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…….. II - SATANÁS E
OS ANJOS REBELDES PARTE 4 O poder dos demônios "O
próprio Satanás se disfarça em anjo de luz”. (2 Cor 11, 14) TUDO QUANTO DISSEMOS a respeito do poder e do
modo de agir dos anjos sobre a matéria aplica-se igualmente aos demônios, que
são anjos decaídos, mas que conservaram a natureza angélica e os poderes a
ela inerentes. Poder dos demônios sobre a matéria Já vimos anteriormente como a presença dos anjos
em um lugar não se dá fisicamente (contato físico), pois são seres
incorpóreos, e sim por meio de sua atuação (contato operativo): os anjos
estão onde atuam. Em virtude de sua natureza espiritual, eles podem exercer
sua atividade e tanto de fora dos corpos, como no interior deles, conforme
observa São Boaventura: “Os demônios, em razão de sua sutileza e
espiritualidade, podem penetrar em qualquer corpo e aí permanecer sem o menor
obstáculo e impedimento”. (In II Sent., Dist. 8, p.
De um modo direto e imediato os demônios podem
produzir na matéria apenas movimentos locais, ou extrínsecos, transferindo
uma coisa de um lugar para outro, sem entretanto alterar a natureza ou
substância dessa coisa; de modo indireto, através desses movimentos locais,
eles podem agir sobre a própria substância da matéria, ao modificar a posição
ou a quantidade dos elementos constitutivos da mesma. Caso Deus o permitisse, os demônios, por sua
natureza angélica, poderiam causar toda espécie de transtornos físicos. O
Cardeal Lepicier afirma que se pode dizer que praticamente não há fenômeno no
mundo que não possa ser realizado, de um modo ou outro, pelos anjos; logo,
também pelos demônios. (Cardeal A. LEPICIER, O Mundo invisível, pp. 74.75.) E
não raro o fazem, provocando tempestades, cataclismos, incêndios e outros
desastres como também aparições fantasmagóricas, ruídos infernais e
perturbações de toda ordem. Poder dos demônios sobre o homem Em relação ao homem, os demônios só podem operar
de modo direto e imediato sobre aquilo que nele é matéria, ou está e
necessária dependência dela; podem agir nas funções da vida vegetativa,
enquanto ligadas à matéria, e sobre a vida sensitiva, porque esta depende de
órgãos corporais. No que se refere às funções próprias da vida intelectiva,
os demônios só podem chegar a elas indireta e mediatamente, quer dizer,
atuando sobre a parte corpórea e sobre a vida sensitiva, das quais a alma
deve servir-se para desenvolver suas atividades espirituais. Em outros
termos, os demônios podem agir diretamente sobre a parte corpórea do homem,
mas apenas indiretamente sobre sua inteligência e sua vontade. Conforme
ensina São Tomás,(Suma Teológico. 1-2, q. A ação persuasiva do demônio "O
demônio não força; ele propõe, sugere, persuade, alicia” O demônio não tem o poder de obrigar os homens a
fazer ou deixarem de fazer algo; por isso procura persuadi-los para que se
deixem conduzir pelo seu mal. "Ele não os força: ele propõe, sugere,
persuade, alicia” escreve o Pe. J. de Tonquédec S.J., exorcista e demonólogo
francês. E acrescenta: “No Éden, ele deu a Eva razões para ela transgredir a
ordem divina (Gen 3, 4-5, 13); no deserto, solicitou Nosso Senhor pela
atração de uma dominação universal (Mt 4, 26-27)”. (J. de TONQUÉDEC S.J.,
Quelques aspects de l´ation de Satan en ce monde, p. 495.) São Tomás também se refere a essa obra de
persuasão do demônio, explicando que a vontade humana só se move internamente
por ação do próprio homem ou de Deus; externamente ela pode ser solicitada
pelo objeto que, entretanto, não força o homem a escolher o que não quer.
(Suma Teológico, 1-2, q. O Pe. Cândido Lumbreras O.P., assim comenta essa
passagem do Doutor Angélico: “Que influência pode exercer o demônio nos
pecados dos homens? ... O demônio pode oferecer aos sentidos seu objeto,
falar à razão, seja interiormente, seja exteriormente; alterar os humores e
produzir imagens perigosas, excitar enfim as paixões que podem mover a vontade
e assenhorear-se do entendimento.” (C. LUMBRERAS O.P., Tratado de los vicios
y los pecados — Introducción. p. 766.) Em
comentário a outra passagem de São Tomás, explica Pe. Jesus Valbuena O.P.: “Que os anjos possam iluminar e de fato iluminem
o entendimento humano, é uma verdade que se atesta por uma multidão lugares
nas Sagradas Escrituras ... Também os anjos maus são capazes de produzir, com
sua virtude natural, falsas iluminações no entendimento dos homens, conforme
nos admoesta São Paulo para que estejamos alerta ´pois o próprio Satanás se
disfarça em luz’ (2 Cor 11, 14). “Afirma São Tomás que nos sentidos do homem,
sejam internos, sejam externos, os anjos podem influir e agir a partir de
fora e a partir de dentro dos mesmos, quer dizer, extrínseca e
intrisecamente; mas, em relação ao entendimento e à vontade humanas, só os
podem mover e influir indireta e exteriormente, quer dizer propondo a estas
potências espirituais de uma maneira acomodada a elas seus objetos, que são a
verdade e o bem e influindo nelas indiretamente mediante os sentidos, as
paixões, as alterações corporais sensíveis, etc., embora não possam nunca
chegar a dobrar ou completamente a vontade do homem, se este se acha em
estado normal” (J. VALBUENA O.P., Tratado del Gobierno del Mundo—
Introduccion, p. 898.) Nos casos de Eva e de Nosso Senhor, o demônio
“apresentou suas razões” tomando uma forma corpórea, produzindo sons e
articulando as palavras oralmente; no geral dos casos, entretanto, o demônio,
para persuadir o homem a pecar, conjuga sua ação sensibilidade, a memória e a
imaginação. As doutrinas
perversas do demônio O demônio tem
uma doutrina mentirosa, que opõe à doutrina de Cristo. Em sua introdução ao Tratado sobre os anjos, de
São de Aquino, comenta o Pe. Aureliano Martínez O.P.: “O demônio tem suas
doutrinas perversas, às quais o Apóstolo chama espírito do erro e
ensinamentos do demônio (1 Tim 4, 1), com as quais como deus deste mundo,
cega a inteligência dos homens para que não brilhe nelas a luz do Evangelho
(2 Cor 4, 4); doutrinas que propala mediante falsos apóstolos e operários
enganadores que se disfarçam em apóstolos de Cristo; e não é de espantar,
pois o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz (2 Cor 11, 13-14), tentando
os fiéis de incontinência (1 Cor 7, 5) e de ira (Ef 4, 27)”. (A MARTÍNEZ
O.P., Tratado de Los Angeles — Introducción, p. 511.) Foi por essa razão que o Divino Salvador definiu
o demônio como aquele "que não permaneceu na verdade; porque a verdade
não está nele; quando ele diz a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é
mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44).
Por meio dessa ação de persuasão o demônio procura na tentação, não
apenas induzir-nos a cometer este ou aquele pecado, mas afastar-nos completamente
de Deus. Limites à ação
do demônio Por mais poderoso que seja, com uma capacidade de
ação superior à de qualquer outro ser criado, o demônio, entretanto, não é
onipotente. Sendo mera criatura, ele tem suas limitações, decorrentes de três
fatores: sua própria natureza, a condição particular de cada demônio e a
vontade permissiva de Deus. Limites
impostos por sua própria natureza Com toda criatura, o demônio está limitado em sua
atuação pela sua própria natureza: por mais elevado que seja seu poder, este
não pode ultrapassar os limites de sua natureza criada. Ele é um ser finito,
contingente. Não se deve pois de forma alguma julgar que ele é capaz de saber
tudo (onisciência), de poder tudo (onipotência) e estar em todo lugar
(onipresença): esses atributos são exclusivos de Deus. Sua inteligência,
embora se tenha mantido intacta, está privada de todo auxílio sobrenatural.
Os demônios perderam, com o pecado, toda forma de conhecimento sobrenatural;
enquanto os anjos bons vêem em Deus o estado de uma alma (se ela está na
graça divina ou em pecado), os demônios só podem fazer conjetura a respeito,
O mesmo se deve dizer quanto a certos acontecimentos futuros que Deus revela
aos anjos. Por sua natureza, nem os anjos bons nem os
demônios podem conhecer o futuro livre ou futuro contingente isto é, aquele
que depende da vontade divina e do livre arbítrio humano mas apenas Deus, que
o pode revelar aos seus anjos. Outro limite natural à ação do demônio é, como
vimos, sua impossibilidade de agir diretamente sobre a inteligência e a
vontade humanas; ele tem de usar meios indiretos: a sensibilidade, a
imaginação, as paixões, e sobretudo a persuasão. Limites devidos
à condição particular de cada demônio Outro limite à atuação demoníaca vem da diversa
condição de cada demônio. Assim como existem desigualdades entre o homens,
também entre os anjos e os demônios não há dois iguais. Por isso, nem todos os demônios têm o mesmo
poder. Outro fator de limitação é a posição relativa de
cada demônio na escala dos anjos decaídos, e as eventuais ordens e proibições
que existam entre eles. Limites
impostos por Deus O demônio só pode agir em detrimento do homem com
a permissão de Deus. Ensina o Cardeal Lepicier: “É preciso que nos
lembremos sempre de que, por muito grande que seja o poder do demônio, tem
limites que lhe foram sabiamente determinados pelo Todo-Poderoso. Ele pode,
sem dúvida, fazer-nos mal, mas não além daquilo que lhe é permitido, e bem
conhece que o seu poder não pode durar muito. Pode ser que o conhecimento da
curta duração do seu reino contribua para que redobre a sua atividade nos
tempos que vão correndo; mas todos os seus esforços obedecem aos
impenetráveis desígnios da Providência que só permite que a sua influência
seja exercida até certo grau, de forma que nos possamos colocar debaixo da
proteção de Deus e ganhar, pelos nossos méritos, a vitória final e a coroa da
imortal glória que nos espera no Céu" (Cardeal A. LÉPICIER, O.S.M., O Mundo invisível,
p.242.) No livro de Jó, no qual é nomeado pela primeira
vez nas Escrituras, Satanás aparece como agente do mal, porém absolutamente
subordinado a Deus. Embora tenha inveja do justo Jó e queira pôr sua virtude
à prova, por meio da infelicidade, Satanás não pode agir senão com a
autorização divina. Ele tem
necessidade de uma permissão, ou até mesmo de uma delegação do Senhor. Sua
ação é estritamente limitada à vontade de Deus, que permite, primeiro atacar
seu servidor exclusivamente em seus bens e não em sua pessoa; depois em sua
pessoa, mantendo entretanto sua vida (Jó 1, 6-12; 2, 1-7). São Paulo nos
tranqüiliza: "Deus é fiel, o qual
não permitirá que sejais tentados além do que podem as vossas forças; antes,
com a tentação, vos dará as forças necessárias para sair dela e para
suportá-la" (1 Cor 10,13). Por que Deus permite que o demônio tente o
homem, como também o prejudique, muitas vezes, de tantos modos? Como fica
patente em tantas passagens da Escritura e ensinamentos do Magistério
eclesiástico, essa permissão divina tem como escopo santificar o homem por
meio de provações, puni-lo por alguma falta grave, servir de ocasião para que
se manifeste o poder divino de um modo visível, como no caso dos exorcismos
de possessos. Poder dos anjos
bons sobre os demônios Ensina São Tomás que os anjos bons, mesmo que por
natureza pertençam a uma hierarquia inferior à de algum demônio ( por exemplo
em ralação a Satanás), sempre têm um domínio sobre os anjos decaídos. Pois os anjos gozam de perfeição da amizade
de Deus, da qual estão privados os demônio; e esta perfeição é superior à
mera excelência natural, a única que permanecesse nos demônios (Suma
Teológica, 1,q. 109,a.4. ) Por isso
observa o Cardeal Lepicier: " A sabedoria de Deus torna-se ainda mais
manifesta , quando consideramos que ele colocou os espíritos malignos debaixo
do domínio dos anjos bons e deu a cada homem, neste mundo, um anjo bom que o
ilumina, guia os seus passos e o defende contra os seus inimigos. Por isso, os assaltos do inimigo das almas
são aniquilados pela intervenção daqueles espíritos que se conservam fiéis a
Deus, e o demônio acaba por contribuir para a maior glória do Criador".
(Cardeal A. LÉPICIER, op. cit., p. 241.) Para VOLTAR A: Apostila de angeologia e demonologia
PARA: Voltar a: Veja também:
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