é,
assim, masculino. Ele é o antigo
deus, o deus da fertilidade, o sol no sul, mas igualmente o Grande Mar, a grande
Mãe. E a letra Tau na Árvore da Vida
aparece como uma emanação da lua de Yesod,
o fundamento da Árvore e representativa do processo reprodutivo e do equilíbrio
entre mudança e estabilidade, ou melhor, sua identificação. A influência do
caminho desce sobre a Terra, Malkuth,
a filha. Aqui novamente aparece a doutrina da “colocação da filha no trono da
Mãe”. Na própria carta, por conseguinte, há um glifo da conclusão da Grande
Obra em seu sentido mais elevado, exatamente como o Atu do Louco simboliza seu
início. O Louco é o fluxo negativo para a manifestação, o universo é esta
manifestação, seu propósito cumprido, pronto para retornar. As vinte cartas que
se acham entre estas duas exibem a Grande Obra e seus agentes em vários
estágios. A imagem do universo neste sentido é, conseqüentemente, aquela de uma
donzela, a letra final de Tetragrammaton.
Na presente
carta ela é representada como uma figura dançante. Em suas mãos manipula a
irradiante força espiral, a ativa e a passiva, cada uma detentora de sua polaridade
dupla. O parceiro de dança dela é mostrado como Heru-ra-ha do Atu XIX. “O Sol, Força & Visão, Luz;
estes são para os servos da Estrela & a Serpente.” Esta forma final da
imagem da fórmula mágica do deus combina e
transforma tantos símbolos que a descrição é difícil e seria inútil. O método
adequado de estudo desta carta - na verdade, de todas, mas especialmente
desta - é meditação contínua e longa. O
universo, assim se enuncia o tema, é a celebração
da Grande Obra cumprida.
Nos cantos da
carta estão os quatro Kerubim mostrando
o universo estabelecido. Ao redor da donzela há uma elipse composta de setenta
e dois círculos para os quinários do zodíaco, o Shemhamphorasch.
No centro da
parte inferior da carta está representado o plano estrutural da construção da
casa da matéria. Mostra os noventa e
dois elementos químicos conhecidos, dispostos conforme sua posição na
hierarquia (este desenho se deve ao gênio do falecido J. W. N. Sullivan: ver The Bases of Modern Science).
Ao centro,
uma roda de luz inicia a forma da Árvore da Vida, exibindo os dez principais
corpos do sistema solar. Mas esta Árvore
somente é visível àqueles de coração inteiramente puro.
1. O primum mobile, representado por Plutão
(comparar com a doutrina das partículas alfa de rádio).
2. A esfera
do zodíaco ou estrelas fixas, representada por Netuno.
3. Saturno.
O Abismo. Este é representado por Herschel, o planeta da desintegração e
explosão.
4. Júpiter.
5. Marte.
6. O Sol.
7. Vênus
8. Mercúrio.
9. A Lua.
10. A Terra (os
quatro elementos).
Todos estes
símbolos nadam e dançam numa ambiência complexa mas contínua de lupes e espirais. A cor geral da carta
tradicional é fulvo; representa a confusão e escuridão do mundo material. Mas o
novo Aeon trouxe plenitude de luz; no Minutum
Mundum * a Terra não é mais negra ou de cores mescladas, mas é de puro
verde claro. Do mesmo modo, o azul escuro de Saturno é derivado do veludo azul
do céu da meia-noite e a donzela da dança representa o resultado disto, ainda
através disto, para o Eterno. Esta carta é hoje tão brilhante e ardente quanto
qualquer outra do baralho.
* Em latim no
original, Pequeno Mundo (Pequeno
Universo) (NT).
A P Ê N D I C E
Seguem-se
alguns ensaios a respeito de matérias pertinentes a este ensaio geral. A leitura
atenta de tais ensaios pode ajudar para a plena apreciação deste.
O LOUCO
1. Silêncio *
* De Little Essays toward Truth.
Entre todas
as virtudes mágicas e místicas, entre todas as graças da alma, entre todas as
conquistas do espírito nada tem sido mais mal compreendido, mesmo quando
receado de qualquer modo, do que o silêncio.
Não seria
possível enumerar os erros comuns; não,
pode-se dizer que simplesmente pensá-lo é em si um erro, pois sua natureza é puro ser, ou seja, nada,
de maneira que ele está além de toda intelecção ou intuição. Assim, então, o
máximo em nosso ensaio pode ser somente uma certa guarda, como se fosse um Enladrilhamento
da Loja ** onde o Mistério do Silêncio pode ser consumado.
** Linguagem
maçônica: proteção contra o ingresso de não iniciados por meio da pessoa do guardião da porta da loja
[ em inglês, tyler (tiler),
literalmente enladrilhador, entelhador, azulejista] (NT).
Para essa
postura há uma íntegra autoridade tradicional. Harpócrates, deus do Silêncio, é
chamado de “O Senhor da Defesa e Proteção”.
Mas a
natureza deste deus não é em absoluto aquele silêncio negativo e passivo que é
a conotação usual da palavra, pois ele é o Espírito
Todo-Viandante, o Puro e Perfeito
Cavaleiro Errante, que responde a todos os enigmas e abre o Portal fechado da Filha do Rei. Mas silêncio
no sentido vulgar não é a resposta ao enigma
da Esfinge, é aquilo que é criado por esta resposta, pois o silêncio é o equilíbrio da perfeição, de modo que Harpócrates é a chave
omniforme, universal para todo mistério. A
esfinge é a “Puzzel ou Pucelle”, *** a idéia
*** Do
francês antigo Pulcelle, donzela,
virgem. Note o leitor que o substantivo puzzle significa quebra-cabeças, enigma
e o verbo to puzzle, entre outras
coisas, colocar uma questão, propor um
problema (NT).
feminina para
a qual só existe um complemento, sempre diferente na forma e sempre idêntico na
essência. Esta é a significação da figura do deus que é mostrada com maior
clareza sob sua forma adulta como o
Louco do Tarô e como Baco Diphues, e sem ambigüidade quando ele aparece como Baphomet.
Quando
sondamos com mais rigor seu
simbolismo, a primeira qualidade que prende nossa atenção é, sem dúvida, sua inocência. Não é sem profunda
sabedoria que ele é chamado de gêmeo de Hórus: e este é o Aeon de
Hórus: é ele que enviou Aiwass, seu Ministro para proclamar o advento deste Aeon. O quarto poder da Esfinge é silêncio; para nós, então, que aspiramos
a este poder como a coroa de nossa Obra será de sumo valor atingir sua inocência em toda sua plenitude.
Precisamos entender, em primeiro lugar, que a raiz da responsabilidade moral, pela qual o homem estupidamente se orgulha
em distinguir-se dos outros animais, é restrição,
que é a palavra do pecado. De fato, há verdade na
fábula hebraica segundo a qual o conhecimento do bem e do mal traz morte. Reconquistar a inocência é reconquistar o Éden.
Precisamos aprender a viver sem a consciência assassina de que cada alento
que aspiramos infla as velas que transportam nossas frágeis embarcações ao porto das tumbas. Precisamos banir o medo a favor do amor, percebendo que cada ato
é um orgasmo, seu resultado total não
podendo ser senão nascimento.
Ademais, o amor é a lei e, assim, cada ato tem que ser retidão
e verdade. Por certas meditações
isto pode ser entendido e estabelecido, e isto necessita ser realizado de
maneira tão radical a ponto de nos tornarmos inconscientes de nossa santificação, pois somente então é a inocência tornada perfeita. Este estado
é, com efeito, uma condição necessária à qualquer contemplação adequada do que
estamos acostumados a considerar a primeira tarefa do aspirante, a solução da questão
“O que é minha Vontade Verdadeira ? “
Pois até que nos tornemos inocentes estamos seguros em tentar julgar nossa Vontade a partir do externo,
enquanto que a Vontade Verdadeira deveria brotar, fonte de luz, do interior, e
fluir sem empecilho, fervendo com amor para o oceano da vida.
Esta é a
verdadeira idéia do silêncio; é nossa Vontade que escoa, perfeitamente elástica, sublimemente
protéica, para preencher todo interstício do universo da manifestação que ela encontra em seu curso. Não há
nenhum golfo largo demais para sua incomensurável força, nenhum estreito
íngreme demais para sua imperturbável sutileza. Ela se ajusta com perfeita
precisão à toda necessidade; sua fluidez é a garantia de sua fidelidade. Sua
forma é sempre alterada por aquela da imperfeição particular que ela encontra:
sua essência é idêntica em todo evento. O efeito de sua ação é sempre Perfeição, isto é, Silêncio e esta Perfeição é sempre a mesma, sendo
perfeita e, contudo, sempre diferente porque cada caso apresenta sua própria
quantidade e qualidade peculiares.
É impossível
para a própria inspiração soar um ditirambo do silêncio, pois cada novo aspecto de Harpócrates é digno da música
do universo através da eternidade. Eu fui simplesmente conduzido por meu amor
leal dessa estranha raça na
qual me acho encarnado a compor essa precária estância do épico infinito de Harpócrates como sendo a faceta de seu brilho fecundo que refratou a mais
necessária luz sobre minha própria entrada sombria ao seu santuário de fulminante, de inefável divindade.
Eu louvo o
luxuriante arrebatamento de inocência, o êxtase viril e pantomórfico da Toda-Realização;
eu louvo a Criança Coroada e Conquistadora cujo nome
é força e fogo, cuja sutileza e vigor
asseguram serenidade, cuja energia e resistência realizam o atingimento da virgem do Absoluto; quem
sendo manifestado, é o solista da
flauta sétupla, o Grande Deus Pã, e sendo retirado para a perfeição que ele teve vontade, é Silêncio.
2. De Sapientia et Stultitia *
* De Liber Aleph: The Book of Wisdom or Folly (O Livro da Sabedoria ou
Loucura).
Ó, meu Filho,
neste colofão de minha Epístola revocarei o Título e o Sobrescrito dela, ou
seja, o Livro da Sabedoria ou Loucura. Eu
proclamo Bênção e Veneração a Nuith, nossa Senhora e seu Senhor, Hadith, pelo
Milagre da Anatomia da Criança Ra-Hoor-Khuit como é exibido no desenho Minutum Mundum, a Árvore da Vida. Pois
embora a Sabedoria seja a Segunda Emanação de Sua Essência, há um caminho para
separá-los e uni-los, a referência disto sendo Aleph, que é Um, efetivamente, mas também Cento e Onze em sua
Ortografia total, para significar a Mais
Santa Trindade. E por metátese é Escuridão
Espessa e Morte Súbita. Este é também o Número
de AUM, que é AMOUN, e o som-raiz de
OMNE ou, em grego, PAN; e é um Número do
Sol. Ainda é o Atu de Thoth, que corresponde ao marcado com ZERO, e seu Nome é
MAT, do qual falei antes, e sua Imagem é O Louco. Ó, meu Filho, junta todos
estes Membros em um Corpo e respira sobre ele com teu Espírito, para que ele
viva; então abraça-o com a Volúpia de tua Masculinidade e penetra-o, e
conhece-o; assim vós sereis Uma Carne. Agora, finalmente, no Reforço e Êxtase
desta Consumação tu saberás por qual
Inspiração realmente escolheste teu Nome na Gnosis, quero dizer
PARZIFAL, “der reine Thor “ ,** o Verdadeiro Cavaleiro
** Ou melhor,
der reine Tor (o puro Louco) (NT).
que
conquistou o Reino em Monsalvat e curou a Ferida de Amfortas, e ordenou a
Kundry o Serviço Correto, e reconquistou a Lança, e reviveu o Milagre do
Sangraal; sim, também sobre si mesmo com efeito executou sua Palavra no fim:
“Höchsten Heiles Wunder ! Erlösung dem
Erlöser ! “ ***Esta é a última Palavra da Canção que teu Tio Richard Wagner
compôs para a Veneração deste Mistério. Entende isto, ó, meu Filho, no momento
em que digo adeus a ti nesta Epístola, que a Culminância da Sabedoria é a
Abertura da Senda que conduz à Coroa e Essência de tudo, à Alma da Criança
Hórus, o Senhor do Aeon. Este é o Caminho do Puro Louco.
*** Supremo
milagre de salvação! Redenção do Redentor! (NT).
De Oraculo
Summo
E quem é esse
Puro Louco ? Repara nas Sagas de
Outrora, a Lenda do Escaldo, do Bardo,
do Druida, não vem ele de Verde como a Primavera ? Ó tu Grande Louco, tu Água
que és Ar, em quem todo complexo é dissolvido ! Sim, tu de Vestes andrajosas,
com o Cajado de Príapo e o Odre de Vinho ! Tu te postas sobre o Crocodilo, como
Hoor-pa-Kraat; e o Grande Gato salta sobre Ti ! Sim, e também tenho sabido quem
Tu és, Baco Diphues, nenhum e dois, em teu nome IAO ! Agora ao Final de tudo
venho ao Ser de Ti, além do Por-vir, e
brado alto minha Palavra, como se tivesse sido dada ao Homem por teu Tio
Alcofribas Nasier, o oráculo do Frasco de BACBUC. E esta Palavra é TRINC.
3. De Herba
Sanctissima Arabica
Relembra, Ó
meu filho a Fábula dos Hebreus, que eles trouxeram da Cidade de Babilônia, como
Nabucodonozor, o Grande Rei, estando de Espírito aflito, apartou-se do convívio
dos Homens pelo período de Sete Anos, comendo Grama como faz um Boi. Agora este Boi é a letra Aleph
e é aquele Atu de Thoth cujo número é Zero e cujo Nome é Maat, Verdade; ou
Maut, o Abutre, o Todo-Mãe, sendo uma Imagem de Nossa Senhora Nuith, mas que
também é chamado de O Louco, que é Percival, “der reine Thor “ ,****
referindo-se assim àquele que caminha na Senda do Tao. E também é ele
Harpócrates, a Criança Hórus caminhando (como diz Daood, o Badawi que se tornou Rei, em sua Salmodia) sobre o Leão e o Dragão;
quer dizer, ele está em Unidade com sua própria Natureza Secreta, como mostrei
a ti em minha Palavra concernente à Esfinge. Ó meu Filho, na Vigília de ontem
veio a mim o Espírito que eu também devesse comer o Pasto dos Árabes, e por
Virtude de seu Encantamento contemplasse aquilo que poderia ser apontado para a
Iluminação de meus Olhos. Mas disto não tenho permissão de falar, vendo que
envolve o Mistério da Transcendência do Tempo, de sorte que em Uma Hora de nosso
Padrão Terrestre realmente colho a Safra de um Aeon, e em Dez Vidas não poderia
declará-lo.
**** Der reine Tor (O puro Louco) (NT).
De Quibusdam
Mysteriis, Quae Vidi
Todavia, mesmo
como um Homem pode erigir um Memorial ou Símbolo para importar Dez Mil Vezes
Dez Mil, posso eu empenhar-me para informar tua Compreensão pelo Hieróglifo. E
aqui tua própria experiência nos servirá, pois um Indício de Lembrança basta
para aquele que esta familiarizado com uma Matéria, o que para aquele que não a
conhece não pode ser feito manifesto, não, nem em um Ano de Instrução. Aqui
primeiramente então uma entre as Maravilhas Incontáveis daquela Visão: sobre um
Campo mais negro e mais rico que o Veludo estava o Sol de todo Ser, sozinho.
Então em torno Dele haviam pequenas Cruzes, gregas, infestando o Céu. Estas
mudavam de Forma para Forma geométricas, Maravilha devorando Maravilha, Mil
Vezes Mil em seu Curso e Seqencia,
até que por seu Movimento foi o Universo
liquidificado à Quintessência da Luz. Ademais, em outra Ocasião contemplei
todas as coisas como Bullae, iridescentes e luminosas, auto-reluzentes em toda
Cor e toda Combinação de Cor, Miríade perseguindo Miríade até que por sua
Beleza perpétua exauriram a Virtude de minha Mente para recebê-las e a
oprimiram, de sorte que eu fui obrigado a furtar-me do Fardo daquele Brilho. E,
contudo, Ó meu Filho, a Soma de tudo isso não chega ao Mérito de um
Vislumbre-Aurora de Nossa Verdadeira Visão da Santidade.
De Quodam
Modo Meditationis
Agora quanto
ao Principal daquilo que a mim foi
concedido, foi a Apreensão daquelas Mudanças ou Transmutações desejadas da Mente que conduzem à Verdade, sendo como
Escadas para o Céu, ou assim as chamei naquele Tempo, buscando uma frase para
advertir o Escriba que atendia às minhas Palavras para gravar um Balaústre
sobre a Estela de minha Operação. Mas despendo esforço em vão, ó meu Filho,
para registrar esta Matéria minuciosamente, pois constitui a qualidade desta Grama
agilizar a Operação do Pensamento de modo que possa ser de Mil Vezes, e,
ademais, ilustrar cada Passo em Imagens
complexas e dominantes em Beleza, de maneira que não se disponha de Tempo no
qual conceber, e muito menos proferir qualquer
Palavra por um Nome de qualquer um deles. Além disso, tal era a
multiplicidade dessas Escadas, e sua Equivalência, que a Memória não retém mais
nenhuma delas, mas apenas uma certa Compreensão do Método, sem palavras por
Razão de sua Sutileza. Agora, portanto, preciso fazer por minha Vontade uma
Concentração poderosa e terrível de meu Pensamento, de maneira que eu possa
gerar a Expressão deste Mistério. Pois este Método é de Virtude e Proveito; por ele podes tu chegar facilmente e com Prazer à Perfeição da
Verdade, não Importa a partir de que Pensamento tu concretizas o primeiro Salto
em tua Meditação, de modo que possas saber como toda Estrada finda em Monsalvat
e no Templo do Sangraal.
Sequitur De
Hac Re
Eu acredito
geralmente, com Base tanto na Teoria
quanto na Experiência, tão poucas como delas disponho, que um Homem precisa
primeiramente ser Iniciado, e estabelecido em Nossa Lei antes de poder usar
este Método, pois nele há uma Implicação de nossa Iluminação Secreta,
concernente ao Universo, como sua
Natureza é integralmente Perfeição. E cada Pensamento é uma Separação e
a Medicina disto é casar Cada um com sua Contradição, como demonstrei antes em
muitos Escritos. E tu colidirás um contra o outro com Veemência de Espírito,
tão célere como o própria Luz, de modo que o Êxtase seja Espontâneo. E assim,
por conseguinte, é conveniente que tu tenhas já trilhado este Caminho da Antítese, sabendo perfeitamente a Resposta
para cada Glifo ou Problema e tua Mente com isto pronta. Pois pela Propriedade
dessa Grama tudo passa com Velocidade incalculável para a Inteligência e uma
Hesitação deve confundir-te, derrubando tua Escada e lançando tua Mente de
volta para receber Impressão do Ambiente, como em teu primeiro Início.
Veramente, a Natureza deste Método é Solução, e a Destruição de toda
Complexidade por Explosão de Êxtase, à medida que todo Elemento seu é
preenchido por seu Correlativo, e é aniquilado (visto que perde a Existência
separada) no Orgasmo que é consumado no Leito de tua Mente.
Sequitur De
Hac Re
Tu sabes muito
bem, Ó meu Filho, como um Pensamento é imperfeito em duas Dimensões estando
separado de sua Contradição, mas também confinado em seu Alcance porque por essa Contradição nós não
(comumente) completamos o Universo, salvo apenas aquele de seu Discurso. Assim
se contrastamos Saúde com Enfermidade, incluímos em sua Esfera de União não
mais do que uma Qualidade que pode ser prevista de todas as Coisas. Ademais, é
para a maior Parte difícil descobrir ou formular a verdadeira Contradição de
qualquer Pensamento como uma Idéia positiva, mas apenas como uma Negação Formal
em Termos vagos, de maneira que a pronta Resposta é tão-somente Antítese.
Assim, ao “Branco”, não se coloca a Frase “Tudo o que não é Branco”, pois isto
é vazio, amorfo; não é tampouco claro, simples, nem positivo na Concepção; mas
responde-se “Preto” pois isto detém uma Imagem de sua Significação. Assim então
a Coesão dos Antitéticos os destrói apenas Parcialmente e se fica
instantaneamente consciente do Resíduo que está insatisfeito ou desequilibrado,
cujo Eidolon salta em tua Mente com
Esplendor e Júbilo inefáveis. Não permite que isto te ludibrie, pois sua
Existência prova sua Imperfeição e tu precisas fazer surgir seu Companheiro, e
destruí-los pelo Amor, como com o primeiro. Este método é contínuo e procede
sempre do Grosso para o Fino, e do Particular para o Geral, dissolvendo todas
as Coisas na Substância Única da Luz.
Conclusio De
Hoc Modo Sanctitatis
Aprende agora
que as Impressões dos Sentidos têm Opostos prontamente concebidos, como o longo
para o curto, ou o claro para o escuro; e assim com as Emoções e Percepções,
como o Amor para o Ódio, ou o Falso para o Verdadeiro; mas quanto mais Violento
o Antagonismo, mais está ele limitado na Ilusão, determinada pela Relação.
Assim a Palavra “Longo” é destituída de Sentido a não ser que se refira a um
Padrão; o Amor, contudo, não é obscuro assim porque o Ódio é seu gêmeo,
participando com fartura de uma Natureza Comum com isso. E agora, ouve isto:
foi concedido a mim em minha Visão dos Aethyrs, quando eu estava no Deserto do
Saara, próximo de Tolga, à Beira do Grande Erg Oriental, que acima do Abismo,
Contradição é Unidade, e que nada podia ser verdadeiro salvo em Virtude da
Contradição que está contida em si mesma. Vê, portanto, que neste Método tu
chegarás logo a Idéias desta Ordem que incluem em si mesmas sua própria
Contradição e não têm Antítese. Eis aqui então tua Alavanca de Antinomia quebrada em tua Mão; e
contudo, estando em verdadeiro Equilíbrio, tu podes voar alto, apaixonado e
ansioso, de Céu a Céu, pela Expansão de tua Idéia, e sua Exaltação, ou pela
Concentração como tu entendes, por Virtude de teus Estudos de O Livro
da Lei, a Palavra deste relativa a Nossa Senhora Nuith, e Hadith que é
o Cerne de toda Estrela. E este último Indo sobre tua Escada é fácil, se és
verdadeiramente Iniciado, pois o Momentum
de tua Força na Antítese Transcendental
serve para propelir-te, e a Emancipação dos Grilhões do Pensamento que
conquistaste naquela Praxis de Arte faz o Remoinho e Gravitação
da Verdade de Competência te atraírem para si mesma.
De Via Sola
Solis
Este é o
Proveito de minha Intoxicação desta Erva santa, A Grama dos Árabes, que me revelou
este Mistério (acompanhado de muitos outros), não como uma Nova Luz, pois eu
dispunha disto antes, mas por sua rápida Síntese e Manifestação de uma longa
Seqüência de Eventos num Momento. Eu possuía Perspicácia para analisar este
Método e descobrir sua Lei Essencial,
que antes havia se furtado ao Foco da Lente de meu Entendimento. Sim, meu
Filho, não há nenhuma Senda Verdadeira
de Luz exceto aquela que eu anteriormente evidenciei; todavia, em toda Senda há
Proveito se fores sagaz para percebê-lo e agarrá-lo. Pois nós
conquistamos a Verdade freqüentemente por Reflexão, ou pela Composição e
Seleção de um Artista em sua
Apresentação dela, quando para o mais estávamos cegos, faltando seu Modo
de Luz. Entretanto, seria aquela Arte de nenhum proveito a não ser que já tivéssemos a Raiz daquela Verdade em
nossa Natureza, e um Botão pronto para
desabrochar sob a Convocação daquele Sol. Em Testemunho, nem um Menino nem uma
Pedra possui Conhecimento das Seções de
um Cone e de suas Propriedades, mas podes ensinar estas coisas ao Menino pela
correta Apresentação porque ele tem em
sua Natureza essas Leis da Mente que são
consoantes com nossa Arte Matemática e Necessita apenas Emplumar-se (posso
dizê-lo) de modo a aplicá-las conscientemente ao Trabalho, quando, estando tudo
em Verdade, ou seja, nas necessárias Relações que regem nossa Ilusão, ele vem
em Curso para a Apreensão.
O MAGO
1. De Mercurio *
* De Paris
Working (Operação de Paris).
Segue-se uma
descrição bastante completa da natureza de Mercúrio em diversos aspectos,
particularmente sua relação com Júpiter e o Sol :
“No Princípio
era a Palavra, o Logos, que é Mercúrio, sendo, portanto, para ser identificado
com Cristo. Ambos são mensageiros, os mistérios de seus nascimentos são
similares, as travessuras de suas infâncias são similares. Na Visão
do Mercúrio Universal, Hermes é
visto descendo sobre o mar, que se refere a Maria. ** A crucificação representa o caduceu,
os dois ladrões, as duas serpentes; o penhasco na visão do Mercúrio Universal é
o Gólgota; Maria é simplesmente Maia com o R solar em seu útero. A controvérsia
em torno de Cristo entre os sinópticos e João era realmente uma contenda entre
os sacerdotes de Baco, Sol, e Osíris; também, talvez, os de Adonis e Atis por
um lado, e os de Hermes, por outro, naquele período no qual os iniciados em
todo o mundo julgavam necessário, devido ao crescimento do Império Romano e a
abertura dos meios de comunicação, substituir politeísmos conflitantes por uma
fé sintética.”
** O caminho
de Beth na Árvore da Vida o mostra
descendo de Kether, a Coroa, sobre Binah, o Grande Mar (ver diagrama).
“Continuando
a identificação compare-se a descida de Cristo ao inferno com a função de
Hermes de guia dos mortos. E também Hermes conduzindo Eurídice para cima e
Cristo devolvendo a vida à irmã de Jairo. Diz-se que Cristo ressuscitou no
terceiro dia porque são necessários três dias para o planeta Mercúrio tornar-se
visível após apartar-se da órbita do Sol (que se note, inclusive, que Mercúrio
e Vênus são os planetas entre nós e o Sol, como se a Mãe e o Filho fossem
mediadores entre nós e o Pai).
Observe-se
Cristo como Aquele que cura e
igualmente sua própria expressão: “O Filho do Homem vem como um ladrão à
noite.” E ainda esta passagem (Mateus xxiv, 24-27) : “Pois como o relâmpago
irrompe do Leste e brilha mesmo no Oeste, assim também será a vinda do Filho do Homem. “
Cumpre,
ademais, notar as relações de Cristo com os cambistas, suas freqüentes
parábolas e o fato do seu primeiro discípulo ter sido um publicano, isto é,
coletor de impostos.
Note-se ainda
Mercúrio como o libertador de Prometeu.
Uma metade do
símbolo do peixe é igualmente comum a
Cristo e Mercúrio; os peixes são sagrados a
Mercúrio (devido presumivelmente à sua qualidade cinética e sangue
frio). Muitos dos discípulos de Cristo eram pescadores e ele se mantinha
fazendo milagres ligados aos peixes.
Que se
atente, além disso, em Cristo como mediador: “Nenhum homem irá ao Pai exceto
por mim” e Mercúrio como Chokmah “através de quem somente podemos ter acesso a
Kether.”
“O caduceu contém um símbolo completo da gnosis. O sol ou falo alado representa a
alegria da vida e todos os planos do mais baixo ao mais alto. As serpentes
(além de serem o ativo e o passivo,
Hórus e Osíris e todas as outras suas conhecidas atribuições) são aquelas
qualidades da águia e do leão, respectivamente, das quais estamos
cientes mas de que não falamos. É o símbolo que une o microcosmo e o macrocosmo,
o símbolo da operação mágica que
executa isso. O caduceu é a própria vida,
sendo de aplicação universal. É o solvente universal.
“Eu o vejo
todo agora; a força viril de Marte está bem abaixo dele. Todos os outros deuses
são meramente aspectos de Júpiter formulados por Hermes. Ele é o primeiro dos
Aeons. “
“O senso de
humor deste deus é muito intenso. Ele não é sentimental com respeito à sua
principal função; encara o universo como uma excelente piada prática. No
entanto, reconhece a seriedade de Júpiter e a seriedade do universo, a despeito
de rir deles por serem sérios. Seu único negócio é transmitir a força
proveniente de Júpiter e não está interessado em nada mais. A mensagem é vida, mas em Júpiter a vida é latente. “
“Relativamente
à reencarnação, a teoria heliocêntrica está certa. À medida que conquistamos as
condições de um planeta, encarnamos no próximo planeta indo no sentido do
planeta mais exterior para o mais interior, até retornarmos ao Pai de Tudo,
quando nossas experiências, somadas, se tornam inteligíveis, e as estrelas
discursam entre si. A Terra é o último planeta onde os corpos são feitos de
terra; em Vênus são fluídicos; em Mercúrio, aéreos, enquanto que no Sol são
feitos de fogo puro”. *
* “Nos Sóis
nós lembramos, nos Planetas esquecemos.” Éliphas
Lévi
“Eu agora
vejo a estrela óctupla de Mercúrio repentinamente fulgurante; é composta de
quatro flores-de-lis de raios semelhantes a anteras, formas de junco entre
elas. O núcleo central tem o monograma do Grão-Mestre, mas não o que você
conhece. Sobre a cruz se acham a pomba,
o falcão, a serpente e o leão. E
também um símbolo ainda mais secreto. Agora eu contemplo Espadas ígneas de luz.
Tudo isso está sobre uma escala cósmica. Todas as distâncias são astronômicas.
Quando eu digo “Espada” tenho uma consciência definida de uma arma de muitos
milhões de milhas de comprimento.
2. O Senhor
da Ilusão **
** Extrato de
Liber CDXVIII, The Vision and the Voice:
terceiro Aethyr (Ed. Princ., pg. ...)
É a figura do
Mago do Tarô. Em seu braço direito a tocha de flamas fulgurantes ascendentes;
no esquerdo, a taça de veneno, uma catarata para o inferno. E em cima de sua cabeça o talismã do mal, blasfêmia e
blasfêmia e blasfêmia, sob a forma de um círculo. Esta é a maior blasfêmia de
todas (quer dizer, que o círculo seja assim profanado; este círculo do mal é de
três anéis concêntricos). Sobre os pés do Mago há foices, Espadas e foicinhas,
adagas, facas, todo instrumento afiado
- um milhão e todos em um. E
diante dele esta a mesa que é uma
mesa de perversidade, a mesa das
quarenta e duas vezes. Esta mesa está conectada aos quarenta e dois assessores dos mortos, pois eles são os acusadores
que a alma deve iludir; e com o nome de Deus de quarenta e duas vezes, pois
este é o Mistério da Inqüidade,
segundo o qual houve sempre um princípio, de qualquer modo. E este Mago gera,
pelo poder de suas quatro armas véu após véu; mil cores brilhantes, rasgando e
dilacerando o Aethyr, de sorte que é como serras cheias de mossas, ou como
dentes quebrados à face de uma menina, ou como ruptura, ou loucura. Há um som
horrível de trituramento, enlouquecedor. Este é o moinho no qual a substância universal, que é o éter, foi
moída e reduzida à matéria.
Uma voz diz:
“Contempla o brilho do Senhor, cujos pés estão colocados sobre aquele que
perdoa a transgressão. Contempla a Estrela sêxtupla que flameja na Abóbada, o selo do casamento do grande Rei
Branco com sua escrava negra.”
Assim eu
olhei para a Pedra e vi a Estrela sêxtupla: o Aethyr inteiro se assemelha a
nuvens fulvas, como a chama de uma fornalha. E há uma poderosa hoste de Anjos,
azuis e dourados, que a invadem, e eles gritam: Santo, Santo, Santo, és tu que
não és sacudido nos terremotos, e nos trovões ! O fim das coisas é vindo sobre
nós; o dia do Esteja-conosco está à mão ! Pois ele criou o Universo e o
destruiu, de modo que pudesse tirar seu prazer disso.
E agora, no
meio do Aethyr, eu contemplo aquele deus. Ele possui mil braços e em cada mão
há uma arma de força terrível. Seu rosto é mais terrível que a tempestade, e de
seus olhos lampejam relâmpagos de brilho intolerável. De sua boca fluem mares
de sangue. Sobre sua cabeça há uma coroa
de toda coisa morta. Sobre sua fronte está o ereto Tau, e em cada lado dele existem signos de blasfêmia. E em torno
dele se prende uma menina, como para a filha do Rei que apareceu no nono
Aethyr. Mas ela se tornou rósea devido à força dele, e a pureza dela tingiu seu
negro com azul.
Eles estão
agarrados num abraço furioso, de sorte que ela está dilacerada pelo terror do
deus; e contudo agarra-se ela tão firmemente a ele que ele está estrangulado.
Ela forçou a cabeça dele para trás e sua garganta está lívida sob a pressão dos
dedos dela. O grito conjunto deles é uma angústia intolerável, e, todavia, é o
grito de seu arrebatamento, de modo que todo sofrimento e toda maldição e toda
privação, e toda morte de tudo no universo todo não passa de uma pequena lufada
de vento naquele grito-tempestade de êxtase. ***
*** Esta
imagem deve ser encontrada pintada (usualmente sobre seda e repetida em variadas
formas, com freqüência representando os planetas em torno de sua auréola
central) sobre os estandartes sagrados
que adornam os santuários do Tibete.
E um Anjo
fala; “Vê, esta visão está inteiramente além de tua compreensão. Contudo, tu te esforçarás para
unir-te ao formidável leito nupcial.”
E assim estou
despedaçado, nervo por nervo e veia por veia, e mais intimamente -
célula por célula, molécula por molécula e átomo por átomo, e ao mesmo
tempo todo esmagado em conjunto (escreve que o despedaçamento é um esmagamento em conjunto). Todos os
fenômenos duplos são apenas duas maneiras de olhar para um único fenômeno, e o
fenômeno único é paz. Não há sentido em minhas palavras ou
em meus pensamentos. “Surgiram faces semi-formadas.” Este é o significado
daquela passagem; são tentativas de interpretar o caos. Mas o caos é paz. O cosmos é a guerra da Rosa
e da Cruz. Esta foi uma “face semi-formada” que eu disse então. Todas as
imagens são inúteis.
Sim, como num
espelho, assim em tua mente, que é apoiada com o falso metal da mentira, é todo
símbolo lido ao avesso. Repara ! tudo em que confiaste deve confundir-te e
aquilo de que tu realmente fugiste era teu salvador. Assim, por conseguinte,
gritaste com efeito estrepitosamente no sabá negro quando beijaste as nádegas
peludas do bode, quando o deus áspero te despedaçou, quando a catarata gelada
da morte te varreu.
Grita,
portanto, grita alto; mistura o urro do leão chifrado e o gemido do touro
despedaçado, e o berro do homem que foi dilacerado pelas garras da águia e o guincho da águia que é estrangulada pelas mãos do homem.
Mistura todos estes no grito de morte da esfinge,
pois o homem cego profanou o mistério dela. Quem é este, Édipo, Tirésias,
Erinies ? Quem é este, que é cego e um vidente, um tolo acima da sabedoria ?
Quem os cães do céu seguem e os crocodilos do inferno aguardam ? Aleph, Vau, Yod, Ayin, Resh, Tau é seu
nome. ****
**** Estes
são os caminhos formando uma corrente 1 - 2 - 6 - 8 - 9 na Árvore da Vida.
Debaixo de
seus pés está o Reino, e sobre sua cabeça a Coroa. Ele é espírito e matéria;
ele é paz e poder; nele está Caos e Noite e Pã; e em BABALON, sua concubina,
que o embriagou do sangue dos santos que ela colheu em sua taça dourada, gerou
ele a virgem que agora ele realmente deflora. E isto é o que está escrito: Malkuth será guindada e colocada no
trono de Binah. E esta é a pedra
filosofal que é posta como um selo sobre o Túmulo
de Tetragrammaton, e o elixir da vida que é destilado do sangue dos santos
e o pó vermelho que é o trituramento dos ossos de Choronzon.
Terrível e
maravilhoso é o mistério disso, ó tu Titã que subiste ao leito de Juno ! Certamente
estás preso e rompido sobre a roda; e contudo descobriste a nudez
da Santa, e a Rainha do Céu está
em trabalho de parto de uma criança e seu nome será Vir, e Vis, e Virus, e
Virtus, e Viridis, em um nome que é todos estes, e acima de todos estes. *****
***** Vi Veri Vniversum Vivus Vici, o mote de
Mestre Therion como um 8 = 3.
(((acrescer os símbolos aos números)))
-
- -
O excerto a
seguir proveniente de Liber Aleph, o Livro
da Sabedoria ou Loucura, pode também auxiliar a elucidação do significado
desta carta.
“Tahuti, ou
Thoth, confirmou a Palavra de Dionísio continuando-a, pois mostrou como pela
Mente era possível dirigir as Operações da Vontade. Pela Crítica e pela Memória
registrada o Homem evita o Erro e a Repetição do Erro. Mas a verdadeira Palavra
de Tahuti era A M O U N, por meio da qual Ele fez os Homens entenderem sua Natureza
secreta, ou seja, sua unidade com seus Eus Verdadeiros, ou, como eles diziam
então, com Deus. E ele descobriu junto a eles a Senda dessa Obtenção, e a
relação dela com a Fórmula de INRI. E também por seu Mistério do Número ele
evidenciou o Caminho para Seu Sucessor para declarar a
Natureza do Universo inteiro em sua Forma e em sua Estrutura, como se fosse uma
Análise dele, fazendo para a Matéria o que foi decretado que o Buda fizesse
para a Mente.”
FORTUNA
R.O.T.A. - A Roda *
* The Vision and the Voice (quarto
Aethyr).
“Entra um
pavão na pedra, preenchendo todo o Ar. É
como a visão chamada de o Pavão Universal, ou melhor, como uma representação
dessa visão. E agora há nuvens incontáveis de anjos brancos preenchendo o Ar à
medida que o pavão dissolve.
“Atrás dos
anjos há arcanjos com trombetas. Estes fazem todas as coisas aparecerem
imediatamente, de maneira que há uma tremenda confusão de imagens. E agora
percebo que todas estas coisas são apenas véus da roda, pois todos eles se
reúnem em uma roda que gira com velocidade incrível. Ela possui muitas cores,
mas todas vibram com luz branca, de sorte que são transparentes e luminosas.
Esta única roda são quarenta e nove rodas, dispostas a diferentes ângulos, de
maneira a comporem uma esfera; cada roda tem quarenta e nove raios e quarenta e
nove aros concêntricos eqüidistantes do centro, e onde quer que seja que se
encontrem os raios de duas rodas quaisquer, há um lampejo ofuscante de glória.
Deve-se compreender que embora tantos detalhes sejam visíveis na roda, a
impressão, entretanto, ao mesmo tempo, é que se trata de um único, simples
objeto.
“Parece que
esta roda está sendo girada por uma mão. Embora a roda preencha todo o Ar,
ainda assim a mão é muito maior que a roda. E embora esta visão seja tão
grandiosa e esplêndida, ainda assim não há
nenhuma seriedade com ela, ou solenidade. Parece que a mão está girando
a roda meramente por prazer - seria melhor dizer divertimento.
“Uma voz é
ouvida: Pois ele é um deus divertido e rubicundo e seu riso é a vibração
de tudo que existe, e os terremotos da
alma.
“Um está
consciente do zumbido da roda vibrando um, como uma descarga elétrica
atravessando um.
“Agora eu
vejo as figuras na roda, que foram interpretadas como a Esfinge com a espada,
Hermanúbis e Tífon. E isto está errado. O aro da roda é uma vívida serpente
esmeralda; no centro da roda há um
coração escarlate, e impossível de ser explicado como o é, o escarlate do
coração e o verde da serpente são ainda mais vivazes do que o brilho branco
ofuscante da roda.
“As figuras
na roda são mais escuras do que a própria roda; aliás, são manchas sobre a
pureza da roda, e por esta razão, e devido ao giro da roda, não consigo vê-las.
Mas no alto parece ser o Cordeiro e o Estandarte, como se vê em algumas
medalhas cristãs, e uma das coisas inferiores é um lobo, e a outra, um corvo. O
símbolo do Cordeiro e o Estandarte é muito mais brilhante do que os outros
dois. Ele se mantém crescendo em brilho até que agora está mais brilhante que a
própria roda e ocupa mais espaço do que ela ocupava.
“Ele fala:
sou o maior dos enganadores, pois minha pureza e inocência seduzirá o puro e o
inocente que apenas através de mim deverão vir ao centro da roda. O lobo trai
somente o ganancioso e o traiçoeiro; o corvo trai somente o melancólico e o
desonesto. Mas eu sou aquele de quem está escrito: Ele enganará os próprios
eleitos.
“Pois no
princípio o Pai de Tudo convocou espíritos da mentira para que pudessem
peneirar as criaturas da Terra em três peneiras, de acordo com as três almas
impuras. E ele escolheu o lobo para a luxúria da carne e o corvo para a luxúria
da mente, mas a mim ele escolheu acima de tudo para simular a presteza pura da
alma. Aqueles que caíram presas do lobo e
do corvo eu não feri, mas aqueles que me rejeitaram eu entreguei à ira do corvo
e do lobo. E as mandíbulas de um os despedaçaram, e o bico do outro devorou os
cadáveres. E portanto é meu estandarte branco, pois não deixei nada sobre a
Terra vivo. Banqueteei-me do sangue dos Santos, mas os homens não suspeitam que
seja eu inimigo deles pois meu tosão é alvo e cálido e meus dentes não são os
dentes daquele que rasga carne; e meus olhos são suaves e eles não me conhecem
como o chefe dos espíritos da mentira que o Pai de Tudo enviou de ante sua face
no princípio.
(“Sua
atribuição é o sal; o lobo, mercúrio e o corvo, enxofre).
“E agora o
Cordeiro diminui de tamanho novamente, não há novamente nada exceto a roda, e a
mão que a gira.
“E eu disse:
‘Pela palavra do poder, dupla na voz do Mestre; pela palavra que é sete, e um
em sete; e pela grandiosa e terrível palavra 210, eu te peço, ó meu Senhor, que
me conceda a visão de tua Glória.’ E todos os raios da roda afluem para mim e
eu sou colhido e cego pela luz. Eu sou pego dentro da roda. Eu sou um com a
roda. Eu sou maior que a roda. Em meio a uma miríade de relâmpagos eu permaneço, e contemplo a face dele (sou
lançado violentamente de volta à terra a cada segundo, de modo que não consigo
absolutamente me concentrar).
“Tudo que se
consegue é uma chama líquida de um dourado pálido. Mas sua força radiante se
mantém me arremessando para trás.
“E eu digo:
Pela palavra e a vontade, pela penitência e a oração, deixa-me contemplar teu
rosto (não consigo explicar isto, há confusão de personalidades). Eu que falo a
você, vejo o que digo a você; mas eu, que o vejo, não consigo comunicá-lo a
mim, quem fala a você.
“Se se fosse
capaz de olhar fixamente para o sol ao meio-dia, isto poderia assemelhar-se à
substância dele. Mas a luz é sem calor. É a visão de Ut nos
Upanishads. E desta visão procederam todas as lendas de Baco e Krishna e
Adônis. Pois a impressão é de um jovem dançando e compondo música. Mas você
deve entender que ele não está fazendo isso, pois ele está imóvel. Mesmo a mão
que gira a roda não é sua mão, mas apenas uma mão energizada por ele.
“E agora é a
dança de Shiva. Eu deito abaixo de seus pés, seu santo, sua vítima. Minha forma
é a forma do deus Phtah, em minha essência, mas a forma do deus Seb é minha forma. E esta é a razão da
existência, que nesta dança que é deleite, tem que haver tanto o deus quanto o
adepto. Ademais, a própria terra é uma santa, e o sol e a lua bailam sobre ela,
torturando-a deliciosamente.”
VOLÚPIA
Babalon *
* De The Vision and the Voice.
No Atu VII o
auriga porta o Graal da Grande Mãe.
Eis a visão:
“O auriga
fala numa voz baixa, solene, inspiradora de reverência, com um sino muito
grande e muito distante: Que ele considere a taça cujo sangue ali está
mesclado, pois o vinho da taça é o sangue dos santos. Glória à Mulher
Escarlate, Babilônia, a Mãe das Abominações, a qual cavalga a Besta, pois ela
derramou o sangue deles em todo canto da Terra, e repara ! ela o misturou na taça de sua prostituição.
“Com o alento
de seus beijos ela o fermentou e ele se converteu no vinho do Sacramento, o
vinho do Sabá, e na Assembléia Santa ela o verteu para seus adoradores e eles
se embriagaram com isso, de sorte que face à face contemplaram meu Pai. Deste
modo foram eles feito dignos de se tornarem participantes do Mistério deste
cálice sagrado, pois o sangue é a vida. Assim tem ela assento de idade à idade,
e os justos jamais se cansam de seus beijos, e por seus assassinatos e
fornicações seduz ela o mundo. Aí é manifestada a glória de meu Pai, quem é
Verdade.
[“Este vinho
é tal que sua virtude irradia através da taça, e eu cambaleio sob a intoxicação
dele. E todo pensamento é destruído por ele. Ele reside sozinho e seu nome é
Compaixão. Entendo por ‘Compaixão’ o sacramento do sofrimento, partilhado
pelos verdadeiros veneradores do
Altíssimo. E é um êxtase no qual não há traço de dor. Sua passividade (=
paixão) é como a rendição do eu ao amado].
“A voz
continua: Este é o Mistério de Babilônia, a Mãe das Abominações, e este é o
mistério de seus adultérios,** pois ela se entregou a tudo que vive, e se
tornou uma participante nesse mistério. E pelo fato de ter feito de si a serva
de cada um, tornou-se ela, por conseguinte, a amante de todos. Não até então
podes tu compreender sua glória.
** A doutrina
aqui formulada é idêntica àquela de todo o mistério
da perfeição entendendo a si mesmo mediante a experiência de toda a imperfeição possível, como explicado
alhures neste ensaio.
“Bela és tu,
ó Babilônia, e desejável pois te entregaste a tudo que vive, e tua fraqueza
subjugou sua força. Pois nessa união tu
com efeito entendeste. Por isso és tu chamada
Entendimento, ó Babilônia, Senhora da Noite !
“Isto é o que
está escrito: ‘ Ó meu Deus, num último arrebatamento deixa-me atingir a união
com os muitos ! Pois ela é Amor, e seu amor é um; e ela dividiu o amor uno em
amores infinitos e cada amor é um, e igual com O Um e, por isso, passou ela ‘
da assembléia e da lei e da iluminação à anarquia da solidão e da escuridão.
Pois sempre assim necessita ela velar o brilho de Seu eu.’
“Ó Babilônia,
Babilônia, tu Mãe poderosa, que montas a besta coroada, deixa-me embriagar-me
no vinho de tuas fornicações; deixa que teus beijos me desregrem rumo à morte,
que mesmo eu, teu portador da taça, possa entender.
“Agora,
através do rubor da taça, posso perceber bem acima, e infinitamente grandiosa,
a visão de Babilônia. E a Besta que ela monta é o Senhor da Cidade das Pirâmides,
que eu contemplei no décimo quarto Aethyr.
“Agora aquilo
se foi no rubor da taça, e o Anjo diz: Até agora não podes tu entender o
mistério da Besta, pois ele não pertence ao mistério deste Ar, e poucos que são
recém-nascidos do Entendimento são dele capazes.
“A taça
incandesce sempre mais resplandecente e mais ígnea. Todo meu sentido está
instável, inflamado no êxtase.
“ E o Anjo
diz: Abençoados sejam os santos, que seu sangue seja misturado na taça, e não
possa ser separado mais. Pois Babilônia, a Bela, a Mãe das abominações, jurou
por sua santa kteis, de que cada ponto é uma dor aguda e
repentina, que não descansará de seus adultérios até que o sangue de tudo que
vive seja aí juntado e o vinho dele armazenado e maturado e consagrado, e digno
de alegrar o coração de meu Pai. Pois meu Pai está exausto com o esforço antigo
e não visita o leito dela. Todavia, será este vinho perfeito a quintessência, e
o elixir e bebendo-o ele renovará sua juventude; e assim será eternamente, à
medida que com o desenrolar das idades os mundos dissolverão e mudarão, e o
Universo revela a si mesmo como uma Rosa
e se fecha como a Cruz que está inclinada dentro do Cubo.
E esta é a
comédia de Pã, a qual é representada à noite na floresta espessa. E este é o
mistério de Dionísio Zagreus, o qual é celebrado sobre a montanha santa de
Kithairon. E este é o segredo dos Irmãos da Rosy
Cross; e este é o coração do ritual que é realizado na Abóbada dos Adeptos
que está ocultada na Montanha das Cavernas, mesmo a Montanha Santa Abiegnus.
“E este é o
significado da Ceia da Páscoa, o derramamento do sangue do Cordeiro sendo um
ritual dos Irmãos Negros, pois eles selaram o Pilone com sangue, para que o
Anjo da Morte aí não entre. Assim se desligaram eles da companhia dos santos.
Assim se guardam eles da compaixão e do entendimento. Amaldiçoados são eles
pois prenderam seu sangue em seus corações.
“Eles se
guardam dos beijos de minha Mãe, Babilônia, e em sua fortalezas solitárias oram
à falsa lua. E se obrigam juntos a um juramento, e a uma grande maldição. E em
sua malignidade conspiram juntos, e eles têm poder, e domínio, e em seus caldeirões fervem o vinho
azedo da ilusão, misturado ao veneno de seu egoísmo.
“Assim eles
fazem guerra ao Santo, enviando sua ilusão aos homens e a tudo que vive. De
maneira que sua falsa compaixão é chamada compaixão e seu falso entendimento é
chamado entendimento, pois este é seu feitiço mais potente.
“Contudo, de
seu próprio veneno perecem e em suas fortalezas solitárias serão devorados pelo
Tempo que os enganou para servi-lo, e pelo poderoso demônio Choronzon, seu
mestre, cujo nome é a Segunda Morte,
pois o sangue que eles borrifaram em seu Pilone, que é uma barreira contra o
Anjo da Morte, é a chave pela qual ele entra. “
“ARTE”
A Seta *
* De The Vision and the Voice,
quinto Aethyr.
Agora, então,
vê como a cabeça do dragão é apenas a
cauda do Aethyr ! Muitos são aqueles que lutando abriram seu caminho de mansão
à mansão da Casa Eterna, e contemplando-me, finalmente, retornaram, declarando
“Medonho é o aspecto do Poderoso e Terrível”. Afortunados são aqueles que me
conheceram por quem sou. E que seja glorificado aquele que fez de minha
garganta uma passagem para sua seta de verdade, e a lua para sua pureza.
A lua mingua.
A lua mingua. A lua mingua. Pois nessa seta está a Luz da Verdade que sobrepuja
a luz do sol, por meio da qual ela brilha. A seta está emplumada com as penas
de Maat que são as setas de Amoun, e a haste é o falo de Amoun, o Oculto. E sua
ponta é a estrela que tu viste no sítio onde não havia Nenhum Deus.
E entre
aqueles que guardavam a estrela não foi encontrado nenhum digno de manejar a
Seta. E entre aqueles que veneravam não foi encontrado nenhum digno de
contemplar a Seta. Todavia, a estrela que viste era somente a ponta da Seta e
não tiveste a perspicácia para pegar a haste, ou a pureza para divinizar as
plumas. E portanto abençoado é aquele que nasceu sob o signo da Seta, e
abençoado é aquele que possui o sigillum da
cabeça do leão coroado e o corpo da Serpente e a Seta também.
E, contudo,
deves distinguir entre as Setas ascendente e descendente pois a Seta ascendente
é limitada em seu vôo e é disparada por uma mão firme, pois Jesod é Jod
Tetragrammaton, e Jod é uma mão, mas a seta descendente é disparada pelo ponto
mais alto do Jod, e este Jod é o Eremita, e é o ponto diminuto que não é
estendido, que está próximo do coração de Hadit.
E agora é a
ti ordenado que te furtes da Visão, e no amanhã, na hora indicada, será ela concedida mais a ti,
à medida que percorres tua senda, meditando este mistério. E convocarás o
Escriba, e aquilo que deverá ser escrito, será escrito.
E portanto me
detenho, como sou ordenado. O Deserto entre Benshrur e Tolga.
12 de dezembro de 1909. 7 - 8. 12 meia-noite.
Agora então
te aproximaste de um Arcanum augusto; em verdade chegaste à antiga Maravilha, a
lua alada, as Fontes do Fogo, o Mistério da Cunha. Mas não sou eu que posso
revelá-lo, porque nunca me foi permitido contemplá-lo, que sou apenas o
vigilante no limiar do Aethyr. Minha mensagem está dita, e minha missão está
cumprida. E eu me detenho, cobrindo meu rosto com minhas asas, ante a presença
do Anjo do Aethyr.
Assim o Anjo
partiu com a cabeça inclinada, cruzando suas asas.
E há uma
pequena criança numa névoa de luz azul; ela possui cabelos dourados, uma massa
de caracóis e olhos de azul profundo. Sim, ela é toda dourada, de um ouro vivo,
vívido. E em cada mão ela tem uma serpente, na direita, uma vermelha, na
esquerda, uma azul. E ela tem sandálias vermelhas, mas nenhuma outra veste.
E ela diz:
Não é a vida uma longa iniciação ao pesar ? E não é Ísis a Senhora do Pesar ? E
ela é minha mãe. Natureza é o seu nome,
e ela tem uma irmã gêmea, Néftis, cujo nome é Perfeição. E Ísis deve ser
conhecida de todos, mas de quão poucos é Néftis conhecida ! Porque ela é
escura, e portanto ela é temida.
Mas tu que a
adoraste sem medo, que fizeste de tua vida uma iniciação ao Mistério dela, tu
que não tens nem mãe nem pai, nem irmã, nem irmão, nem esposa nem filho, que te
fizeste solitário como o caranguejo-ermitão que está nas águas do Grande Mar,
vê ! quando os sistros são sacudidos e as trombetas proclamam alto a glória de
Ísis, ao fim, portanto, há silêncio, e tu comungarás com Néftis.
E tendo
conhecido estas, há as asas de Maut, o Abutre. Tu podes distender ao máximo o
arco de tua vontade mágica; podes liberar a flecha e perfurá-la no coração. Eu
sou Eros. Toma então o arco e a aljava dos meus ombros e mata-me, pois a menos
que me mates não desvelarás o Mistério do Aethyr.
E assim eu
fiz como ele ordenou; na aljava havia duas setas, uma branca, uma negra. Eu não
consigo ajustar uma seta ao arco.
E soou uma
voz: Ela deve necessitar-me.
E eu disse:
Nenhum homem é capaz de fazer isto.
E a voz
respondeu, como se fora um eco: Nemo hoc
facere potest.
Então o
entendimento me atingiu, e eu tomei as Setas. A seta branca não tinha ponta,
mas a seta negra era pontiaguda como uma floresta de anzóis; era toda orlada de
metal e havia sido embebida em veneno mortal. E então Ajustamento a seta branca
à corda do arco e disparei contra o coração de Eros, e embora tenha disparado
com toda minha força, ela caiu inócua do seu lado. Mas naquele momento a seta
negra era enterrada em meu próprio coração. Estou repleto de terrível agonia.
E a criança
sorri e diz: Embora tua flecha não tenha
me trespassado, embora a ponta envenenada tenha te atravessado, ainda assim
estou morto e tu vives e triunfas, pois eu sou tu e tu és eu.
Com isso ele
desaparece e o Aethyr se fragmenta com um estrondo como de dez mil trovões.
E olha, A Seta ! As penas de Maat são
sua coroa, dispostas em torno do disco. É a coroa Ateph
de Thoth, e há o feixe de luz ardente, e abaixo há uma cunha de prata.
Eu me arrepio
e estremeço diante da visão pois à toda sua volta há espirais e torrentes de
fogo tempestuoso. As estrelas do céu são apanhadas nas cinzas da chama. E elas
são todas escuras. Aquilo que era um sol fulgurante é como uma pequena mancha
de cinza. E no meio a Seta arde !
Vejo que a
coroa da Seta é o Pai de toda a Luz, e a haste da Seta é o Pai de toda a Vida,
e a ponta da Seta é o Pai de todo o Amor. Pois aquela cunha de prata é como uma
flor de lótus, e o Olho no interior da Coroa Ateph brada: eu vigio. E a Haste brada: eu trabalho. E a Ponta
brada: eu espero. E a voz do Aethyr ecoa: Ela irradia. Ela arde. Ela floresce.
E agora surge
um pensamento estranho; esta Seta é a fonte de todo o movimento; é movimento
infinito, ainda que ela se mova, de sorte que não há nenhum movimento. E, por isso, não há nenhuma matéria. Esta Seta
é o olhar rápido do Olho de Shiva. Mas por não se mover, o universo não é
destruído. O universo é tornado manifesto e
tragado no tremor das plumas de Maat, que são as plumas da Seta; mas
estas plumas não tremem.
E soa uma
voz: Aquilo que está acima não é como
o que está abaixo.
E uma outra
voz lhe responde: Aquilo que está abaixo
não é como o que está acima.
E uma
terceira voz responde a essas duas: O que está acima e o que está abaixo ? Pois
há a divisão que não divide e a multiplicação que não multiplica. E o Um é o
Muitos. Vê, este Mistério ultrapassa o entendimento, pois o globo alado é a
coroa e a haste é a sabedoria, e a ponta é o entendimento. E a Seta é um, e tu
estás perdido no Mistério, tu que não és senão como um bebê que é carregado no
útero de sua mãe, que não estás ainda pronto para a luz.
E a visão me
domina. Meus sentidos estão atordoados: murcha está minha visão, embotada está
minha audição.
E soa uma
voz: Tu buscaste realmente o remédio do pesar; por isso todo o pesar é tua
porção. Isto é o que está escrito: “Deus sobre ele depositou a iniqüidade de
todos nós.” Pois como teu sangue está misturado na taça de BABALON, assim é teu
coração o coração universal. E, não obstante, está ele envolvido pela Serpente
Verde, a Serpente do Deleite.
É-me mostrado
que esse coração é o coração que regozija, e a serpente é a serpente de Daäth,
pois aqui todos os símbolos são intercambiáveis, pois cada um contém em si seu
próprio oposto. E este é o grande Mistério das Superiores que estão além do
Abismo. Pois abaixo do Abismo, contradição é divisão, mas acima do Abismo ,
contradição é Unidade. E não poderia haver nada verdadeiro exceto em virtude da
contradição que está contida em si mesma.
Tu não podes
acreditar quão maravilhosa é esta visão da Seta. E não poderia jamais ser
excluída, a não ser que os Senhores da Visão turvassem as águas do lago, a
mente do Vidente. Mas eles enviam um vento que é uma nuvem de Anjos, e eles
golpeiam a água com seus pés, e pequenas ondas se movem para cima - são
memórias. Pois o vidente não tem cabeça; esta está expandida no universo, um vasto e silente
mar, coroado com as estrelas noturnas. E no entanto no seu próprio meio está
a seta. Pequenas imagens de coisas que foram, são a espuma sobre as ondas. E há
uma disputa entre a Visão e as memórias. Eu orava aos Senhores da Visão,
dizendo: Ó meus Senhores, não afastai esta maravilha de minha vista.
E eles
disseram: É preciso que as necessidades sejam. Rejubila, pois, se lhe foi
permitido contemplar, mesmo que por um momento, esta Seta, a austera, a
augusta. Mas a visão está consumada, e enviamos um grande vento contra ti. Pois
não podes penetrar pela força quem a recusou; nem pela autoridade, pois tu a
esmagaste sob o pé. Tu estás despojado de tudo exceto do entendimento, ó tu que
não és mais do que um montículo de pó !
E as imagens
se erguem contra mim e me constrangem, de maneira que o Aethyr é fechado para
mim. Somente as coisas da mente e do corpo estão abertas para mim. A pedra da
revelação está baça, pois o que vejo aí não passa de uma memória.
O UNIVERSO
O Universo
Virgem *
* De The Vision and the Voice,
nono Aethyr.
“Chegamos a
um palácio do qual cada pedra é uma jóia separada, engastada com milhões de
luas.
“E este
palácio não é senão o corpo de uma mulher, orgulhoso e delicado, e que
ultrapassa a imaginação em beleza. Ela é como uma criança de doze anos. Ela
possui pálpebras muito profundas e cílios longos. Seus olhos estão fechados, ou
quase fechados. É impossível dizer qualquer coisa acerca dela. Está nua; seu
corpo inteiro é coberto de finos pelos de ouro, os quais são as flamas
elétricas que são as lanças de poderosos e terríveis Anjos, cujos peitos de armas
são as escamas da pele dela. E os cabelos de sua cabeça, os quais flutuam até
seus pés, são a própria luz do próprio Deus. De todas as glórias contempladas
pelo Vidente nos Aethyrs não há sequer uma digna de ser comparada à unha do
menor dos dedos dela. Pois embora ele não possa participar do Aethyr sem as
preparações cerimoniais, mesmo a contemplação desse Aethyr é de longe como a
participação de todos os Aethyrs anteriores.
“O Vidente
está perdido no espanto, que é Paz.
“E o anel do
horizonte acima dela é uma companhia de gloriosos Arcanjos de mãos dadas, que
se levanta e canta: Esta é a filha de BABALON, a Bela, que ela gerou para o Pai
de Tudo. E para todos ela a gerou.
“Esta é a
Filha do Rei. Esta é a Virgem da Eternidade. Esta é aquela que o Santo arrancou
do Tempo Gigante e o prêmio daqueles que superaram o Espaço. Esta é aquela que
é colocada no Trono do Entendimento.
Santo, Santo, Santo é o nome dela, não para ser falado entre os homens. Pois de
Koré eles a chamaram, e de Malkah, e de Betulah, e de Perséfone.
“E os poetas
simularam canções a respeito dela, e os profetas discursaram coisas vãs, e os
jovens sonharam sonhos vãos: mas esta é ela, essa imaculada, o nome de cujo
nome não se permite enunciar. O pensamento não é capaz de penetrar a glória que
a preserva e nos mais antigos livros de magia não há nem palavras para
conjurá-la nem adorações para louvá-la. A vontade se dobra como um junco nas
tempestades que varrem as fronteiras de seu reino, e a imaginação não é capaz
de figurar mais do que uma pétala dos lírios nos quais ela se coloca no lago de
cristal, no mar de vidro.
“Esta é
aquela que ornou seu cabelo com sete
estrelas, os sete alentos de Deus que movem e vibram sua excelência. E ela cansou
seu cabelo com sete pentes, onde estão escritos os sete nomes secretos de Deus
que não são conhecidos mesmo dos Anjos, ou
dos Arcanjos, ou do Condutor dos
exércitos do Senhor.
“Santo,
Santo, Santo és tu, e abençoado seja teu nome para sempre, para quem os Aeons
são tão-só pulsações de teu sangue.”
TERCEIRA PARTE
- AS CARTAS DA CORTE
((ilustr. Ás de Espadas))
III
OBSERVAÇÕES
GERAIS
Estas cartas
constituem uma análise pictórica dos poderes das quatro letras do nome * e dos quatro elementos. Referem-se
também ao zodíaco, mas em lugar de atribuir os três decanatos de cada signo a
uma carta, a influência principia com o último decanato de um signo e continua
com o segundo decanato do seguinte. Existe uma outra dificuldade. Poder-se-ia
muito bem esperar que a atribuição do elemento se harmonizasse com a atribuição
zodiacal, mas não é assim. Por exemplo, seria de se esperar que a parte ígnea
do fogo se referisse ao mais ativo
dos signos do fogo, a saber, Áries. Pelo contrário, ela representa o último
decanato de Escorpião e os dois primeiros de Sagitário, que é a parte aquosa do
fogo no zodíaco, e a de influência
mais suave.
* O Tetragrammaton, ou seja, YHVH
((grafar em hebraico na editoração)) (NT).
A razão disso
é que no domínio dos elementos todas as coisas estão mescladas e confundidas;
ou, como o apologista poderia dizer, contra-checadas e contrabalançadas. A
conveniência desses arranjos é que essas cartas são adequadas ao serem
descritivas, de uma maneira aproximada e empírica, de tipos diversos de homens
e mulheres. Pode-se dizer resumidamente que qualquer dessas cartas constitui um
retrato da pessoa cujo sol, ou cujo
signo ascendente em sua natividade, caia dentro da atribuição zodiacal da
carta. Assim, uma pessoa nascida a 12 de outubro poderia possuir muitas das
qualidades da rainha de Espadas, enquanto que se tivesse
nascido logo antes da meia-noite, ela teria acrescentadas muitas das
características do príncipe de Bastões.
CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS QUATRO DIGNITÁRIOS
Os cavaleiros representam os poderes da
letra Yod no nome. Constituem a parte mais sublime, original e ativa da energia
do elemento, motivo pelo qual são representados montados à cavalo e envergando
armadura completa. A ação deles é célere e violenta, mas passageira. No
elemento fogo, por exemplo, o cavaleiro corresponde
ao relâmpago, no elemento água à chuva e às fontes, no elemento ar ao vento, e
no elemento terra às montanhas. É muito importante a título de exercício mental
desenvolver para si essas correspondências entre o símbolo e as forças naturais que representa, sendo essencial para
o trabalho mágico prático ter assimilado esse conhecimento.
As rainhas representam a letra Hé do
nome. São os complementos dos cavaleiros. Recebem, fermentam e
transmitem a energia original de
seu cavaleiro.
Ligeiras na recepção dessa energia, as rainhas
estão também qualificadas para durar pelo período de sua função. Mas elas
não são o produto final. Representam o segundo estágio no processo de criação
do qual o quarto e último estado é a realização material. São representadas
sentadas sobre tronos. Isto enfatiza o fato de serem indicadas para exercer
funções definidas.
Os príncipes
representam as forças da letra Vau no nome. O príncipe é o filho da rainha (a filha do antigo rei)
pelo cavaleiro que a conquistou, sendo, por isso, representado numa biga,
avançando para levar a cabo a energia combinada
de seus pais. Ele é o produto ativo da união deles e sua manifestação. É a
imagem intelectual de sua união. Sua ação é conseqüentemente mais duradoura do
que a de seus ascendentes. Num aspecto, de fato, o príncipe adquire uma
relativa permanência porque é o registro público do que foi feito em segredo.
Além disso, ele é o deus que morre redimindo
sua noiva na hora e em virtude de seu
assassinato.
As princesas representam a Hé final do nome. Representam o produto final da energia original em seu
complemento, sua cristalização, sua materialização. Representam, ademais, o
contrabalanceamento, a reabsorção da energia.
Representam o silêncio para o qual todas as coisas retornam. São, assim, ao
mesmo tempo permanentes e não-existentes. Um exame da equação 0 = 2.
As princesas não possuem atribuição
zodiacal. Contudo, evidentemente representam quatro tipos de ser humano. São
aquelas numerosas pessoas “elementares” que reconhecemos por sua falta de todo
senso de responsabilidade, cujas qualidades morais parecem “não causar forte impressão.” São
subdivididas de acordo com a predominância planetária. Tais tipos têm sido
reiteradamente descritos na ficção. Como Éliphas Lévi escreveu: “O amor do Mago
por essas criaturas é insensato e pode destruí-lo”.
As relações
entre esses quatro elementos do nome são
extraordinariamente complexas, e sua discussão está inteiramente além dos
limites de qualquer tratado ordinário;
mudam a cada aplicação do pensamento ao seu significado.
Por exemplo,
mal fez a princesa sua aparição e o príncipe a conquista em casamento e ela
é colocada no trono de sua Mãe. Ela assim desperta a longevidade
do velho rei original, o qual logo após se converte num jovem cavaleiro, e
deste modo renova o ciclo. A princesa não
se limita a ser a perfeita donzela,
mas, devido à morte do príncipe,
também a é viúva desconsolada que
lamenta. Tudo isto ocorre nas lendas características do Aeon de Osíris. É
decididamente quase impossível desenredar essas complicações, mas para o
estudante será suficiente que se satisfaça em trabalhar com uma lenda por vez.
É natural que
o Aeon de Osíris, o regímen do ar, do
conflito, do intelecto deva assim ser confuso, que seus símbolos e fórmulas
devam se sobrepor, devam se contradizer entre si. É impossível harmonizar as
numerosas fábulas ou parábolas, porque cada uma foi inventada para frisar
alguma fórmula considerada imperativa para
atender à alguma finalidade local ou temporal.
DESCRIÇÃO SUMÁRIA
DAS DEZESSEIS CARTAS
DA CORTE
Cavaleiro de
Bastões
O cavaleiro de Bastões representa a parte
ígnea do fogo. Rege do vigésimo primeiro grau de Escorpião ao vigésimo grau de
Sagitário. Ele é um guerreiro em armadura completa. Como cimeira do seu elmo
ele usa um cavalo negro. Em sua mão porta uma tocha flamejante e uma chama
também em seu manto. Ele cavalga as chamas. Seu cavalo é um corcel negro que
empina.
As qualidades
morais próprias a esta figura são atividade, generosidade, ardor,
impetuosidade, orgulho, impulsividade, celeridade em ações imprevisíveis. Se
energizado erroneamente, ele é malvado, cruel, intolerante e brutal. Ele é num
caso ou outro mal qualificado para dar seguimento à sua ação; não dispõe de
recursos para modificá-la conforme as circunstâncias. Se falha em seu primeiro
esforço, não tem a que recorrer.
No Yi King, a parte ígnea do fogo é
representada pelo qüinquagésimo primeiro hexagrama, Kan. A significação aí dada é inteiramente concordante com a
doutrina do Tarô, mas grande ênfase é depositada no caráter surpreendente, perigoso e
revolucionário dos eventos cognatos. O inquiridor é aconselhado a ser perspicaz
e, todavia, tranqüilo, resoluto e enérgico: acautelar-se com ações inoportunas,
mas ir à frente com firme confiança em sua própria habilidade.
Todas essas
correspondências do Yi King devem ser
estudadas naquele livro (S. B. E., vol. XVI) e aqui é feita referência ao texto
quando trechos importantes são longos demais para serem convenientemente
citados.
Rainha de
Bastões
A rainha de Bastões representa a parte
aquosa do fogo, sua fluidez e cor. Além disso, ela rege no zodíaco do vigésimo
primeiro grau de Peixes ao vigésimo grau de Áries. Sua coroa é encimada com o
globo alado e raios de chama. Seu longo cabelo vermelho dourado desliza sobre
sua armadura de cota de malha em escamas. Está sentada num trono de chama, disposto em luz
geométrica pelo poder material dela. Abaixo do trono as chamas ondulantes são
estáveis. Ela segura um bastão na mão esquerda, o qual é, entretanto, encimado
por um cone sugestivo dos mistérios de Baco. É servida por um leopardo agachado
de cabeça erguida sobre cuja cabeça ela pousa a mão. O rosto dela expressa o
êxtase de alguém cuja mente está bem introspectivamente seduzida pelo mistério
alimentado sob seu peito.
As características
da rainha são adaptabilidade, energia persistente, autoridade tranqüila que ela
sabe como usar para aumentar sua atração. Ela é amável e generosa, mas a
oposição a impacienta. Tem imensa capacidade para a amizade e o amor, mas
sempre mediante sua própria iniciativa.
Há tanto
orgulho nesta carta quanto no cavaleiro,
mas falta-lhe a nobreza espontânea que escusa aquele erro. Não se trata de
orgulho genuíno, mas sim de vaidade auto-complacente e mesmo esnobismo.
O outro lado
de seu caráter é que ela pode ter uma tendência para cismar, chegar a uma
decisão errada a partir daí e reagir com
grande selvageria. Ela é facilmente enganável e então é provável que se mostre
estúpida, obstinada, tirânica. Pode não tardar a ofender-se e abrigar desejo de
vingança sem boa causa. Poderia voltar-se e ser ríspida com seus melhores
amigos sem uma justificativa inteligível. Ademais, quando ela erra a mordida,
quebra a mandíbula !
No Yi
King a parte aquosa do fogo é representada pelo décimo sétimo hexagrama, Sui. Indica reflexão sobre o impulso e o
conseqüente fluxo uniforme da ação. Há uma grande capacidade para a concepção
lúcida e o firme prosseguimento do trabalho, mas isto é somente sob o comando e
a orientação de alguma mente criativa. Há uma tendência a ser volúvel, mesmo
desleal; as idéias que ela acata
não produzem impressão profunda
ou permanente. Ela se “apegará ao garoto e deixará escapar o homem maduro e
experiente” ou o contrário (linhas 2 e 3) sem compreender o que está fazendo. É
passível de acessos de melancolia que
ela procura curar com rodadas de bebida ou explosões apavoradas de fúria
imponderada.
Príncipe de
Bastões
O príncipe de Bastões representa a parte
aérea do fogo, com sua faculdade de expansão e
volatilização. Rege do vigésimo primeiro grau de Câncer ao vigésimo grau
de Leão. Ele é um guerreiro de armadura completa de cota de malha
escamada, mas seus braços são nus devido
ao seu vigor e atividade.* Usa uma coroa de raios encimada por uma cabeça de
leão alada, e dessa coroa pende uma
cortina de chamas. No seu peito está o sigillum
de To Mega Therion. Em sua mão esquerda ele porta o bastão da fênix
do Segundo Adepto (no ritual de 5
= 6 da R. R. et A. C. ),
((acrescer símbolos na editoração)) o bastão do poder e energia, enquanto
que com seu outro braço ele segura as rédeas do leão que tira sua biga,** a
biga que é fortalecida por uma roda que irradia chamas. Ele conduz a biga sobre
um mar de flamas, tanto onduladas quanto salientes.
* Isto na versão
original do Tarô de Thoth. Em todas
as posteriores o príncipe de Bastões não
enverga armadura (NT).
** Na versão
original do baralho. Em todas as
posteriores o bastão é empunhado pela mão direita e o braço esquerdo segura as
rédeas (NT).
As qualidades
morais próprias a esta figura são vivacidade e força. Mas ele se inclina, por
vezes, para a ação sob impulso; por vezes facilmente guiado por influências
externas; às vezes, especialmente tratando de insignificâncias, ele é presa da
indecisão. É freqüentemente violento, particularmente ao expressar uma opinião,
mas não mantém necessariamente a opinião que defende tão enfaticamente. Enuncia
uma proposição vigorosa pelo simples motivo de enunciá-la. Na verdade, ele é
muito lento para decidir-se inteiramente sobre qualquer assunto, mas sempre
enxerga ambos os lados de toda questão. É essencialmente justo, mas sente
sempre que a justiça não é para ser atingida
no mundo intelectual. Possui caráter intensamente nobre e generoso. Pode
ser um extravagante fanfarrão, enquanto que às escondidas ri tanto do objeto de
sua jactância quanto de si mesmo por jactar-se daquilo. É romântico,
especialmente em assuntos referentes à história e a tradição, até as raias da
loucura e pode engendrar “truques” e pregar elaboradas peças. É possível que
escolha algum joão-ninguém inofensivo e o persiga durante anos munido de todas
as armas de ridicularização, tal como Swift atormentava o infeliz Partridge,
tudo sem o menor ânimo, pronto para abrir mão da camisa que usa se sua vítima a
estar necessitando. Seu senso de humor é onívoro e pode fazer dele uma figura
misteriosa, temida sem razão por pessoas que efetivamente nada sabem a respeito
dele salvo seu nome - como um símbolo de
terror. Isto se deve à influência do
último decanato de Câncer sobre esta carta. Uma de suas maiores faltas é o
orgulho. Alimenta um desprezo infinito por mesquinhez e pequenez de qualquer
espécie. Sua coragem é fanaticamente forte e sua tolerância, incansável. Está
sempre lutando contra probabilidades, e sempre vence a longo -
longuíssimo - prazo, o que se deve principalmente à sua
enorme capacidade de trabalho, o qual ele exerce pelo próprio trabalho, “sem
ânsia de resultado”; talvez seu altivo desprezo pelo mundo como um todo - que,
contudo, coexiste com profundo e extático respeito pelo “todo homem e toda
mulher” como “uma estrela” - seja responsável por isso.
Quando esta
carta é mal dignificada o caráter degenera. Cada uma das qualidades mencionadas
anteriormente é flagrada em sua antítese. Há grande crueldade nele, em parte
sádica e em parte devida à insensibilidade que nasce da indiferença, e - num certo sentido -
preguiça ! Assim, ele pode ser também intolerante, preconceituoso e
ocioso, principalmente porque isto lhe poupa problemas. Além disso, ele pode
ser um fanfarrão vazio e um grande
covarde.
No Yi King, a parte aérea do fogo é
representada pelo quadragésimo segundo hexagrama, Yi, que significa adição, aumento.
Repleto de virtude e confiante disto ele contempla o labor de alcance estupendo,
freqüentemente com a idéia expressa na linha 5: “com coração sincero buscando
beneficiar tubo abaixo”. Nisto pode atingir enorme sucesso. Mas este curso é
desmedidamente perigoso. “Vemos um para cujo aumento nenhum contribuirá,
enquanto muitos tentarão assaltá-lo. Ele não acata nenhuma regra regular na
disposição de seu coração” (linha 6). Evitado esse período, surgem “partidos
que acrescentam ao suprimento de seu assunto dez pares de carapaças de
tartaruga cujos oráculos não podem ser opostos
- que o rei as empregue
apresentando suas oferendas a Deus.... “ (linha 2).
Princesa de
Bastões
A princesa de Bastões representa a parte
terrestre do fogo; poder-se-ia dizer que ela é o combustível do fogo. Esta
expressão sugere a atração química irresistível da substância combustível. Ela
rege os céus em um quadrante da porção em torno do pólo norte.
A princesa é,
portanto, mostrada com as plumas da justiça fluindo como chamas de sua fronte;
e ela está despida, indicando que a ação química só pode ocorrer quando o
elemento está perfeitamente livre para combinar-se com seu parceiro. Ela porta
um bastão coroado com o disco do Sol e salta numa chama ondulante que lembra,
pela sua forma, a letra Yod.
Pode-se dizer
que esta carta representa a dança da sacerdotisa virgem dos Senhores do Fogo,
pois ela está a serviço do altar dourado ornamentado de cabeças de carneiros,
simbolizando os fogos da primavera.
O caráter da
princesa é extremamente individual. Ela é brilhante e arrojada. Cria sua
própria beleza por seu vigor e energia essenciais. A força de seu caráter impõe
a impressão de beleza sobre quem contempla. No ódio ou no amor ela é brusca, violenta e implacável.
Consome tudo que adentra sua esfera. É ambiciosa e repleta de aspiração, cheia
de entusiasmo amiúde irracional. Jamais esquece uma ofensa e a única qualidade
de paciência a ser encontrada nela é a
paciência com a qual fica de emboscada
para se vingar.
Uma tal
mulher, mal dignificada, exibe os defeitos dessas qualidades. Ela é superficial
e teatral, completamente sem profundidade e falsa, e no entanto sem suspeitar
que seja qualquer coisa do tipo, pois ela acredita inteiramente em si mesma,
mesmo quando é aparente ao observador mais comum que ela está meramente no
espasmo do humor. Ela é cruel, inconfiável, pérfida e tirânica.
No Yi
King a parte terrestre do fogo é descrita pelo vigésimo sétimo hexagrama, i . Este mostra uma pessoa onívora em
matéria de paixão de qualquer espécie, completamente indiferente quanto aos meios
a serem empregados para obter satisfação, e insaciável. O comentário Yi é composto pela alternância da
advertência e do encorajamento.
Cavaleiro de
Copas
O cavaleiro de Copas representa a parte
ígnea da água, o ligeiro ataque apaixonado da chuva e das fontes; mais
intimamente, o poder de solução da água. Ele rege os céus do vigésimo primeiro
grau de Aquário ao vigésimo grau de Peixes. Está trajado de armadura negra
munida de asas claras que, somadas à postura do salto de seu cavalo de batalha indica
que ele representa o aspecto mais ativo da água. Na mão direita segura uma taça
da qual emerge um caranguejo, o signo cardeal da água, simbolizando
agressividade. Seu totem é o pavão, pois uma das marcas da água sob sua forma
mais ativa é o brilho. Há aqui também alguma referência aos fenômenos da
fluorescência.
As
características da pessoa por esta carta significada são, no entanto,
majoritariamente passivas, de acordo com a atribuição zodiacal. Ele é gracioso,
diletante, com as qualidades de Vênus, ou de um Júpiter débil. É afável de uma
maneira passiva. É ágil para reagir à atração, tornando-se facilmente
entusiasta sob tal estímulo, mas não é muito persistente. É sumamente sensível
à influência externa, mas seu caráter carece de profundidade material.
Quando a
carta é mal dignificada, ele é sensual, ocioso e mentiroso. E, no entanto, a
despeito de tudo isso, possui uma inocência e pureza que constituem a essência
de sua natureza. Porém ele é, no conjunto, tão superficial que é difícil
alcançar essa profundidade. “Seu nome é escrito na água”.
No Yi King a parte ígnea da água é
representada pelo qüinqüagésimo quarto hexagrama, Kwei Mei. O comentário é singularmente obscuro e um tanto sinistro.
Trata das dificuldades de combinar corretamente opostos tais como fogo e água
(compare com a rainha de Bastões,
embora neste caso a água seja a influência tranqüilizadora e moduladora,
enquanto que aqui é o fogo que cria
problema). Vivacidade e violência se ajustam mal num caráter naturalmente
plácido; é, de fato, raro encontrar uma pessoa que conseguiu harmonizar esses elementos conflitantes. Ele
tende a descontrolar todos os seus negócios, e a menos que a pura sorte o atinja, sua carreira inteira
será um registro contínuo de fracassos e desastres. Com freqüência sua “guerra
civil “ mental termina em esquizofrenia ou insanidade melancólica. O abuso de
estimulantes e narcóticos pode antecipar a catástrofe.
Rainha de
Copas
A rainha de Copas representa a parte
aquosa da água, o poder desta de recepção e reflexão. No zodíaco a regência é
do vigésimo primeiro grau de Gêmeos ao vigésimo grau de Câncer. A imagem dela é
de extrema pureza e beleza, com sutileza infinita; ver sua verdade é
dificilmente possível pois ela reflete a natureza do observador com grande
perfeição.
É
representada entronizada sobre água tranqüila. Em sua mão segura uma taça
semelhante a uma concha, da qual emerge uma pequena lagosta, e ela segura
também o lótus de Ísis, da Grande Mãe. Ela tem como manto e véu curvas sem fim
de luz, e o mar sobre o qual está entronizada
transmite as imagens quase contínuas da imagem que ela representa.
As
características associadas a esta carta são principalmente sonho, ilusão e
tranqüilidade. Ela é a perfeita agente e paciente, capaz de receber e transmitir
tudo sem que ela mesma seja afetada por isso. Se mal dignificada, todas estas
qualidades se degradam. Tudo que passar por ela será refratado e distorcido.
Mas, de modo geral, suas características dependem mormente das influências que
a afetam.
No Yi King, a parte aquosa da água é
representada pelo qüinqüagésimo oitavo hexagrama, Tui. O comentário é tão descolorido quanto a carta; consiste de
suaves exortações a respeito do assunto prazer. Pode-se realmente dizer que
normalmente pessoas desse tipo não possuem nenhum caráter próprio, a não ser
que se possa chamar de característica estar à disposição de todo impacto ou
impressão.
Há,
entretanto, uma sugestão (linha 6) de que o prazer principal de pessoas desse
tipo é conduzir e atrair os outros, sendo tais pessoas, conseqüentemente (com
suficiente freqüência) demasiadamente populares.
Príncipe de
Copas
O príncipe de Copas representa a parte
aérea da água. De um lado, elasticidade, volatilidade, equilíbrio hidrostático;
do outro, a faculdade catalítica e a energia do vapor d’água. Sua regência é do
vigésimo primeiro grau de Libra ao vigésimo grau de Escorpião.
Ele é um
guerreiro parcialmente trajado de armadura, a qual parece, contudo, mais um
desenvolvimento do que um revestimento. Seu elmo é encimado por uma águia, e
sua biga, semelhante a uma concha, também é tirada por uma águia. Suas asas são
tênues, quase de gás. Trata-se aqui de uma referência ao seu poder de
volatilização entendido no sentido espiritual.
Na mão
direita ele tem uma flor de lótus, sagrada ao elemento água, e na mão esquerda
ele segura uma taça da qual sai uma serpente.
O terceiro
totem, o escorpião, não é exibido na figura, visto que a putrefação que representa constitui um
processo extremamente secreto. Abaixo da biga vê-se a água tranqüila e
estagnante de um lago sobre o qual a chuva se precipita pesadamente.
O simbolismo
todo desta carta é sumamente complicado porque Escorpião é o mais misterioso
dos signos e a porção manifestada dele simbolizada pela águia é, na realidade,
a parte menos importante de sua
natureza.
As
características morais da pessoa retratada nesta carta são sutileza, violência
reservada e destreza. O príncipe de Copas é intensamente reservado, um artista
em todos os seus meios. À superfície ele parece calmo e imperturbável, mas se
trata de uma máscara da mais intensa paixão. Superficialmente ele é suscetível
a influências externas, mas as aceita somente para transmutá-las em proveito de
seus projetos secretos. É, assim, completamente destituído de consciência no
sentido ordinário da palavra, sendo portanto geralmente alvo de desconfiança
por parte de seus vizinhos. Eles sentem que não o entendem e não poderão jamais
fazê-lo. De modo que ele inspira um medo irracional. E ele é, de fato,
insensível. Importa-se intensamente com o poder, a sabedoria e suas próprias
metas. Não sente responsabilidade em relação aos outros, e embora suas
habilidades sejam tão imensas, não se pode contar com ele para trabalhar sob a
rotina de alguém.
No Yi King a parte aérea da água é
representada pelo sexagésimo primeiro hexagrama, Kung Fu. Esta é uma das mais importantes figuras no Yi: ele “move mesmo porcos e peixes e
conduz à grande boa fortuna”. Suas dignidade e correspondências são múltiplas e
grandiosas porque ele é igualmente um
“grande Li”, o trigrama do Sol
formado pela duplicação das linhas. Julgando pelo formato, ele sugere um barco,
mas também a figura geomântica de um cárcere,
Saturno em Capricórnio.
Esta carta é,
portanto, uma daquelas de grande poder; Libra passando para Escorpião é de uma
energia e peso tremendos, ativos e críticos. Para tais pessoas boa vontade,
sinceridade e combinação correta são os elementos essenciais do sucesso; seu
perigo é a ambição jactanciosa.
Princesa de
Copas
A princesa de Copas representa a parte
terrestre da água, em particular, a faculdade de cristalização. Representa o poder da água de dar substância
à idéia, sustentar a vida e formar a base da combinação química. É representada
como uma figura que dança, trajada com uma veste flutuante sobre cujas orlas
vêem-se cristais se formando.
Sua cabeça é
encimada por um cisne de asas abertas. O simbolismo deste cisne lembra aquele
do cisne da filosofia oriental, que é a palavra
AUM ou AUMGN, que é símbolo de
todo o processo da criação. *
* Consultar Magick,
onde há uma análise e explicação completas desta palavra.
Ela segura
uma taça coberta da qual emerge uma tartaruga. Trata-se mais uma vez da tartaruga
que na filosofia hindu sustenta o elefante sobre cujas costas está o universo.
Ela dança sobre um mar espumante no qual se entretém um dourado, o peixe real,
que simboliza o poder da criação.
O caráter da
princesa é infinitamente gracioso. Residem em seu caráter toda a doçura, toda a
voluptuosidade, gentileza, amabilidade e ternura. Ela habita o mundo do romance, no sonho perpétuo do
arrebatamento. Sob um exame superficial poder-se-ia julgá-la egoísta e
indolente, mas seria uma impressão completamente falsa pois de maneira
silenciosa e fácil ela executa seu trabalho.
No Yi
King, a parte terrestre da água é representada pelo quadragésimo primeiro
hexagrama, Sun. Isto significa diminuição, a
dissolução de toda a solidez. As pessoas descritas por esta carta são muito
dependentes de outras, mas ao mesmo tempo úteis a estas. Raramente, no máximo,
têm importância individualmente. Como auxiliadoras, são insuperáveis.
Cavaleiro de
Espadas
O cavaleiro de Espadas representa a parte
ígnea do ar; ele é o vento, a tempestade. Representa o poder violento do
movimento aplicado a um elemento aparentemente controlável. Rege do vigésimo
primeiro grau de Touro ao vigésimo grau de Gêmeos. Ele é um guerreiro com elmo
e como cimeira deste ostenta uma asa revolvente. Montado num cavalo
enlouquecido, ele se precipita pelos céus, o espírito da tempestade. Numa das mãos, uma espada, na outra, um
punhal. Ele representa a idéia do ataque.
As qualidades
morais de uma pessoa assim indicada são atividade e habilidade, sutileza e
perícia. Ele é impetuoso, delicado e corajoso, mas completamente a presa de sua
idéia, que a ele acode como uma inspiração sem reflexão.
Se mal
dignificado, ausente o vigor de todas essas qualidades, ele é incapaz de
decisão ou propósito. Qualquer ação que toma é facilmente eliminada do caminho
pela oposição. Violência inadequada significa futilidade. “Chimaera bombinans
in vacuo”.
No Yi King
a parte ígnea do ar é representada
pelo trigésimo segundo hexagrama, Hang. É a primeira oportunidade em que se
revela simples demonstrar o estreito paralelismo técnico que identifica o
pensamento e experiência chineses com aqueles do Ocidente. Pois o significado é
longa continuação: “perseverança no bem-fazer, ou continuamente atuando a lei
do próprio ser, “ como Legge coloca em sua nota ao hexagrama, o que parece
incongruente em relação à idéia qabalística
da energia violenta aplicada ao menos estável dos elementos. Mas o trigrama
do ar também indica madeira, e o hexagrama pode ter sugerido o jorro irresistível
da seiva e seu efeito no fortalecimento da árvore. Esta conjectura é apoiada
pela advertência da linha 6: “A linha mais superior, dividida, mostra seu
tópico excitando a si mesmo à longa continuação. Haverá mal. “
Assim
entendido, a imagem da “chama ampliada
da mente”, como Zoroastro a denomina, pode muito bem ser acrescida à descrição
anterior. É a Vontade Verdadeira explodindo
espontaneamente a mente. A influência de Touro impele para a estabilidade, e a
do primeiro decanato de Gêmeos para a inspiração. Assim retratemo-lo “integer
vitae scelerisque purus”, um feixe de luz do ideal absorvendo a vida toda em aspiração concentrada, passando do
terrestre Touro ao exaltado Gêmeos. Aqui também é mostrado (como no Yi) o perigo ao assunto deste símbolo
pois o primeiro decanato é a carta chamada interferência, ou no baralho antigo, força abreviada.
Rainha de
Espadas
A rainha de Espadas representa a parte
aquosa do ar, a elasticidade deste elemento, e seu poder de transmissão. Rege do
vigésimo primeiro grau de Virgem ao vigésimo grau de Libra. Está entronizada
nas nuvens. A parte superior de seu corpo está
nua, mas ela veste um cinto radiante e um sarão. Seu elmo é encimado
pela cabeça de uma criança e dela fluem nítidos raios luminosos, os quais
iluminam seu império de rocio celestial. À mão direita ela tem uma espada, à
esquerda a cabeça recém cortada de um homem barbudo. Ela é a percepção clara,
consciente da idéia, a libertadora da mente.
A pessoa
simbolizada por esta carta deve ser intensamente perceptiva, um arguto
observador, um intérprete perspicaz, um individualista intenso, ágil e preciso
para registrar idéias; na ação, confiante; no espírito, benevolente e justo. Os
movimentos dessa pessoa serão graciosos e sua capacidade para dançar e se
equilibrar, excepcional.
Se mal
dignificada, todas essas qualidades serão dirigidas para propósitos indignos.
Ela será perversa, dissimulada, velhaca e inconfiável, e desta maneira muito
perigosa devido à beleza e encanto
superficiais que a distinguem.
No Yi King, a parte aquosa do ar é
representada pelo vigésimo oitavo hexagrama, Ta Kwo. A forma sugere uma trave frágil.
O caráter, em
si excelente, não é capaz de sofrer interferência. Previdência e prudência,
cuidado no preparo da ação constituem uma proteção (linha 1). Deve-se ganhar
proveito, ademais, confiando-se na ajuda de camaradas aparentemente
inconvenientes (linhas 2 e 5). Esta força estranha com freqüência proporciona a
derrota da fraqueza inerente, podendo, inclusive, criar superioridade definida
diante da circunstância (linha 4). Neste caso, pode haver a tentação de
empreender aventuras estouvadas, pré-condenadas ao malogro. Mas mesmo assim,
não se incorre em culpa (linha 6); as
condições da Vontade Verdadeira foram
satisfeitas, e o resultado é compensado pelo sentimento de que o procedimento
correto (embora infeliz) foi adotado.
Tais pessoas
extraem amor e devoção intensos dos pontos mais inesperados.
Príncipe de
Espadas
Esta carta
representa a parte aérea do ar. Pela sua interpretação particular, é
intelectual, é um retrato da mente como tal. Rege do vigésimo primeiro grau de
Capricórnio ao vigésimo grau de Aquário.
A figura
deste príncipe está trajada com armadura de textura estreita adornada com
padrão definido, e a biga que o transporta sugere (ainda mais estritamente)
idéias de geometricidade. A biga é tirada por crianças aladas, as quais olham e
saltam irresponsavelmente em qualquer direção que motive sua fantasia; não estão
submetidas às rédeas, mas sim perfeitamente guiadas por seu capricho. A biga,
conseqüentemente, se move com suficiente facilidade, mas é totalmente incapaz
de avançar em qualquer direção definida, a não ser acidentalmente. Eis um
retrato perfeito da mente.
Sobre a
cabeça desse príncipe, entretanto, há
uma cabeça de criança radiante, pois existe uma coroa secreta na
natureza desta carta; se concentrada, é exatamente Tiphareth.
A operação de
seus processos lógicos mentais reduziu o ar, que é seu elemento, a muitos
desenhos geométricos diversificados, mas nestes não há nenhum plano real; eles
são demonstrações dos poderes da mente sem propósito definido. Em sua mão
direita há uma espada erguida, recurso de criação, mas na esquerda há uma
foicinha, de modo que o que ele cria, ele instantaneamente destrói.
Uma pessoa
assim simbolizada é puramente intelectual. É cheia de idéias e projetos que se
atropelam entre si. É uma massa de excelentes ideais desvinculados de esforço
prático. Possui todo o aparato do pensamento
no mais alto grau, é sobejamente inteligente, admiravelmente racional, mas
instável quanto aos propósitos, e na realidade indiferente às suas próprias
idéias, ciente de que qualquer uma delas é tão boa como qualquer outra. Reduz tudo à irrealidade pela remoção de sua
substância e transmutando-a para um mundo ideal de raciocínio que é puramente
formal e estranho à relação com quaisquer fatos, mesmo aqueles sobre os quais é
baseado.
No Yi King a parte aérea do ar é
representada pelo qüinqüagésimo sétimo hexagrama, Sun. É uma das mais difíceis
figuras do livro devido à sua ambivalência: significa tanto flexibilidade
quanto penetração.
Imensamente
poderosas por causa de sua plena liberdade de princípios estabelecidos, capazes
de manter e formular qualquer argumento conceptível, não suscetíveis de
arrependimento ou remorso, loquazes para
“citar as Escrituras” de maneira apropriada e sagazes para sustentar
qualquer tese, indiferentes com relação ao destino de um argumento contrário
apresentado dois minutos antes, impossíveis
de serem derrotadas porque qualquer posição é tão boa quanto qualquer
outra, prontas para entrar em combinação com o elemento mais próximo
disponível, essas pessoas ardilosas e elásticas são valiosas somente quando
firmemente dominadas por vontade criativa fortalecida por uma inteligência
superior a delas. Na prática, isto é raramente possível: não há como
conquistá-las, nem mesmo compactuando com seus apetites. E elas podem ser,
entretanto, violentas , até incontroláveis. Excêntricos, aficionados da bebida,
das drogas, do humanitarismo, da música ou da religião se enquadram
freqüentemente nessa classe; mas mesmo quando é este o caso, não há ainda
estabilidade. Perambulam de um culto ou vício para o outro, sempre defendendo
brilhantemente com o fanatismo de uma convicção arraigada o que realmente não
passa de um capricho do momento.
É fácil ser
enganado por tais pessoas pois sua manifestação em si é enormemente potente: é
como se um imbecil oferecesse a alguém os diálogos de Platão. Podem, deste
modo, adquirir uma grande reputação tanto de profundidade quanto de largueza
mentais.
Princesa de
Espadas
A princesa
de Espadas representa a parte terrestre do ar, a fixação do volátil. Ela
realiza a materialização da idéia. Representa
a influência do céu sobre a terra. Partilha das características de Minerva e de
Ártemis, e há alguma sugestão da Valquíria. Ela tipifica numa certa medida a
ira dos deuses, e aparece com elmo, cuja cimeira é a Medusa de cabelos de
serpentes. Está de pé ante um altar improdutivo como se para vingar a
profanação deste e desfere golpes descendentes com sua espada. O céu e as
nuvens, que são sua casa, parecem irados.
O caráter da
princesa é duro e vingativo. Sua lógica é destrutiva. Ela é rígida e agressiva,
senhora de grande sabedoria prática e perspicácia no que diz respeito às coisas materiais.
Demonstra grande habilidade e destreza na administração de negócios práticos,
especialmente onde são de natureza controvertida. Ela é muito hábil no estabelecimento
de controvérsias.
Se mal
dignificada, todas estas qualidades se dispersam; ela se torna incoerente e
todos os seus dons tendem a se combinar para formar uma espécie de velhacaria
cujo fim não é digno do meio.
No Yi King a parte terrestre do ar é
representada pelo décimo oitava hexagrama, Ku.
Este significa “problemas”; é, no que concerne a todos os assuntos práticos
e materiais, o símbolo mais desafortunado do livro. Todas as boas qualidades do
ar se prostram pelo peso, são suprimidas, sufocadas.
As pessoas
assim caracterizadas são mentalmente lentas, presas de constante ansiedade,
esmagadas por qualquer tipo de responsabilidade, mas especialmente nos assuntos
familiares. Um dos pais ou ambos serão geralmente encontrados na etiologia.
É difícil
compreender a linha 6, que “ nos mostra
alguém que não serve nem a rei nem a senhor feudal, mas num espírito altaneiro
prefere seguir sua própria inclinação”. A explicação é que uma princesa assim,
sendo “o trono do espírito”, pode
sempre ter a opção de jogar tudo pela janela, “soprando tudo céu acima”. Tal
ação seria explicável pelas características indicadas anteriormente no que diz
respeito à carta quando bem dignificada. Tais pessoas são extremamente raras, e
é suficientemente natural que surjam geralmente como “Filhos do infortúnio”.
Entretanto, fazem a escolha certa e no devido tempo obtêm sua recompensa.
Cavaleiro de
Discos
O cavaleiro de Discos representa a parte
ígnea da terra e se refere particularmente aos fenômenos das montanhas, terremotos
e gravitação, representando, contudo, também a atividade da terra considerada
como produtora de vida. Rege do vigésimo primeiro grau de Leão ao vigésimo grau
de Virgem, dizendo respeito, deste modo, muito à agricultura. Este guerreiro é
baixo e robusto. Veste uma armadura de placas de grande solidez, mas seu elmo,
encimado pela cabeça de um veado, está inclinado para trás, pois no momento sua
função se limita inteiramente à produção de alimento, razão pela qual ele está
armado com um mangual. O disco que ele porta, ademais, é bem maciço e
representa a nutrição. Estas características são corroboradas pelo seu cavalo,
um cavalo de tiro solidamente apoiado sobre todas as quatro patas,
diferentemente do que ocorre com os demais cavaleiros.
Ele cavalga pela terra fértil; mesmo as colinas distantes são campos
cultivados.
As pessoas
simbolizadas pelo cavaleiro de Discos tendem
a ser morosas, pesadas e preocupadas com coisas materiais. São
laboriosas e pacientes, mas dispõem de pouca compreensão intelectual mesmo dos
assuntos que lhes dizem respeito muito intimamente. O sucesso que alcançam
neste domínio se deve ao instinto, à imitação da natureza. Falta-lhes
iniciativa; seu fogo é o fogo de combustão lenta sem chama do processo de
cultivo.
Se mal dignificadas,
essas pessoas são irremediavelmente estúpidas, servis, absolutamente incapazes
de presciência mesmo em seus próprios
negócios, ou de assumir um
interesse inteligente em qualquer coisa exterior a elas. São rudes, rabugentas
e ciumentas (de uma maneira obtusa) daquilo que compreendem instintivamente ser o estado superior dos
outros, mas não dispõem da coragem ou inteligência para se aprimorarem.
Contudo, se mantêm intrometendo-se de
modo irritante em assuntos insignificantes; interferem e inevitavelmente
estragam seja lá o que for que passe pelo caminho delas.
No Yi King, a parte ígnea da terra é
representada pelo sexagésimo segundo hexagrama, Hsiao Kwo. Este é tão importante quanto seu complemento, Kung Fu (ver príncipe de Copas) ; é
um “grande Khan “, o trigrama da Lua com cada linha dobrada. Mas também é
sugestivo da figura geomântica Conjunctio, Mercúrio em Virgem,
correspondendo muito de perto realmente à atribuição de fogo da terra no sistema qabalístico.
Para os
sábios chineses, além disso, a forma da figura dá a idéia de uma ave. O
significado é, conseqüentemente, modificado pela influência humana do tipo mais
frívolo e irresponsável, a
“insignificante prostituição atrevida” de Shakespeare, o “Souvent femme
varie” * do cínico francês e o populacho volúvel de Coriolano; realmente, da
própria história. Mas Mercúrio em Virgem simboliza a inteligência (e mesmo a idéia criativa) aplicada à agricultura e
isto (mais uma vez !) harmoniza perfeitamente com o dez de Discos, que é regido por esse planeta e esse signo. Isso se
soma à massa superabundante de evidência de que esse sistema inteiro de
simbolismo é baseado nas realidades da
natureza, como entendido pela escola
materialista de ciência - se esta escola sobreviver em alguma
universidade obscura e obsolescente ! Tal coerência, tal esfoliação
introvertida não pode ser o paralelismo acidental dos sonhos de filosofias
nebulosas.
* Com freqüência a mulher se altera (NT).
O caráter
descrito por esta carta é portanto sumamente complexo, e no entanto
admiravelmente bem entretecido; mas os perigos da carta são indicados pelos
símbolos da Lua e a ave. Nos casos mais felizes, as qualidades assim indicadas
serão o romance e a imaginação; mas a ambição jactanciosa, a busca do ignis fatuus, ** a superstição e o pendor para perder tempo no devaneio ocioso
são riscos encontrados com demasiada freqüência junto a esses filhos do solo.
Thomas Hardy pintou muitos retratos admiráveis desse tipo. De má estrela
realmente e enegrecidos com fel são aqueles que profanaram o fogo sagrado, não acendendo a terra para
a vida nova, mais copiosa, mais variada, mas perscrutando no luar falacioso,
virando seus rostos para sua mãe-terra.
** Fogo-fátuo (NT).
Rainha de
Discos
A rainha de Discos representa a parte
aquosa da terra, a função deste elemento como mãe. Ela rege do vigésimo primeiro grau de Sagitário ao vigésimo
grau de Capricórnio. Representa passividade, usualmente no seu aspecto mais
elevado.
A rainha de
Discos está entronizada sobre a vida da vegetação. Contempla o fundo, onde um
rio tranqüilo flui sinuosamente por um deserto arenoso para trazer a este
fertilidade. Oásis começam a se mostrar em meio à aridez. Diante dela se posta
um bode sobre uma esfera. Há aqui uma referência ao dogma de que a Grande Obra
é fertilidade. A armadura dela é composta de pequenas escamas ou moedas e seu
elmo é adornado com os grandes chifres espiralados do markhor. *** Em sua mão direita ela segura um cetro encimado por um
cubo, no interior do qual há um hexagrama tridimensional, e no braço esquerdo
se encaixa seu próprio disco, uma esfera de lupes
e círculos entrelaçados. Ela representa, assim, a ambição da matéria de
participar da grande obra da criação.
*** Capra megaceros, grande bode da região
norte da Índia; o markhor é chamado
também de devorador de serpentes (NT).
As pessoas
enquadradas na significação desta carta possuem o melhor das qualidades mais
serenas. São ambiciosas, mas somente nas direções proveitosas. Possuem imensas
reservas de afeto, amabilidade e grandeza de coração. Não são intelectuais e
não especialmente inteligentes, porém
instinto e intuição são mais do que adequados para suas necessidades.
Estas pessoas são calmas, mourejadoras, práticas, sensatas, mansas, amiúde (de
um modo reticente e despretensioso) lascivas e mesmo debochadas. São inclinadas
ao abuso do álcool e das drogas. É como se só pudessem concretizar sua
felicidade essencial saindo de si mesmas.
Se mal
dignificadas, são obtusas, servis, tolas; são mais burros de carga do que
trabalhadores. A vida para elas é puramente mecânica e não conseguem se erguer,
ou sequer procurar se erguer, acima do quinhão que lhes foi apontado.
No Yi King, a parte aquosa da terra é representada
pelo trigésimo primeiro hexagrama, Hsien,
cujo significado é influência. O comentário descreve o efeito
de mover várias partes do corpo, dos dedos do pé aos maxilares e a língua. Isto
é mais um incremento do que foi dito anteriormente do que uma exata
correspondência, embora ainda assim não haja discordância. O conselho geral é
ir à frente sossegadamente sem ataque aberto às situações existentes.
Príncipe de
Discos
O príncipe de Discos representa a parte
aérea da terra, indicando a florescência e a frutificação deste elemento. Rege
do vigésimo primeiro grau de Áries ao vigésimo grau de Touro.
A figura
desse príncipe é meditativa. Ele é o elemento terra tornado inteligível. Trajado
de armadura leve, seu elmo é coroado pela cabeça de um touro e sua biga é
tirada por um boi, este animal sendo peculiarmente sagrado ao elemento terra.
Em sua mão esquerda ele segura seu disco, que é uma esfera semelhante a um
globo, marcada com símbolos matemáticos como querendo sugerir o planejamento
envolvido na agricultura. Na mão direita
ele segura um cetro de topo esférico encimado por uma cruz, um símbolo da
Grande Obra realizada, pois é sua função produzir a partir do material do
elemento aquela vegetação que é o alimento do próprio espírito.
O caráter
indicado por essa carta é o da grande energia trazida para sustentar o mais
denso dos assuntos práticos. O príncipe de Discos é energético e resistente, um
administrador capaz, um trabalhador constante e perseverante. É competente,
engenhoso, ponderado, cauteloso, confiável, imperturbável; está constantemente
procurando novos usos para coisas comuns e adapta suas circunstâncias aos seus
propósitos num plano lento, estável e bem concebido.
Quanto à
emoção, esta lhe falta quase que inteiramente. Ele é um tanto insensível e pode
parecer obtuso, mas não é; aparenta isto porque não faz nenhum esforço para
compreender idéias que estejam além de seu alcance. Freqüentemente parece
estúpido e tende a ser rancoroso com os tipos mais espirituais. Custa para
zangar-se, mas se impulsionado à raiva, torna-se implacável. Não é muito
praticável distinguir entre dignidade boas e más nesta carta; pode-se apenas
dizer que em caso do príncipe de Discos ser mal dignificado, tanto a qualidade
quanto a quantidade de suas características são um pouco degradadas. A reação
dos outros em relação a ele dependerão quase que inteiramente de seus próprios
temperamentos.
No Yi
King, a parte aérea da terra é representada pelo qüinqüagésimo
terceiro hexagrama, Kien. O
comentário concerne ao vôo de gansos selvagens
“gradativamente se aproximando da praia”, em seguida “as grandes
rochas”, em seguida “avançadas para as planícies áridas - as
árvores - o monte elevado”; finalmente
às “grandes alturas”. Assim simboliza a emancipação vagarosa e persistente de
condições repressivas.
A descrição é
ainda mais feliz do que aquela dada pela Qabalah,
embora completamente congruente com esta. Considerações práticas nunca estão
ausentes no pensamento chinês mesmo no que este tem de mais abstruso e
metafísico. A heresia fundamental da Loja Negra é o desprezo pelo “mundo, a
carne e o diabo”, todos estes essenciais ao plano do universo; é primordial para
a Grande Obra que o Adepto, desse modo, ordene os negócios de sorte que “mesmo
os germes maus da matéria se tornem
igualmente úteis e bons “.
O erro dos místicos cristãos nesse ponto foi responsável por mais crueldade, miséria e
insanidade coletiva do que todos os outros erros juntos; seu veneno pode ser
localizado até nos ensinamentos de Freud, que supôs que o inconsciente era “o diabo”, enquanto que, na verdade, é o instinto
que expressa, sob um véu, o ponto-de-vista inerente de cada um e,
corretamente compreendido, é a chave da iniciação,
e uma sugestão de qual semente pode florescer e frutificar como o “Conhecimento
e Conversação do Santo Anjo Guardião”, pois “Todo homem e toda mulher é uma
estrela”.
Mas
indubitavelmente o julgamento dos Adeptos Isentos (pois são eles que determinam, sob a orientação dos Mestres do Templo, todos esses detalhes da doutrina) com respeito e essa carta foi
influenciado pela transição desta de Áries a Touro. Esquece-se com demasiada
freqüência que Touro é a casa de
Vênus e que a Lua é aí exaltada. A nova doutrina formulada no presente ensaio
torna a cor primária da Terra não a negra, mas a verde; insiste que todo disco é um símbolo vivo e revolvente. A
tese central d’O Livro da Lei afirma a perfeição
do universo. Em sua concepção panteística todas as possibilidades são
iguais em valor; cada e todo ponto-evento
é “ um jogo de Nuit”, como está escrito em The Book of Wisdom or Folly. *
“...Nada ateis! Que não haja diferença feita em vosso meio entre uma
coisa & qualquer outra coisa; pois daí
vem dor. Mas quem quer que prospere nisto, que ele seja o chefe de
todos!“ Liber AL I, 22-23. Ou, ainda de maneira mais abrangente e
simples: “Todo número é infinito; não há diferença. “ Liber AL I, 4
* O Livro da
Sabedoria ou Loucura (NT).
Princesa de
Discos
A princesa de Discos, a última das cartas da
corte, representa a parte terrestre da terra. Ela está conseqüentemente à beira
da transfiguração. É forte e bela, exibindo uma expressão de meditar intenso,
como se na iminência de tornar-se ciente de um prodígio secreto.
Ela usa no topo da cabeça como uma cimeira a
cabeça de um carneiro e seu cetro desce para dentro da terra, onde sua
extremidade superior se converte num diamante, a pedra preciosa de Kether, simbolizando assim o nascimento
da mais elevada e pura luz no mais profundo e escuro dos elementos. Ela está no
interior de um bosque de árvores sagradas perante um altar que sugere um feixe
de trigo, já que ela é uma sacerdotisa de Deméter. Dentro de seu corpo ela transporta
o segredo do futuro. Sua sublimidade é enfatizada ainda pelo disco que porta,
pois no centro dele está o ideograma chinês que indica a dupla força espiral da
criação em equilíbrio perfeito, do que nasce a rosa de Ísis, a grande Mãe
fértil.
As características
de um indivíduo significado por essa carta são excessivamente variadas para
serem enumeradas. Pode-se resumi-las dizendo que ela é feminilidade na sua projeção
última. Possui todas as características da mulher, dependendo inteiramente das
influências às quais ela está submetida a manifestação de uma ou outra dessas
características. Porém, em todos os casos seus atributos serão puros em si
mesmos, e não necessariamente ligados a quaisquer outros atributos que de
maneira normal considera-se como simbólico. Num certo sentido, então, sua
reputação geral será de inconsistência desnorteadora. É mais ou menos como um
aparelho de extração de loteria do qual a extração de qualquer número não
prediz ou influencia o resultado de qualquer operação subseqüente. O fruto da
filosofia de Thelema é saboreado,
raro, maduro, nutrindo e vitalizando de sua maneira mais elevada e mais
plena nessa meditação; pois para o adepto todo giro do aparelho é
igualmente provável e igualmente um prêmio, visto que todo evento é “um jogo de Nuit”.
No Yi King a parte terrestre da terra é
representada pelo qüinqüagésimo segundo hexagrama, Kan. O significado é
“montanha”. Quão sublime é a
significação desta doutrina chinesa do equilíbrio
e quão intimamente conforme àquela da Santa Qabalah
ela é !
A montanha é
o mais sagrado dos símbolos terrestres, inflexível , forte e irremovível em sua
aspiração ao Mais Alto, impelida como o é pela energia titânica do fogo oculto. Não
é menos um hieróglifo da divindade mais
íntima do que o próprio falo,
mesmo à medida que Capricórnio, o signo do ano
novo, é exaltado no zodíaco, sua divindade autóctone não menos que o
próprio Antigo Mais Santo.
É essencial
para o estudante traçar essa doutrina para si mesmo em todos os símbolos: o ar,
o elemento elástico e flexível, e, não obstante, que tudo penetra e o elemento
da combustão; a água, fluída mas incomprimível, o mais neutro e composto de
todos os componentes da matéria viva, e, contudo, destrutiva até mesmo das
rochas mais duras pelo ataque físico, e irresistível no seu poder ardente de
solução; e o fogo, tão aparentado ao espírito
que não é em absoluto uma substância, mas sim um fenômeno, tão integrado à
matéria, todavia, que constitui o próprio núcleo e essência de todas as coisas.
A
característica de Kan no Yi
King é repouso. Cada linha do comentário descreve o repouso nas
partes do corpo alternadamente, e seus efeitos: os dedos do pé, as barrigas da
perna, os quadris, a espinha e os maxilares.
Este capítulo
guarda, no que diz respeito a isso, um estreito paralelismo, linha por linha,
com o trigésimo primeiro hexagrama, Hsien,
o qual inicia a segunda seção do Yi.
A doutrina
rosicruciana do Tetragrammaton dificilmente
poderia ser mais adequadamente expressa
- a todo ouvido que está
sintonizado com a harmonia celestial.
“Não há um
planeta no firmamento
Que em seu movimento não cante como um anjo,
Inda cantando em coro ao querubim de
olhos juvenis;
Mas enquanto esta lamacenta veste de declínio
Nos envolve, nossa natureza é incapaz de
ouvi-lo.”
Que todo
estudante deste ensaio, e deste livro de Tahuti, este Livro vivo que guia o
homem através de todo o tempo, e o
conduz à eternidade a cada página,
retenha firmemente esta doutrina de
suma simplicidade e sumo alcance em seu coração e mente, inflamando o mais
íntimo de seu ser, que ele, também, tendo explorado
cada recesso do universo, possa aí encontrar a luz da verdade, assim
chegado ao Conhecimento e Conversação do
Santo Anjo Guardião, e realizar a Grande Obra, atingir o Summum Bonum, sabedoria verdadeira e felicidade
perfeita !
QUARTA
PARTE -
AS
CARTAS MENORES
((ilustr.: ás de Discos))
IV
OS QUATRO
ASES
Os ases representam as raízes dos quatro elementos.
Estão inteiramente acima e distintos das outras cartas menores do mesmo modo que se diz de Kether
que é simbolizada apenas pelo ponto mais alto do Yod do Tetragrammaton. Nestas
cartas não há manifestação real do elemento sob sua forma material. Elas formam
um vínculo entre as cartas menores e as princesas,
as quais regem os céus em torno do
pólo norte. O meridiano é a Grande
Pirâmide, e os elementos regem, indo rumo ao leste, na ordem do Tetragrammaton, fogo, água, ar e terra.
Assim, a grosso modo, ases-princesas, Bastões cobrem a Ásia, Copas o oceano
Pacífico, Espadas as Américas, Discos Europa e África. Para tornar esta relação
clara, pode-se observar um pouco o símbolo do pentagrama, ou escudo de Davi. Ele representa o espírito regendo os quatro elementos,
sendo assim um símbolo do triunfo do
homem.
É muito
difícil captar a idéia do elemento espírito.
A letra Shin, que é a letra do
fogo, tem que trabalhar duplamente representando também o espírito. Em termos gerais, as atribuições do espírito não são claras e simples como as dos outros elementos. É
particularmente notável que o tablete do
espírito no sistema enoquiano seja a
chave para todo o dano, como no sistema hindu o akasha seja o ovo das trevas.
Por outro
lado, o espírito representa Kether.
Talvez jamais estivesse na mente do Adepto
Isento ou Adeptos Isentos que
inventaram o Tarô irem tão longe nesta matéria. O ponto a ser retido é que
tanto em sua aparência quanto em seu significado os ases não são os próprios
elementos, mas sim as sementes destes elementos.
OS QUATRO
DOIS
Estas cartas
se referem a Chokmah. Do ponto de
vista da pessoa comum, Chokmah é
realmente o número 1 e não o número 2 porque é a primeira manifestação. Kether está completamente ocultada, de
maneira que ninguém conhece coisa alguma a respeito dela. Conseqüentemente,
apenas ao atingir os duques um
elemento aparece realmente como o próprio elemento. Chokmah é descontaminado de
qualquer influência e por isso os elementos aqui aparecem em sua condição
harmoniosa original.
O dois de Bastões é chamado de Senhor do Domínio e representa a energia
do fogo, o fogo sob sua forma melhor e mais elevada.
O dois de Copas é o Senhor do Amor, desempenhando função similar para a água.
O dois de Espadas foi anteriormente
chamado de Senhor da Paz Restaurada,
mas esta palavra restaurada está
incorreta porque não houve nenhum distúrbio. Assim, Senhor da Paz é um título melhor, mas é preciso um pensar profundo e árduo para resolver isso já que a espada é tão intensamente ativa. Pode
ser útil o estudo do ensaio sobre o silêncio
(pg. ...) para obter-se um paralelo: a
forma negativa da idéia positiva.
Consultar também o ensaio sobre castidade
(Little Essays toward Truth, *
pgs. ...) que conclui: “Senhores
Cavaleiros, sede vigilantes : vigiai por vossas armas e renovai vosso
juramento, pois esse dia é de augúrio sinistro e letalmente carregado de perigo que vós não acumulareis até o trasbordamento com
prazenteiras façanhas e audazes de dominadora, de viril castidade.”
Ver também o
testemunho de Catulo: domi maneas
paresque nobis Novem continuas futationes.
Tampouco
deixe ele de compreender o gesto de Harpócrates; silêncio e castidade são isômeros.
É tudo um
caso da proposição geral de que a soma da energia
infinita do universo é zero.
O dois de Discos era chamado outrora de Senhor da Mudança Harmoniosa. Agora,
simplesmente Mudança, e aqui a
doutrina tem que ser expressa com um pouco mais de clareza. Sendo este naipe da
terra, há uma ligação com as princesas
e portanto com a Hé final do Tetragrammaton. A terra é o trono do espírito;
tendo atingido a base, surge-se imediatamente de novo no topo. Daí, a carta
manifesta o simbolismo da serpente dos anéis
infinitos.
OS QUATRO
TRÊS
Estas cartas
se referem a Binah; em cada uma delas é expresso o
simbolismo da compreensão. A idéia se tornou fertilizada; o triângulo foi
formulado. Em cada caso a idéia é de uma certa estabilidade que jamais pode ser
transtornada, mas da qual uma criança pode resultar.
O três de Bastões é, conseqüentemente, o Senhor da Virtude. A idéia de vontade e
domínio foi interpretada no caráter.
O três
de Copas é chamado de Senhor da
Abundância. A idéia de amor atingiu a fruição, mas isto é agora
suficientemente abaixo da Árvore para introduzir uma diferenciação
bastante definida entre os naipes, que não foi previamente possível.
A idéia de
divisão, de mutabilidade, a idéia da qualidade aérea das coisas se manifesta no
três de Espadas, o Senhor da Dor. Aqui lembra-se da
escuridão de Binah, do luto de Ísis,
mas não se trata de qualquer tristeza vulgar dependente de qualquer
desapontamento ou descontentamento individuais. É Weltschmerz,
a dor universal; é a qualidade da melancolia.
O três de Discos, de modo semelhante,
exibe o resultado da idéia da terra, da cristalização das forças, sendo assim chamado de Senhor do Trabalho. Alguma coisa foi
definitivamente feita.
OS QUATRO
QUATROS
Estas cartas
são atribuídas a Chesed. A conexão entre o número quatro e
o número três é extremamente complexa. A característica importante é que o Quatro está “abaixo do Abismo”; por isso, na prática,
significa solidificação, materialização. As coisas se tornaram manifestas. O
ponto essencial é que ele expressa o governo
da lei.
No naipe de
Bastões a carta é chamada de Conclusão.
A manifestação prometida por Binah ocorreu
agora. Este número tem que ser bastante íntegro porque é a influência dominante
real sobre todas as cartas seguintes. Chesed,
Júpiter-Amon, o Pai, o primeiro abaixo do Abismo, é a idéia mais elevada que
pode ser compreendida de uma maneira intelectual, e é por isso que a Sephira é atribuída a Júpiter, que é o demiurgo.
O quatro de Copas é chamado de Luxúria.
A natureza
masculina do fogo permite que o quatro de
Bastões apareça como uma concepção muito positiva e clara. A debilidade
presente no elemento água ameaça sua pureza; não é suficientemente forte para
controlar-se devidamente, de modo que o Senhor
do Prazer é um pouco instável. A pureza foi de alguma maneira perdida no
processo de satisfação.
O quatro de Espadas é chamado de Trégua. Parece mais na linha do “homem
forte armado que mantém sua casa em paz”. A natureza masculina do ar o torna
dominante. A carta é quase um retrato da formação do sistema militar de clãs da sociedade.
Quanto aos Discos, o peso do símbolo excede em peso
quaisquer considerações de sua fraqueza. A carta se chama Poder.
É o poder que domina e estabiliza tudo, mas administra seus negócios mais por
negociação, por métodos pacíficos do que por qualquer afirmação de si mesmo. É
a lei, a
constituição sem o elemento
agressivo.
OS QUATRO
CINCOS
No Arranjo de Nápoles, a introdução do número cinco mostra a idéia de movimento vindo em ajuda daquela da
matéria. Eis uma concepção completamente revolucionária cujo resultado é um
total transtorno do sistema estaticamente estabilizado. Surgem agora tormenta e
tensão.
Isto não deve
ser encarado como algo “maligno”. O sentimento natural em relação a isso é
efetivamente pouco mais do que relutância das pessoas em se levantarem da mesa
do almoço para voltarem ao trabalho. Na doutrina budista da dor essa idéia está implícita, a saber,
que inércia e insensibilidade têm que caracterizar a paz. O clima da Índia é
talvez em parte responsável por essa noção. Os adeptos da Escola Branca,
da qual o Tarô é o livro sagrado, não conseguem concordar com tal simplificação
da existência. Todo fenômeno é um
sacramento. Por tudo isso, um distúrbio é um distúrbio. O cinco de Bastões é chamado de Disputa..
Por outro
lado, o cinco de Copas é chamado de Desapontamento, o que é apenas natural,
porque o fogo se delicia em energia superabundante, enquanto que a água do Prazer é naturalmente plácida, e
qualquer distúrbio da tranqüilidade só pode ser considerado como infortúnio.
O cinco de Espadas é analogamente
problemático. A carta é chamada de Derrota.
Houve poder insuficiente para sustentar a paz armada dos quatro. A disputa realmente
irrompeu. Isto tem que significar derrota pois a idéia original da espada foi uma manifestação do resultado
do amor entre o bastão e a copa. É porque o nascimento tinha que se
expressar na dualidade da espada e do ouro que a natureza de cada um parece ser tão imperfeita.
O cinco de Discos encontra-se num caso
igualmente ruim. A suave quietude dos quatro
foi completamente arruinada. Esta carta se chama Preocupação (ver Skeat,
Dicionário Etimológico. A idéia é de estrangulamento, como os cães preocupam as
ovelhas. Note-se a identidade com a esfinge). O sistema econômico ruiu; não há
mais equilíbrio entre as ordens sociais. Discos sendo como é, estólido e
obstinado, se comparado com as demais armas, pois a revolução delas serve para
estabilizá-las, não há qualquer ação, ao menos não em seu próprio âmbito, que
possa afetar o resultado.
OS QUATRO
SEIS
Estas cartas
são atribuídas a Tiphareth. Esta Sephira é, em certos aspectos, a mais importante de todas. É o
centro de todo o sistema; é a única Sephira
abaixo do Abismo que se comunica
diretamente com Kether. É alimentada
diretamente de Chokmah e Binah, e também de Chesed e Geburah. Está assim admiravelmente apta
a dominar as Sephiroth inferiores; é
equilibrada tanto vertical quanto horizontalmente. No sistema planetário
representa o Sol; no sistema do Tetragrammaton
representa o Filho. O complexo
geométrico inteiro do Ruach pode ser
considerado como uma expansão de Tiphareth.
Representa consciência em sua forma mais harmonizada e equilibrada,
definitivamente em forma, não apenas idéia, como no caso do número dois. Em outras palavras, o Filho é uma interpretação do Pai nos
termos da mente.
Os quatro
seis são assim representativos de seus respectivos elementos no que eles têm de
melhor prático.
O seis de Bastões é chamado de Vitória. A explosão de energia no cinco de Bastões, que foi tão súbita e
violenta que até produziu a idéia de conflito, conquistou agora o sucesso por
completo. O governo, ou domínio, no naipe de Bastões não é de modo algum tão estável como poderia ter sido se
tivesse havido menor exposição de energia. Assim, deste ponto, logo que a
corrente deixa o pilar do meio, a fraqueza inerente ao elemento fogo (que é não
ser completamente equilibrado para toda sua pureza) leva a desenvolvimentos
bastante indesejáveis.
O seis de Copas é chamado de Prazer. Este prazer é de um tipo
completamente harmonizado. O signo do zodíaco que governa a carta sendo
Escorpião, o prazer é aqui enraizado no seu solo mais conveniente. Esta é
preeminentemente uma carta fértil, uma das melhores no baralho.
O seis de Espadas é chamado de Ciência. Seu regente é Mercúrio, de
maneira que o elemento de sucesso rejeita a idéia de divisão e disputa; é a
inteligência que conquistou a meta.
O seis de Discos é chamado de Sucesso. O regente é a Lua. Esta é uma
carta de acomodamento; é muito densa, totalmente falta de imaginação, e
contudo, um tanto sonhadora. A mudança logo cairá sobre ela. O peso da terra em
última instância arrastará a corrente descendentemente para um mero acontecer
de coisas materiais. Todavia, a Lua estando em Touro, o signo de sua exaltação,
o melhor das qualidades lunares está inerente. Ademais, sendo um seis, a energia solar a fertilizou,
criando um sistema equilibrado por enquanto. A carta é digna do nome Sucesso. Lembre-se apenas que todo
sucesso é temporário; quão breve parada sobre o caminho do labor !
OS QUATRO
SETES
Estas cartas
são atribuídas a Netzach. A posição é
duplamente desequilibrada; fora do pilar do meio e muito baixo na Árvore.
Corre-se um enorme risco de descer até a ilusão e, antes de mais nada, fazê-lo
por um esforço desvairado. Netzach
pertence a Vênus; Netzach pertence à
Terra e a maior catástrofe que pode sobrevir a Vênus é perder sua origem celeste. Os quatro setes não são capazes
de trazer qualquer conforto; cada um representa a degeneração do elemento. Sua
fraqueza maior fica exposta em todos os casos.
O sete de Bastões é chamado de Valor. A energia se sente ela mesma na
iminência de morrer; luta desesperadamente e pode ser vencida. Esta carta traz
à tona o defeito inerente à idéia de Marte. Patriotismo, por assim dizer, não é
o suficiente.
O sete de Copas é chamado de Deboche. Esta é uma das piores idéias
que se poder ter; seu método é veneno, sua meta, insanidade. Representa a
ilusão do delirium tremens e do vício
das drogas; representa o afundamento no lodo do prazer falso. Há algo quase
suicida nesta carta. Ela é particularmente má porque não há nada, seja lá o que
for, para equilibrá-la - nenhum planeta forte para sustentá-la. Vênus
vai atrás de Vênus e a terra é agitada dentro do paul de escorpiões.
O sete de Espadas é chamado de Futilidade. Trata-se de uma carta ainda
mais fraca do que o sete de Bastões. Possui
uma signo passivo em lugar de um ativo, um planeta passivo em lugar de um
ativo. É como um boxeador reumático tentando “voltar “ depois de ter estado
fora do ringue durante anos. Seu regente é a Lua. A pouca energia que ela
possui não passa de devaneio; é absolutamente incapaz do labor sustentado que por
si só, exceto milagres, pode conduzir qualquer esforço à fruição. A comparação
com o sete de Bastões é sumamente instrutiva.
O sete de Discos é chamado de Fracasso.
Este naipe proporciona a passividade extrema; não há virtude positiva nele
abaixo do Abismo. Esta carta é regida
por Saturno. Compare-a com os outros
três setes. Inexiste esforço aqui, e não há
sequer sonho; o dinheiro apostado foi jogado fora e está perdido. Isto é
tudo. O próprio trabalho é abandonado; tudo afunda na preguiça.
OS QUATRO
OITOS
Os quatro oitos são atribuídos a Hod. Estando
no mesmo plano dos setes na Árvore da
Vida, embora no outro lado, os mesmos defeitos inerentes que foram encontrados
nos setes também se aplicam aqui.
Contudo, talvez
se possa realçar um alívio, a saber, que os
oitos chegam (num certo sentido) como um remédio para o
erro dos setes. O dano foi produzido
e agora há uma reação contra ele. Pode-se, portanto, esperar constatar que, se
não há possibilidade de perfeição nas cartas deste número, elas estão livres
daqueles erros essenciais e originais do caso de maior rebaixamento.
O oito de Bastões é chamado de Presteza, como se poderia esperar de sua
atribuição a Mercúrio e Sagitário.
Trata-se de uma eterização da idéia do fogo. Todos os elementos grosseiros
desapareceram.
(Que se
permita uma curta digressão sobre os signos do zodíaco. No caso de cada
elemento, o signo cardeal representa
a investida célere, impulsiva da idéia. No signo querúbico o elemento atingiu seu pleno equilíbrio de poder, e nos
outros signos a força está esmorecendo. Assim, Áries representa a arremetida do
fogo, o relâmpago; Leão, seu poder, o
Sol; e Sagitário, o arco-íris, sua sublimação. Considerações similares se
aplicam aos outros elementos. Ver a seção
de Atribuições: as triplicidades do zodíaco).
No oito de Bastões o fogo não está mais
associado às idéias de combustão e destruição. Representa energia no seu
sentido mais exaltado e mais tênue, o que sugere dela formas tais como a
corrente elétrica; poder-se-ia quase
dizer luz pura no sentido material dessa palavra.
O oito de Copas é chamado de Indolência. Esta carta é o próprio ápice
do dissabor. É regida pelo planeta Saturno; o tempo e a dor se precipitaram
sobre o prazer e inexiste força no
elemento água que possa reagir contra eles. Esta carta não é exatamente “a manhã que sucede a noite
anterior”, mas está muito próxima disto. A diferença é que a “noite anterior”,
não aconteceu ! Esta carta representa a festa para a qual todo os preparativos
foram feitos, mas o anfitrião esqueceu de convidar os convivas, ou os
fornecedores não entregaram as iguarias e bebidas. Há esta diferença, ainda que
se trate de uma maneira ou outra da própria falha do anfitrião. A festa que ele
planejava estava apenas um pouquinho acima de sua capacidade; talvez ele tenha
perdido o entusiasmo no último momento.
O oito de Espadas é chamado de Interferência. À primeira vista
pareceria fácil confundi-lo com o oito de
Copas, mas a idéia, na realidade, é completamente diferente. A carta é
atribuída a Júpiter e Gêmeos. Conseqüentemente, não há prostração da vontade
devido à tensão interna ou externa.
Trata-se apenas do erro de ser benévolo quando a benevolência é desastrosa.
Gêmeos é um signo do ar, um signo intelectual; Júpiter é amabilidade e
otimismo. Isto não funcionará no mundo de Espadas.
Se alguém precisa agredir, um golpe violento é o melhor. Mas há um outro
elemento nesta carta, a saber, aquele da interferência (os oitos, sendo substancialmente mercurianos, são sempre isto)
inesperada, pura má sorte imprevista. Incidentes triviais têm alterado amiúde o
destino de impérios, reduzido a nada “os
mais bem formulados planos de ratos e homens”.
O oito de Discos é chamado de Prudência. Esta carta é bem melhor do
que as duas últimas porque, em assuntos puramente materiais, especialmente
aqueles relacionados ao dinheiro real, há uma espécie de força em não fazer
coisa alguma. O problema de todo financista é, em primeiro lugar, ganhar tempo;
se seus recursos são suficientes, ele sempre ganha na bolsa. Esta é a carta do
“economizar alguma coisa para um dia de chuva”.
Sua
atribuição é Sol em Virgem; é a carta do agricultor; ele pode fazer pouco mais
do que plantar a semente, sentar-se e aguardar a colheita. Não há nada nobre sobre este aspecto da carta; como
todos os oitos, ela representa um
elemento de cálculo e o jogo é seguramente lucrativo caso se tenha ajustado
adequadamente a cagnotte. *
* Em francês
no original, cofrinho ou mealheiro, ou
ainda conteúdo do mesmo (NT).
Há ainda um
outro ponto que complica esta carta. O oito
de Discos representa a figura geomântica
Populus, que é uma figura
despreocupada, e ao mesmo tempo, estável. Pensa-se no tempo da Rainha Vitória,
em um homem que é “alguma coisa na cidade”,
bamboleando-se para a cidade com Alberto, o Bom chamando atenção para si por
sua corrente de relógio e sua sobrecasaca; na superfície ele é muito afável,
mas não é o bobo de ninguém.
OS QUATRO NOVES
Estas cartas
são atribuídas a Yesod. Após a excursão
dupla ao infortúnio, a corrente volta ao pilar do meio. Esta Sephira é a sede da grande cristalização
da energia. Mas esta ocorre bem embaixo na Árvore, no ápice do terceiro
triângulo descendente, e um triângulo achatado neste caso. Há pouco apoio de
esferas baixas, desequilibradas como Netzach
e Hod. O que salva Yesod
é o raio direto de Tiphareth;
esta Sephira está na linha direta de
sucessão. Cada uma destas cartas produz o impacto pleno da força elementar, mas
no seu sentido mais material, ou seja, da idéia da força, pois Yesod está ainda em Yetzirah, o mundo da
formação. Zoroastro diz: “O número Nove é
sagrado e atinge o auge da perfeição.” Egito e Roma, também, possuíam nove
divindades maiores.
O nove
de Bastões é chamado de Força. É
regido pela Lua e Yesod. Em The
Vision and the Voice, o décimo primeiro Aethyr
apresenta um relato clássico da resolução desta antinomia de mudança e estabilidade. O estudante deveria consultar também os trabalhos de
qualquer um dos melhores físicos matemáticos. Dentre todas as importantes
doutrinas sobre equilíbrio, esta é a de mais fácil compreensão, a saber, que
mudança é estabilidade, que a estabilidade é garantida pela mudança, que se
alguma coisa cessasse de mudar por uma fração de um segundo dividido se desintegraria. É a
intensa energia dos elementos primordiais da natureza, que se os chame de
elétrons, átomos, qualquer coisa que se queira, não faz diferença. A mudança
garante a ordem da natureza. É por isso que ao aprender andar de bicicleta
cai-se de uma maneira extremamente desajeitada e ridícula. O equilíbrio é
tornado difícil por não se ir suficientemente rápido. Assim, do mesmo modo, não
é possível traçar uma linha reta se a mão treme. Esta carta é uma espécie de
parábola elementar que ilustra o significado deste aforismo: “Mudança é
Estabilidade.”
Aqui a Lua, o
mais débil dos planetas, está em
Sagitário, o mais ilusório dos signos; ainda assim, ela ousa chamar-se Força.
A defesa, para ser eficiente, tem que ser móvel.
O nove de Copas é chamado de Felicidade. Esta é uma carta
peculiarmente boa porque felicidade, como sugere a palavra, é em grande parte
matéria de sorte: a carta é regida por Júpiter e Júpiter é fortuna.
Em todas
essas cartas da água, há um certo elemento de ilusão; elas começam pelo Amor e o amor é a maior e mais mortal
das ilusões. O signo de Peixes é o refinamento, o esmorecimento desse instinto,
o qual, principiado com espantosa fome e levado à frente com paixão, tornou-se
agora “um sonho dentro de um sonho”.
A carta é
regida por Júpiter. Júpiter em Peixes é efetivamente boa fortuna, mas somente no sentido de saciedade
total. A satisfação mais plena é meramente a matriz de uma putrefação
posterior; não existe esta coisa chamada repouso absoluto. Uma cabana no campo com as rosas à toda sua volta ? Não, não há nada permanente nisto; não há
repouso no universo. Mudança garante estabilidade. Estabilidade garante
mudança.
O nove de Espadas é chamado de Crueldade. Aqui a ruptura original
inerente a Espadas é aumentada ao seu poder máximo. A
carta é regida por Marte em Gêmeos. É a agonia da mente. Ruach consome a si mesmo nesta carta; o pensamento atravessou todo estágio possível e a conclusão é
desespero. Esta carta foi delineada muito adequadamente por Thomson em The
City of Dreadful Night. É sempre uma
catedral - uma catedral dos danados. Está presente a
mancha cáustica da análise. A atividade é inerente à mente, mas ainda assim há
sempre a consciência instintiva de que nada pode conduzir a lugar algum.
O nove
de Discos é denominado Ganho. O
naipe de Discos é insípido demais para se preocupar; ele soma seus ganhos; não
preocupa sua cabeça quanto a se alguma coisa é ganha quando tudo é ganho. Esta
carta é regida por Vênus. Ronrona com satisfação por ter colhido o que semeou;
esfrega as mãos e se senta tranqüilamente. Como será compreendido ao se
considerar os dez, não há reação contra a satisfação como há nos outros três
naipes. Fica-se cada vez mais estólido e se sente que “tudo é para o melhor no
melhor dos mundos possíveis”.
OS QUATRO DEZ
Estas cartas
são atribuídas a Malkuth. Aqui é o
fim de toda a energia. Está completamente distante do “mundo da formação”, onde as
coisas são elásticas. Não há agora qualquer atribuição planetária a ser
considerada. No que diz respeito a Sephira, está bem baixo no mundo de Assiah. Pelo simples fato de ter
concebido quatro elementos, a corrente se separou da perfeição original. Os dez são uma advertência; veja para onde
conduz -
para dar o primeiro passo errado !
O dez de Bastões é denominado Opressão. Isto é o que acontece quando
se emprega força, força e nada mais a não ser força todo o tempo. Aqui assoma o
moroso e pesado planeta Saturno abatendo o lado ígneo, etéreo de Sagitário; ele
traz à tona o pior em Sagitário. Veja o arqueiro
em lugar de estar emitindo raios benignos a tratar com a chuva cáustica da
morte ! O bastão dominou; executou
seu trabalho; executou seu trabalho demasiado bem; não soube quando parar. O
governo se tornou tirania. Pensa-se na hidra
quando se reflete que o rei Charles foi
decapitado em Whitehall !
O dez de Copas se chama Saciedade. Sua atribuição é Marte em Peixes. O signo da água
mergulhou num sonho de estagnação, mas nele se forma e se
desenvolve a violenta qualidade de Marte para levá-lo à putrefação. É como está
escrito: “Até um dardo atravessar seu fígado.” A busca do prazer foi coroada de
perfeito sucesso, e constantemente é descoberto que, tendo conseguido tudo que
se desejou, não se o desejou afinal de contas; e agora é preciso pagar.
O dez de Espadas é chamado de Ruína. Ensina a lição que os estadistas
deviam ter aprendido e não aprenderam, ou seja, que se prossegue lutando o
tempo suficiente, tudo termina em destruição.
Contudo, esta
carta não é inteiramente destituída de
esperança. A influência solar domina; a ruína nunca pode ser completa porque o
desastre é uma doença estênica. No momento em que as coisas estão
suficientemente ruins, começa-se a construir novamente. Quando todos os
governos se esmagaram entre si, resta ainda o camponês. Ao fim das desventuras
de Cândido, ele podia ainda cultivar seu jardim.
O dez de Discos é chamado de Riqueza. Aqui está registrada novamente
esta doutrina que sempre reaparece, a saber, que logo que se atinge o fundo encontra-se
a si mesmo no alto. E a Riqueza é dada a Mercúrio em Virgem. Quando a riqueza é
acumulada além de um certo ponto, tem que se tornar completamente inerte e
cessar de ser riqueza ou convocar a ajuda da inteligência para que seja
empregada corretamente. Isto deve ocorrer necessariamente em esferas que não
têm nada em absoluto a ver com posses materiais como tais. Deste modo, Carnegie
funda uma biblioteca, Rockefeller faz
doações para a pesquisa simplesmente
porque nada há mais a ser feito.
Mas toda essa
doutrina se acha por trás da carta: é
seu significado interior.
Há ainda um
outro ponto a ser considerado, a saber, que esta é a última de todas as cartas
e, portanto, representa a soma total de todo o trabalho que foi realizado desde
o início. Assim, nela está desenhada a própria figura da Árvore da Vida. Esta
carta, em relação às demais trinta e cinco cartas menores, é o que o vigésimo
primeiro trunfo, O Universo, é para o resto dos trunfos.
A RAIZ
DOS PODERES DO
FOGO
ÁS DE BASTÕES
Esta carta
representa a essência do elemento fogo em seu começo. É uma explosão
solar-fálica de chamas da qual brotam raios em todas as direções. Essas chamas
são Yods dispostos na forma da Árvore
da Vida (quanto a Yod, ver
Atu IX supra).
É a energia primordial do divino se manifestando na matéria, e num estágio tão primitivo que
não está ainda definitivamente formulada como vontade.
É importante
observar que embora essas “cartas
menores” sejam simpáticas com suas
origens sefiróticas, não são idênticas
e nem são pessoas divinas. São (bem
como as cartas da corte)
primordialmente sub-elementos, partes
das forças cegas sob o demiurgo, Tetragrammaton. Seus
regentes são as Inteligências
no mundo Yetzirático, que procedem
para formar a Schemhamphorasch. Nem é até mesmo este Nome, Senhor do Universo, verdadeiramente divino como são os Senhores
do Atu no elemento espírito. Cada Atu possui seu próprio universo privado,
pessoal, particular com demiurgos (e
todo o resto) completos, tal como todo homem e toda mulher possuem.
Por exemplo,
o três de Discos do II ou do VI
poderia representar o estabelecimento de um oráculo como o de Delfos, ou o do
VIII poderia ser a primeira fórmula de um Código tal como Manu deu à Índia; o
do V, uma catedral, o do XVI, um exército efetivo, e assim por diante. O ponto
importante é que todas as forças elementares, embora sublimes,
poderosas ou inteligentes, são forças
cegas e nada mais.
DOMÍNIO
DOIS DE
BASTÕES
Esta carta,
pertencente a Chokmah
no naipe do fogo, representa a vontade
sob sua mais exaltada forma. Trata-se de uma vontade ideal, independente
de qualquer objeto dado.
“Pois vontade
pura, desaliviada de propósito, livre da sede de resultado, é toda senda
perfeita.” AL. I, 44
O fundo desta
carta mostra o poder do planeta Marte em seu próprio signo, Áries, o primeiro
dos signos. Aí representa ele a energia desencadeando uma corrente de força.
A
representação pictórica é de dois dorjes cruzados.
O dorje é o símbolo tibetano do raio, o
emblema do poder celeste, porém mais sob sua forma destrutiva do que sob a
criativa; mais, a saber, em sua forma anterior do que na posterior pois a
destruição pode ser considerada como o primeiro passo do processo criativo. O
óvulo virgem precisa ser rompido para ser fertilizado. Medo e repulsa são,
portanto, a reação primordial ao assalto. E então, com compreensão do plano
completo, o ceder voluntário se regozija em cooperar.
Seis chamas
saem do centro, o que indica a influência do Sol, que é exaltado em Áries. Esta
é a vontade criativa.
Marte em
Áries é a atribuição da figura geomântica Puer. ((entra símbolo na editoração)) O significado destas figuras deve ser
estudado no manual dessa ciência: O
Equinócio, vol. I, n. 2. Lembrar que as Inteligências geomânticas (ver Liber 777, cols. XLIX e CLXXVIII) são
todas primariamente gnomos.
VIRTUDE
TRÊS DE
BASTÕES
Esta carta se
refere a Binah no naipe do fogo e assim representa
o estabelecimento da energia primeva. A vontade
foi transmitida à Mãe, quem concebe, prepara e dá nascimento à sua manifestação. Refere-se ao
Sol em Áries, o signo em que o Sol é exaltado.
O significado
é harmonioso pois se trata do início da primavera, e por isso vê-se o bastão assumir a forma do lótus em
flor. O Sol inflamou a Grande Mãe.
No Yi King
o Sol em Áries é representado pelo décimo primeiro hexagrama, Thai; seu significado é idêntico à
descrição acima.
CONCLUSÃO
QUATRO DE
BASTÕES
Esta carta se
refere a Chesed no naipe do fogo. Estando abaixo do Abismo, é
o Senhor de todo poder ativo manifestado. A vontade
original do dois foi transmitida
através do três e está agora
constituída num sistema sólido: ordem,
lei, governo. Também se refere a Vênus em Áries, o que indica que não se pode
estabelecer um trabalho sem tato e gentileza.
Os bastões
têm em uma das extremidades a cabeça do carneiro, sagrado a Chesed, o deus-Pai Amoun-Ra e também a
Áries; mas na outra extremidade dos bastões estão as pombas de Vênus.
No símbolo,
as extremidades dos bastões tocam um círculo, mostrando a conclusão e limitação
do trabalho original. É no interior deste círculo que as chamas (dupla de
quatro, como se para afirmar o
equilíbrio) da energia são vistas a brincar, não havendo, inclusive, intenção
de aumentar o alcance da vontade original.
Mas esta limitação traz em si mesma as sementes da desordem.
DISPUTA
CINCO DE BASTÕES
Esta carta se
refere a Geburah
no naipe do fogo. Sendo a própria
Geburah ígnea, trata-se de uma
força puramente ativa. É regida também por Saturno e Leão. Leão mostra o
elemento fogo no máximo de força e equilíbrio. Saturno tende a prostrá-lo e afligi-lo. Não há limite para o
alcance desta energia vulcânica.
O símbolo
representa o bastão do Adepto-Chefe mostrando
que a autoridade procede dos superiores; não fosse assim esta carta seria
inteiramente desastrosa. Além disso, há também dois bastões do Segundo, ou Adepto Maior. Possuem a cabeça da fênix, que indica a idéia de
destruição (ou melhor, purgação) através do fogo e a ressurreição da energia a
partir de suas cinzas.
Há ainda um
par de bastões do Terceiro, ou Adepto Menor, que são filhas, por assim
dizer, dos bastões no três de Bastões. Nesta
carta está presente a influência atenuadora da Mãe. Uma das mais difíceis
doutrinas com relação a Geburah é que
embora ela represente toda essa energia e distúrbio irracionais e indomáveis, ainda assim provém da influência benigna e gentil do
feminino.
Os egípcios
entendiam essa doutrina perfeitamente. Sua deusa-leoa
Pasht, era saudada como “saeva” e
“ ferox”, sendo mesmo chamada de
“vermelha no dente e na garra” por
aqueles devotos fanáticos que a queriam identificar com a natureza. A idéia de
crueldade sexual está freqüentemente inerente na suprema natureza divina.
Compare-se com Bhavani e Kali no sistema indiano e observe-se o coito Shiva -
Shakti retratado em muitos estandartes tibetanos. Ver também Liber
418, quarto, terceiro e segundo
Aethyrs, e a descrição anteriormente apresentada do Atu XI.
VITÓRIA
SEIS DE
BASTÕES
Esta carta
representa Tiphareth no naipe do
fogo. Indica a energia em manifestação completamente equilibrada. O cinco rompeu as forças cerradas do quatro com ardor revolucionário, mas um
casamento ocorreu entre eles e o resultado é o Filho e o Sol.
A referência
é também a Júpiter e Leão, o que parece encerrar uma bênção à harmonia e beleza
deste arranjo. Perceber-se-á que os três
bastões dos três Adeptos estão
agora dispostos em ordem, e as próprias chamas, em lugar de se projetarem em
todas as direções, ardem de maneira estável como se fosse em lâmpadas. São
nove, em referência a Yesod e a Lua. Isto mostra a estabilização da
energia e sua recepção e reflexão pelo feminino.
Não há
círculo para encerrar o sistema. Ele, como o Sol, sustenta a si mesmo.
VALOR
SETE DE
BASTÕES
Esta carta
deriva de Netzach (vitória) no naipe
do fogo. Mas o sete é um número
débil, terrestre, feminino no que se refere à
Árvore da Vida e representa um afastamento do equilíbrio tão baixo na Árvore
que isso implica numa perda de confiança.
Felizmente, a
carta é também atribuída a Marte em Leão. Leão continua sendo o Sol em sua
plena força, mas as marcas de decadência já podem ser vistas. É como se o fogo
oscilante convocasse a energia brutal de Marte em seu apoio. Mas isto não é
suficiente para neutralizar completamente a degeneração da energia inicial e o
afastamento do equilíbrio.
O exército
foi lançado na desordem; se a vitória for para ser conquistada, será graças ao
valor individual - uma batalha de “soldados”.
A
representação pictórica mostra os bastões fixos e equilibrados da última carta
relegados ao fundo, diminuídos e convertidos em lugar comum. Em primeiro plano,
há um grande pau tosco, a primeira arma à mão, mas evidentemente insatisfatória
num combate ordenado.
As chamas
estão dispersas e parecem atacar em todas as direções sem um propósito
sistemático.
RAPIDEZ
OITO DE
BASTÕES
As três
cartas restantes do naipe pertencem a Sagitário, que representa a sutilização
da energia do fogo. Mercúrio rege a carta, trazendo assim para baixo de Chokmah a mensagem da vontade original.
A carta
também se refere a Hod, esplendor, no
naipe do fogo, conseqüentemente dizendo respeito aos fenômenos do discurso, da
luz e da eletricidade.
A
representação pictórica da carta mostra os bastões de luz convertidos em raios elétricos que sustêm, ou mesmo constituem matéria graças à sua energia vibratória.
Acima deste universo restaurado brilha o arco-íris, a divisão de luz pura, que
lida com máximos, dentro das sete cores do espectro, que exibem interação e
correlação.
Esta carta,
portanto, representa energia de alta velocidade, de modo que fornece a
chave-mestra para a moderna física matemática.
Notar-se-á
que não há chamas; foram todas absorvidas nos bastões para transformá-los em
raios. Por outro lado, a energia elétrica criou forma geométrica inteligível.
FORÇA
NOVE DE
BASTÕES
Esta carta se
refere a Yesod, fundamento. Reconduz a energia ao
equilíbrio. O nove representa sempre
o mais pleno desenvolvimento da força em sua relação com as forças acima dela. Pode-se considerar o nove como o melhor que se é capaz de
obter a partir do tipo envolvido, encarado sob um ponto de vista prático e
material.
Esta carta é
também governada pela Lua em Sagitário e assim há aqui uma influência dupla da
Lua na Árvore da Vida. E daí o aforismo:
“Mudança é estabilidade”.
Os bastões se
transformaram agora em setas. Ao fundo há oito delas e no primeiro plano,
diante das oito, uma seta-mestra. Esta tem como ponta a Lua e o Sol como força
propulsora acima dela, pois o caminho de Sagitário na Árvore da Vida une o Sol
e a Lua. As chamas da carta são décuplas, sugerindo que a energia é dirigida
para baixo.
OPRESSÃO
DEZ DE
BASTÕES
O número dez
se refere a Malkuth, que depende das nove outras Sephiroth mas não está em direta
comunicação com elas. Mostra a força destacada de suas fontes
espirituais. Tornou-se uma força cega e, assim, a forma mais violenta daquela
energia particular, sem quaisquer influências modificadoras. As chamas ao fundo
da carta entraram em fúria. É o fogo no seu aspecto mais destrutivo.
A carta
também se refere à influência de Saturno em Sagitário. Eis a maior das
antipatias. Sagitário é espiritual, célere, leve, ilusório e luminoso; Saturno
é material, lento, pesado, obstinado e obscuro.
Os oito
bastões estão ainda cruzados, mostrando o enorme poder das energias completadas
do fogo; mas eles perderam suas patentes de nobreza. Suas extremidades parecem
mais com garras; falta-lhes a autoridade e inteligência exibidas nas cartas
anteriores, e em primeiro plano estão os dois formidáveis dorjes do dois de Bastões,
mas alongados
com a extensão de barras.
O todo da
figura sugere opressão e repressão. É uma crueldade estúpida e obstinada da
qual não há fuga. É uma vontade que
nada compreendeu além de seu propósito lânguido, sua “ânsia de resultado”, e
devorará a si mesma nas conflagrações que evocou.
A RAIZ
DOS PODERES DA
ÁGUA
ÁS DE COPAS
Esta carta
representa o elemento água sob sua forma mais secreta e original. É o
complemento feminino do ás de Bastões,
e é derivada do yoni e da Lua
exatamente como o ás de Bastões é derivado do lingam e do Sol. A terceira na hierarquia. Conseqüentemente, este
ás representa a forma essencial do Cálice
Sagrado. Sobre o mar escuro de Binah,
a Grande Mãe, vêem-se lótus, dois em um, que enchem a taça com o fluido da
vida, representado simbolicamente seja como água, sangue ou vinho, em
conformidade com a finalidade selecionada do simbolismo. Sendo esta uma carta
primordial, o líquido é mostrado como água; ela pode ser transformada em vinho
ou sangue de acordo com a necessidade.
Acima da taça, descendo sobre ela, encontra-se a pomba do Espírito Santo, consagrando
assim o elemento.
Na base da
taça está a Lua, visto que constitui virtude desta carta conceber e produzir a
segunda forma de sua natureza.
AMOR
DOIS DE COPAS
O dois representa
sempre a Palavra e a Vontade. É a primeira manifestação. Assim, no naipe da
água é forçoso que se refira ao amor,
o qual recupera a unidade a partir da divisão por mútuo aniquilamento.
A carta se
refere também a Vênus em Câncer. Câncer é, mais do que qualquer outro, o signo
receptivo; é a casa da Lua e nesse signo Júpiter é exaltado. Estes são, de
maneira superficial, os três mais amigáveis dos planetas.
O hieróglifo
da carta representa duas taças no primeiro plano, transbordando sobre um mar
tranqüilo. São alimentadas de água luzente que provém de um lótus que flutua
sobre o mar, lótus do qual nasce um outro lótus em torno de cujo pedúnculo se
entrelaçam dourados gêmeos. O simbolismo do dourado * é muito complicado e deve
ser estudado em livros de referência. Mas a idéia geral é a da “Arte
Real”. O dourado é sagrado de uma forma peculiar para a alquimia.
* Cumpre
observar que o inglês dolphin
também significa delfim, golfinho, boto (NT).
O número dois se referindo à vontade, esta carta poderia
ser rebatizada de Senhor do Amor sob
Vontade pois este é o seu significado pleno e verdadeiro. Mostra a harmonia
do macho e a fêmea, interpretados no sentido mais lato. Trata-se de harmonia
perfeita e plácida, irradiando uma intensidade de alegria e êxtase.
Necessariamente,
a realização da idéia no quatro (como
é desenvolvido pelo naipe) reduzirá gradativamente a pureza de sua perfeição.
ABUNDÂNCIA
TRÊS DE COPAS
Esta carta se
refere a Binah no naipe da água. É a carta de
Deméter ou Perséfone. As taças são romãs: estão enchidas copiosamente até o
transbordamento a partir de um único lótus que surge do mar escuro e calmo
característico de Binah. Acontece
aqui a realização da vontade de amor em abundância de júbilo. É
a base espiritual da fertilidade.
A carta se
refere à influência de Mercúrio em Câncer, o que leva à frente a tese acima.
Mercúrio é a vontade ou palavra do Todo-Pai; aqui sua influência
desce sobre o mais receptivo dos signos.
Ao mesmo
tempo, a combinação dessas formas de energia apresenta a possibilidade de
idéias um tanto misteriosas. Binah, o
Grande Mar, é a Lua num aspecto, mas Saturno num outro; e Mercúrio, além de ser
a Palavra ou Vontade do Todo, é o condutor das almas dos mortos. Esta carta requer grande perspicácia na interpretação. A
romã foi a fruta que Perséfone comeu nos domínios de Plutão, o que o capacitou
a retê-la no mundo inferior, mesmo depois da mais poderosa influência ter sido
exercida. A lição parece ser que as boas coisas da vida, a despeito de
desfrutadas, deveriam ser objeto de suspeita.
LUXÚRIA
QUATRO DE
COPAS
Esta carta se
refere a Chesed na esfera da água. Aqui, abaixo do Abismo, a energia desse elemento, embora ordenada, equilibrada e
(de momento) estabilizada, perdeu a pureza original da concepção.
A carta se
refere à Lua em Câncer, que é sua própria casa, mas o próprio Câncer está
posicionado de tal maneira que isso implica numa certa fraqueza, uma renúncia
ao desejo. Isto tende a introduzir as sementes da decadência no fruto do
prazer.
O mar continua
sendo mostrado, mas sua superfície está ligeiramente agitada e as quatro taças
que se postam sobre ele não são mais tão estáveis. O lótus do qual a água brota
possui um pedúnculo múltiplo, como se para indicar que a influência da díade concentrou
força. Pois embora o número quatro seja a manifestação e consolidação
da díade, está também secretamente preparando catástrofe ao enfatizar a
individualidade.
Há um certo
paralelismo entre esta carta e as figuras geomânticas Via e Populus,
as quais são atribuídas à Lua em seu minguante e crescente respectivamente. O
vínculo é principalmente a equação Mudança
= Estabilidade, já familiar aos leitores deste ensaio. O quatro é um número “de difícil manejo”;
sozinho entre os números naturais, é impossível construir um “quadrado mágico” de quatro células.
Mesmo no Arranjo de Nápoles o quatro é
um ponto morto, um beco sem saída. Uma idéia de uma ordem totalmente diferente é necessária para prosseguir a série.
Note-se também o redesdobramento-sobre-si mesmo sugerido pelo “número mágico” de quatro 1 + 2 + 3 + 4, que é dez ((grafar
símbolo na editoração)). Quatro é o
número da maldição da limitação, da restrição. É a cruz cega e estéril de braços iguais, Tetragrammaton em seu aspecto fatal de
finalidade, como os qabalistas o conheceram antes da descoberta da fórmula
revolvente pela qual a Filha,
sentada no trono da Mãe, “desperta a longevidade do Todo-Pai”.
Para os
significados de Via e Populus consultar o Manual de Geomancia (O Equinócio, vol. I, n. 2).
DESAPONTAMENTO
CINCO DE
COPAS
Esta carta é
regida por Geburah no naipe da água. Geburah sendo ígnea, há uma natural
antipatia. Conseqüentemente surge a idéia de distúrbio, justo quando menos
esperado, num tempo de tranqüilidade.
A atribuição
é também para Marte em Escorpião, que é sua própria casa; e Marte é a
manifestação no plano mais baixo de Geburah,
enquanto que Escorpião, no seu pior aspecto, sugere o poder de putrefação da
água. Mas ainda assim as poderosas influências masculinas não demonstram dissolução
efetiva, apenas o começo da destruição. O efeito é a frustração do prazer
antecipado. Os lótus têm suas pétalas despedaçadas por ventos ígneos; o mar é
árido e estagnado, um mar morto como um “chott”
na África do Norte. Nenhuma água
flui para dentro das taças.
Além disso,
essas taças estão dispostas na forma de um pentagrama invertido, simbolizando o
triunfo da matéria sobre o espírito.
Marte em
Escorpião, ademais, é a atribuição da figura geomântica Rubeus ((grafar símbolo
na editoração)). Esta constitui um presságio tão maligno que certas escolas de
geomancia destróem o mapa e adiam a questão por duas horas ou mais, quando
Rubeus aparece no ascendente. Seu significado deve ser estudado no Manual de Geomancia” (O Equinócio, vol.
I, n. 2).
PRAZER
SEIS DE COPAS
Esta carta
mostra a influência do número seis, Tiphareth, no naipe da água. Esta
influência é reforçada pela do Sol, que representa também o seis. A imagem total é aquela da
influência do Sol na água. Seu poder impetuoso, mas equilibrado, opera aquele
tipo de putrefação - ele está no signo de Escorpião - que
é a base de toda a fertilidade, toda a vida.
Os pedúnculos
dos lótus estão agrupados num elaborado movimento dançante. De suas flores a
água jorra para as taças, mas estas não estão ainda cheias até o
transbordamento, como estão na carta correspondente abaixo, o nove.
Prazer, no
título desta carta, deve ser entendido no sentido mais elevado: implica em
bem-estar, harmonia de forças naturais sem esforço e tensão, tranqüilidade,
satisfação. A satisfação de desejos naturais ou artificiais é estranha à idéia
da carta, embora ela represente realmente de modo enfático a realização da vontade sexual, como é mostrado pela Sephira, planeta, elemento e signo
regentes.
No Yi King,
o Sol em Escorpião é representado pelo vigésimo hexagrama, Kwan, ((grafar o símbolo na editoração)) que é também “Grande
Terra”, sendo o trigrama da terra ((grafar símbolo na editoração)) com linhas
dobradas. Kwan significa “manifestante”, mas também “contemplante”. O Thwan se refere diretamente a um Sumo
Sacerdote, cerimonialmente purificado, na iminência de apresentar suas
oferendas. A idéia de prazer/putrefação como
um sacramento está portanto implícita
neste hexagrama como nesta carta, enquanto que os comentários nas linhas em
separado da autoria do Duque de Chau indicam o valor analítico dessa eucaristia. É uma das chaves-mestras ao
Portal da Iniciação. Para realizar e gozar isso plenamente, já foi necessário
conhecer, compreender e experimentar o segredo do nono grau da O. T. O.
DEBOCHE
SETE DE COPAS
Esta carta se
refere ao sete, Netzach, no naipe da água. Aqui reaparece a debilidade invariável
que nasce da falta de equilíbrio; além disso, a carta é governada por Vênus em
Escorpião. Sua dignidade não é boa neste
signo; é-se lembrado que Vênus é o planeta do cobre, “esplendor exterior e
corrupção interior “. Os lótus se tornaram venenosos, assemelhando-se a lírios,
e em lugar de água, um lodo verde emerge deles e transborda, fazendo do mar um pântano de febre palustre. Vênus
redobra a influência do número sete.
As taças são
iridescentes, concretizando a mesma idéia. Estão dispostas como dois triângulos
descendentes entrelaçados acima da taça inferior, a qual é muito maior que as
demais.
Esta carta é
quase a imagem “maligna e adversa” do seis;
constitui um lembrete salutar do conforto fatal com o qual um sacramento pode ser profanado e
prostituído.
Perca o
direto contato com Kether, a Suprema; desvie sempre muito do
equilíbrio delicado do pilar do meio;
imediatamente os mais santos mistérios da natureza se convertem nos segredos
obscenos e vergonhosos de uma consciência culpada.
INDOLÊNCIA
OITO DE COPAS
O oito, Hod, no naipe da água, governa esta carta. Mostra a influência de
Mercúrio, mas esta é sobrepujada pela referência da carta a Saturno em Peixes.
Peixes é água tranqüila, porém estagnante e Saturno a mata completamente. A
água não aparece mais como o mar, mas
simplesmente como poças e não existe florescência nesta carta como havia na
última. Os lótus se curvam por falta de sol e chuva e o solo é veneno para
eles; apenas dois pedúnculos exibem flores. As taças são rasas, velhas e
quebradas. Estão dispostas em três fileiras, estando as taças da fileira superior completamente vazias. A
água escoa parcamente das duas flores para dentro das duas taças centrais, e
estas gotejam para duas taças inferiores, sem enchê-las. O plano de fundo da
carta mostra poças ou lagoas num campo
bastante extenso, mas onde o cultivo não é possível. Somente a doença e o
veneno miasmático são capazes de florescer nessas vastas terras más.
A água é
escura e lamacenta. No horizonte desponta uma luz pálida, amarelada, abatida
por nuvens plúmbeas de um azul escuro.
Convém que se
compare com a última carta. Esta representa o erro oposto e complementar. Uma é
o Jardim de Kundry, a outra o Palácio de Klingsor.
Na
psicopatologia do Caminho, esta carta
é o sarampo alemão do misticismo
cristão.
FELICIDADE
NOVE DE COPAS
O número nove, Yesod, no naipe da água, restaura a estabilidade perdida pelas
excursões de Netzach e Hod a partir do pilar do meio. É também o número da Lua, fortalecendo assim a idéia
da água.
Nesta carta
se encontra o cortejo suntuoso para clímax e perfeição da força original da
água.
O regente é
Júpiter em Peixes. Esta influência é mais do que simpática; é uma decisiva
bênção pois Júpiter é o planeta de Chesed
que representa a água em sua manifestação material mais elevada, e Peixes
traz à tona as qualidades plácidas da água.
No símbolo
vêem-se nove taças perfeitamente dispostas num retângulo; todas estão cheias e
trasbordantes de água. Trata-se do mais completo e mais benfazejo aspecto da
força da água.
A figura
geomântica Laetitia ((grafar símbolo na editoração)) é regida por Júpiter em
Peixes. Para seu significado consultar o Manual
de Geomancia (O Equinócio, vol. I, n. 2). Laetitia, júbilo, contentamento, é uma das melhores e mais
poderosas das dezesseis figuras, pois os símbolos solares, lunares e mercuriais são, no máximo, ambíguos e
traiçoeiramente ambivalentes; os de Vênus prognosticam mais alívio do que
beneficência positiva; Saturno e Marte são considerados no que eles têm de
pior, e mesmo o companheiro estável de Laetitia, Acquisitio, tem seus aspectos desagradáveis, e até seus perigos.
Mas a consonância de Laetitia com esta carta chega a pouco menos que uma
identidade. O vinho é servido pelo próprio Ganimedes, vindima abundante do
verdadeiro néctar dos deuses, copioso e transbordante, um banquete de deleite
que foi pedido, sabedoria verdadeira, auto-realizada em perfeita felicidade.
SACIEDADE
DEZ DE COPAS
Esta carta
representa o elemento de conflito. Por um lado, recebe a influência do dez, Malkah,
a Virgem. A disposição das taças é aquela da Árvore da Vida. Mas, por outro
lado, as taças estão instáveis. Estão inclinadas. Derramam água, a partir do
grande lótus que paira sobre o sistema todo, de uma para outra.
O trabalho
próprio da água está completo: e o distúrbio é dívida, o que se origina da
influência de Marte em Peixes. Marte é a força rude, violenta de ruptura que
inevitavelmente ataca toda suposta perfeição. Sua energia exibe o maior
contraste possível com a de Peixes, que é tanto pacífica quanto espiritualizada.
ÁS DE ESPADAS
*
* É
presumível aqui a omissão de A
RAIZ DOS PODERES
DO AR (NT).
O ás de Espadas é a energia primordial do
ar, a essência da Vau do Tetragrammaton, a integração do Ruach. O ar é o resultado da conjunção do
fogo e da água, de sorte que lhe falta a pureza de seus superiores na
hierarquia masculina, fogo, Sol
e o falo. Mas por esta mesma razão é a primeira carta diretamente a ser
apreendida pela consciência normal da espécie humana. Os erros de cartas tais
como o sete e o dez de Copas são ainda de uma ordem absolutamente superior ao aparentemente muito mais suave quatro de Espadas. O estudo da
degradação sutil e gradual dos planos é excessivamente difícil.
Na natureza,
o símbolo óbvio do ar é o vento “que sopra onde quer que queira”. Falta-lhe a vontade concentrada do fogo para se unir à
água: o ar não possui uma paixão correspondente por seu elemento-gêmeo, a
terra. Há realmente uma notável passividade em sua natureza. É evidente que não
possui nenhum impulso auto-gerado. Mas, posto em movimento por seu Pai e Mãe,
seu poder se mostra manifestamente formidável. Visivelmente ataca seu objetivo
de um maneira que eles, sendo de caráter mais sutil e mais tênue, jamais podem
fazer. Suas qualidades “todo-abrangentes, todo-errantes, todo-penetrantes,
todo-consumidoras “ têm sido descritas
por muitos escritores admiráveis, e suas analogias são, na sua maior parte,
patentes a observadores absolutamente ordinários.
Mas,
perguntar-se-á de imediato: “qual a posição deste elemento à luz de outras atribuições ? No mundo yetzirático não é o ar o primeiro
elemento a seguir o espírito ? Não é Vayu a
primeira emergência do fenomenal proveniente da arcana obscuridade do Akasha ? Como é possível reconciliar a doutrina da mente
com o fato de Ruh, ou Ruach significar o próprio espírito ? “Achath Ruach Elohim Chiim (777) significa: “Um é o Espírito
(não ar) dos deuses dos vivos ? “ E não é o ar o elemento atribuído a Mercúrio,
e também mais propriamente o sopro da
vida, a palavra, o próprio Logos?
O estudante
terá que consultar algum tratado menos
rudimentar, apressado, elementar e superficial que o presente zumbidor de olhos
de morcego, asas de pingüin e cérebro de varejeira azul. Entretanto, embora o
ar não seja em sistema algum o mais inferior, de modo que não é capaz de
reivindicar o benefício do clero da doutrina de que Malkuth se dissolve automaticamente em Kether, a referência que se
segue não parece inteiramente destituída de poder de persuasão ou pertinência.
O Ruach
está centrado na Sephira aérea Tiphareth, que é o Filho, o primogênito
do Pai, e o Sol, a primeira emanação do Falo criativo. Deriva diretamente de
sua mãe Binah através do caminho de Zain, o sentido intuitivo sublime, de
modo que participa absolutamente da natureza de Neschamah. A partir de seu pai, Chokmah,
é informado através do caminho de Hé,
a Grande Mãe, a Estrela, nossa Senhora Nuit, ** de sorte que o impulso criativo
é comunicado a ele por quaisquer que sejam as possibilidades. Finalmente, de Kether, a Suprema, desce diretamente
sobre ele através do caminho de Gimel,
a Alta Sacerdotisa, a luz trina da Iniciação. A três-em-um, a Mãe Secreta em sua plenitude polimórfica; estas,
estas somente o saúdam como três vezes abençoado das Superiores !
** Quão
espantosamente este fato confirma a permuta de IV e XVII, que expomos
anteriormente por inteiro: como um vínculo entre Chokmah e Tiphareth, O
Imperador teria pouca importância e esta apurada doutrina das Três Mães seria perdida.
A carta
representa a Espada do Mago (ver Book 4, Segunda Parte) coroada com o
diadema de vinte e dois raios de pura Luz.
O número se refere aos Atu; e também 22 = 2 x 11, a manifestação mágica de Chokmah, sabedoria, o Logos. Sobre a lâmina, conseqüentemente,
está inscrita a Palavra da Lei, qelhma.
Esta palavra emite um fulgor de luz, dispersando as nuvens escuras da mente.
PAZ
DOIS DE
ESPADAS
Esta carta é
regida por Chokmah no elemento ar.
Este naipe, governando todas as manifestações intelectuais, é sempre complicado
e desordenado. É mais sujeito a variações do que qualquer outro naipe.
Representa uma agitação geral resultante do conflito do fogo com a água em seu
casamento, e procede, com o aparecimento da terra, para a cristalização. Mas a
pureza e exaltação de Chokmah são
tais que esta carta manifesta a própria melhor idéia possível para o naipe. A
energia subsiste acima do ataque violento de ruptura. Esta calma relativa é
frisada pelo atribuição celeste: a Lua em Libra.
A Lua é
mudança, mas a natureza é pacífica; além disso, Libra representa equilíbrio.
Entre si, elas regulam a energia das Espadas.
Na carta
aparecem duas Espadas cruzadas. Estas são unidas por uma rosa azul de cinco
pétalas. Esta rosa representa a influência da Mãe, influência harmonizadora que
ajusta o antagonismo latente que é natural ao naipe. A rosa emite raios brancos, produzindo um desenho geométrico que
reforça o equilíbrio do símbolo.
DOR
TRÊS DE
ESPADAS
Binah,
a Grande Mãe, rege aqui o domínio do ar. Este fato envolve uma doutrina
extremamente difícil que é mister estudar extensiva e minuciosamente em The
Vision and the Voice, Aethyr 14.
Binah não
é aqui a Mãe benéfica que completa a trindade com Kether e Chokmah. Ela
representa a escuridão do Grande Mar, o que é acentuado pelo domínio celestial de Saturno em Libra.
Esta carta é
escura e pesada; é, por assim dizer, o útero do caos. Há uma intensa paixão à espreita para criar, mas seus filhos
são monstros. Isto pode significar a suprema transcendência da ordem natural.
Há segredo aqui, e perversão.
O símbolo
representa a grande espada do mago, ponta para cima; ela intercepta a união de
duas pequenas Espadas curvas. O impacto destruiu a rosa. Ao fundo, a tempestade
se prepara sob um noite implacável.
TRÉGUA
QUATRO DE
ESPADAS
O número quatro, Chesed, é aqui manifestado no domínio do intelecto. Chesed se refere a Júpiter que rege em Libra neste
decanato. A soma destes símbolos não apresenta, portanto, oposição, e daí a
carta proclama a idéia de autoridade no mundo intelectual. É o estabelecimento
do dogma e a lei que a ele diz respeito. Representa um refúgio do caos mental,
escolhido de uma maneira arbitrária. Sustenta a convenção.
Os punhos das
quatro Espadas estão nos cantos de uma cruz de Sto. André. A forma deles sugere
fixação e rigidez. Suas pontas estão embainhadas numa rosa razoavelmente grande
de quarenta e nove pétalas que representam a harmonia social. Aqui, também, há
acordo.
As mentes
demasiado indolentes ou demasiado covardes para resolverem seus próprios
problemas saúdam jubilosamente esta política de conciliação. Como sempre, o quatro é o termo; como neste caso não há
justificativa para repouso, o seu distúrbio produzido pelo cinco não assegura promessa de avanço; seus simulacros estáticos
entram confusamente no cadinho; o resultado é mera balbúrdia, amiúde sinalizada
por odor fétido. Mas tem que ser feito !
DERROTA
CINCO DE
ESPADAS
Geburah,
como sempre, produz ruptura, mas como Vênus aqui rege Aquário, debilidade mais
do que força excessiva parece ser a causa do desastre. O intelecto foi
debilitado pelo sentimento. A derrota se deve ao pacifismo. Pode ser que haja
insinuação de traição, também.
Os punhos das
Espadas formam o pentagrama invertido, sempre um símbolo de tendência um tanto
sinistra. E aqui a coisa está, ainda, pior. Os punhos não se assemelham e suas
lâminas estão arqueadas ou quebradas. Dão a impressão de desalento. Apenas a
mais inferior das Espadas aponta para cima e esta é a menos funcional das
armas. A rosa da carta anterior foi inteiramente desintegrada.
O historiador
fica feliz em observar duas perfeitas ilustrações do modo desta carta e a
última no nascimento do Aeon de (1) Osíris, (2) Hórus. Notará o declínio da virtude que caracterizou Esparta e Roma,
terminando no estabelecimento da Pax
Romana. À medida que a virtude declinava, a corrupção desintegrava o
Império de dentro para fora. Cultos epicenos, como os de Dionísio (sob sua
forma degradada), de Átis, de Adônis, de Cibele, a falsa Deméter e a Ísis
prostituída, substituíram os ritos mais rigorosos dos verdadeiros deuses fálico-solares, até que finalmente
(tendo os mestres perdido o respeito e, daí, o controle da plebe local e
estrangeira) o mais abjeto de todos os cultos de escravos, disfarçado nas
fábulas das mais vis raças parasitas, varreu o mundo conhecido e o encharcou de
trevas viciadas por quinhentos anos. O historiador se deleitará em traçar
estreitos paralelos com os fenômenos cognatos exibidos antes da presente
geração.
CIÊNCIA
SEIS DE
ESPADAS
Tiphareth mostra
o pleno estabelecimento e equilíbrio da idéia do naipe. Este é particularmente
o caso com esta carta, na medida em que o próprio intelecto se refere também ao
número seis. Mercúrio, em Aquário,
representa a energia celestial
influenciando o kerub do homem, indicando assim inteligência e
humanidade.
Mas há muito
mais do que isso no símbolo. O perfeito equilíbrio de todas as faculdades
mentais e morais, arduamente conquistadas, e quase impossíveis de serem retidas
num mundo em contínua mudança, declara a idéia da Ciência em sua mais completa interpretação.
Os punhos das
Espadas, os quais são bastante ornamentais, são na forma do hexagrama. As
pontas das Espadas tocam as pétalas externas de uma rosa vermelha sobre uma
cruz dourada de seis quadrados, indicando deste modo a Cruz com a Rosa (Rosacruz) como o segredo central da verdade
científica.
FUTILIDADE
SETE DE
ESPADAS
Netzach,
no naipe de Espadas, não representa uma tal catástrofe como nos outros naipes,
pois Netzach, a Sephira de Vênus, significa vitória. Há, portanto, uma influência
modificadora e esta é acentuada pela regência celestial da Lua em Aquário.
O naufrágio
intelectual da carta não é assim tão veemente como no cinco. Há vacilação, um desejo de acordo, uma certa tolerância.
Mas, em determinadas circunstâncias, os resultados podem ser mais desastrosos
do que nunca. Isto depende naturalmente do sucesso da política. Haverá sempre
dúvida nisto enquanto houver violentas forças discordantes que a tomem como
presa natural.
Esta carta,
como o quatro, sugere a política da
conciliação.
O símbolo
mostra seis Espadas com seus punhos em formação de crescente. As pontas das
Espadas se reúnem abaixo do centro da carta, encontrando-se com uma lâmina de
uma espada muito maior que se impulsiona para cima, como se houvesse um torneio
entre as muitas fracas e a única forte. A luta é em vão.
INTERFERÊNCIA
OITO DE
ESPADAS
O número oito, Hod, significa aqui falta de persistência em assuntos do intelecto
e de discussão. A boa fortuna, entretanto, dá assistência mesmo a estes
esforços debilitados graças à influência de Júpiter em Gêmeos, regendo o
decanato. Todavia, a vontade é
constantemente contrariada pela interferência acidental.
O centro da
carta é ocupado por duas longas Espadas com as pontas para baixo. Estas Espadas
são cruzadas por seis Espadas pequenas, três de cada lado. Elas lembram alguma
arma peculiar a algum país ou culto. Vemos a kriss, a kukri, a scramasax, a adaga, a machete e a yataghan.
CRUELDADE
NOVE DE
ESPADAS
O número nove, Yesod, traz de volta a energia ao pilar central da Árvore da Vida.
A desordem anterior é agora corrigida.
Mas a idéia
geral do naipe esteve em contínua degeneração. As Espadas não representam mais
o intelecto puro tanto quanto a agitação automática de paixões cruéis. A consciência se precipitou num domínio privado
da luz da razão. Trata-se do mundo dos instintos inconscientes primitivos, do
psicopata, do fanático.
O regente
celestial é Marte em Gêmeos, fúria grosseira de apetites atuando sem freio.
Embora sua forma seja intelectual, é a disposição mental do inquisidor.
O símbolo
mostra nove Espadas de comprimentos variáveis, todas se dirigindo com suas
pontas para baixo. Estão repletas de mossas e enferrujadas. Veneno e sangue
gotejam de suas lâminas.
Há,
entretanto, um maneira de lidar com esta carta: a maneira da resistência
passiva, resignação, a aceitação do martírio.
A fórmula da
vingança impiedosa não é tampouco contrária.
RUÍNA
DEZ DE
ESPADAS
O número dez, Malkuth,
como sempre, representa a culminação da energia rematada da idéia. Mostra a
razão se enlouquecendo, tumulto periclitante de um mecanismo sem alma;
representa a lógica dos lunáticos e (majoritariamente) dos filósofos. É a razão
divorciada da realidade.
A carta
também é regida pelo Sol em Gêmeos, mas a qualidade aérea mercuriana do signo
serve para dispersar seus raios. Esta carta indica a ruptura e desordem da
energia harmoniosa e estável.
Os punhos das
Espadas ocupam as posições das Sephiroth,
mas as pontas um a cinco e sete a nove tocam e despedaçam a
espada central (seis) que representa
o Sol, o Coração, a criança de Chokmah
e Binah. A décima espada também
está aos pedaços. É a ruína do intelecto e inclusive de todas as qualidades
mentais e morais.
No Yi King, Sol em Gêmeos é a virtude do
quadragésimo terceiro hexagrama, Kwai,
a modificação aquosa do falo;
ademais, pela interpretação paralela, a harmonia desses dois mesmos trigramas.
A
significação concorda perfeitamente com a do dez de Espadas. Representa o amortecimento do impulso criativo,
debilidade, corrupção, ou miragem afetando esse próprio princípio. Porém, encarando
o hexagrama como uma arma ou método de procedimento, ele aconselha o governante
a expurgar o Estado dos funcionários públicos indignos. Curiosamente, a
invenção de caracteres de escrita com o fito de substituir os cordéis ligados
com nós é atribuída entre os eruditos chineses ao uso desse hexagrama pelos
sábios. Gêmeos é regido por Thoth; 10 é a chave do Arranjo de Nápoles e Apolo
(Sol) é o patrono da literatura e das artes: assim esta sugestão poderia
parecer, ao menos, não menos
adequada às correspondências qabalísticas do que à sua ênfase
redobrada à água e ao Sol.
Independentemente
disso, entretanto, o paralelismo é completo.
ÁS DE DISCOS
*
* Presumível
a omissão de A
RAIZ DOS PODERES
DA TERRA (NT).
O ás de Discos retrata o ingresso daquele
tipo de energia que é chamada de terra. É apropriado aqui insistir com
uma certa ênfase em uma das teses teóricas essenciais que estimularam a
elaboração do presente baralho de cartas do Tarô pois este aspecto é
significativo e o distingue dos numerosos esforços incipientes de não-iniciados
para se apresentarem a si mesmos como Adeptos. O grotesco barbeiro Alliette, o
obscuramente perverso Wirth, o mistificador afetado Péladan, até a ignorância
verbosa de charlatões tipo Autólico como Raffalovitch e Ouspensky. Nenhum
destes ou seus aparentados fizeram mais do que
“bancar o macaco aplicado” em relação aos desenhos convencionais
medievais (a sorte deles estava ausente: o Tarô é uma navalha ! ) Éliphas Lévi era um sábio e conhecia as
verdadeiras atribuições, mas seu grau na
Grande Fraternidade Branca era apenas 6 =
5 ((acrescentar símbolos de graus na
editoração)) (Adeptus Major), e ele não dispunha da previsão instruída do Novo Aeon. Ele realmente esperava
encontrar um Messias em Napoleão III,
porém da completa sublevação espiritual que acompanha a proclamação de uma nova fórmula mágica ele nada vislumbrava - não,
nem tendo Maistre Alcofribas Nasier para
guiá-lo ! **
** Ver Grands
Annales ou Croniques Tresveritables des filz. Roy des Dipsodes. 1542, Livro I,
Cap. LVIII, onde é dada não apenas uma notável descrição das condições
sociais do século XX e.v., como também,
na última linha do Enigma Profético uma
clara indicação do mote mágico do Adepto eleito pelos Mestres para anunciar essa fórmula
- esta palavra, abertamente concedida
em nome da própria Abadia. Mas, como tão freqüentemente é o
caso, era demasiado simples e direto para ser visto !
O Dr. Gérard
Encausse, Papus, seguidor de Éliphas Lévi, sentiu-se
ainda mais rigidamente preso ao seu voto
de segredo, de maneira que suas abordagens do Tarô são destituídas de
valor, isto embora fosse ele Grão-Mestre da O. T. O.
na França e Grande Hierofante 97º do Rito de Mênfis por ocasião da morte de John Yarker.
Tais dados
históricos são necessários para explicar porque todos os baralhos anteriores
têm pouco mais do que interesse arqueológico, pois o novo Aeon exigiu um novo
sistema de simbolismo. Assim, particularmente, a velha concepção da terra como
um elemento passivo, imóvel, mesmo morto e “maligno”, teve que deixar de
existir. Foi imperativo restaurar a atribuição das cores da Escala do Rei para aquela do Aeon de
Ísis, verde-esmeralda, como era
entendido pelos hierofantes egípcios.
Este verde não é, entretanto, o verde vegetal original de Ísis, mas o novo
verde da primavera que se segue à ressurreição de Osíris como Hórus. Tampouco
devem os Discos (Discos) serem
considerados mais como moedas; o disco é um emblema revolvente, o que é
bastante natural visto que já se sabe agora que cada estrela, todo planeta verdadeiro é uma esfera
revolvente. O átomo, ademais, não é
mais a partícula sólida, não dúctil e inerte de Dalton, mas sim um sistema
de forças giratórias comparável à
própria hierarquia solar.
Essa tese se
enquadra perfeitamente à nova doutrina do Tetragrammaton,
onde o componente terrestre, Hé final,
a Filha é colocada no trono da Mãe para despertar a longevidade do Todo-Pai. O
próprio NOME, conseqüentemente, não é mais um símbolo fixo, emblema de extensão
e limite, mas uma esfera continuamente revolvente; nas palavras de Zoroastro:
“repercutindo, rodopiando, bradando”.
Tem sido o
costume de editores ou desenhistas dos baralhos colocar seu selo pessoal no ás de Discos por motivos de caráter
gramatical não ligados a talvez diferenciação arbitrária na língua latina entre
os pronomes meum e tuum. Não dizia o bardo ?
“Não furta
este Livro por receio do pudor !
O Ás de Discos - o
nome do Autor.
O Ás de
Espadas - teu cadáver parecerá
Como o de Agag pareceu
no livro de Samuel.
O Ás de Copas
- bebe tu não
menos
Do que Brinvilliers, a Marquesa !
O Ás de Bastões - tua
morte sê avaliada
Como aquela do bom Rei Eduardo Segundo!”
O símbolo
central do ás de Discos é conseqüentemente
o hieróglifo pessoal de “o sacerdote & apóstolo escolhido do espaço
infinito”... ”o sacerdote-príncipe, a Besta”.
(Liber AL I, 15)
Isso deve ser
comparado ao Sigillum Sanctum da
Ordem da A. A.. ((grafar símbolos na editoração))
Ao centro de
tudo há ainda uma outra forma do Tetragrammaton,
o Falo, mostrando Sol e Lua, com o
número 666 devidamente inscrito, como se para equilibrar, ajustar-se a Vesica, com os sete setes somando 156
[BABALON 2 + 1 + 2 + 1 + 30 + 70 + 50 = (7
+ 7) ((grafar sinal de divisão na editoração)) 7 + 77 + 77 = 156) como o quadrado mágico de 6 adiciona a 666
( ((grafar símbolo)) ) 1 - 6 ((acrescentar 2 em graduação)) = TO
MEGA QHRION 300 +
70 + 40 =
5 +
3 + 1 +
9 + 8 + 100
+ 10 +
70 + 50 =
((grafar letras hebraicas)) 400
+ 200
+ 10 + 6
+ 50 ]. Caso se opte por
interpretar a linha vertical acima de 666 como 1, e somá-la, o número da Mulher Escarlate, 667, aparece (667 = H KOKKINH
GUNH = 8 + 20 + 70 + 20 + 20 + 10 + 50 + 8 + 3 + 400 + 50 + 8 ). Esta
cifra está encerrada num heptagrama,
de necessidade manifesta; e esse número, ademais, em pentágonos entrelaçados cujos lados são prolongados de modo a
formar uma roda de dez raios cujo
limite é um decágono, o qual, ainda, está, por sua vez, no interior de um
círculo, sobre o qual está inscrito por completo o nome TO
MEGA QHRION, de 12 (6 x 2)
letras.
Em torno
desse disco revolvente estão suas
seis asas. O símbolo inteiro não é
somente um glifo da terra tal como entendida neste novo Aeon de Hórus, como
também do número 6, o número do Sol. Esta carta é assim uma afirmação da
identidade do Sol e da Terra - e isto será melhor entendido por aqueles que
têm praticado pontualmente Liber Resh durante
o número necessário de anos, preferivelmente em tais eremitérios como o deserto do Saara, onde o Sol e a Terra podem
logo ser instintivamente reconhecidos como seres
vivos, companheiros constantes de alguém num
universo de puro júbilo .
MUDANÇA
DOIS DE
DISCOS
O número dois, Chokmah, aqui rege no naipe que diz respeito à terra. Mostra o tipo
de energia apropriada ao dois sob sua
forma mais fixa. Em conformidade com a doutrina segundo a qual a mudança é o suporte da estabilidade, a
carta é chamada de Mudança.
Seus regentes
celestiais são Júpiter e Capricórnio e estes símbolos são bastante
desarmoniosos, de maneira que em assuntos práticos a boa fortuna de Júpiter é
muito limitada. Sua influência na carta não é grande. E todavia, sendo o
próprio Júpiter A Roda (Atu X), ele enfatiza essa idéia.
A carta
mostra dois pantáculos, um acima do
outro; eles são os símbolos chineses do yang
e yin duplicados como no Hsiang. Uma roda é dextrógira e a outra
sinistrógira. Representam assim a interação harmoniosa dos quatro elementos em movimento constante. Pode-se, na verdade,
considerar a carta como o retrato do completo universo manifesto relativamente
à sua dinâmica.
Em torno dos
pantáculos vê-se entrelaçada uma serpente
verde (ver Liber 65, capítulo iii, vesículos 17 -
20). Sua cauda encontra-se em sua boca. Forma o número oito, o símbolo do infinito, a equação 0 = 2.
TRABALHO
TRÊS DE
DISCOS
A influência
de Binah
na esfera da terra mostra o estabelecimento material
da idéia do universo, a determinação de sua forma básica. Esta carta é regida
por Marte em Capricórnio. Marte é exaltado neste signo e portanto no que tem de
melhor. Sua energia é construtiva, como a do construtor ou engenheiro. A carta
apresenta uma pirâmide vista de cima do ápice. A base é formada por três rodas:
mercúrio, enxofre e sal; Sattvas,
Rajas e Tamas no sistema hindu; Aleph, Shin e Mem - ar,
fogo e água - as três letras-mãe do alfabeto hebraico.
Essa pirâmide
está situada no grande Mar de Binah na
Noite do Tempo, mas o mar está
solidificado, de maneira que as cores do fundo são marcadas por manchas de
diversos matizes, um cinza escuro inexpressivo e esmaiado acompanhado de um
padrão de azul escuro e verde. As faces da pirâmide têm um forte tom
avermelhado, indicando a influência de Marte.
PODER
QUATRO
DE DISCOS
O quatro, Chesed, mostra o estabelecimento do universo em três dimensões, ou
seja, abaixo do Abismo. A idéia
geradora é exibida em seu sentido material pleno. A carta é regida pelo Sol em
Capricórnio, o signo no qual ele renasce. Os Discos são muito grandes e
sólidos; a carta sugere uma fortaleza. Esta representa lei e ordem mantidas por
autoridade e vigilância constantes. Os próprios Discos são quadrados. A
revolução é bastante contrária a esta carta. Os Discos contêm os sinais dos
quatro elementos. Por tudo isto, eles giram; a defesa é válida apenas quando
violentamente ativa. Na medida em que se afigura estacionária, é o “ponto
morto” do engenheiro; e Capricórnio é o ponto no qual o Sol “vira novamente para o norte”. O fundo é azul
celeste profundo, amarelo mosqueado sugerindo um fosso; mas além disto há um
desenho verde e azul escuro representando os campos guardados cuja segurança é
garantida pela fortaleza.
No Yi King,
o Sol em Capricórnio é representado pelo segundo hexagrama, Khwan, que é o princípio feminino.
Compare com a palavra inglesa queen, o anglo-saxão Cwen, o merciano antigo Kwoen.
Cognatos são o islandês Kvan, o gótico Kwens, mulher. O tipo indo-germânico é g(w)eni
e a raiz sânscrita GwEN. Note-se também Cwm, coombe e palavras agnatas, que
significam vale fechado, usualmente
com água que dele flui. Womb - possivelmente uma forma suavizada ?
Compare também com as inúmeras palavras
derivadas da raiz Cas, que sugerem um espaço fechado e fortificado: case, castle, chest, cyst, chaste, incest,
* etc.
*
Inglês, alguns significados
respectivamente: caixa (estojo,
invólucro), castelo, tórax (baú, cofre), cisto (vesícula, bolsa), casto,
incesto (NT).
A raiz
rudimentar em toda essa classe de palavras é a gutural. Observe-se as
atribuições hebraicas: Gimel, a lua; Cheth, Câncer, a casa da lua; Kaph, a roda; Qoph, A Lua (o Atu XVIII), Guttur, a garganta. Estes sons sugerem assim a outra garganta; uma
é o canal da respiração e da nutrição, a outra da reprodução e da eliminação.
PREOCUPAÇÃO
CINCO DE
DISCOS
O número cinco, Geburah, no naipe da terra mostra a ruptura dos elementos exatamente como nos outros
naipes. Isto é reforçado pela regência de Mercúrio em Touro, tipos de energia
que se opõem. É preciso um Mercúrio poderosíssimo para perturbar Touro, de modo
que o significado natural é inteligência aplicada
ao trabalho.
O símbolo
retrata cinco Discos na forma do pentagrama invertido, instabilidade nos
próprios fundamentos da matéria. O
efeito é aquele de um terremoto. Eles são, contudo, representativos dos cinco Tatvas e mantêm íntegro num plano muito
baixo um organismo que, se assim não fosse, se desintegraria totalmente. O
fundo é um vermelho ameaçador e feio com marcas amarelas. O efeito geral é o de
uma tensão intensa, a despeito do símbolo implicar em inação prolongada.
SUCESSO
SEIS DE
DISCOS
O número
seis, Tiphareth, como antes, representa o pleno estabelecimento
harmonioso da energia do elemento. A
Lua em Touro rege a carta, e isto, ao mesmo tempo que aumenta a aproximação da
perfeição (pois a Lua é exaltada em Touro e portanto em sua forma mais
elevada), marca a transitoriedade da condição.
Os Discos
estão dispostos na forma do hexagrama,
que é mostrado esboçadamente. Ao centro enrubesce e arde o leve matiz de
garança da alvorada e externamente há três círculos concêntricos, amarelo-ouro,
rosa-salmão e âmbar. Estas cores mostram
Tiphareth plenamente realizada
na terra; é reafirmado na forma o que foi matematicamente formulado na
descrição do ás.
Os planetas
estão dispostos de acordo com sua usual atribuição, mas são mostrados apenas
como Discos irradiados pelo Sol no centro deles.
O Sol é
idolatrado como a Rosacruz; a rosa possui
quarenta e nove pétalas, a interação do sete
com o sete.
FRACASSO
SETE DE
DISCOS
O número sete, Netzach, possui seu costumeiro efeito debilitante, o que aqui se
agrava devido à influência de Saturno em Touro. Os Discos estão dispostos na
forma da figura geomântica Rubeus, a mais disforme e ameaçadora das dezesseis (ver o cinco de Copas). A atmosfera da carta é a da ferrugem. Ao fundo, que
representa vegetação e cultivo, tudo está estragado. As quatro cores de Netzach aparecem, mas estão manchadas de
azul escuro ameaçador e laranja avermelhado. Os próprios Discos são os Discos
plúmbeos de Saturno. Eles sugerem dinheiro ruim.
PRUDÊNCIA
OITO DE
DISCOS
O número oito, Hod, é muito proveitoso nesta carta porque representa Mercúrio em
seu aspecto mais espiritual e tanto rege quanto é exaltado no signo de Virgem,
que pertence ao decanato e é governado pelo Sol. Significa inteligência
aplicada com amor aos assuntos materiais, especialmente aqueles do agricultor,
do artífice e do engenheiro.
Poder-se-ia sugerir
que esta carta marca a mudança da maré. O sete
de Discos é num certo sentido o mais completo estabelecimento possível da
matéria - compare com o Atu XV - o caído mais baixo e, portanto, o exaltado
mais alto. Estas três últimas cartas parecem preparar a explosão que renovará
todo o ciclo. Note-se que Virgem é Yod, a semente secreta da vida, e também
a terra virgem aguardando o arado fálico.
O interesse
desta carta é o interesse das pessoas comuns. A regência do Sol em Virgem
sugere também nascimento. Os Discos estão dispostos sob a forma da figura
geomântica Populus. Estes Discos podem
ser representados como as flores ou frutos de uma grande árvore, suas sólidas
raízes em terra fértil.
No Yi King,
Sol em Virgem é representado pelo trigésimo terceiro hexagrama, Thun,
((grafar símbolo do hexagrama da editoração)) “Grande Ar”. Significa “retraimento” e o comentário indica como
fazer o melhor uso de tal manobra, o que está suficientemente de acordo com a
essência de Virgem, a retirada secreta de energia para o interior da terra
inculta. Populus, ademais, é a Lua retraindo-se da manifestação de sua
conjunção com o Sol.
GANHO
NOVE DE
DISCOS
O número nove, Yesod, inevitavelmente traz de volta o equilíbrio da força
em realização. A carta é regida por Vênus em Virgem. Indica boa sorte no
que se refere a assuntos materiais, benefício e popularidade.
Os Discos
estão dispostos como um triângulo eqüilátero de três, ápice para cima,
estreitamente juntos, e cercados a uma certa distância por um anel, seis Discos
maiores sob a forma de um hexágono. Isto significa a multiplicação da Palavra
estabelecida original - mediante a combinação de “boa sorte e boa
administração”. Os três Discos centrais pertencem ao padrão mágico como no caso
das cartas anteriores, mas os outros, já que a descida à matéria implica no
esgotamento gradual da energia revolvente original, assumem agora a forma de
moedas. Estas podem ser marcadas com as imagens mágicas dos planetas apropriados.
A título de
observação geral, pode-se afirmar que a multiplicação de um símbolo de energia
sempre tende a degradar seu significado essencial, bem como complicá-lo.
RIQUEZA
DEZ DE DISCOS
O número dez, Malkuth,
como sempre, representa a emissão final da energia.
Tem-se aqui a grande e última solidificação. A força é completamente despendida
e resulta em morte. Mercúrio rege esta carta em Virgem, o que pode sugerir que
a riqueza adquirida, sendo inerte, será dissipada a menos que seja empregada de
uma maneira em que se devote seu poder a objetos, e não à mera acumulação.
Os Discos, ou
(como se transformaram agora) moedas, estão dispostos na Árvore da Vida, mas a
décima moeda é muito maior que as demais. A imagem indica a futilidade do ganho
material.
Esses Discos
estão inscritos com vários símbolos de caráter mercuriano, salvo a moeda no lugar de Hod (Mercúrio) na Árvore,
que está marcada com o símbolo do Sol, o que indica a única possibilidade de
saída do impasse produzido pelo esgotamento de todas as forças elementares. Ao
fim da matéria teria que haver total estagnação, se não fosse por nela estar
sempre inerente a Vontade do Pai, o Grande Arquiteto, o Grande Aritmético, o Grande
Geômetra. Neste caso, então, Mercúrio representará o Logos, a Palavra, a Vontade, a Sabedoria, o Filho Eterno e Virgem,
a Virgem, em toda implicação desse símbolo. Esta carta é, na verdade, um
hieróglifo do ciclo de regeneração.
Entre as
figuras geomânticas, Mercúrio em Virgem é Conjunctio
((acrescer o símbolo na editoração)).
O significado, conjunção, é
mostrado claramente pela atração do triângulo
descendente (feminino), a cifra do yoni,
para o triângulo ascendente
(masculino), a do lingam. Completada
esta união, eles aparecem entrelaçados, formando ((acrescer símbolo na
editoração)), a figura de Capricórnio, o signo no qual o Sol encontra seu
renascimento. É o santo hexagrama, o
símbolo da união do macrocosmo com o microcosmo, a realização da Grande Obra,
o Summum Bonum, sabedoria verdadeira e felicidade
perfeita. Sic sit vobis !
INVOCAÇÃO
(Um juramento escrito durante a meditação da aurora)
Aiwaz !
confirma minha fidelidade Contigo ! minha vontade inspira
Com secreto
sêmen de fogo sutil, livre, criador !
Molda minha
própria carne como Tua, meu nascimento renova
Na infância
feliz como divina, terra encantada !
Dissolve meu
arrebatamento em Teu próprio, uma matança sagrada
Por meio da
qual se capta e reconcilia a alma da água
!
Preenche
minha mente com pensamento vislumbrante, intenso e raro
Para alguém
refinado, arremessado ao nada, a palavra do ar !
Máximo, salto
de noiva, minha forma quintessencial assim libertando-se
Do eu, sê
encontrado uma individualidade mesclada
no Ser-Espírito.
OS ATUS
: MNEMÔNICA
((Grafar a
letra Aleph)) Verdade, riso, volúpia:
Louco Sagrado do Vinho ! Véu dilacerado,
Loucura
lasciva é iluminação sublime.
((Grafar a
letra Beth)) A Palavra da Sabedoria
tece a teia de mentiras,
Une Infinidades
irredutíveis.
((Grafar a
letra Gimel)) Mãe, donzela da lua,
companheira de folguedos, noiva de Pã;
Ministro-Anjo de Deus para todo homem.
((Grafar a
letra Daleth)) Beleza, exibe teu Império
! A verdade acima do
Alcance do Pensamento: a totalidade do mundo é Amor.
((Grafar a
letra Tzaddi)) Genitor e iniciante,
Imperador e Rei
De
todas as coisas mortais, salve o senhor da Primavera !
((Grafar a
letra Vau)) Sabedoria a cada um
proporcional à sua necessidade
Por
modalidades de Luz, derrama, grande Hierofante !
((Grafar a
letra Zain)) A cada um sua
Compreensão realmente descobre
Sem
palavras: seu modo, Gêmeos e Amantes imortais !
((Grafar a
letra Cheth)) Contempla, a Carruagem!
Através da água jorra
O Santo
Graal, vida e êxtase, do Vinho e do Sangue!
((Grafar a
letra Teth)) A Serpente-Leão gera
Deuses ! Teu trono
A
exuberante Besta, nossa Senhora Babalon !
((Grafar a
letra Yod)) Sumamente secreta
semente de todo o plano-serpente da Vida,
Virgem, o Eremita vai, mudo
Guardião.
((Grafar a
letra Kaph)) Acelerada por suas
energias trinas, a Roda
Da Fortuna
gira: seu Eixo, imóvel.
((Grafar a
letra Lamed)) Ajustamento ! O ritmo se
retorce através de cada ato.
Selvagem é a dança; seu
equilíbrio é exato.
((Grafar a
letra Mem)) Nas Profundezas de Mãe do
Oceano o Homem-Deus
Pende, Lâmpada do Abismo Aeoniano.
((Grafar a
letra Nun)) Águia, e Serpente, e
Escorpião ! A Dança
Da
Morte turbilhona Vida de Transe a Transe a Transe.
((Grafar a
letra Samekh)) Solve, coagula !
Por V. I. T. R. I. O. L. mostrado,
A
Tintura, o Elixir, e a Pedra.
((Grafar a
letra Ayin)) Io pan! sobre os cumes o bode-Deus
Salta em luxúria selvagem
de êxtase livre.
((Grafar a
letra Phé)) Bellona, grita ! Desencapuza os Falcões ! O estrondo
De
Universos esmagando-se na Guerra !
((Grafar a
letra Hé)) Nuit, nossa Senhora das Estrelas !
Evento
É
todo Teu jogo, sublime Experimento !
((Grafar a
letra Koph)) Lua-feiticeira, sob
teu aceno de sangue livre
O
admirável Barco profético do Escaravelho da Meia-noite !
((Grafar a
letra Resh)) O Sol, nosso Pai !
Alma de Vida e Luz,
Ama e brinca livremente, sagrado em Tua visão !
((Grafar a letra Shin)) Nuit, Hadit, Ra-Hoor-Khuit ! O
Aeon
Da
Criança Gêmea ! Exulta, ó Empíreo !
((Grafar a
letra Tau)) O Nada se torna Tudo
para realizar a extensão
Do nada, ó Universo perfeito de Pã.
AS CARTAS (ILUSTRAÇÕES)
((ilustr. Os
Amantes))
- - -
TRUNFOS
0 O Louco I O Mago
II A Alta Sacerdotisa
III A Imperatriz
IV O Imperador
V O Hierofante
VI Os Amantes VII A Carruagem
VIII Ajustamento
IX O Eremita
X Fortuna
XI Volúpia
XII O Pendurado
XIII Morte
XIV Arte
XV O Diabo
XVI A Torre
XVII A Estrela
XVIII A Lua
XIX O Sol
XX O Aeon
XXI O Universo
CARTAS DA
CORTE -
BASTÕES
Cavaleiro de
Bastões Rainha de
Bastões
Príncipe de
Bastões
Princesa de Bastões
CARTAS DA
CORTE -
COPAS
Cavaleiro de
Copas
Rainha de Copas
Príncipe de
Copas
Princesa de Copas
CARTAS DA
CORTE -
ESPADAS
Cavaleiro de
Espadas
Rainha de Espadas
Príncipe de
Espadas Princesa
de Espadas
CARTAS DA
CORTE -
DISCOS
Cavaleiro de
Discos
Rainha de Discos
Príncipe de
Discos
Princesa de Discos
CARTAS
MENORES - BASTÕES
Ás de
Bastões
Domínio
Virtude
Conclusão
Disputa Vitória
Valor
Rapidez
Força
Opressão
CARTAS
MENORES - COPAS
Ás de
Copas
Amor
Abundância
Luxúria
Desapontamento Prazer
Deboche
Indolência
Felicidade
Saciedade
CARTAS
MENORES - ESPADAS
Ás de
Espadas Paz
Dor
Trégua
Derrota
Ciência
Futilidade
Interferência
Crueldade
Ruína
CARTAS
MENORES - DISCOS
Ás de
Discos
Mudança
Trabalho
Poder
Preocupação
Sucesso
Fracasso Prudência
Ganho
Riqueza
APÊNDICE A
O
COMPORTAMENTO DO TARÔ : SEU
USO NA ARTE
DA ADIVINHAÇÃO
((Ilustr. O
Sol))
O
COMPORTAMENTO DO TARÔ
Tendo sido
estabelecido à conclusão deste ensaio que as cartas do Tarô são indivíduos
vivos, convém considerar as relações que são obtidas entre elas e o estudante.
Façamos uma
analogia com uma debutante no seu baile de apresentação à sociedade. Ela é
apresentada a setenta e oito pessoas adultas. Supondo-se que se trate de uma
garota particularmente inteligente, de educação social bastante elevada, ela
poderá saber tudo a respeito da posição e características gerais dessas pessoas.
Isto, entretanto, não implicará em
conhecimento real de qualquer uma delas; ela não disporá de meios de
afirmar como uma ou outra pessoa reagirá
em relação a ela. No máximo, será capaz de conhecer apenas uns poucos
fatos
dos quais
deduções podem ser feitas. É improvável, por exemplo, que V. C. vá se esconder num porão se alguém acha
que há um gatuno na casa. É improvável que o bispo vá se abandonar aos tipos
mais espalhafatosos de blasfêmia.
A posição do
estudante do Tarô é bastante semelhante. Neste ensaio e nestes desenhos é feita
uma análise do caráter geral de cada carta; mas o estudante não poderá alcançar
qualquer apreciação verdadeira das cartas sem observar o comportamento delas
durante um longo período. Só poderá atingir uma compreensão do Tarô mediante a
experiência. Não lhe será suficiente intensificar o estudo das cartas como
coisas objetivas - terá que empregá-las; terá que viver com
elas, e elas, também, têm que viver com ele. Uma carta não está isolada de suas
companheiras. As reações das cartas, sua interação mútua, precisam ser
embutidas na própria vida do estudante.
Então como
deve ele usá-las ? Como deve ele misturar a vida delas à sua ? A maneira ideal
é a contemplação, mas esta envolve iniciação de um grau tão elevado que é impossível
descrever o método aqui, não sendo este, tampouco, nem atraente nem adequado à
maioria das pessoas. A maneira prática e ordinária é a adivinhação.
O método
técnico tradicional de adivinhação pelo Tarô se segue, tendo sido extraído de O
Equinócio, vol. I, n. 8, e sua publicação é autorizada por Frater O. M. Adeptus
Exemptus.
1. A
SIGNIFICADORA
Escolha uma
carta para representar o consulente, fazendo uso do teu conhecimento ou tua
avaliação mais de seu caráter do que se apoiando em suas características físicas.
2. Tome as
cartas em tua mão esquerda. Na mão direita empunhe o bastão sobre elas e diga:
Invoco a ti, I A O para que envies H R U, o grande Anjo que preside às operações
desta Sabedoria Secreta para que ele pouse sua mão invisivelmente sobre
estas consagradas cartas da arte, que por meio disso possamos obter
conhecimento verdadeiro de coisas ocultas, para a glória de teu Nome inefável.
Amém.
3. Entregue
as cartas ao consulente e convide-o a pensar
na indagação atentamente e fazer o corte.
4. Pegue as
cartas tal como cortadas e as retenha para o procedimento subseqüente.
Primeira operação
Esta mostra a
situação do consulente na ocasião na qual ele o está consultando.
1. As cartas
estando à tua frente, faça um corte colocando a metade do alto à esquerda.
2. Faça dois
novos cortes, um para cada pilha de cartas, da direita para esquerda.
3. Estas
quatro pilhas de cartas representam I H V H, da direita para a esquerda.
4. Encontre a
carta significadora. Se ela estiver no maço da Yod, a indagação se refere a trabalho, negócios, etc.; se estiver
no maço da Hé, refere-se a amor,
casamento ou prazer; se estiver no maço da Vau,
a indagação se refere a problemas, perda, escândalo, brigas, etc; se estiver no
maço da Hé final, a indagação se
refere a dinheiro, bens e assuntos puramente materiais.
5. Pergunte
ao consulente o objeto de sua indagação: se errado, abandone a adivinhação.
6. Se certo,
espalhe o maço que contém a significadora, com a face para cima.
Compute as cartas a partir do consulente na
direção em que ele as observa.
O cômputo deve incluir a carta a partir da
qual você o iniciou.
No caso de Cavaleiros, Rainhas e Príncipes,
conte 4.
No caso de Princesas, conte 7.
No caso de Ases, conte 11.
No caso de cartas menores, compute de
acordo com o número.
No caso de trunfos, conte 3 quando se
tratar de trunfos dos elementos; 9 quando se tratar de trunfos
planetários;
12 quando se tratar de trunfos zodiacais.
Componha uma “história” destas cartas. Esta
história é aquela do início da questão.
7. Emparelhe
as cartas de cada lado da significadora, em seguida as externas e assim por
diante. Componha uma outra “história”, que deve suprir os detalhes omitidos na
primeira.
8. Se tal
história não for absolutamente precisa, não desanime. Talvez o próprio
consulente não saiba de tudo. Mas as linhas principais devem ser formuladas com
firmeza, com retidão, ou a adivinhação deve ser abandonada.
Segunda operação
DESENVOLVIMENTO
DA QUESTÃO
1. Embaralhe
as cartas, faça a invocação adequadamente, e deixe que o consulente faça o
corte como antes.
2. Distribua
as cartas em doze pilhas, para as doze casas astrológicas do céu.
3. Decida-se
quanto à pilha em que deverá ser encontrada a significadora, por exemplo, na
sétima casa se a questão disser respeito a casamento, e assim por diante.
4. Examine a pilha escolhida. Se a significadora
não estiver aí, tente uma casa cognata. Em caso de não encontrar novamente a
significadora, abandone a adinhação.
5. Faça a
leitura da pilha, computando e emparelhando as cartas como antes.
Terceira operação
MAIS UM
DESENVOLVIMENTO DA QUESTÃO
1. Embaralhe,
etc., como antes.
2. Distribua
as cartas em doze pilhas para os doze signos do zodíaco.
3. Faça a
adivinhação das pilhas apropriadas e proceda como antes.
Quarta operação
PENÚLTIMOS
ASPECTOS DA QUESTÃO
1. Embaralhe,
etc., como antes.
2. Encontre a
significadora. Coloque-a sobre a mesa. Faça com que as trinta e seis cartas
seguintes formem um círculo em torno dela.
3. Compute e
emparelhe as cartas como antes.
(Note que
a natureza de cada decanato é mostrada
pela carta menor atribuída a ele e pelos símbolos dados em Liber DCCLXXVII, cols.
149-151).
Quinta operação
RESULTADO
FINAL
1. Embaralhe,
etc., como antes.
2. Distribua
as cartas em dez pilhas na forma da Árvore da Vida.
3. Decida-se
quanto à pilha em que deva estar a
significadora, tal como antes, mas o insucesso neste caso não implica
necessariamente na perda da adivinhação.
4. Compute e
emparelhe as cartas como antes.
(Note que não
se é capaz de dizer em que parte da adivinhação ocorre o tempo presente. Geralmente
Op. I parece indicar a história passada da questão, mas nem sempre. A
experiência ensinará. Às vezes uma nova corrente de grande ajuda pode mostrar o
momento da consulta.
Devo
acrescentar que em assuntos materiais este método se revela extremamente
valioso. Tenho sido capaz de resolver os problemas mais complexos nos mínimos
detalhes. O. M.)
É
absolutamente impossível obter resultados satisfatórios deste ou de qualquer
outro sistema de adivinhação sem a
necessária e perfeita presença da
Arte. Trata-se do mais sensível, difícil e perigoso ramo da magia. As
condições necessárias, acompanhadas de um amplo exame comparativo de todos os
importantes métodos em uso, são descritas e discutidas em detalhe em Magick, capítulo XVII.
O abuso da
adivinhação tem sido responsável, mais do que qualquer outra causa, pelo
descrédito de que toda a matéria da magia se tornou alvo, quando Mestre Therion
empreendeu a tarefa de sua reabilitação. Aqueles que não dão importância a suas
advertências e profanam o Santuário da
Alta Magia não terão senão a si mesmos para se culpar pelos desastres
formidáveis e irremediáveis que os destruirão infalivelmente. Próspero é a
resposta de Shakespeare ao Dr. Fausto.
CARACTERÍSTICAS
GERAIS DOS TRUNFOS QUANDO SÃO USADOS
CONHECE O
NADA !
TODOS OS
CAMINHOS SÃO LÍCITOS À INOCÊNCIA.
A LOUCURA
PURA É A CHAVE DA INICIAÇÃO.
O SILÊNCIO
ROMPE O ARREBATAMENTO.
NÃO SÊ HOMEM
OU MULHER, MAS AMBOS EM UM.
SÊ SILENTE,
BEBÊ NO OVO AZUL, QUE TU
POSSAS
CRESCER PARA PORTAR A LANÇA E O GRAAL !
PERAMBULA SÓ,
E CANTA ! NO PALÁCIO DO REI
SUA FILHA
ESPERA POR TI.
Em assuntos
espirituais, O Louco significa idéia, pensamento, espiritualidade, aquilo que
se empenha para transcender a terra. Nos assuntos materiais ele pode, se mal
dignificado, significar loucura, excentricidade ou mesmo mania.
Mas esta
carta essencialmente representa um impulso ou impacto original, sutil, súbito
que provém de uma região completamente estranha.
Todos esses
impulsos são corretos, se corretamente recebidos e a boa ou má interpretação da
carta depende inteiramente da atitude correta do consulente.
I
O Verdadeiro Eu é o significado da
Vontade Verdadeira:
conhece a Ti mesmo mediante Teu
Caminho.
Calcula bem a Fórmula de Teu Caminho.
Cria livremente; absorve
jubilosamente; divide intencionalmente;
consolida completamente.
Trabalha, Onipotente, Oniciente,
Onipresente,
na e para a Eternidade.
Perícia,
sabedoria, habilidade, elasticidade, artifício, astúcia, engano, furto. Por
vezes sabedoria ou poder ocultos, por vezes um rápido impulso, “uma onda
cerebral”. Pode implicar em mensagens, transações de negócios, a interferência
do saber ou a inteligência no assunto à mão.
II
Pureza é viver somente para o Supremo;
e o
Supremo é Tudo; sê tu como Ártemis
para Pã.
Lê no Livro da Lei, e atravessa o
véu da Virgem.
Pura, exaltada
e graciosa influência penetra a matéria. Por conseqüência, mudança,
alternância, aumento e diminuição, flutuação. Há, entretanto, uma
suscetibilidade de ser levado pelo entusiasmo; pode-se ficar “lunático” a não
ser que se mantenha cuidadoso equilíbrio.
III
Esta é a Harmonia do Universo, que o
Amor
una a Vontade para criar com a
Compreensão
daquela Criação: compreende tua
própria
Vontade.
Ama e deixa amar. Regozija em toda
forma do amor,
e obtém teu êxtase e teu alimento
dela.
Amor, beleza,
felicidade, prazer, sucesso, realização, boa fortuna, cortesia, elegância,
volúpia, ociosidade, dissipação, deboche, amizade, gentileza, deleite.
IV
Verte água sobre ti mesmo: assim serás
uma Fonte para o Universo.
Descobre tu mesmo em toda Estrela.
Conquista toda possibilidade.
Guerra, conquista,
vitória, conflito, ambição, originalidade, confiança jactanciosa e megalomania,
inclinação à disputa, energia, vigor, teimosia, impraticabilidade,
precipitação, mal-humor.
V
Oferece a ti mesmo Virgem ao
Conhecimento e Conversação
de teu Santo Anjo Guardião. Tudo o
mais é uma cilada.
Sê atleta com os oito membros da Yoga:
pois sem estes
não estás disciplinado para nenhuma
luta.
Força obstinada,
labuta, resistência, placidez, manifestação, explicação, ensino, bondade, ajuda
dos superiores, paciência, organização, paz.
VI
O Oráculo dos Deuses é a Voz de
Criança do Amor
em Tua própria Alma; ouve-o.
Não dá atenção à Voz-Sereia do
Sentido, ou à Voz-
Fantasma da Razão: repousa na
Simplicidade e escuta
o Silêncio.
Abertura à
inspiração, intuição, inteligência, segunda visão, infantilidade, frivolidade,
pensamento divorciado das considerações práticas, indecisão, auto-contradição,
união em grau superficial com os outros, instabilidade, contradição,
trivialidade, o “sabichão”.
VII
A Questão do Abutre, Dois-em-Um,
comunicada;
esta é a Carruagem do Poder.
TRINC: o último oráculo.
Triunfo,
vitória, esperança, memória, digestão, violência na manutenção de idéias
tradicionais, o “duro de matar”, desumanidade, desejo de destruição, obediência,
fidelidade, autoridade sob autoridade.
VIII
Equilibra em relação a cada pensamento
seu exato oposto.
Pois o Casamento destes é o
Aniquilamento da Ilusão.
Justiça, ou
melhor justesse, o ato do Ajustamento, suspensão de toda ação aguardando
decisão; em assuntos materiais pode se referir a ações judiciais ou processos. Socialmente, casamento ou contratos de casamento; politicamente,
tratados.
IX
Perambula só; portando a Luz e teu
Cajado.
E seja a Luz tão resplandecente que
nenhum homem te veja.
Não se comove com o que quer que seja
externa ou internamente:
mantém o Silêncio em todos os
caminhos.
Iluminação
proveniente do interior, impulso secreto do interior; planos práticos derivados
em conformidade com isso. Afastamento da participação nos acontecimentos
correntes.
X
Segue tua Fortuna, despreocupado para
onde ela te leva.
O eixo não se move: atinge isso.
Mudança de
fortuna (o que geralmente significa boa fortuna porque o fato da consulta
implica em ansiedade ou descontentamento).
XI
Abranda a Energia com Amor; mas deixa
o Amor devorar
todas as coisas.
Venera o nome
______, quadrado, místico,
maravilhoso, e o nome de Sua Casa 418.
Coragem,
força, energia e ação, une grande passion; refúgio da magia, o
uso de poder mágico.
XII
Não permite que as águas em que viajas
te banhem.
E, tendo chegado à praia, planta a
Vinha e regozija sem pudor.
Sacrifício
imposto, castigo, perda fatal ou voluntária, sofrimento, derrota, fracasso,
morte.
XIII
O
Universo é Mudança; toda Mudança é o
efeito de um Ato de Amor; todos os
Atos de Amor contêm
Alegria Pura. Morre diariamente.
A
morte é o ápice de uma curva da Vida-serpente:
contempla todos os opostos como
complementos necessários,
e regozija.
Transformação,
mudança, voluntária ou involuntária, num caso ou outro desenvolvimento lógico das condições
existentes, ainda que talvez súbito e inesperado. Morte ou destruição aparente,
embora esta interpretação seja ilusão.
XIV
Verte o teu todo livremente do Vaso em
tua mão
direita e não perde gota alguma. Não
tem a tua mão esquerda
um vaso ?
Transmuta tudo integralmente na Imagem
de tua Vontade,
trazendo cada um ao seu verdadeiro
símbolo de Perfeição.
Dissolve a Pérola na taça de vinho;
bebe e
torna manifesta a Virtude dessa
Pérola.
Combinação de
forças, realização, ação baseada em cálculo preciso; o caminho da fuga, sucesso
depois de manobras elaboradas.
XV
Com teu Olho direito cria tudo para ti
mesmo, e com
o esquerdo aceita tudo que seja criado
de outra maneira.
Impulso cego,
irresistivelmente forte e inescrupuloso, ambição, tentação, obsessão, plano
secreto prestes a ser executado; trabalho duro, obstinação, rigidez,
descontentamento doloroso, resistência.
XVI
Derruba a fortaleza de teu Eu
Individual
de modo que tua Verdade possa brotar
livre
das ruínas.
Disputa,
combate, perigo, ruína, destruição de planos, morte súbita, fuga da prisão.
XVII
Usa toda tua energia para governar teu
pensamento: queima
teu pensamento como a Fênix.
Esperança,
ajuda inesperada, clareza de visão, realização de possibilidades, discernimento
espiritual com maus aspectos, erro de julgamento, devaneio, desapontamento.
XVIII
Deixa a Ilusão do Mundo passar por ti,
despercebida,
à medida que caminhas da Meia-noite
para
a Manhã.
Ilusão,
engano, confusão, histeria, mesmo insanidade, devaneio, falsidade, erro, crise,
“a hora mais negra antes da aurora”, a iminência de mudança importante.
XIX
Emite tua luz a todos sem dúvida;
as nuvens e sombras não importam para
ti.
Faz do Discurso e do Silêncio, da
Energia e da Quietude
formas gêmeas do teu jogo.
Glória,
ganho, riquezas, triunfo, prazer, franqueza, verdade, despudor, arrogância,
vaidade, manifestação, recuperação da doença, mas por vezes morte súbita.
XX
Seja todo Ato um Ato de Amor e de
Veneração.
Seja todo Ato o Fiat de um Deus.
Seja todo Ato uma Fonte de irradiante
Glória.
Decisão final
com respeito ao passado, corrente nova com respeito ao futuro; representa
sempre a tomada de um passo definido.
XXI
Trata o tempo e todas as condições do
Evento como Servos
de tua Vontade, designados para
apresentar o Universo a
ti
sob a forma
de teu Plano.
E : bênção e adoração ao profeta da
graciosa Estrela.
O assunto da
própria questão, síntese, o desfecho da matéria; pode significar demora,
oposição, obstinação, inércia, paciência, perseverança, teimosia persistente na
dificuldade. A cristalização de toda a matéria envolvida.
APÊNDICE B
((ilustr. O
Universo))
CORRESPONDÊNCIAS
A Santa Qabalah é um sistema de classificação dos seres, by-comings, pensamentos, mônadas, átomos, ondas, pacotes de energia, idéias ou seja lá o que for que se escolha para chamá-los; e de
memorizar, discutir e manipular as relações
entre eles.
As unidades desse sistema são números, querendo-se dizer, geralmente,
“números naturais”, mas não há razão para excluir outros termos matemáticos
tais como ((grafar os vários símbolos na editoração)) e assim por diante.
Cada unidade
é uma idéia ou pessoa vivas, a cada uma estando relacionada na natureza todas as outras idéias de uma
maneira ou outra.
Assim, o 93 está relacionado ao 31, sendo um múltiplo
dele; o 13 está relacionado ao 1, visto que AChD,
a palavra hebraica para unidade significa
um. A genciana está relacionada ao céu
porque ambos parecem azuis; e o azul está relacionado a Júpiter, Vênus e a Lua,
e assim aos números sagrados a esses planetas, 4, 7 e 9 porque o azul é a cor de todos os três
planetas numa escala ou outra.
Todas as
palavras são, portanto, de algum modo conotações de toda outra palavra ou
número; trata-se meramente da questão de descobrir a categoria certa para
estabelecer as relações entre elas.
Correspondências
tais como HVD(Esplendor), Elohim, Gibor, Kokab, Mercúrio, Samael, púrpura-violeta, Anúbis, Tahuti, Thoth,
laranja, ruivo, branco mosqueado de marrom amarelado, Odin, Loki, Hermes,
Hanuman, Hermafrodita, Chacal, Monokeros de Astris, móli, Anhalonium
Lewinii, opala, o Espírito Santo, estoraque, os nomes e versículos empregados em
ritual, veracidade, o
octágono, Palatium Serenitatis,
Aarão, Raqie, Svaddistthana, Sakkya-ditti,
enganadores, Jarmat al Firdaus e
inúmeras outras idéias pertencem todas ao número 8.
Essas “correspondências”
não são arbitrárias. Em alguns casos há uma conexão racional, direta ou
indireta, em outros a relação resulta da observação direta.
Todas as
idéias possíveis sendo em última instância integrantes entre si, é
evidentemente impossível constituir uma Qabalah
completa. O mesmo se aplica às séries infinitas, às séries divergentes, às
diferenciações, ao “universo em expansão” de alguma teoria física moderna.
As tabelas
aqui impressas e empregadas como base da forma e cor das setenta e oito cartas
são convenções bem experimentadas e comprovadas; a harmonia do resultado é
testemunha da exatidão do método e uma defesa do sistema da Santa Qabalah.
((ilustr. A
Escala-chave))
DIAGRAMA
1. A ESCALA-CHAVE (página ....)
Este diagrama
ilustra a teoria convencional da estrutura do universo adotada por conveniência
para as finalidades de cálculo no Livro chamado
de Tarô. A elipse, a parábola e a
hipérbole mostram os três véus do
negativo; os dez círculos se referem aos dez números da escala decimal e
sua significação geral espiritual e moral é dada nos aros. A necessidade e
propriedade desse sistema são demonstradas no Arranjo de Nápoles, discutido
pormenorizadamente na primeira parte deste ensaio. As linhas que unem esses
círculos representam os vinte e dois números * do alfabeto hebraico com os
significados efetivos de seus nomes e seu valor numérico, o que é também
abordado de maneira ampla e minuciosa neste ensaio.
* Ou melhor, letras (NT).
Este diagrama
deve ser estudado de maneira tão profunda e contínua a ponto de se tornar
automático para a mente aceitá-lo como a base de todo pensar do tema do Tarô,
exatamente como as letras do alfabeto e sua ordem arbitrária são aceitas como a
base de todo nosso pensar a respeito das palavras e sua pronúncia. Enquanto
esta tarefa não for executada com tal domínio, os detalhes referentes ao Tarô
poderão se revelar uma fonte de contínuo aborrecimento. Cada símbolo do livro
precisa se tornar tão familiar a ponto de ter mergulhado completamente nas
camadas inconscientes do pensamento. O conhecimento intelectual tem que ser
lavrado na substância da mente de tal forma que se converta em instinto.
DIAGRAMA
2. ATRIBUIÇÃO GERAL DO TARÔ (página ....)
Desde que o
Diagram 1 tenha sido dominado como deve sê-lo, esta figura não apresentará
qualquer dificuldade. Os dez números evidentemente se referem às cartas menores
do baralho, os ases ao número 1, os duques ao número 2 e assim por diante. As
cartas da corte se referem aos números 2,
3, 6 e 10 em sua capacidade de representar a idéia do Pai, Mãe, Filho e
Filha. Os vinte e dois trunfos se referem aos vinte e dois caminhos.
As mesmas
observações gerais feitas na descrição do Diagrama 1 se aplicam aqui também, mas este diagrama tem que ser
estudado em separado. Não convém que seja utilizado como uma tabela que se deve
consultar em caso de dúvida; convém, sim, que seja encerrado na memória antes
que se proceda ao estudo minucioso do baralho.
DIAGRAMA
3. O COSMOS CHINÊS (página
....)
Este diagrama
foi introduzido como uma elucidação da interação do sistema décuplo das Sephiroth com o sistema quádruplo de Tetragrammaton porque o sistema chinês,
embora baseado exclusivamente no princípio da simples adição e subtração, se
mostra em perfeita harmonia com nossa Qabalah.
((ilustr.
Atribuição Geral do Tarô))
A origem do cosmos é explicada da maneira que se
segue. O Tao é exatamente equivalente ao Ain ou Nada de nossa Qabala visto que igualmente tem que ser
compreendido como necessariamente possuidor de uma fase de manifestação. A
concepção se torna mais objetiva à medida que é desenvolvida, de maneira que
tanto o Tao quanto o seu correlativo
oculto, o Teh são formulados de um modo inteiramente
positivo como Yang e Yin, que correspondem precisamente ao Lingam e Yoni, os quais revestidos se tornam os símbolos populares do Pai e
a Mãe.
No macrocosmo
correspondem ao Sol e a Lua, e pela complementar descida à matéria são, do lado
masculino, fogo e ar, e do lado feminino, água e terra.
O conceito
original do Tao tal como desenvolvido
pelo Teh está resumido no nome Thai Ki. O Yang e o Yin são chamados
de I ou Yao.
Quando estes são combinados dois de uma vez, obtém-se quatro figuras chamadas
de Hsiang, o qual pode ser comparado
ao Tetragrammaton, e este estágio de
desenvolvimento é tão secreto na idéia chinesa que praticamente nada é dito
acerca dessas formas. Elas só vêm à luz quando as combinações do Yang e do Yin são tomadas três de uma vez como é mostrado na parte inferior
deste diagrama.
Pode-se notar
que há oito dessas formas; são chamadas de Kwa.
Duas destas são completamente equilibradas em pureza, Khien e Khwan com três Yangs e três Yins respectivamente. Em seguida surge o primeiro fracasso do
equilíbrio perfeito; há Li, o Sol e Khan, a Lua. Um contém dois Yangs com um Yin entre eles e o outra dois Yins
com um Yang entre eles.
Os quatro
trigramas remanescentes são completamente desequilibrados em si mesmos, mas
cada um é equilibrado pela contraparte. O equilibrado e o quase equilibrado são
portanto encontrados na coluna mediana equilibrada; os outros, representando os
quatro elementos, na coluna lateral.
Khien, céu, é
encontrado no lugar de Daäth, o que
retoma os poderes da tríade superior. Note que ela não tem nenhum lugar
verdadeiro na Árvore, como que indicando que a ilusão material começa agora.
No lugar de Chesed, que é água em nossa Qabalah,
encontramos Tui, que é água no sistema chinês. Em Geburah, nosso fogo, está Kan,
fogo no sistema chinês. No lugar de Netzach,
que é terra na Qabalah
está Kan, que é terra no plano
chinês. Finalmente, para a Sephira Hod, que no nosso sistema é aérea e mercuriana, encontramos Sun, o trigrama chinês do ar.
O sistema chinês
é, portanto, em todos os pontos, equivalente à nossa própria Qabalah e é sumamente interessante
observar que eles igualmente atingem a idéia de nossos próprios sistemas de
iniciação sem invocar nenhuma outra fórmula a não ser a da díade.
((ilustr. O
Cosmos Chinês))
((ilustr. A
Rosacruz))
UMA BREVE
EXPLICAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES AQUI
INDICADAS MEDIANTE NOVE DIAGRAMAS ILUSTRATIVOS
1. A Árvore
da Vida com a atribuição das Sephiroth e os caminhos. *
2. O Tarô na
Árvore da Vida.*
3. O Yi King
na Árvore da Vida. *
4. O caduceu
de Hermes.
5. Os números
dos planetas.
6. Os elementos e seus símbolos.
7. As armas
dos elementos
8. A Esfinge
9. As dignidade
essenciais dos planetas.
* Diagramas
cujas explicações foram apresentadas nas páginas imediatamente anteriores (NT).
DIAGRAMA
4. O CADUCEU (página ....)
Este diagrama
ilustra a Árvore da Vida, o Cosmos como
o bastão ou força criativa de Mercúrio, que é a da energia equilibrada que
criou a ilusão da existência. É de se notar que a forma do símbolo mostra as
três letras-mãe do alfabeto hebraico, Shin,
Aleph e Mem em suas três seções.
A importância
deste símbolo reside principalmente no fato do Tarô ser primordialmente o Livro de Thoth ou Tahuti, o Mercúrio egípcio. Para a compreensão desse livro é
necessário aprender transmutar instintiva e automaticamente todo símbolo
simples em todo símbolo complexo e retornando novamente, pois somente assim é
possível compreender a unidade e diversidade que é a solução do problema
cósmico.
DIAGRAMA
5. OS NÚMEROS DOS PLANETAS (página .... )
Este diagrama
ilustra o sistema solar na Árvore da Vida. Saturno está na posição da Sephira inexistente, Daäth, mas resume as características das três Sephiroth acima do Abismo. O ponto de doutrina é que não existindo
este na Árvore em natureza, compete ao buscador da verdade penetrar na
obscuridade de Saturno e descobrir aí a Tríade
Superior sob uma forma ligada à sua própria mente por sua posição no sistema
solar.
A décima Sephira, que se refere à Terra, não é
mostrada nesta figura, pois este número representa Nephesch, a alma animal do
homem, a cristalização da mente, e a Filha ou Hé final de Tetragrammaton.
Neste livro
pouquíssima atenção foi dada ao imenso, vasto dogma obscurecedor da era cristã.
Este foi variavelmente representado como a doutrina do pecado original, da queda,
da expiação. Parte desta doutrina é
apresentada nas lendas acerca da palavra perdida, a Viúva e o Filho da Viúva, a filha decaída,
solitária e lamentadora, e assim por diante. Estas doutrinas foram todas
baseadas na ignorância da época, que supunha que o sol era destruído toda noite
e tinha que renascer toda manhã mediante maquinações sacerdotais.
A “
fórmula do deus que morre”, como é geralmente denominada, realmente existe,
mas representa um estágio no desenvolvimento humano que agora é passado no que
diz respeito à teologia externa. Possui uma espécie de validade sombria na
psicologia; por exemplo, ao assumir uma nova tarefa de alguma importância,
começa-se muito agradavelmente, o período de Ísis; a tarefa se torna tediosa e
desconcertante e se começa a desesperar, o período de Apófis; então,
subitamente, o assunto é dominado e se chega a uma conclusão triunfante, o
período de Osíris.
Mas o
conjunto dessa fórmula se apoia na ignorância das leis da natureza. Não há, na
verdade, nenhuma catástrofe. Natura non
facit saltum. Toda mutação procede com ordem, tranqüilidade e harmonia
perfeitas. Constitui a grande incumbência colocada diante da espécie humana no
presente momento compreender, e portanto ajustar os recursos da ação aos fatos
do caso, evitando assim a ilusão da catástrofe ao eliminar o elemento surpresa.
É também, está claro, de suma
importância eliminar aquele desejo preconceituoso que é o veneno da
vontade, “Pois vontade pura, desaliviada de propósito, livre da sede de
resultado, é toda senda perfeita.”
((ilustr. Os
Números dos Planetas))
((ilustr. Os
Elementos e seus Símbolos))
((ilustr. As
Armas dos Elementos))
((ilustr. A
Esfinge))
Só torna as
coisas piores desejar-se que não houvesse dez de Espadas no baralho, ou que o cinco
de Bastões não seguisse e transtornasse o quatro.
DIAGRAMA
6. OS ELEMENTOS E SEUS SÍMBOLOS (página .... )
Este diagrama
é, à primeira vista, bastante perturbador pois não pode ser atribuído de
nenhuma maneira direta à Árvore da Vida.
Será melhor
expor os problemas ab ovo. * Os elementos são
em número de quatro. Embora eles sejam harmonizados e equilibrados e feitos
para revolver, há uma irreconciliável dificuldade em sua perfeição. É
impossível dispor quatro números num ‘quadrado mágico’, de maneira que todos os
lados e todas as diagonais totalizem o mesmo número. O dois é o único número em relação ao qual isto é verdadeiro. Tal é a fórmula matemática
para expressar a doutrina do que foi chamado de a Díade Amaldiçoada.
* A
partir do ovo, a partir do início (NT).
O problema do
Adepto era portanto atacar essa
dualidade irreconciliável, cujo limite é reforçado e entrincheirado elevando-se
ao quadrado. Como, portanto, a dualidade original do fogo e da água foi superada pela introdução de um
terceiro elemento que partilha
igualmente de ambas as naturezas, o ar, um quinto elemento foi introduzido e o
pentagrama instituído como um símbolo
de salvação. Na Qabalah cristã, isso é
simbolizado pela introdução da letra Shin no meio do Tetragrammaton para representar o elemento espírito harmonizando e governando os quatro elementos rígidos e opostos.
O nome Jehovah IHVH, se torna, assim, IHShVH, Yeheshuah, Jesus. Este é o método qabalístico de expressar a doutrina de
Jesus como o Redentor. O método foi explicado detalhadamente por uma fórmula na
qual INRI, a inscrição sobre a cruz, se
torna Yod Nun Resh Yod, que são nos
céus Virgem, a Virgem-Mãe; Ísis, Escorpião, Apófis o Dragão, o Destruidor; Sol,
Osíris, o Morto e Ressuscitado. As iniciais desses três seres divinos formam
assim o mais antigo nome de Jehovah, IAO. Deste modo os iniciados de
outrora exprimiam seu entendimento do fato de que o universo era, afinal,
perfeito, mesmo se necessitando um pouco de manipulação. Mas, como explicado
previamente, esta doutrina é para os irmãos mais débeis, para aqueles que
sofrem da ilusão da imperfeição; ela os capacita a abrir seu caminho para a Luz
ilimitável.
DIAGRAMA
7. AS ARMAS DOS ELEMENTOS.
Este diagrama
mostra a atribuição dos quatro naipes do baralho aos quatro elementos. O quinto elemento, espírito, é representado por uma lâmpada, a qual no Tarô se refere aos
vinte e dois trunfos. A interação dos símbolos deve ser notada pois o conjunto
dos símbolos planetários, zodiacais e dos elementos estão eles mesmos todos
contidos nos raios da lâmpada. Observe-se que este e os
diagramas seguintes representam novas descobertas do Mestre Therion:
complemento da Tradição.
DIAGRAMA 8. A
ESFINGE
Este diagrama
mostra os quatro Kerubs que estão ao
redor do trono do Todo-Poderoso; indicam os signos zodiacais centrais dos
quatro elementos: Leão, Escorpião, Aquário
e Touro. O signo querúbico em qualquer elemento exibe a forma mais poderosa e
equilibrada desse elemento. Junto aos Kerubs
estão os nomes das quatro virtudes do
Adepto, aquelas que o capacitam a sobrepujar a resistência dos elementos, e
que são: querer, ousar, saber e silenciar. Através do exercício
harmonioso destas virtudes, o quinto elemento, espírito, é formulado no ser do Adepto. É o deus interior, o sol,
que é o centro do universo do ponto de vista humano, com sua própria virtude
particular, que é ir. A característica essencial da divindade é esta faculdade
de ir
; os movimentos livres do espaço e tempo e todas as outras condições possíveis.
No sistema hieroglífico egípcio, essa faculdade de ir era representada por uma correia de sandália, a qual indica, por
sua forma hieroglífica, a crux ansata,
a rosa e a cruz, que, por sua vez,
produz a fórmula do Amor sob Vontade,
o segredo da realização.
DIAGRAMA 9. AS
DIGNIDADES ESSENCIAIS DOS PLANETAS
Este diagrama
mostra a verdadeira realização simétrica do sistema solar-sideral. As
descobertas astronômicas de Herschel (Urano), Netuno e Plutão completaram o esquema
décuplo das Sephiroth e permitiram a
Mestre Therion estabelecer a astrologia na sua relação com a magia
cerimonial numa base perfeitamente equilibrada.
Constitui uma
notória testemunha do triunfo da magia o fato de todas as nações combativas
terem adotado, dignamente ou não, símbolos e gestos mágicos.
Grã-Bretanha
e Estados Unidos: “Polegares para cima ! “
- o sinal de Khem: falo; o sinal V - o
signo de Apófis e de Tífon.
U.R.S.S.: O
martelo e a foice - Júpiter e Saturno; o pentagrama.
O Terceiro Reich : a Suástica.
Itália:
o fascis
- fascinum.*
Japão: o sol
nascente.
França :
abandonando a flor-de-lis (falo) e profanando
o pentagrama da Légion d’Honneur, _____ ? **
* Latim fascis
ou fasces, embrulho, feixe, fardo e também machadinha atada com um feixe de
varetas de bétula ou olmo que se carregava à frente dos primeiros magistrados
romanos, simbolizando sua grande autoridade, especialmente seu poder de condenar à morte. Fascinum
( latim), sortilégio, malefício e também
falo (NT).
** Francês, Legião de Honra (NT).
_____________________________________________________________________________________
Título e número Letra Nome hebraico Valor Atri- Português Escala-
impressos nas hebraica dos números numérico buição
chave
cartas do Tarô e letras
_____________________________________________________________________________________
0. O Louco ((grafar)) Aleph 1 ((grafar)) Boi (arado) 11
I. O Mago ((grafar)) Beth 2 ((grafar)) Casa 12
II. A Alta Sacerdotisa ((grafar)) Gimel
3 ((grafar)) Camelo 13
III. A Imperatriz ((grafar)) Daleth 4 ((grafar)) Porta 14
IV. O Imperador ((grafar)) Tzaddi 90, 900 ((grafar)) Anzol 28
V. O Hierofante ((grafar)) Vau 6 ((grafar)) Prego 16
VI. Os Amantes ((grafar)) Zain 7 ((grafar)) Espada 17
VII. A Carruagem ((grafar)) Cheth 8 ((grafar)) Cerca 18
VIII.
Ajustamento
((grafar)) Lamed 30 ((grafar)) Aguilhão 22
IX. O Eremita ((grafar)) Yod 10 ((grafar)) Mão 20
X. Fortuna ((grafar)) Kaph 20, 500 ((grafar)) Palma da mão 21
XI. Volúpia ((grafar)) Teth 9 ((grafar)) Serpente 19
XII. O
Pendurado ((grafar)) Mem 40, 600 ((grafar)) Água 23
XIII.
Morte ((grafar)) Nun 50, 700 ((grafar)) Peixe 24
XIV.
Arte ((grafar)) Samekh 60 ((grafar)) Suporte 25
XV. O
Diabo ((grafar)) Ayin 70 ((grafar)) Olho 26
XVI. A Torre
(Guerra) ((grafar)) Pé 80, 000 ((grafar)) Boca 27
XVII.A
Estrela ((grafar)) Hé 5 ((grafar)) Janela 15
XVIII.A
Lua ((grafar)) Qoph 100 ((grafar)) Nuca 29
XIX. O Sol ((grafar)) Resh 200 ((grafar)) Cabeça 30
XX. O Aeon ((grafar)) Shin 300 ((grafar)) Dente 31
XXI. O
Universo ((grafar)) Tau 400 ((grafar)) Tau
(egípcia) 32
Tau 400 ((grafar)) 32
bis
Shin 300 ((grafar)) 31 bis
__________________________________________________________________________
AS QUATRO
ESCALAS DE COR
____________________________________________________________________________
O Cavaleiro A Rainha O Príncipe A Princesa
_____________________________________________________________________________
11. Amarelo claro Azul celeste Verde-esmeralda Esmeralda, dourado
brilhante
azulado mosqueado
12. Amarelo Púrpura Cinza Índigo,
violeta
estriado
13. Azul
Prateado
Azul claro
Prateado, azul ce-
acinzentado leste estriado
14. Verde-esmeralda Azul celeste Verde do começo Rosa claro ou
da
primavera cereja,
verde
pálido estriado
28. Escarlate Vermelho Chama brilhante Vermelho incandescente
16. Laranja avermelhado Índigo escuro Oliva escuro Castanho vivo
quente
17. Laranja Malva
claro Novo couro Cinza avermelhado
amarelo
pendendo para malva
18. Âmbar
Castanho Ruivo claro Marrom esverdeado
vivo
escuro
19. Amarelo (esverdeado) Púrpura escuro Cinza Âmbar
avermelhado
20. Verde (amarelado) Ardósia Cinza
esverdeado Cor de ameixa
21. Violeta Azul Púrpura
vivo Azul claro,
amarelo estriado
22. Verde-esmeralda Azul Verde
azulado Verde pálido
escuro
23. Azul escuro Verde do mar Verde oliva Branco, púrpura
escuro mosqueado
AS QUATRO
ESCALAS DE COR ( continuação )
________________________________________________________________________
O
Cavaleiro A
Rainha O
Príncipe A
Princesa
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
24. Azul esverdeado Castanho baço Castanho muito Castanho índigo
escuro plúmbeo
25. Azul Amarelo Verde Azul escuro
vívido
26. Índigo Preto Preto
azulado Cinza escuro próximo
do preto
27. Escarlate Vermelho Vermelho veneziano Vermelho claro, azul
celeste ou esmeralda
estriados
15. Violeta Azul
celeste Malva azulado Branco, púrpura
tingido
29. Carmesim (ultra-violeta) Cor de couro, Castanho rosado Cor de pedra
branco prateado
translúcido claro
mosqueado
30. Laranja
Amarelo-ouro
Âmbar vivo
Âmbar, vermelho
estriado
31. Escarlate alaranjado Cor de cinabre Escarlate, dourado Cor de cinabre,
incandescente estriado carmesim e esme-
ralda estriados
32. Índigo Preto Preto
azulado Preto, azul
estria-
do
32 bis Citrino, oliva, Âmbar Castanho
escuro Preto, amarelo
ruivo e preto estriado
31 bis Branco fundindo-se Púrpura escuro As 7 cores do prisma Branco, vermelho,
ao cinza próximo do
preto (o violeta
fora) amarelo, azul, pre-
to (este
fora)
______________________________________________________________________
O
Cavaleiro A
Rainha O
Príncipe A
Princesa
_______________________________________________________________________
1. Brilho Brilho
alvo Brilho
alvo Branco, dourado
mosqueado
2. Puro azul suave Cinza Cinza azulado de Branco, vermelho mosquea-
pérola, como ma- do, azul e
amarelo
drepérola
3. Carmesim Preto Castanho
escuro Cinza, cravo mosqueado
4. Violeta escuro Azul Púrpura
escuro Azul celeste escuro,
amarelo mosqueado
5. Laranja Vermelho
escarlate Escarlate
brilhante Vermelho, preto mosqueado
6. Rosa-cravo claro Amarelo (ouro) Salmão vivo Âmbar dourado
7. Âmbar Esmeralda Verde amarelado Oliva, dourado mosqueado
claro
8. Violeta Laranja
Vermelho-ruivo Castanho
amarelado,
branco
mosqueado
9. Índigo Violeta Púrpura
muito Citrino, azul celeste
escuro mosqueado
10. Amarelo Citrino (N),
oliva (L), Como na Escala Preto estriado com
Ruivo (O) e preto
(S) da Rainha, mas amarelo
( Saltire ) preto mosqueado
com
dourado
________________________________________________________________________
As Cartas da Corte do Tarô com as As Cartas da
Corte do Tarô com as
esferas de seu domínio celeste = esferas de
seu domínio celeste =
BASTÕES
COPAS
_________________________________________________________________________
Cavaleiro de Bastões. Rege
do vigésimo grau de Cavaleiro de Copas. Rege do vigésimo
grau de Aquá-
Escorpião ao
vigésimo de Sagitário - incluindo rio ao vigésimo de Peixes
- incluindo grande parte de
parte de
Hércules.
Pégaso.
Rainha de Bastões. Do
vigésimo grau de Peixes
Rainha de Copas. Do vigésimo
grau de Gêmeos ao
ao vigésimo
grau de Áries.
vigésimo grau de Câncer.
Príncipe de Bastões. Do
vigésimo grau de Câncer Príncipe de Copas. Do vigésimo grau de
Libra ao
ao vigésimo
grau de Leão. vigésimo
grau de Escorpião.
Princesa de Bastões. Rege
um quadrante dos Princesa
de Copas. Rege um outro quadrante.
céus em
torno do pólo norte (ver pg. ....)
______________________________________________________________________________
As Cartas da Corte do Tarô com as As Cartas da
Corte do Tarô com as
esferas de seu domínio celeste = esferas de
seu domínio celeste =
ESPADAS
DISCOS
_____________________________________________________________________________
Cavaleiro de Espadas. Rege
do vigésimo grau Cavaleiro
de Discos. Rege do vigésimo grau de Leão
de Touro ao
vigésimo grau de Gêmeos. ao vigésimo grau
de Virgem.
Rainha de Espadas. Do
vigésimo grau de Virgem Rainha de Discos. Do vigésimo grau de Sagitário
ao
ao vigésimo
grau de Libra.
vigésimo grau de Capricórnio.
Príncipe de Espadas. Do
vigésimo grau de Capri- Príncipe de Discos. Do vigésimo grau de
Áries ao
córnio ao
vigésimo grau de Aquário. vigésimo
grau de Touro.
Princesa
de Espadas. Rege um terceiro quadrante. Princesa de Discos. Rege um
quarto quadrante
dos céus em
torno de Kether.
____________________________________________________________________________
Títulos e atribuições do naipe de
Bastões
Títulos e atribuições do naipe de Copas
______________________________________________________________________
. . . . . . . . . . . . . 0
A Raiz dos
Poderes do Fogo . . A Raiz dos Poderes da
Água
1
Marte em
Áries Domínio
Vênus em Câncer
Amor 2
Sol em
Áries Virtude
Mercúrio em Câncer Abundância 3
Vênus em
Áries Conclusão Lua
em Câncer Luxúria 4
Saturno em
Leão Disputa
Marte em Escorpião
Desapontamento 5
Júpiter em
Leão Vitória
Sol em Escorpião Prazer 6
Marte em
Leão Valor
Vênus em Escorpião Deboche 7
Mercúrio em
Sagitário Rapidez Saturno
em Peixes Indolência 8
Lua em
Sagitário Força
Júpiter em Peixes
Felicidade
9
Saturno em
Sagitário Opressão Marte
em Peixes Saciedade 10
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Títulos e atribuições do naipe de Espadas Títulos e
atribuições do naipe de Discos
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. . . . . . . .
. . . . . 0
A Raiz dos
Poderes do Ar . . A Raiz dos Poderes
da Terra 1
Lua em
Libra Paz Júpiter
em Capricórnio Mudança 2
Saturno em
Libra Dor
Marte em Capricórnio
Trabalho 3
Júpiter em
Libra Trégua
Sol em Capricórnio
Poder 4
Vênus em
Aquário Derrota
Vênus em Touro Preocupação 5
Mercúrio em
Aquário Ciência
Lua em Touro
Sucesso 6
Lua em
Aquário Futilidade
Saturno em Touro Fracasso 7
Júpiter em
Gêmeos Interferência
Sol em Virgem
Prudência 8
Marte em
Gêmeos Crueldade Vênus em
Virgem Ganho 9
Sol em
Gêmeos Ruína
Mercúrio em Virgem Riqueza 10
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((Ilustr. das
Dignidade essenciais dos Planetas))
AS DIGNIDADES
ESSENCIAIS DOS PLANETAS
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A exaltação dos planetas Planetas
regentes Signos do
zodíaco
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Sol 19
graus . . . Marte . . Áries . 28
Lua 3
graus . . . Vênus . . Touro . 16
((símb.)) 3
graus . . . Mercúrio . . Gêmeos . 17
Júpiter 15
graus . . . Lua . . Câncer . 18
Saturno 21
graus . . . Vênus . . Libra . 22
Mercúrio 15 graus
. . . Mercúrio . . Virgem . 20
((símb.)) 19 graus
. . . Sol . . Leão . 19
((símb.)) 14 graus
. . . Marte . . Escorpião . 24
((símb.)) 3 graus
. . . Júpiter . . Sagitário . 25
Marte 28
graus . . . Saturno . . Capricórnio . 26
((símb.)) 19 graus
. . . Saturno . . Aquário . 15
Vênus 27 graus . . . Júpiter . . Peixes . 29
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Herschel rege os
quatro signos querúbicos, Netuno os
quatro signos comuns e o Primum Mobile
os quatro signos cardeais. Um planeta está em sua queda
quando oposto à sua exaltação; em seu
detrimento quando oposto ao seu domínio.
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A TRIPLA TRINDADE
DOS PLANETAS
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((grafar
símbolo)) O espiritual ((Tra-
((grafar
símbolo)) O humano (intelectual)
* çar eu (ego) ((símbolo))
((grafar
símbolo)) O sensorial (corpóreo) chave))
((grafar
símbolo)) O espiritual ((Tra-
((grafar
símbolo)) O humano (intelectual) * çar vontade
do
eu ((símbolo))
((grafar
símbolo)) O sensorial (corpóreo) chave))
((grafar
símbolo)) O espiritual ((Tra-
((grafar
símbolo)) O humano (intelectual) * çar relação
com o ((símbolo))
((grafar
símbolo)) O sensorial (corpóreo) chave)) não-ego
* Por intelectual poder-se-ia entender consciente.
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Pilar do meio
((grafar
símbolo)) O espiritual
((grafar
símbolo)) O humano ((traçar chave)) Consciência
((grafar
símbolo)) O automático
Pilar da misericórdia
((grafar
símbolo)) O criativo
((grafar
símbolo)) O paternal ((traçar chave)) Modo de ação sobre o não-ego
((grafar
símbolo)) O apaixonado
Pilar da severidade
((grafar
símbolo)) O intuitivo
((grafar símbolo)) O volitivo ((traçar chave)) Modo de expressão do eu
((grafar
símbolo)) O intelectual
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AS TRIPLICIDADES DO
ZODÍACO
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Fogo do fogo Relâmpago -
célere violência de ataque.
Fogo Ar do fogo Sol -
força estável da energia.
Água do fogo Arco-íris -
reflexo espiritualizado passageiro da imagem.
Fogo da água Chuva, fontes,
etc. -
célere ataque apaixonado.
Água Ar da água Mar -
força estável de putrefação.
Água da água Lagoa -
reflexo espiritualizado estagnante de imagens.
Fogo do ar Vento -
rápido ataque (note-se a idéia de
equilíbrio como nos
ventos alisados).
Ar Ar do ar Nuvens -
condutores estáveis de água.
Água do ar Vibrações -
massa imobilizada, espiritualizada
para refletir
Ruach (mente).
Fogo da terra Montanhas -
pressão violenta (devida à
gravitação).
Terra Ar da terra Planícies -
sustentação estável da vida.
Água da terra Campos, tranqüilos,
espiritualizados para gerar vida vegetal e animal.
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Em cada caso
o signo cardeal representa o nascimento do
elemento, o signo querúbico sua vida,
e o signo mutável seu passamento rumo à forma ideal que lhe é
apropriada, ou seja, ao espírito. Assim,
também as princesas no Tarô são
os tronos
do espírito.
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AS TRÍADES VITAIS
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0. O Espírito Santo
Os três
deuses I A O
I. O Mensageiro
IX. A Semente secreta
II. A Virgem
As três
deusas
III. A Esposa
XVII. A Mãe
X. O Todo-Pai 3 em 1
Os três
demiurgos IV. O Regente
V. O Filho (Sacerdote)
VI. Os Gêmeos emergentes
As Crianças
Hórus e Hoor-Pa-Kraat
XIX. O Sol (brincando)
XVI. A Criança Coroada e
Conquistadora emergindo
do
útero como em A L P
VII. O Graal; Carruagem da Vida
O yoni
gaudens * XIV.O
Útero prenhe preservando
(A Mulher
justificada) a
vida
VIII.O sexualmente unido
* Latim gaudeo, gaudes, gaudere, regozijar-se,
folgar, gostar de, comprazer-se (NT).
XI. 156 & 666
Os deuses
mortos
XII. O Redentor nas águas
XIII. O Ventre redentor que mata XV
XV. Ereto e contente
O lingam
O yoni
A estela XVIII. A Feiticeira: yoni
estagnante e no aguardo
XX. Deus e Homem como gêmeos procedentes
de Nuit e Hadit
O Pantáculo
do Conjunto XXI.
O Sistema