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BRUXARIA & BRUXAS MALLEUS MALEFICARUM – O MARTELO DAS BRUXAS Se
concorda com a Fé Católica a afirmação de que para produzir algum efeito de
magia o diabo tem que colaborar intimamente com o bruxo, ou se um sem o
outro, isto é, o diabo sem o bruxo ou inversamente, pode produzir esse
efeito. O primeiro argumento é o que
segue. Que o diabo pode provocar um efeito mágico sem a colaboração de um
bruxo. Assim afirma Santo Agostinho. Todas as coisas que acontecem de forma
visível, de modo que é possível vê-las, podem - se
acreditar - ser obra dos poderes inferiores do ar. Mas os males e dolências
corporais não são por certo invisíveis; antes disso, resultam visíveis aos
sentidos, no entanto podem ser provocados pelos diabos. Mais ainda, pelas Sagradas
Escrituras conhecemos os desastres que caíram sobre Jó,
como o fogo descendo do céu que ao cair sobre as ovelhas e outras criações os
consumiu, e de como um vento violento derrubou as quatro paredes de uma casa,
de modo que caíram sobre seus filhos e os mataram. O diabo por si próprio,
sem colaboração de bruxos, senão nada mais que a permissão de Deus, pôde
provocar todos esses desastres. Portanto não há dúvida de que pode fazer
muitas coisas que com freqüência se atribuem ao
poder dos bruxos. E isso é evidente no relato dos sete esposos da donzela
Sara que um diabo matou. Mais ainda, faça o que fizer uma potência superior,
só pode fazê-lo sem referência a um poder superior a ela, e uma potência
superior pode atuar muito mais sem referência a uma
inferior. Mas uma inferior pode causar tempestades de granizo e enfermidades,
sem ajuda de uma potência maior. Pois como diz o beato Alberto Magno em sua
obra de Passionibus Aeris,
que salvia (um tipo de erva) podre, quando usada
como ele explica, for jogada na água corrente, produzirá as mais temíveis
tempestades e tormentas. Mais ainda pode-se dizer que o diabo usa um bruxo,
não porque precise de tal agente, apenas porque procura a perdição deste. E
podemos nos referir ao que diz Aristóteles no seu terceiro Livro da Ética. O
mal é um ato voluntário demonstrado pelo fato de que ninguém executa uma ação injusta a não ser por cometer injustiça, e quem
comete uma violação o faz com vistas a seu prazer, e não só para fazer o mal
pelo mal. Mas a lei castiga quem faz
o mal, se houvesse atuado só por fazer o mal.
Portanto, se o diabo trabalha por meio de uma bruxa, não faz outra coisa
senão empregar um instrumento; e como um instrumento depende da vontade da
pessoa que o utiliza, e não age por sua livre e espontânea vontade, a culpa
da ação não deve ser da bruxa e, portanto ela não
deve ser castigada. Mas uma opinião contrária afirma que o diabo não pode
fazer mal a humanidade, por si próprio com tanta facilidade e singeleza, como
o que lhe é possível provocar por intermédio das bruxas, ainda que sejam suas
servidoras. Em primeiro lugar podemos considerar o ato de engendrar. Mas em
cada ato que tem efeito sobre outro é preciso estabelecer algum tipo de contato, e como o diabo, que é um espírito, não pode ter
esse contato real com o corpo humano, e como não há
nada em comum entre eles, utiliza algum instrumento humano, e lhe outorga o
poder de ferir por meio do contato físico. E muitos
afirmam que isto é demonstrado no texto e na interpretação, do terceiro
capítulo da Epístola de São Paulo aos Gálatas: “Oh gálatas insensatos, quem
vos fascinou para não obedecer à verdade?” E a interpretação desta passagem
refere-se aqueles que possuem olhos singularmente ferozes e funestos, que com
um simples olhar podem prejudicar o próximo, e em especial as crianças
pequenas. E isto também é confirmado por Avicenna,
no último capítulo do terceiro livro Naturalium,
quando diz: "Muito com freqüência a alma pode
ter tanta influência sobre o corpo do outro, na mesma medida em que tem sobre
seu próprio corpo, pois tal é a influência dos olhos de quem com o olhar
atrai e fascina, o outro". E a mesma opinião é
expressa por Al-Gazali no décimo capítulo do quinto
Livro de sua Física. Avicenna também sugere, ainda
que não apresente esta opinião como irrefutável, que o poder da imaginação
pode ou parece modificar os corpos estranhos, nos casos de tal poder ser
demasiado ilimitado. Portanto supomos que o poder da imaginação não deve ser
considerado como diferente dos outros poderes sensíveis do homem, pois é
comum a todos, mas em certa medida os incorpora. E isso é verdadeiro, porque
tal poder da imaginação pode alterar os corpos adjacentes, como por exemplo,
quando um homem consegue caminhar por uma estreita viga estendida no meio da
rua. Mas se essa viga flutuasse sobre águas profundas, não se atreveria a
caminhar por ela, porque a imaginação lhe mostraria, com grande força na
mente, a idéia do tombo, e então o corpo e o poder de seus membros obedeceria
a sua imaginação, e não ao contrário dela, isto é, caminhar em forma direta e sem vacilações. Esta mudança pode comparar-se à
influência que exerce o olhar de uma pessoa que a possui, com o qual provoca
uma transformação mental, ainda que não existam mudanças reais e corpóreas.
Além disso, sobre o argumento que a mudança provocada num corpo vivo, é
devida à influência da mente sobre outro corpo vivo, pode-se dar a seguinte
resposta. Na presença do assassino, o sangue flui
das feridas do cadáver da pessoa assassinada. Portanto, sem poderes mentais,
os corpos podem produzir efeitos maravilhosos, e de tal modo, se um homem
passar próximo ao cadáver de um homem assassinado, ainda que não o veja, freqüentemente sentirá pavor. Além do mais, existem na
natureza algumas coisas que possuem certos poderes ocultos, cuja razão o
homem desconhece; como por exemplo, é o imã, que atrai o aço, e muitas outras
formas que Santo Agostinho menciona no Livro 20 de A cidade de Deus. E assim
as mulheres, para provocarem mudanças nos corpos alheios, usam às vezes
certas coisas que vão além de nosso conhecimento, mas fazem isso sem a ajuda
do diabo. E porque esses remédios são misteriosos não há motivos para lhes
atribuir o poder do demônio, como o atribuiríamos
aos encantamentos maléficos produzidos pelas bruxas. Além do mais, elas usam
certas imagens e alguns amuletos, que costumam colocar embaixo
das ombreiras das portas das casas, ou nos campos em que pastam os rebanhos,
ou inclusive onde se congregam os homens, e desse modo enfeitiçam suas
vítimas, que muitas vezes acabam morrendo. Mas como essas imagens podem
causar efeitos tão extraordinários, parecendo que sua influência é
proporcional à que exercem os astros sobre os corpos humanos, pois da maneira
como os corpos naturais são influenciados pelos celestes, assim também podem
o ser os corpos artificiais. No entanto, os naturais podem encontrar benefício
em algumas influências secretas, porém boas. Portanto, os corpos artificiais
podem receber tal influência. Em conseqüência, está
claro que quem executa obras de cura pode muito bem as executar por meio
dessas influências benéficas, e isso nada tem a ver com um poder maligno.
Além do mais, aparentemente, os acontecimentos muito extraordinários e
milagrosos ocorrem por obra dos poderes da natureza. Pois, coisas
maravilhosas, terríveis ou surpreendentes sucedem às forças naturais. E isto assinala São Gregório em
seu Segundo Diálogo: “Os santos executam milagres, às vezes por meio de uma
oração, outras apenas pelo seu poder... Há um exemplo para cada um destes
meios: São Pedro, com orações devolveu a vida a Tabitha,
que estava morta... E ao repreender Ananías e Sapfira, que diziam mentiras, os matou sem orações”.
Assim, com sua influência mental, um homem pode converter um corpo material
em outro, ou o fazer passar da saúde à doença, e vice-versa. Mais ainda, o
corpo humano é mais nobre que nenhum outro, mas devido às paixões da mente se
transformam em exaltado ou apático, como ocorre com os homens coléricos ou os
que têm medo; e assim produz-se uma mudança ainda maior, a respeito dos
efeitos da doença e da morte, que com seu poder podem modificar em grande
parte um corpo material. Mas há de se admitir algumas objeções.
A influência da mente não pode produzir impressões sobre nenhuma forma que,
não seja pela intervenção de algum agente, como já foi dito antes. E estas
são as palavras de Santo Agostinho no livro já citado: "É inacreditável
que os anjos que caíram do céu obedeçam a alguma coisa material, pois só
obedecem a Deus". E muito menos pode um homem, com seus poderes
naturais, provocar efeitos extraordinários e malignos. É preciso responder
que ainda hoje existam muitos que se equivocam grandemente neste sentido,
inocentando às bruxas e atribuindo toda a culpa as artes do demônio, ou as mudanças que elas provocam em alguma
alteração natural. Estes erros podem ser
esclarecidos com facilidade, primeiro, pela descrição das bruxas que São
Isidoro oferece em sua Etimologia, capítulo 9: "As bruxas assim são
chamadas devido ao negro de sua culpa, isto é, seus atos
são mais malignos que os de qualquer outro malfeitor". E continua:
"Agitam e confundem os elementos com a ajuda do diabo, e criam terríveis
tormentas de granizo e tempestades". Mais ainda, diz que confundem a
mente dos homens, que os empurram à loucura, a um ódio insano e a
desmesurados desejos. Além do mais, continua, com a terrível influência de
seus feitiços, como se fosse como uma poção ou veneno, podendo destruir a
vida. E as palavras de Santo Agostinho em seu livro A cidade de Deus vêm
muito ao caso, pois nos dizem: “... quem é na
verdade os magos e as bruxas.” Os magos a quem em geral chamam de bruxos, são
denominados assim devido à magnitude de seus atos
malignos. São quem com licença de Deus perturbam os elementos, que levam à
loucura a mente dos homens que perderam sua confiança em Deus, e que com o
terrível poder de seus maus encantamentos, sem poções nem venenos, matam os
seres humanos. Como diz Lucano: "Uma mente que
não foi corrompida ou embriagada por nenhuma poção nociva perece em conseqüência de um encantamento maléfico". Por terem
chamado os demônios em sua ajuda, se atrevem a
derramar males sobre a humanidade, e ainda a destruir seus inimigos com seus
encantamentos maléficos. E é indubitável que em operações deste tipo o bruxo
trabalha em estreita conjunção com o demônio. Em
segundo lugar, os castigos são de quatro tipos: beneficentes, danosos, infligidos
por bruxaria e naturais. Os castigos beneficentes infligem-se pelo ministério
dos anjos bons, tal como os danosos provem dos espíritos maus. Moisés
flagelou o Egito com dez pragas mediante a
intervenção dos anjos bons, e os magos só puderam cumprir três destes
milagres com a ajuda do demônio. E a peste que caiu
sobre o povo durante três dias, em conseqüência do
pecado de David, e causou a recontagem da população, onde 72.000 homens do
exército de Senaquerib morreram numa noite, foram
milagres realizados pelos anjos de Deus, isto é, por anjos bons, tementes a
Deus, e cientes que cumpriam Suas ordens. Mas o dano destrutivo se realiza
por meio dos anjos maus, cujas mãos atacaram muitas vezes os filhos de
Israel, no deserto. E os danos que são singelamente maus e nada mais, são provocados pelo demônio,
que trabalha por intermédio de feiticeiros e bruxas. Também há danos
naturais, que de alguma maneira dependem da conjunção dos corpos celestes,
tais como a escassez, a seca, as tempestades e semelhantes efeitos da
natureza. Resulta a evidente e enorme diferença entre todas estas causas,
circunstâncias e acontecimentos. Se Jó foi atacado
pelo demônio mediante uma maligna doença, isso não
vem ao caso. E se alguém muito astuto e curioso perguntar como foi que Jó acabou atacado pelo demônio
mediante essa doença, sem a ajuda de um feiticeiro ou bruxa; que saiba que
não faz outra coisa, que seguir contracorrente e não se informar sobre a
verdade verdadeira. Porque nos tempos de Jó não
haviam feiticeiros e bruxas, também não se praticavam essas abominações. Mas
a providência de Deus desejou no exemplo de Jó a
manifestação do poder do demônio, inclusive sobre
os homens bons, para que pudéssemos aprender a estar em guarda contra Satã, e
mais ainda, para que graças ao exemplo desse patriarca a glória de Deus
brilhasse em todas as partes, já que nada ocorre, a menos que Deus permita. A
respeito da época em que surgiu essa maligna superstição, a bruxaria, devemos
distinguir primeiro os adoradores do demônio quem
eram simples idólatras. E Vincent
de Beauvais, em seu Speculum
Historiale, cita diversas autoridades eruditas e
diz que quem primeiro praticou as artes da magia e da astrologia foi Zoroastro, de quem se diz que foi Caim, o filho de Noé. E
segundo Santo Agostinho, em seu livro A cidade de Deus, Caim lançou grandes
gargalhadas quando nasceu, demonstrando que era um servidor do demônio, e ainda sendo um rei grande e poderoso, foi
vencido por Nino, filho de Belo, que construiu Nínive,
cujo reinado foi o começo do reino de Assíria, na época de Abraão. Esse Nino,
em conseqüência de seu demente amor por seu pai,
quando este morreu ordenou que lhe levantassem uma estátua, e qualquer
criminoso que se refugiasse ali estaria a salvo de todo castigo que estivesse
sujeito. Desde então os homens começaram a adorar imagens, como se fossem
deuses; mas isso ocorreu depois dos primeiros anos da história, pois nos
primeiros tempos não havia idolatria, já que então os homens conservavam
alguma lembrança da criação do mundo, como diz São Tomás, no Livro 2,
pergunta 95, artigo 4. Ou bem poderia ter origem em Nembroth,
que obrigou os homens a adorar o fogo; e assim, na segunda era do mundo
começou a Idolatria, que é a primeira de todas as superstições, tal como a
Adivinhação é a segunda e a Observação dos Tempos e das Estações a terceira.
A prática dos bruxos se insere no segundo tipo de superstições, a saber, a
Adivinhação, já que invocam o demônio de maneira
expressa. E há três tipos desta superstição: a Nigromancia,
a Astrologia, ou melhor, Astromancia, observação supersticiosa das estrelas,
e a Oniromancia. Explicarei tudo isso em detalhes
para que o leitor possa entender que estas artes do mal não surgiram de
repente no mundo, mas se desenvolveram com o tempo e, portanto é pertinente assinalar
que não havia bruxos nos dias de Jô. Pois à medida
que passavam os anos, como diz São Gregório em sua Moral, crescia o
conhecimento dos santos e, portanto também aumentavam as artes negras do demônio. O profeta Isaías diz: "A terra está
preenchida do conhecimento do Senhor" (XI, 6). E assim neste ocaso e escuridão
do mundo, em que floresce o pecado por todos os lados e em todas as partes, e
a caridade se esvai, abundam as obras dos bruxos e suas iniqüidades.
E como Zoroastro se entregou por inteiro às artes
mágicas, só o demônio o impeliu a estudar e
observar os astros. Desde muito remotamente os feiticeiros e as bruxas
realizam pactos com o diabo, e mantém conivência com ele, para causar danos
aos seres humanos. Isso é demonstrado no sétimo capítulo do Êxodo, onde, pelo
poder do demônio, os magos do Faraó fazem coisas
extraordinárias, a imitação das pragas que Moisés lançou sobre o Egito pelo poder dos anjos bons. Disso, segue o
ensinamento católico, de que para provocar o mal a bruxa pode colaborar e
colabora com o diabo. E qualquer objeção a isto
pode ser respondida em poucas palavras, como segue: 1. Em primeiro lugar,
ninguém nega que verdadeiros danos e prejuízos que na pratica ou em forma
visível afligem os homens, animais, frutos da terra, e que com freqüência se produzem sob a influência dos astros, podem
ser muitas vezes provocados pelos demônios, quando
Deus permite que assim a façam. Pois como diz Santo Agostinho no Quarto Livro
de A Cidade de Deus, os demônios podem usar o fogo
e o ar, se Deus lhes permitir. E um comentarista assinala:
Deus castiga pelo poder de dois anjos maus. 2. Sobre isso segue, como é
evidente, a resposta a qualquer objeção relativo a Jó, e a qualquer objeção que
possa fazer frente a nossa exposição dos começos da magia no mundo. 3. Em
relação ao fato de que a salvia podre que se deixa
cair na água corrente produz, como dizem, algum efeito negativo, sem a ajuda
do demônio, ainda que possa não estar totalmente
separado da influência de alguns astros, queremos assinalar que não temos
intenção de discutir a boa ou má influência dos astros, mas apenas a
bruxaria, e portanto isto se torna alheio ao assunto. 4. Com respeito ao
quarto argumento, não há dúvida que o demônio só
utiliza os bruxos para causar danos e destruição. Mas quando se deduz que não
devemos castigá-los, só porque atuam como
instrumentos, e não movidos por sua vocação, senão a vontade e o prazer do
agente principal, existe uma resposta: porque são instrumentos humanos e
livres agentes, e ainda que assinaram um contrato com o demônio,
gozam de liberdade absoluta; como se sabe por suas próprias revelações - e falo de mulheres convictas queimadas na fogueira,
estimuladas à vingança, ao mal e ao dano, se queriam escapar dos castigos e
golpes infligidos pelo demônio, - tais mulheres
colaboram com o demônio, e mesmo estando unidas a
ele pela profissão na qual desde o começo se entregaram a seu poder livre e
voluntariamente. Em relação aos argumentos nos quais se demonstram que certas
anciãs possuem conhecimentos ocultos que lhes permitem provocar efeitos
extraordinários e com certeza malignos, sem a ajuda do diabo. É preciso
entender que retirar um argumento particular de um universal é contrário à
razão. E quando, como parece, em todas as Escrituras não se pode encontrar um
único caso desses, em que se fale dos feitiços e encantamentos que praticam
as velhas, não devemos chegar à conclusão de que nunca foi assim. Mais ainda,
a respeito dessas passagens as autoridades deixam em aberto a questão, isto
é, com referência ao tema, se os encantamentos têm eficácia sem a colaboração
do demônio. Esses feitiços ou fascinações aparentam
poder dividir-se em três tipos. Primeiro, os sentidos se enganam, e isso, em
verdade, pode ser feito por médios mágicos, ou seja, pelo poder do diabo, se
Deus assim permitir. E os sentidos podem ser esclarecidos pelo poder dos
anjos bons. Em segundo lugar a fascinação pode ser realizada por certo
deslumbramento ou extravio, como quando disse o apóstolo: "Quem vos
fascinou?" Gálatas III 1. Em terceiro lugar, determinada fascinação pode
exercer-se por meio do olhar, sobre outra pessoa, e pode ser pernicioso e
mau. E desta fascinação falaram Avicenna e Al-Gazali; também São Tomás a menciona na parte 1,
pergunta 117. Pois diz que a mente de um homem pode ser modificada pela
influência de outra. E a influência que se exerce sobre o outro procede com freqüência dos olhos, pois neles se podem concentrar
certa influência sutil. Porque os olhos dirigem o
olhar a certo objeto sem prestar atenção as outras
coisas, mas diante da visão de uma impureza, como por exemplo uma mulher
durante seus períodos mensais, os olhos, por assim dizer, atraem alguma
impureza. Isso é o que diz Aristóteles em seu livro Sobre o Sonho e a
Vigília, e assim, se o espírito de alguém se encontra inflamado de malícia ou
cólera como ocorre com freqüência nas velhas, o
espírito perturbado olha através de seus olhos, pois seu semblante é muito
maligno e danoso, e com freqüência aterrorizam as
crianças de tenra idade com extrema impressão. E é possível que muitas vezes
isso seja natural, permitido por Deus; mas, por outro lado, pode ser que
estes olhares sejam, muitas vezes, inspirados pela malícia do demônio, com quem as velhas bruxas estabeleceram algum
contrato secreto. E assim o homem respira o ar
infectado, e fica alucinado e morre. Mas quando o animal é visto primeiro
pelo homem, e se este desejar matá-lo, se arma com espelhos, e ao basilisco ver-se no espelho lançará seu veneno contra o
reflexo, e o veneno voltará ao animal matando-o. Mas não parece claro porque
o homem que assim matou o basilisco não morreu
também, e só podemos chegar à conclusão de que isso se deve a alguma razão
que ainda não entendemos com clareza. (*) Basilisco:
Réptil fantástico de oito pernas, segundo alguns em forma de serpente, capaz
de matar pelo bafo, pelo contato ou apenas pela
visão e segundo outros em forma de serpente com um só olho na fronte. (NT-Pt) Até agora expusemos nossas opiniões sem
preconceito algum, nos abstivemos de todo julgamento apressado ou
irreflexivo, e não nos desviamos dos ensinamentos e das santas escrituras.
Chegamos, pois, à conclusão, de que a verdade católica é a de que, para
provocar esses males que constituem o tema da discussão, as bruxas e o demônio sempre trabalham juntos, e no que se refere a
estes aspectos, um nada pode fazer sem a ajuda e a colaboração do outro. Já
tratamos a respeito desta fascinação. E agora, com referência ao segundo
ponto, a saber, o de que o sangue flui de um
cadáver na presença do assassino. Segundo Speculum Naturale de Vincent de Beauvais, cap. 13. A ferida,
por assim dizer, resulta influenciada pela mente do assassino, e encontra uma
atmosfera impregnada de violência e ódio, e quando o assassino se aproxima o
sangue acumulase, e brota do cadáver. Pois
aparentemente essa atmosfera que foi criada e, por assim dizer, penetrou na
ferida devido a presença do assassino, este se perturba e se comove em grande
parte, e em conseqüência deste movimento sai o
sangue do corpo morto. Íncubos e Súcubos: Entidades demoníacas desencarnadas íncubos (masculinos) súcubos (femininos). (NT-Pt) Queira Deus pudéssemos supor que nada disso é
verdadeiro, e tudo puramente imaginário, e que nossa Santa Mãe, a Igreja,
estivesse livre da lepra de tal abominação. Este é o conceito da Sede
Apostólica, a única Senhora e Mestra de toda a verdade, esse julgamento,
expresso na Bula de nosso Santo Padre o Papa, nos assegura e infundi em nossa
consciência que estes delitos e males floresceram entre nós, e não nos
atrevemos a nos abster de nossa investigação, sobre eles, a não ser quando
colocamos em perigo nossa própria salvação. E, portanto devemos examinar em
detalhe a origem e o avanço dessas abominações; haverá muito trabalho, por
certo, mas confiamos que cada detalhe será debatido com a maior exatidão e cuidado, por quem ler este livro, pois aqui
não haverá nada contrário à razão, nada que difira das palavras das
Escrituras e da tradição dos Padres. Agora, bem existem, por certo, duas
circunstâncias muito comuns na atualidade, a saber,
a vinculação das bruxas com familiares, íncubos e súcubos, e o horrível
sacrifício de crianças pequenas. Portanto trataremos em especial destes
assuntos, de modo que em primeiro lugar analisaremos a esses mesmos demônios, em segundo às bruxas e seus atos,
e em terceiro por final, pesquisaremos porque tolera-se
que existam essas coisas. Pois bem, esses demônios atuam devida sua influência sobre a mente do homem, e
preferem copular sob a influência de certos astros ao invés de outros, pois
parece que em certas ocasiões sua semente engendra e procria crianças com
mais facilidade. Portanto, devemos estudar porque os demônios
atuam na conjunção de determinados astros, e quais
são esses momentos. Há três pontos principais para examinar. Primeiro, se
estas abomináveis heresias podem multiplicar-se pelo mundo graças a quem se
entrega aos íncubos e súcubos. Segundo, se suas ações
não possuem certos poderes extraordinários quando realizadas sob a influência
de determinados astros. Terceiro, se esta abominável heresia não e difundida
por quem de maneira profana sacrifica crianças a Satã. E mais ainda, quando
tenhamos estudado o segundo ponto, e antes de passar ao terceiro, consideraremos
a influência dos astros, e qual poder exercem em atos
de bruxaria. E com respeito ao primeiro assunto, existem três dificuldades
que devem esclarecidas. A primeira é uma consideração geral desses demônios chamados íncubos. A segunda é mais especial, pois
devemos perguntar: Como é possível que esses íncubos executem o ato humano da
cópula? A terceira também é especial: Como unem-se as bruxas a esses demônios e copulam com eles? Para VOLTAR A: Grimorio- Malleus Maleficarum Veja também: Simpatias Magias & Feitiços Rápidos Não perca: temas relacionados .... |
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