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LETRAS Autores – Letra A ANDERSEN Hans
Christian Andersen As Princesas dançarinas Conto de Hans Christian Andersen Era uma
vez um rei que tinha doze filhas muito lindas. Elas dormiam em doze camas,
todas no mesmo quarto; e quando iam para a cama, as portas do quarto eram
trancadas a chave por fora. Pela manhã, porém, os seus sapatos apresentavam
as solas gastas, como se tivessem dançado com eles toda a noite. Ninguém
conseguia descobrir como acontecia aquilo, já que o quarto era sempre
trancado. Então, o rei anunciou por todo o país que se alguém pudesse
descobrir o segredo de suas filhas, do que faziam a noite para que seus
sapatos ficassem tão gastos, casaria com aquela de quem mais gostasse e seria
o seu herdeiro do trono. Mas aquele que se propusesse a descobrir o segredo e
não o fizesse ao fim de três dias e três noites, seria morto. Apresentou-se
logo o filho de um rei. Foi muito bem recebido e à noite levaram-no para o
quarto ao lado daquele onde as princesas dormiam. Ele tinha que ficar sentado
para ver onde elas iam dançar e, para que nada acontecesse sem que ele
ouvisse, deixaram-lhe aberta a porta do quarto. Mas o rapaz daí a pouco
adormeceu; e, quando acordou de manhã, percebeu as solas dos sapatos das
princesas cheias de buracos. O mesmo aconteceu nas duas noites seguintes e
por isso o rei ordenou que lhe cortassem a cabeça. Depois dele vieram vários
outros. Nenhum teve sorte, e perderam a vida da mesma maneira. Certo
dia um ex-soldado, que ferido em combate e já não era mais capaz de guerrear,
chegou ao país. Um dia, ao atravessar uma floresta, encontrou uma velha, que
lhe perguntou aonde ia. - Quero
descobrir onde é que as princesas dançam, e assim, mais tarde, vir a ser rei. -
Bem, disse a velha, - isso não custa muito. Basta que tenhas cuidado e não
bebas do vinho que uma das princesas te trouxer à noite. Logo que ela se
afastar, deves fingir estar dormindo profundamente. E, dando-lhe uma capa,
acrescentou: -
Logo que puseres esta capa tornar-te-ás invisível e poderás seguir as
princesas para onde quer que elas queiram ir. Quando o soldado ouviu estes
conselhos, foi falar com o rei, que ordenou lhe fossem dados ricos trajes.
Quando veio a noite, conduziram-no até o quarto de fora. Quando ia deitar-se,
a mais velha das princesas trouxe-lhe uma taça de vinho, mas o soldado
entornou-a toda nas plantas do umbral da janela sem que ela percebesse. Em seguida
estendeu-se na cama, e pôs-se a ressonar como se estivesse dormindo. As
doze princesas puseram-se a rir, levantaram-se, abriram as malas, e,
vestindo-se esplendidamente, começaram a saltitar de contentes, como se já se
preparassem para dançar. A mais nova de todas, porém, subitamente preocupada,
disse: - Não
me sinto bem. Tenho certeza de que nos vai suceder alguma desgraça. Quando
todas estavam prontas, foram espiar o soldado, que continuava a ressonar e
estava imóvel. Julgaram-se seguras. A mais velha foi até a sua cama e bateu palmas:
a cama enfiou-se logo pelo chão abaixo, abrindo-se ali um alçapão. O soldado
viu-as descer pelo alçapão, uma atrás das outra. Levantou-se, pôs a capa que
a velha lhe tinha dado, e seguiu-as. No meio da escada, desastrado, pisou na
cauda do vestido da princesa mais nova, que gritou às irmãs: -
Alguém me puxou pelo vestido! -Que
tola! - disse a mais velha. Deve ter sido um prego da parede. Lá
foram todas descendo e, quando chegaram ao fim, encontraram-se num bosque de
lindas árvores. As folhas eram todas de prata e tinham um brilho maravilhoso.
O soldado quis levar uma lembrança dali, e partiu um raminho de uma das
árvores. Em
seguida foram a outro bosque, onde as folhas das árvores eram de ouro; e
depois a um terceiro, onde as folhas eram de diamantes. E o soldado partiu um
raminho em cada um dos bosques. Chegaram finalmente a um grande lago onde, à
margem, estavam encostados doze barcos pequeninos, dentro dos quais doze
príncipes muito belos esperavam pelas princesas. Cada
uma delas entrou em um barco, e o soldado saltou para onde ia a mais moça.
Quando iam atravessando o lago, o príncipe que remava o barco da princesa
mais nova disse: -Não sei por que, mas apesar de estar
remando com toda a minha força, parece-me que vamos mais devagar do que de
costume. O barco parece estar hoje muito pesado. -Deve ser do calor do tempo, disse a
jovem princesa. Do
outro lado do lago ficava um grande castelo, de onde vinha um som de clarins
e trompas. Desembarcaram todos e entraram no castelo, e cada príncipe dançou
com a sua princesa. O soldado invisível dançou entre eles, também, e quando
punham uma taça de vinho junto a qualquer das princesas, o soldado bebia-a
toda, de modo que a princesa, quando a levava à boca, achava-a vazia. A mais
moça assustava-se muito, porém a mais velha fazia-a calar. Dançaram até as
três horas da madrugada, e então já os seus sapatos estavam gastos e tiveram
que parar. Os príncipes levaram-nas outra vez para o outro lado do lago - mas
desta vez o soldado veio no barco da princesa mais velha - e na margem oposta
despediram-se de seus doze companheiros, prometendo voltar na noite seguinte Quando
chegaram ao pé da escada, o soldado adiantou-se às princesas e subiu
primeiro, indo logo deitar-se. As princesas, subindo devagar, porque estavam
muito cansadas, ouviam-no sempre ressonando, e disseram: -Está
tudo bem. Ele ainda dorme! Depois
despiram-se, guardaram outra vez os seus ricos trajes, tiraram os sapatos e
deitaram-se. De manhã o soldado não disse nada do que tinha visto, mas
desejando tornar a ver a estranha aventura, foi ainda com as princesas nas
duas noites seguintes. Na terceira noite, porém, o soldado levou consigo uma
das taças de ouro como prova de onde tinha estado. Chegada
a ocasião de revelar o segredo, foi levado à presença do rei com os três
ramos e a taça de ouro. As doze princesas puseram-se a escutar atrás da porta
para ouvir o que ele diria. O rei
perguntou, imponente: -Onde
é que as minhas doze filhas gastam seus sapatos todas as noites? Ele
respondeu muito seguro de si: -Dançando
com doze príncipes num castelo debaixo da terra. Depois
contou ao rei tudo o que tinha sucedido, e mostrou-lhe os três ramos e a taça
de ouro que trouxera consigo. O rei
chamou as princesas e perguntou-lhes se era verdade o que o soldado tinha
dito. Vendo que seu segredo havia sido descoberto, elas confessaram tudo. O rei
perguntou ao soldado com qual delas ele gostaria de casar. -Gostaria
de me casar com a mais velha, que é uma bela mulher e muito inteligente! Quanto
às outras princesas e seus bailes no castelo encantado, pelos buracos nas
solas dos sapatos, elas continuam dançando até hoje.
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