BRUXARIA & BRUXAS
MALLEUS MALEFICARUM – O MARTELO DAS BRUXAS
Como
comparar as obras das bruxas com outras superstições funestas
Existem quatorze tipos de magia, que nascem das três classes da
Adivinhação. A primeira das três é a invocação franca dos demônios.
A segunda não é mais que uma configuração silenciosa da disposição e
movimento de alguma coisa, como os astros, ou os dias, ou as horas, ou algo
parecido. A terceira é a consideração de algum ato humano com a finalidade de
encontrar algo oculto, e é conhecida como Sortilégio: E as espécies da
primeira forma de Adivinhação, isto é, a franca invocação dos demônios, são as seguintes: Feitiçaria, Oniromancia, Nigromancia,
Oráculos, Geomancia, Hidromancia,
Aeromancia, Piromancia e
Augúrio (ver São Tomás, em Segundo dos Segundos, perguntas 95, 26 e 5). As
Espécies do segundo tipo são a Horoscopía; o
trabalho dos Arúspices, Presságios, Observação de Sinais, Quiromancia e Espatulomancia*. (*) Espatulomancia:
É a arte de adivinhar o futuro interpretando os ossos de animais. As demais
superstições que os autores citam, serão explicadas mais adiante no decorrer
do texto. (NT-Pt) As espécies do terceiro tipo
variam segundo todas as coisas que se classificam como Sortilégio para
encontrar algo oculto, tal como a consideração de agulhas e palhas, e figuras
de plano fundido. E São Tomás também fala disso na referência precitada.
Agora bem, os pecados das bruxas vão mais além de todos estes delitos, como
se provará a respeito das espécies precedentes. E não cabe dúvida alguma a
respeito dos delitos menores. Pois consideremos a primeira espécie, na qual
quem é experiente na bruxaria e na feitiçaria engana os sentidos humanos com
certos aparecimentos, de modo que a matéria corpórea parece se tornar
diferente à vista e ao tato, como se tratou mais
acima, no assunto dos métodos da criação de ilusões. As bruxas não se
conformam com tais práticas em torno do membro genital, e de causar certa
ilusão prestidigitadora de seu desaparecimento (ainda que isto não seja um
fato real); mas também, com freqüência arrebatam a
própria capacidade de engendrar, de modo que a mulher não pode conceber, e o
homem não consegue executar o ato ainda que, todavia conserve seu membro. E
sem ilusão alguma, também provocam o aborto depois da concepção, quase sempre
seguido de muitas doenças. E ainda se surgem em diferentes formas de animais.
A Nigromancia é a convocação dos mortos e a
conversação com eles, como mostra sua etimologia; porque deriva da palavra
grega Nekros, que significa cadáver, e Manteia, que quer dizer adivinhação. E conseguem isto
operando certo feitiço sobre o sangue de um homem ou de algum animal, sabendo
que o demônio se deleita em tal pecado, e adora o
sangue e seu derramamento. Pelo qual, acham que chamam os mortos do inferno
para responderem suas perguntas, mas aqueles que se apresentam e oferecem as
respostas são os demônios com o aspecto dos mortos.
E deste tipo foi a arte da grande pitonisa, que se fala em I Reis XXVIII,
quem levantou Samuel, por instâncias de Saúl. Mas
não pense que estas práticas são legais porque as Escrituras registram que a
alma do Profeta justo, chamado de Hades para predizer o fato da iminente
guerra de Saúl, apareceu por intermédio de uma
mulher que era uma bruxa. Porque, como diz Santo Agostinho a Simpliciano: “não é absurdo acreditar que fosse permitido
por alguma dispensa, e não pela potência de uma arte mágica, mas por alguma
dispensa oculta, desconhecida pela pitonisa ou por Saúl,
que o espírito desse homem justo aparecesse perante a vista do rei, para
pronunciar contra ele a sentença Divina. Ou bem, não foi na verdade o
espírito de Samuel arrancado de seu descanso, ou então algum fantasma ou
ilusão imaginaria dos demônios,
provocada pelas maquinações do diabo; e as Escrituras chamam este fantasma
com o nome de Samuel, tal como as imagens das coisas se denominam pelos nomes
das coisas que representam”. Diz isso em resposta a pergunta: Se a
adivinhação por invocação dos demônios é legal? Na
mesma Summa o leitor encontrará a resposta à
pergunta: Se existem graus de profecia entre os Beatos? E poderá se remeter a
Santo Agostinho, XXVI, 5. Mas isso tem pouco a ver com os atos
das bruxas, que não conservam em si vestígios de piedade, como fica evidente
na consideração de suas obras, pois não deixam de derramar sangue inocente,
expor à luz coisas ocultas, sob a guia dos demônios,
e ao destruir a alma com o corpo, não perdoam aos vivos nem aos mortos. A Oniromancia pode ser praticada de duas maneiras. A
primeira é quando uma pessoa usa os sonhos para poder se aprofundar no
oculto, com a ajuda da revelação dos demônios invocados
por ela, com quem firmou um pacto aberto. A segunda é quando o homem usa os
sonhos para conhecer o futuro, na medida em que existe nos sonhos tal virtude
procedente da revelação Divina, de uma causa natural intrínseca ou
extrínseca; essa adivinhação não seria ilegal, assim disse São Tomás. E para
que os evangelistas contem, pelo menos, com um núcleo de compreensão do
assunto, devemos falar primeiro dos anjos. Um anjo tem poderes limitados, e
pode revelar o futuro com mais eficácia quando a mente se encontra adaptada a
essas revelações, do que quando não está. Agora antes de mais nada, a mente
se acha adaptada a esse modo depois do desprendimento do movimento exterior e
interior, como quando as noites são silenciosas e se silenciam os ruídos do
movimento; e estas condições cumprem-se durante a madrugada, quando se
completou a digestão. E digo isto de nós, pecadores, a quem os anjos, em sua
Divina piedade, e no exercício de seus ofícios, revelam certas coisas, de
modo que quando estudamos, nas altas horas da madrugada, se nos oferece a
compreensão de certos aspectos ocultos das Escrituras. Pois um anjo bom
coordena nossa compreensão, tal como Deus rege nossa vontade, e os astros
dominam nosso corpo. Mas a certos homens mais perfeitos, um anjo pode revelar-lhes
coisas a qualquer hora, estando eles despertos ou dormindo. No entanto,
segundo Aristóteles, em Somno et
Vigília, tais homens tem a capacidade de receber tais revelações, num grau
maior em um dado momento do que em outro, e assim ocorre em todos os casos de
Magia. Segundo, há de assinalar que ocorre, pelo cuidado da natureza e a
regulação do corpo, que certos fatos futuros têm sua causa natural nos sonhos
do próprio homem. E então estes sonhos ou visões não são causas, como se
disse no caso dos anjos, mais apenas sinais do que lhe ocorrerá no futuro,
como em um caso de saúde, de doença ou de perigo. E esta é a opinião de
Aristóteles. Porque nos sonhos do espírito é natural imaginar segundo a
disposição do coração, pela qual a doença ou qualquer outra coisa aconteça de
maneira natural ao homem, no futuro. Pois se um homem sonha com fogo, é sinal
de uma índole colérica; em voar ou coisa semelhante, sinal de disposição
tímida; se sonha com água ou qualquer outro líquido, é sinal de um
temperamento inflamado, e se sonha com coisas terrenas, sinal de disposição
melancólica. E portanto os médicos recebem com freqüência
ajuda dos sonhos em seus diagnósticos (como diz Aristóteles no mesmo livro).
Mas estas coisas são leves em comparação com os sonhos ímpios das bruxas.
Pois quando não desejam, como se mencionou antes, irem fisicamente a um
determinado lugar, ou então, visualizarem o que fazem as outras bruxas, tem
por costume apoiarem-se sobre o flanco sinistro do próprio nome e no de todos
os demônios; e os fatos revelam-se a sua visão, em
imagens. E se procuram conhecer algum secreto, para si ou para os outros, o
conhecem em sonhos, graças ao demônio, pela razão
de um pacto aberto, não tácito, assinado com ele. E pelo mais, este pacto não
é simbólico, realizado pelo sacrifício de algum animal, ou por meio de um ato
de sacrilégio, ou pela adoração de algum culto estranho, mas por uma
verdadeira oferenda de si mesmas, em corpo e alma, ao demônio;
pela abnegação da Fé, pronunciada de forma sacrílega e interiormente
intencional. E não contentes com isto, inclusive matam, ou oferecem aos demônios, seus próprios filhos e os alheios.
Outra espécie de adivinhação é a que praticam as pitonisas, assim chamadas
por causa de Apolo Pitio, que como dizem, deu
origem a este tipo de adivinhação, segundo São Isidoro. Essa prática não se
realiza por sonhos ou por diálogos com mortos, mas por meio de homens vivos,
como no caso dos que são açoitados pelo demônio até
o frenesi, por sua vontade ou contra ela, só com a finalidade de predizer o
futuro, e não para a perpetração de nenhuma outra monstruosidade. A esta
classe pertencia a jovem mencionada em Atos XVI,
que gritou com os Apóstolos que eram os servidores do verdadeiro Deus; e São
Paulo, encolerizado por isto, ordenou que o espírito saísse dela. Mas está
claro que não há comparação entre tais coisas e os atos
das bruxas, que segundo São Isidoro se chama assim pela magnitude de seus
pecados e a enormidade de seus crimes. Pelo qual, com vistas à brevidade, não
faz falta continuar este argumento a respeito das formas menores de
adivinhação, já que foi demostrado em relação as
formas maiores. Porque o evangelista, se assim desejar, pode aplicar estes
argumentos às outras formas de adivinhação: à Geomancia,
que se ocupa das coisas terrenas, como o ferro ou a pedra polida; a Hidromancia, que trata da água e dos cristais; a Aeromancia, que se ocupa do ar; a Piromancia,
que se refere ao fogo; o Augúrio, que tem haver com as entranhas dos animais
sacrificados nos altares do demônio. Pois ainda que
tudo isto se realize por meio de uma franca invocação dos demônios,
não lhes pode comparar com os delitos das bruxas, pois estas práticas
menores, não possuem o objetivo direto
de danar os homens, os animais ou os frutos da terra, mas apenas prever o
futuro. Os outros tipos de adivinhações, que são realizadas com uma invocação
tácita, mas não aberta, dos demônios, são a Horoscopía ou Astrologia, assim chamadas pela
consideração dos astros no momento do nascimento; as ações
dos Arúspices, que observam os dias e as horas; os Augúrios, que observam a
conduta e grito das aves; os Presságios, que estudam as palavras dos homens;
e a Quiromancia, que analisa as linhas da marca ou das patas dos animais.
Quem desejar, pode remeter-se aos ensinamentos de Nider,
e encontrará muitos esclarecimentos no que se refere quando estas coisas são
legais, e quando não. Mas os atos das bruxas nunca
são legais.
Para VOLTAR A:
Bruxaria&Bruxas
Grimorio- Malleus Maleficarum
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