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V - SATANISMO — MAGIA — FEITIÇARIA

 

  Capitulo 3

Magia - Espiritismo - Macumba

 

"Não se ache entre vós ... 

quem seja encantador. nem 

quem consulte os pitões ou advinhos,

ou indague dos mortos a verdade.  

Porque o Senhor abomina 

todas estas coisas, e, por tais maldades 

exterminará estes povos". 

(Deu 9,10-12)

 

Magia

 

A Magia geralmente é definida como a arte de operar prodígios por meios ocultos. Aqui não nos referimos às artes dos prestigiadores, impropriamente chamada de magia, nem a outros tipos de magia natural, que não são outra coisa que a arte de operar prodígios e coisas insólitas por meios naturais; ocupamo-nos só da magia propriamente dita, magia supersticiosa, ou simplesmente feitiçaria que se define como a arte de operar prodígios por obra do demônio. Desde que se trate de magia propriamente dita, isto é, de prodígios alcançados com o auxílio do demônio, não vem muito ao caso que se trate da chamada magia branca (que obteria vantagens, sem prejudicar terceiros), ou a chamada magia negra, que operaria o mal contra terceiros. Pois, todo o recurso ao Maligno é condenável em si mesmo, não importando os efeitos que se quer alcançar.

 

Como nas outras formas de superstição, também a magia pode dar-se por invocação explícita ou implícita do demônio.

 

A magia à qual se recorre para prejudicar outros chama-se malefício (encantamento, feitiço), que podemos definir como a arte de prejudicar outros por obra do demônio. Os autores costumam distinguir dois tipos de malefícios: amatório (filtros de amor) - se a ação do demônio excita em alguém veementíssimo sentimento de amor ou de  ódio em relação a determinada pessoa; e venéfico (envenamento) — se provocar dano em pessoas ou em seus bens.

 

Não se pode negar que o demônio, seja por si mesmo, seja por meio dos homens maus — desde que Deus assim o permita — pode prejudicar, por vários modos, o corpo ou os bens de certas pessoas visadas. Deus, em seus insondáveis desígnios, é certo que assim algumas vezes o permite, como testemunha o exemplo de Jó (cf. Jó 1, 12, Ex 22, 18). Embora não se deva crer facilmente na existência de maleficio, seria entretanto imprudente negá-lo sempre. Convém ressaltar, entretanto, que o malefício amatório  não elimina a liberdade, e a ação demoníaca pode ser resistida com a ajuda da graça divina; mas quando se cede a ele, o pecado cometido será mais grave ou menos em razão da deliberação e do grau de liberdade.

 

O malefício contém dupla malícia, uma contra a religião, outra contra a caridade e a justiça, uma vez que prejudica o próximo.

 

Constitui um pecado gravíssimo, contra a virtude da religião, que nos prescreve prestar culto somente a Deus, e só a Ele recorrer e nunca ao poder das trevas — ‘Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a êle servirás‘ (Lc 4, 8).

 

O malefício (também conhecido em nosso país por despacho, trabalho, feitiço, etc.) é uma das causas muito comuns da ação extraordinária do demônio sobre pessoas (infestação e possessão).

 

Espiritismo

 

Uma das formas de superstição mais difundida em nossos dias, e que coloca as pessoas em risco de se pôr em contacto com o demônio são as práticas espíritas.

 

Superstição herética, contrária à fé

 

Trata-se de superstição, porque as almas dos que morreram estão sob a especial tutela de Deus, não podendo entrar em comunicação com os vivos a não ser por uma permissão especial concedida por Ele.*

 

*Os teólogos discutem se Deus permite que a alma de um defunto entre em contato direto com um vivo, ou se, nos casos de aparições, se trata de um anjo (ou, conforme o caso, um demônio) que representa aquela alma.

 

Ora, os espíritas querem utilizar meios puramente naturais - como a ação de outros homens, os médiuns - para obter que essas almas apareçam ou se manifestem. Há então aqui uma desproporção entre os meios empregados, meios naturais, e uma ação sobrenatural, como é a aparição ou manifestação das almas dos defuntos.(Esse efeito é sobrenatural porque está acima da natureza humana fazer com que as almas dos defuntos se manifestem ou não aos vivos, o que depende exclusivamente de Deus.)

 

Ensinam os moralistas que a única relação que deve haver entre as almas dos defuntos e nós é uma relação espiritual, baseada na recordação e na oração. (Cf. Mons. Antonio LANZA - Mons. Pietro PALAZZINI, Princípios de Teologia Moral, p. 129.) Deus não pode consentir em nossos caprichos, curiosidades mórbidas e fantasias; não pode, portanto, permitir que as almas, que só a Ele estão submetidas, se manifestarem quando evocadas para satisfazer a nossos desejos de temerária presunção de penetrar nos mistérios do Além. Por isso, dizem os mesmos moralistas, se é verdade que às vezes essas evocações às almas do outro mundo recebe resposta, tais respostas não podem senão do Maligno. O Cardeal Lepicier explica como o demônio pode formar um boneco, com elementos da natureza ou mesmo de outros homens, e fazê-los aparecer sob a figura da pessoa falecida, cujo espírito é evocado para que se manifeste na sessão espírita. “Assim escreve ele , considerando que um anjo tem inteiro conhecimento das feições e de outras qualidades de cada individuo, vivo ou morto, facilmente se pode conceber que ele seja capaz, pelo seu próprio poder, de reproduzir a forma, feições, altura, cor e vestuário de certo individuo que nós possamos conhecer, a ponto de que aqueles que mais intimo trato tiveram com esse indivíduo sejam iludidos, julgando tratar-se da própria pessoa” (Cardeal A. LEPICIER, O Mundo Invisível, pp. 76-77).)

 

A Igreja repetiu com insistência ser pecado de heresia o querer aplicar meios puramente naturais com o fim de obter efeitos não-naturais, preternaturais. Portanto, o Espiritismo, em sua pretensão de querer chamar ou evocar espíritos do Além, é herético além de impossível. Essa superstição é condenada não apenas como ilícita ou contrária à moral cristã, mas também como herética e contrária à fé.

 

Atuação do demônio no Espiritismo

 

"Os vivos, do lado de cá”, comenta Dom Boaventura Klopenburg "não dispõem de meios eficientes que possam causar a manifestação de espíritos do lado de lá, isto é, do mundo para além da natureza humana ou para além da morte. Do lado de lá, porém, existem espíritos malignos que teriam muito interesse em perturbar, transtornar e perverter os do lado de cá. Não o podem fazer à vontade, porque sua liberdade é limitada pela permissão divina, e Deus não o permite facilmente”.

 

Espiritismo faculta ao demônio o ambiente mais propício para que o espírito satânico possa se manifestar: “Todas as disposições objetivas e subjetivas aí estão. Nada, absolutamente nada falta para que o demônio se sinta á vontade e em casa própria. Dir-se-ia que o centro espírita e principalmente o terreiro de Umbanda é o domicílio de Satanás, como o templo cristão é a casa do Senhor”, conclui o mesmo prelado. (Frei Boaventura KLOPPENBUJRG O.F.M., Atuação do Demônio no Espiritismo, pp. 113-122.)

 

Não há, pois, dúvida de que as práticas supersticiosas espíritas colocam o homem sob a influência de Satanás e podem conduzir até possessão. "O demônio, quando um homem colabora com ele em práticas supersticiosas, facilmente exerce sobre esse indivíduo a mais cruel e implacável tirania” — observa o Cardeal Lepicier. Ele chama a atenção para as práticas espíritas: “Não pode haver dúvida de que atuar como médium é o mesmo que expor-se aos perigos da obsessão diabólica ... Recorrer a um médium é, pois, equivalente a cooperar na obsessão de uma pessoa”. (Card. A. LEPICIER, O Mundo Invisível, pp. 222-223.)

 

Por isso o próprio Deus, no Antigo Testamento, condenou a indos mortos: “Não se ache entre vós ... quem consulte pitonisas adivinhos, ou indague dos mortos a verdade. Porque o Senhor abomina todas estas coisas e por tais maldades exterminará estes povos à tua entrada” (Deut 18 , 10-12).

 

Tudo isto mostra o perigo extremo em que se colocam aqueles que recorrem a práticas espíritas.

 

 

 

Macumba, Candomblé, Umbanda...

 

Juntamente com o espiritismo, a macumba, o candomblé, a umbanda, estão amplamente difundidas no Brasil; nelas é freqüente o recurso ao demônio, sob nomes africanos de supostas entidades espirituais. A macumba, o candomblé e a umbanda são diferentes formas de sincretismo de ritos e crenças pagãs africanas com elementos externos do Cristianismo (imagens, invocações), do espiritismo reencarnacionista e de cultos indígenas brasileiros. Essas formas superticiosas de religião baseiam-se em princípios dualistas: elas admitem a existência de entidades boas e entidades más igualmente poderosas; acreditam que estas últimas, embora inimigas do homem, devem, entretanto, ser cultuadas, para evitar que se vinguem, fazendo o mal. Daí deriva o mais completo amoralismo, pela negação da distinção entre o bem e o mal, fundamento de toda a moralidade.*

 

*A antropólogo Vagner Gonçalves da Silva, que apresentou uma tese na Universidade de São Paulo sobre o Candomblé discorrendo sobre as religiões afro-brasileiras, afirma: “Nessas religiões não existe o conceito de bem e de mal e por isso são mal-compreendidas” (“Folha de S. Paulo”, 29-7-92).

 

Infelizmente, o número de pessoas — mesmo católicas — que recorrem a trabalhos, despachos (ou seja sacrifícios oferecidos ao demônio sob a invocação de divindades pagãs) para solucionar seus problemas, satisfazer suas paixões ou ambições, e mesmo prejudicar outros, é cada vez maior. E isso em todas as classes sociais; por exemplo, nos últimos anos, por ocasião das eleições para preenchimento de cargos políticos em todos os níveis, grande número de candidatos recorreu publicamente a pais-de-santo, médiuns videntes, etc., conforme noticiou a imprensa.

 

Exú, entidade à qual se oferecem os sacrifícios nesses cultos, não é outro senão o próprio demônio conforme demonstra Dom Boaventura Kloppenburg, citando livros umbandistas: “Toda e qualquer reunião de Umbanda inicia com um presente oferecido ao Exu ‘agente mágico universal, por cujo intermédio o mundo dos vivos se comunica com o mundo espiritual, em seus diversos planos’ (Doutrina e Ritual de Umbanda, Rio, 1951, p. 117)....  E não se diga que o culto de Exu é exclusivo da Quimbanda, da Macumba, do Candomblé ou do Batuque.” E faz descrição do livro O Espiritismo e a Lei de Umbanda, de A. Fontenelle, sacerdote de umbanda, o qual afirma: “Na Umbanda os Exus são constantemente invocados e trabalho algum é começado sem que sejam salvadas (isto é reverencidas) essa entidades” (p. 12).

 

Prossegue o bispo de Nova Hamburgo: “O Sr. Aluísio Fontenelle ... e outros doutrinadores de Umbanda, identifica sem mais os exus com o que nós católicos denominamos demônios (p. 93, 103-116) onde descreve a história da revolta dos anjos, chefiadas por Lúcifer: estes anjos revoltados são os exus”).*

 

*Frei Boaventura KLOPPENBURG, A Demonolatria nos Terreiros de Umbanda, pp. 139-I40.

 

Até mesmo um dicionário corrente da língua portuguesa, o chamado Dicionário Aurélio, assim define: “Exú (Do ioruba) S.m. 1. Bras. Orixá que representa as potências contrárias ao homem, e assimilado pelos afro-baianos ao Demônio dos católicos, porém cultuados por eles, porque o temem; 2. Bras. NE. v. Diabo.”

 

As pessoas que se envolvem com as práticas de macumba, candomblé e umbanda podem estar certas de que é ao próprio demônio a quem estão recorrendo, sob nomes exóticos. E não poderia ser de outro modo, visto que os únicos seres inteligentes que existem no Universo são — além do próprio Deus, obviamente — os anjos, os demônios (que são anjos decaídos) e o homem. Se o homem recorre a outros seres inteligentes superiores a ele e que não são nem Deus nem os anjos, só pode estar recorrendo aos demônios.

 

Outras práticas supersticiosas

 

Outras práticas supersticiosas também muito correntes em nossa pátria são: a adivinhação, a astrologia, a quiromancia, o uso de amuletos e as simpatias.

 

Adivinhação, Astrologia, Quiromancia

 

Pela adivinhação procuram-se conhecer as coisas ocultas, que por meios naturais não se poderiam saber, tanto atuais quanto passadas ou futuras. O característico da adivinhação é o querer chegar ao conhecimento de algo, não por um esforço racional, mas pelo emprego de um artifício, de um meio extraordinário não bem explicado. Em última análise, pela ajuda de forças extrínsecas e superiores ao homem. Essas forças, como é lógico, só poderiam provir de Deus e dos anjos; ou, por permissão divina, dos demônios. Como isto equivale a querer obrigar a Deus a satisfazer a curiosidade ou o capricho do homem, é certo que Ele não atende a tais pedidos, nem diretamente, nem por meio dos anjos. Logo, essas forças sobre-humanas só podem provir do demônio.: “A essência da adivinhação consiste no comércio com os demônios” — ensinam os teólogos jesuítas Noldin e Schmitt. (H. NOLDIN S.J. - A. SCHMITT S.J. - G. HEINZEL S.J., Summa Theologiae Moralis, II, pp. 138-155 - Quest. terceira: Pecados contra a religião). Neste capitulo seguimos de perto estes respeitados teólogos-moralistas cuja obra goza de merecido prestigio entre os especialistas.

 

A adivinhação pode ser realizada com a invocação expressa dos demônios (pacto explícito) ou pela invocação implícita ou tática (pacto implícito).

 

A expressa invocação ocorre quando se invoca diretamente o demônio ou se faz com ele um pacto formal mediante o qual, postos certos sinais, se produzirão certos efeitos; para que se estabeleça este pacto divinatório, não é necessário que o demônio de fato responda, mas basta que seus efeitos se sigam. Ou seja, que se chegue ao conhecimento daquilo que se pretende adivinhar. Entende-se que ocorreu invocação implícita ao demônio quando alguém, para conhecer algo, usa de meios ineptos para essa finalidade, os quais — como ficou acima explicado — nem pela natureza, nem por instituição divina ou eclesiástica têm a força d produzir os efeitos desejados. (‘As Gnoses modernas que seguem teósofos e antropósofos e as técnicas de meditação e concentração induístas (Ioga, budismo) que buscam conhecer coisas superiores à natureza humana não estão isentas de influxo demoníaco, especialmente quando diretamente buscadas" (NOLDIN-SCHMITT-HEINZEL, loc,. cit.)

 

 

Bem entendido, os demônios não têm poder de conhecer o futuro propriamente dito — o chamado futuro contingente ou futuro livre, isto é, os fatos cuja ocorrência depende da vontade de Deus e do livre arbítrio dos homens. Estes, nem os anjos do céu o conhecem (cf. Mc 13, 32). Mas, sendo seres superiormente  inteligentes podem deduzir qual será o desfecho de acontecimentos causas, uma vez postas, chegarão a seu termo de determinado modo: é o chamado futuro necessário. Ele prevê este futuro do modo que um cientista que conhece as leis da sua ciência - as quais são como que mistérios para o comum dos homens, e mesmo para homens instruídos, porém não especialistas naquelas matérias — e sabe o que ocorrerá de acordo com essas leis. Assim, lançada urna semente à terra, ela cumprirá seu ciclo germinativo em determinadas condições e, se não houver fatores adversos, produzirá necessariamente a planta correspondente, no tempo certo; o mesmo quanto ao desenvolvimento de certas doenças, etc. Sempre, naturalmente, Deus pode intervir para frustrar os cálculos do demônio, mas normalmente Ele permite que as causas naturais produzam seus resultados. Daí o acerto das previsões do demônio. Sem falar que o Pai da mentira pode anunciar um fato extraordinário que ele mesmo vai produzir e que por isso prevê com tanta segurança...

 

Porém, aquilo que depende da vontade de Deus ou da liberdade dos homens escapa inteiramente de suas capacidades de previsão. Toda forma de adivinhação constitui uma superstição e uma invocação ao menos implícita ao demônio; por isso sua utilização é mesma ilícita; em outro termos, constitui — segundo a Moral católica — um pecado, de si grave.”*

 

*"Aqueles que consultam adivinhos ou ciganos, pecam gravemente se o fazem com firme fé ou com escândalo de outros, venialmente se apenas por curiosidade.” (NOLDIN-SCHMITTl-HEINZEL, loc. cit.).

 

A astrologia, através do horóscopo, pretende deduzir da conjunção dos astros, no momento do nascimento de determinada pessoa, seu destino e seu comportamento. Não há proporção entre as causas invocadas (a conjunção dos astros), e os efeitos que se quer obter, ou seja a predição de fatos relativos a uma pessoa que dependem da vontade livre e da providência divina.

 

O mesmo deve-se pensar da quiromancia — adivinhação pelo exame das linhas da palma das mãos — como de qualquer outro tipo de práticas divinatórias: cartomancia, tarô, búzios, etc.

 

Amuletos, mascotes, simpatias

 

Amuletos são pequenos objetos que alguém traz consigo ou guarda, por acreditar em seu poder mágico de dar sorte ou proteger contra perigos: figas, trevos, pés de coelho, ferraduras, etc.; mascotes são animais aos quais se atribui o mesmo poder: cachorrinhos, gatinhos, etc.; simpatias são certas práticas supersticiosas,* ou objetos usados supersticiosamente, para proteger o homem de doenças ou para curá-las.

 

*São Francisco de Sales, bispo de Genebra, diz em suas Constituições e Instruções sinodais, que “há superstição todas as vezes que se põe toda a eficácia nas palavras, por santas que sejam, ou em qualquer circunstância vã e inútil, como crer que, para curar um doente, seja preciso dizer três Padre Nossos antes de o sol se levantar (cf. L. ROU RE, Superstition, cols. 1563-1569).

 

 

Como nos casos anteriores, não se pode esperar séria e racionalmente que esses objetos, esses animais ou essas práticas possam impedir males, curar doenças ou dar sorte na vida. Se se der um crédito real a essa pretensa ação protetora dos amuletos e mascotes e à eficácia das simpatias (não por mera brincadeira, por sinal perigosa, pois o demônio pode infiltrar-se nela) teremos mais um caso de invocação implícita ao demônio.

 

“Corpo fechado”

 

Outra prática supersticiosa consiste no recurso a feiticeiros (ou pais-de-santo) para obter aquilo que se chama corpo fechado, isto é, a invulnerabilidade a agressões com armas brancas ou armas de fogo. Essas pessoas, mesmo que não tenham inteira consciência disso, estão recorrendo ao demônio, de forma pelo menos implícita, conforme já ficou explicado. E o demônio pode atendê-las (se Deus o permitir para castigo dessas mesmas pessoas), desviando os golpes e tiros ou impedindo seu efeito. À maneira de ilustração, transcrevemos a consulta feita por um missionário francês no Oriente, no começo deste século, a "L´- Ami du Clergé” — conceituada revista eclesiástica — e a respectiva:

 

"O que os Srs. pensam do seguinte fato, do qual fui testemunhar ocular?"

 

"Um pagão desferia golpes de sabre sobre um de seus correligionários. O sangue deveria brotar em abundância; ora, o pagão assim golpeado tinha apenas algumas manchas negras sobre o corpo, a lâmina do sabre não conseguia penetrar na carne."

 

"Os pagãos presentes atribuíram isto aos numerosos amuletos levados por aquele que recebeu os golpes."

 

"O demônio teria, em certos casos, recebido permissão de proteger seus adeptos neste mundo, com a condição de torturá-los no outro?"

 

A revista, depois de dizer que é difícil se pronunciar sobre o caso concreto, assim à distância, dá entretanto a solução em doutrina:

 

"O fato em questão, por mais extraordinário que seja, não nos espanta, e nós seríamos levados a crer que ele vem do demônio, porque não ultrapassa de modo algum seu poder. A História nos mostra que o demônio conservou, sem dúvida com a permissão de Deus, nas nações ainda pagãs, o poder que ele tinha outrora no mundo idólatra; em conseqüência, ele teria, em certos casos, poder e permissão de proteger seus adeptos, que lhes são fiéis, e também de punir aqueles que se deram a ele, quando eles desobedecem a seu senhor. Como o homem é composto de um corpo e de uma alma, Deus se serve de Sacramentos e de sinais exteriores para lhe dar sua graça e o proteger: do mesmo modo o demônio, que por orgulho e por ódio e vingança quer imitar ou ao menos macaquear os sinais exteriores, usa de amuletos, etc. para chegar aos seus fins” . ( “L’Ami du Clergê”,n° 35 (1902), p. 763.)

 

O uso de cruzes e medalhas

 

Caso muito diferente é o uso de cruzes, medalhas, escapulários e outros objetos bentos, assim como a prática de exercícios piedosos, como novenas, etc.

 

Aqui não se está atribuindo a esses objetos e práticas uma eficácia que eles de si não têm, nem se pretende atrair o divino por meio de procedimento meramente natural. Trata-se de confiança nas orações da Igreja, que benzeu esses objetos e aprovou essas práticas, como também na proteção de Nossa Senhora ou do Santo cuja medalha se usa e cuja novena se faz, em sinal de devoção.

 

Não se atribui ao uso desses objetos nem a essas práticas um valor infalível e imediato, mas apenas se deposita neles uma confiança razoável, que a fé em Deus e na Igreja permite, relacionando tudo com a salvação eterna, que é o que mais importa.

 

“Será que o malefício pega?”

 

Os meios preventivos contra o malefício são os mesmos antes indicados em relação à tentação, à infestação e à possessão: vida sacramental, vida de piedade, uso de objetos bentos, etc.

 

Uma vez produzidos os efeitos do malefício, é preciso aumentar as orações, sacrifícios e pode ser que seja necessário, em certos casos, recorrer aos exorcismos.

 

Frei Severino Gisder O.F.M. indica o estado de espírito que devemos ter diante das maldições e dos malefícios:

 

“Não se tenha medo da maldição injustificada ou gratuita.  Ela não atinge sua meta! Pelo contrário, não raras vezes tal maldição recai sobre quem a proferiu. Leia o Salmo 9, 16: “Pereceram no fosso que eles mesmos abriram, e na armadilha que armaram prenderam os próprios pés. “ Ou veja o Salmo 7, 15-17: “Eis que o (ímpio) concebeu iniqüidade e está cheio de malícia e dá a luz à fraude. Abriu e cavou urna cova, e caiu na própria cova que fez. Sobre sua própria cabeça recairá a sua maldade, e sobre a sua fronte voltará a sua violência.”

 

"Os assim chamados despachos da macumba incluem, via de regra, uma maldição em termos de querer fazer mal a alguém. Tais despachos ou feitiços de bruxaria, será que podem fazer mal ou prejudicar? Deles vale o que dissemos da maldição gratuita: Procura viver na graça santificante, isto é, na intimidade de Deus e nada sofrerás. Quem não deve, não teme”. (Fr. S.GISDER O.F.M., Bênção e Maldição, pp. 10-11.)

 

Se a regra geral é esta apontada pelo piedoso franciscano — que a maldição ou o malefício não atingem a pessoa em estado de graça — no entanto, muitas vezes Deus permite que a pessoa virtuosa seja atingida por tais práticas maléficas para sua provação. Aí é o caso de recorrermos às bênçãos e aos exorcismos: “A maldição pode ser neutralizada ou desfeita pela bênção!” — explica Frei Severino.

 

(Fonte: internet. Autoria:“Anjos e Demônios - A Luta Contra o Poder das Trevas”, Gustavo Antônio Solímeo - Luiz Sérgio Solímeo)

 

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