.
…….. . LIVROS &
LETRAS Autores – Letra A ANDERSEN Hans
Christian Andersen As cegonhas Hans Christian
Andersen Uma cegonha construíra seu ninho no telhado da última casa de um povoado.
A Mamãe-Cegonha estava sentada no ninho com seus filhotes, que assomavam seus
biquinhos negros, pois ainda não haviam adquirido sua cor vermelha. Papai-Cegonha estava a pouca distância, na beira do telhado, em pé e entorpecido,
com um pé recolhido em baixo do corpo, fazendo de sentinela. Parecia
esculpido em madeira, devido à sua imobilidade. - Minha esposa deve ficar satisfeita ao ver uma sentinela guardando
seu ninho - pensava - ninguém sabe que sou seu marido e talvez todos pensem
que recebi ordens para montar guarda aqui. Isso é muito importante. E continuou de pé num só pé, porque as cegonhas são verdadeiras
equilibristas. Um grupo de garotos brincava na rua; e, ao ver a cegonha, um
dos mais atrevidos, seguido pelos outros que lhe faziam coro, entoou uma
cantiga a respeito das cegonhas, cantando-a meio de improviso: "Vela por teu ninho, Pai-Cegonha, onde te esperam três
pequeninos. O primeiro morrerá de uma estocada, o segundo queimado e o
terceiro enforcado." - Que dizem esses garotos? - perguntaram os filhotes - dizem que
morreremos queimados ou enforcados? - Não façam caso - respondeu a Mamãe-Cegonha - não os ouçam, pois
ninguém lhes fará nenhum mal. Mas os meninos continuavam cantando e apontando para as cegonhas;
somente um, chamado Pedro, disse que era vergonhoso divertir-se à custa
daquelas pobres aves e não quis imitar os companheiros. Mamãe-Cegonha
consolou seus pequeninos, dizendo-lhes: - Não se preocupem com isso. Vejam seu pai como está firme em cima de
um só pé. - Temos muito medo - replicaram os filhotes, escondendo as cabecinhas
dentro do ninho. No dia seguinte, quando os meninos voltaram a brincar, viram novamente
as cegonhas e repetiram a canção. - É verdade que morreremos queimados ou enforcados? - perguntaram de
novo os filhotes. - De forma alguma! - replicou a mãe - vocês aprenderão a voar. Eu os
ensinarei. Logo iremos para os campos em busca de rãs. Elas vivem na água e
quando nos vêem, fazem muitos cumprimentos e começam a coaxar. Mas nós as
engoliremos. Esse é um verdadeiro banquete, de que vocês vão gostar muito. - E depois? - perguntaram os filhotes. Mais tarde todas as cegonhas do país se reúnem para as manobras do
Outono e então vocês terão que voar da melhor maneira possível, para quem não
puder voar se verá atravessada pelo bico do chefe. Assim sendo, vocês terão
que ter muito cuidado para aprender o máximo que puderem, quando começarem os
exercícios. - De qualquer forma é bem possível que acabemos do jeito que dizem os
garotos. Veja, eles voltam a cantar a mesma coisa. - Ouçam a mim e não a eles - replicou secamente a Mãe-Cegonha - depois
das grandes manobras, voaremos para os países cálidos, que ficam muito longe,
para além dos bosques e das montanhas. Iremos para o Egito, onde existem
casas de três cantos, cujas pontas chegam até as nuvens; chamam-se Pirâmides
e são muito mais antigas do que qualquer cegonha pode imaginar. Ali existe um
rio que inunda as suas margens e toda a terra se cobre de lodo. E então
podemos andar por ali comodamente, sem deixar de comer rãs. - Oh! - exclamaram os filhotes. - Sim, é esplêndido. Durante o dia inteiro não se faz mais do que
comer. E enquanto nós estamos bem ali, neste país não há uma só folha nas
árvores; e faz tanto frio que as nuvens se gelam em pedacinhos que caem ao
solo. Queria descrever a neve, mas não sabia fazê-lo melhor. - E as crianças más não se gelam em pedacinhos? - perguntaram os
filhotes. - Não, mas lhes acontece algo parecido e têm de passar muitos dias
presas em suas casas escuras; vocês, em troca, voarão para países distantes,
recebendo o calor do Sol entre as flores. Passou-se algum tempo e os filhotes se desenvolveram bastante para
ficarem em pé no ninho e olharem à sua volta. Papai-Cegonha voava todos os
dias de ida e volta ao ninho com rãs e serpentes, além de outros bons bocados
que conseguia arranjar. E era muito divertido observar as manobras que fazia
para divertir seus filhos; virava a cabeça completamente em direção à cauda e
batia o bico como se fosse um chocalho. E lhes contava tudo que lhe
acontecera nos pântanos. - Bem, já é hora de aprenderem a voar - disse um dia sua mãe. E os pequenos tiveram de ficar em pé, na beira do telhado. Quanto lhes
custou conservar o equilíbrio batendo as asas e como estiveram a ponto de
cair! - Agora olhem para mim - disse a mãe - vejam como têm de sustentar a
cabeça. E os pés se movem assim. Um, dois, um, dois. Desta forma poderão
percorrer o mundo inteiro. Logo voaram durante algum tempo e os pequenos deram uns saltos horríveis
e caíram, porque seus corpos eram muito pesados. - Não quero voar - disse um dos filhotes voltando para o ninho - não
faço questão de ir para os países mais quentes. - Quer gelar aqui, ao chegar o Inverno? Prefere que venham os meninos
e o queimem ou enforquem? Não me custará nada chamá-los. - Não, não! - respondeu assustada a pequena cegonha. E imediatamente voltou para a beira do telhado, onde já estavam os
irmãos. No terceiro dia todos voavam muito bem. Tentaram voar por mais tempo,
porém, quando se esqueceram de bater com as asas, aconteceu a queda
irremediável. Os meninos que as observavam entoaram novamente a sua canção. - Querem que desçamos voando e lhes arranquemos os olhos? -
perguntaram as pequenas cegonhas. - Não, deixem-nos em paz - disse a mãe - prestem atenção ao que faço,
pois isso é muito mais importante. Um, dois, três. Agora vamos voar para a
direita; um, dois, três; agora para a esquerda e em volta da chaminé. já foi
bastante bem. Este último voo foi tão bom, que, como prêmio, eu consentirei
que me acompanhem ao pântano amanhã. Várias cegonhas distintas vão até lá com
seus filhos, de modo que vocês devem esforçar-se para que os meus sejam os
melhores de todos. Não se esqueçam de levantar as cabeças. Isso é muito elegante
e confere um ar de extrema importância. - Mas não nos vingaremos desses meninos maus? - perguntaram as
pequenas cegonhas. - Deixem que gritem o quanto quiserem; vocês voarão para a terra das
pirâmides, enquanto que eles ficarão aqui gelando. Nessa ocasião não haverá
por aqui nem uma folha verde nem uma maçã doce. - Pois nós queremos vingar-nos - disseram as pequenas cegonhas. Logo depois recomeçaram com os exercícios de voo. Dentre todos os
meninos da rua, nenhum caçoava das cegonhas com maior insistência do que o
primeiro a cantar aquela canção burlesca. Era um garoto pequeno, que devia
contar uns seis anos. É claro que as cegonhas lhe davam pelo menos cem anos,
pois ele era muito mais corpulento do que seu pai ou sua mãe e elas não
tinham a mínima idéia da corpulência que podem alcançar as pessoas maiores. Reservavam pois a sua vingança para o menino que fora o primeiro a
entoar aquela canção e que não deixava de repeti-la a todo instante. As
jovens cegonhas estavam muito irritadas com ele e juraram vingar-se, o que só
fariam no dia anterior à sua ida daquele povoado. - Primeiro vamos ver como se comportam nas manobras. Se cometerem
algum engano e o general se vir obrigado a atravessar-lhes o peito com o seu
bico, os meninos da rua terão acertado na sua profecia. Veremos como se
comportam. - Você verá - responderam otimistas os filhotes. E não pouparam esforços. Todos os dias praticavam, até que foram
capazes de voar como seus próprios pais o faziam. Era um prazer observá-los.
Chegou o Outono. Todas as cegonhas começaram a reunir-se, antes de
empreenderem a viagem aos países quentes, nos quais passariam o Inverno.
Aquelas sim é que foram verdadeiras manobras. Tiveram que voar sobre os
bosques, cidades e povoados, para experimentarem as asas, pois iriam realizar
uma longa viagem. As jovens cegonhas se comportaram tão bem, que receberam
uma quantidade enorme de rãs e serpentes como recompensa. Receberam também
ótima colocação e logo foram comer tranquilamente coisas que fizeram, pois
seu apetite era enorme. - Agora nos vingaremos - disseram. - Sem dúvida - replicou sua mãe - agora vocês vão tomar conhecimento
do meu plano e acho que gostarão dele. Sei onde fica o reservatório em que se
encontram os pequenos humanos e onde ficam até que as cegonhas vão buscá-los
para levá-los para a casa de seus pais. As lindas criaturinhas estão
dormindo, sonhando coisas muito agradáveis que nunca mais voltarão a sonhar.
Todos os pais desejam filhos e todas as crianças almejam ter um irmãozinho ou
uma irmãzinha, destinados aos meninos que nunca cantaram essa canção contra
nós ou que não tenham caçoado das cegonhas. Todavia, os que a cantaram,
jamais receberão um irmão ou uma irmãzinha. - E que faremos com esse menino mau que cantou a canção? - gritaram as
pequenas cegonhas - que faremos com esse garoto? Porque devemos fazer algo
para vingar-nos como desejamos. - No reservatório há um menino morto. Morreu sonhando, sem se dar
conta. Vamos buscá-lo e levá-lo para a casa desse menino, que chorará muito
ao ver que lhe levamos uma criança morta. Em troca, vocês não se esquecerão
do menino bom que diz: "É uma vergonha caçoar assim das cegonhas." Para ele levaremos um irmão e uma irmã; e como ele se chama Pedro,
você também - acrescentou, dirigindo-se a uma das cegonhas - se chamará assim
como o menino. E foi tal como disse. E é por isso também, que, em nossos dias, todas
as cegonhas levam o nome de Pedro.
Veja também:
Não perca: mais temas relacionados |
....…..
|
Portal
a&e © - Enciclopédia e motor de busca em língua portuguesa