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Spleen
Poema publicado em As Flores do Mal
Quando o cinzento
céu, como pesada tampa,
Carrega sobre nós, e nossa alma
atormenta,
E a sua fria cor sobre a terra se
estampa,
O dia transformado em noite
pardacenta;
Quando se muda a terra em húmida enxovia
D'onde a Esperança, qual morcego
espavorido,
Foge, roçando ao muro a sua asa
sombria,
Com a cabeça a dar no tecto
apodrecido;
Quando a chuva, caindo a cântaros, parece
D'uma prisão enorme os sinistros
varões,
E em nossa mente em frebre a aranha
fia e tece,
Com paciente labor, fantásticas
visões,
- Ouve-se o bimbalhar dos sinos
retumbantes,
Lançando para os céus um brado furibundo,
Como os doridos ais de espíritos
errantes
Que a chorrar e a carpir se
arrastam pelo mundo;
Soturnos funerais deslizam tristemente
Em minh'alma sombria. A sucumbida
Esp'rança,
Lamenta-se, chorando; e a Angústia,
cruelmente,
Seu negro pavilhão sobre os meus
ombros lança!
Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães
Obtido em Wikisource
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