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VAMPIROS

CABALA  E VAMPIRISMO

 

 

Cabala e Vampirismo

O macho da hiena após sete anos se torna um morcego,

o morcego após sete anos se torna um Vampiro,

o Vampiro após sete anos se torna uma urtiga,

a urtiga após sete anos se torna um abrunheiro,

o abrunheiro após sete anos se transforma em um demónio.

Il Talmud de A. Cohen.

 

A cabala poderia ser definida grosso modo como a metafísica judaica, sendo entendido que na verdade eles foram os codificadores de inúmeras tradições, durante suas viagens, períodos de escravidão, ou como contacto que fizeram enquanto povo conquistado. O nosso objectivo aqui é usar a metafísica cabalística, e seus estudos aprofundados sobre os fenómenos ocultos, para entendermos melhor o Vampirismo. Iremos agora falar sobre o mito do Vampiro transposto para a cabala, e as eventuais explicações serão feitas intercalando os dois temas (cabala e Vampirismo). As referências ao cristianismo são necessárias, por serem conhecidas dos ocidentais, facilitando dessa forma o entendimento, e além do mais o cristianismo nasce do judaísmo, mantendo inúmeros de seus princípios.

No mito clássico, o Vampiro é um morto que retorna da tumba; se lembrarmos da estada dos judeus no Egipto, eles travaram contacto com a magia egípcia e toda a cultura da mumificação. Sem falar que os judeus concebiam três corpos para o ser humano: Nepbesh, Ruach e Neshamah.

Ruach está associado à mente, à claridade, ao racional; Neshamah, ao princípio mais elevado do ser (esquecendo Chiah e Yechidah). Quando sobrevinha a morte, o Nephesh, aparentado com o perispírito dos espíritas, vagava por algum tempo até sofrer a segunda morte. O Nephesh é o que muitos cabalistas chamam de alma animal, representando o nosso lado instintivo e mais primário, similar ao P'o chinês (ver capítulo II).

Este era o espectro do morto para os egípcios, o fantasma que vagava em cemitérios. Em alguns casos, esse corpo poderia ser possuído por um Qliphoth, um demónio, o que o levaria a executar a mais ampla série de actividades destrutivas, entre elas o vampirismo. Qliphoth são conchas, cascas, cacos dos cálices sagrados quebrados quando o poder criador da divindade cingiu o universo pela primeira vez. São os demónios mesopotâmicos, cananeus incorporados pelos judeus.

Para a cabala, em especial a hermética, há um símbolo composto que serve para representar o universo e nossa inter-relação com ele: é a Arvore da Vida. Essa abordagem tem muito dos conceitos socráticos e pré-socráticos e, claro, platônicos. Essa árvore foi formada a partir de uma fonte misteriosa, chamada Ayin Soph; dela emanaram uma série de princípios, que continham em si o potencial para criar tudo o que conhecemos. Do Ayin Soph brotou Kether, a primeira Sephira (nome hebraico para numeração), dela veio Chockmah, e de Chockmah, Binah, e assim sucessivamente até Malkuth, a décima e última Sephira.

Essas Sephiroth (plural de Sephira) e os inúmeros caminhos que as ligam formam a Arvore da Vida.

Cada uma dessas Sephiroth terá suas próprias características e deuses, anjos e demónios correlatos, e mais uma infinidade de coisas. (Os estudiosos de cabala me perdoem pela exposição tão sintética e aglutinadora, mas, apenas lembrando, o livro versa sobre Vampirismo; em outro livro de minha autoria, Cabala: a Árvore da Vida, da Edípro, há uma explanação mais detalhada sobre cabala, sem que ele deixe de ser um livro iniciatório sobre o assunto.)

Faremos uma pequena descrição das Sephiroth.

Kether simboliza a coroa, o planeta Plutão; é a primeira, simboliza a origem de tudo; inconcebível, podemos chegar até ela apenas por símbolos, o masculino e feminino unidos.

Chockmah: sabedoria, planeta Netuno, o masculino, o falo, impulso.

Binah: compreensão, planeta Saturno, a grande mãe, o útero, o cálice.

Daath: conhecimento, planeta Urano; esta é a Sephira que não é Sephira, simbolizada pelo abismo, um deserto habitado por demónios.

Chesed: misericórdia, planeta Júpiter, religião, filosofia, sorte, o demiurgo, espaço.

Geburah: força, planeta Marte, determinação, destruição.

Thiphareth: beleza, o Sol, o local do eu superior, a cruz, o sacrifício místico, harmonia.

Netzach: vitória, planeta Vénus, a rosa, arte, a cruz ansata, amor.

Hod: esplendor, planeta Mercúrio, intelecto, som, escrita, magia.

Yesod: fundamento, Lua, luz astral, energia sexual, o duplo, registros akáshicos.

Malkuth: o reino, planeta Terra, o corpo, a matéria, a noiva.

A Árvore da Vida é composta de três pilares; são eles o da severidade, um pilar feminino, que fica à esquerda da Arvore e é associado ao nadi Ida, composto pelas Sephiroth Binah, Geburah e Hod. O outro pilar é o da misericórdia, masculino, está à direita da Árvore, Pingala é seu nadi, composto por Chockmah, Chesed e Netzach. No centro da árvore há o pilar chamado pilar do meio, que une masculino e feminino e é associado ao nadi Sushumna; as Sephiroth que o compõem são Kether, Daat, Tiphareth, Yesod e Malkuth.

Algumas Sephiroth em particular serão relevantes para nós, entre elas a Binah, a grande mãe da cabala, representada pelo mar, onde a água na verdade é sangue, fonte de toda a vida. O planeta que lhe é atribuído é Saturno, o antigo titã, senhor do tempo (o Cronos grego), associado ao deus Shiva. O leitor deve estar se perguntando: “Mas Binah não era a grande mãe?”. A resposta é sim, mas cada Sephira compartilha da energia de sua contraparte, no caso, Chockmah, o grande Pai, sem falar que quando nos referimos a sexo, entendam-se polaridades.

Shiva e Saturno têm inúmeros atributos intercambiáveis, assim como o deus egípcio Seth ou Shaitan dos yesides, todos eles são representações da mesma força. A idéia de Shiva e Kali seria muito interessante, ou, dentro do sistema thelêmico, Therion e Babalon como representantes dessas polaridades. Binah e Kali são negras (negro é a cor de Saturno e Binah, conseqüentemente), e representam aspectos do feminino destrutivo por um lado, e protector por outro. Elas são o ventre que dá à luz, vida, e a cova na morte. Voltando a Saturno, ele era conhecido pela astrologia medieval como o grande maléfico, ligado à bruxaria e ao diabolismo. E fácil lembrar quantas datas ligadas ao vampirismo estão sob o signo de Capricórnio, regido por ele. Sem falar, é claro, no negro, na morte, no lado animal, todos sob a regência de Saturno. Esse feminino destrutivo terá um arquétipo perfeito em Lilith, mas para compreendê-la na totalidade faz-se necessário o estudo de outra Sephira.

Há uma lenda de Ishtar, a Vénus da Mesopotâmia, que, ao descer aos infernos em busca de seu amado, ameaçou: “Se a porta não for aberta, ensinarei o morto a voltar à vida”. Vénus, na Arvore da Vida, é atribuída à Sephira Netzach, hebraico para vitória. O mito do vampiro tem os aspectos sensuais e o desejo da perpetuação, atributos de Vénus e consequentemente de Netzach. Ela é associada ao seguinte: manter-se incorruptível, sexo e prazer, não envelhecer, a cosmética tanto embeleza como faz a idade aparentemente retroceder. O narcisismo, como Elisabeth Bathory e seus banhos em sangue para rejuvenescer, usando a vida e energia de jovens mulheres. Vénus também é a estrela da manhã, ou, se preferirmos Lúcifer, o anjo rebelde.

A raça humana foi criada em uma sexta-feira, dia consagrado a Vénus. Lúcifer, tomado de ciúmes (um sentimento bem venusiano), declara guerra à humanidade. Assim reza a lenda, e independente disso, poucas pessoas irão negar o aspecto sensual do vampiro. Sephira de vital importância será Tiphareth, o Sol, o filho de Binah e Chockmah.

O vampiro é destruído pela luz do Sol na tradição; além disso, ele anda à margem, no mundo das sombras. Esse fato tem uma analogia cabalística importante. Quando ocorre a morte, o mago ou feiticeiro tem a capacidade de evitar a segunda morte: ele pode alimentar-se, nutrir-se dos vivos.

Mas, dessa forma, na maioria dos casos, ele cria uma cisão, uma ruptura entre o Ba e o Ka, usando a terminologia egípcia. Quando o vampiro diz que não tem alma, é à alma de luz que ele se refere. Dessa forma, ele é um ser pela metade, pois há uma outra forma de vencer a morte, muito mais efectiva e juntando os dois aspectos, mas ela será mais bem abordada no capítulo sobre a missa da Fênix.

Outro símbolo de Tiphareth é a cruz, símbolo do sacrifício do iniciado, o mito da crucifícação de Jesus, ou Buda iluminando-se à sombra da árvore Bo. Nesse momento, o iniciado se torna adepto, ele morre e renasce. Lembrando que a cruz é um símbolo pré-cristão, seja a cruz latina, suástica ou Tau.

O vampiro não suporta esse símbolo, justamente ele, que se recusa a morrer e se agarra à sua vida. Que seja entendido que o que morre em um iniciado é a sua persona, este ser que atende por um nome de certidão de nascimento, e tem um número de RG. Dessa forma, ele se abre ao manancial de sabedoria incomensurável de todas as suas encarnações, deixa de ser ele mesmo, como uma lagarta que se torna borboleta.

O iniciado que conseguiu o conhecimento e a conversação com o Santo Anjo Guardião (eu superior), é um Sol, mas esse Sol deve renascer após o abismo. Mas dessa vez como um buraco negro, que suga toda a luz. Passado, presente e futuro são uma única coisa nesse momento. A estaca é fincada no coração, órgão físico solar, e a própria decapitação, o ato de separar a cabeça do corpo, ambos são actos que destroem o vampiro e estão intimamente ligados a Tiphareth. Mas o Vampiro vulgar se mantém agarrado à sua persona.

Crowley nos mostra a diferença entre os dois tipos. O adepto verterá seu sangue na taça de Nossa Senhora Babalon, o sangue dos santos, o vinho do sabá. Desse modo, são eles feitos dignos de se tornar participantes do mistério desse cálice sagrado, pois o sangue é a vida.

Mas não confundamos o derramamento do sangue do cordeiro, um ritual dos Irmãos Negros, pois eles selaram o Pilone com sangue para que o Anjo da Morte aí não entre. Assim se desligaram eles da companhia dos santos. Assim se guardam eles da compaixão e do entendimento. Amaldiçoados são eles, pois prenderam seu sangue em seus corações. Eles se guardam dos beijos de minha mãe babilónia, e em suas fortalezas solitárias oram à falsa Lua. E se obrigam, juntos, a um juramento, e a uma grande maldição. Em sua malignidade, conspiram juntos, e têm poder e domínio, e em seus caldeirões fervem o vinho azedo da ilusão, misturado ao veneno de seu egoísmo. Assim eles fazem guerra ao santo, enviando sua ilusão aos homens e a tudo que vive. De maneira que sua falsa compaixão é chamada compaixão, e seu falso entendimento, entendimento, pois este é seu feitiço mais potente.

Contudo, de seu próprio veneno perecem em suas fortalezas solitárias: serão devorados pelo tempo, que os enganou para servi-lo, e pelo poderoso demónio Choronzon, seu mestre, cujo nome é a Segunda Morte, pois o sangue que eles borrifaram em seu Pilone, que é uma barreira contra o Anjo da Morte, é a chave pela qual ele entra! Essas partes são do livro de Thoth de Aleister Crowley, lançado pela Madras; são muito instrutivas sobre cabala e vampirismo.

Deus cria o ser humano usando epher, marah e dam, respectivamente, pó, bile e sangue. Deus proferiu:

“Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”... Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, macho e fêmea ele os criou. Essas simples linhas já nos mostram que o primeiro ser era andrógino como a divindade. A palavra hebraica para sangue é dam, juntando-a ao aleph (a letra a), que tem como atributo o ar, teremos Adam, o primeiro ser humano.

O primeiro humano é formado de sangue e ar, e só podemos pensar no prana dos indus, que é a energia do Sol transmitida através do ar, e no corpo humano está presente no sangue. Sangue em hebraico soma 44, o mesmo valor numérico de Fênix. Palavras com valores iguais comungam da mesma natureza.

Com isso o sangue é um elemento importantíssimo no ser humano e a chave para seu renascimento, a Fênix. Mas essa composição nos faz vítimas de Lilith, que jurou se alimentar do sangue dos filhos de Adão, a raça humana. Adão também tem relação com Adamah (terra), e a sua parte material insuflada pelo alento divino. De posse das chaves que a cabala nos oferece, podemos fazer uma releitura bastante proveitosa da Bíblia. Tomemos uma passagem do jardim do Éden. Lá estavam Adão, Eva, a Serpente, a Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal, a Arvore da Vida e, claro, Jeová.

A Árvore do Bem e do Mal é irmã da Árvore da Vida, foram criadas juntas, e é de se imaginar que nelas houvesse uma genética divina, assim, em essência, produziriam frutos similares. O homem podia comer os frutos de todas as árvores, menos da do Bem e do Mal; caso ele comesse o fruto dessa Árvore, ele morreria. Deus lhe cria a dócil Eva (tanto Adão quanto Deus deviam estar com seus egos masculinos feridos por Lilith), que seria a companheira de Adão, e juntos seriam uma só carne, algo meio andrógino. Eva, nua em folha, passeava pelo jardim, quando ela se depara com a Serpente (Kundalini), que lhe diz que se comer da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal ela se tornaria igual a Deus. O casal do Éden comeu o fruto proibido e, como concorrência é algo ruim, Deus baniu os futuros deuses.

Uma parte é deveras elucidativa; Deus disse: “Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, pois, para que não estenda a sua mão, e tome também o fruto da Árvore da Vida, e dessa forma viva eternamente”. O Senhor lançou o homem na Terra. Essa confissão de culpa é fantástica: se Deus é único, quem é o nós? Eis que o homem é como um de nós — eram vários deuses, e, claro, interessadíssimos em manter a sua hegemonia. De posse do conhecimento da sexualidade e da Árvore da Vida, Eva e Adão se tomariam deuses.

Vamos destrinchar mais o mito bíblico. Conhecimento em hebraico é daat, que também é o nome de uma Sephira, como já vimos. Transposta para o corpo humano, Daat fica na garganta, justamente onde nossas avós diziam que a maçã de Adão entalou, o famoso pomo de Adão dos homens. Daat é uma tremenda prova para qualquer iniciado; é a transcendência do bem e do mal, do tempo (Binah) e espaço (Chesed), a união de Seth e Hórus. E isso é conseguido pelo domínio da energia sexual, a Kundalini, a Serpente que foi chutada do paraíso juntamente com a raça humana. Daat também é o local dos demónios, um deserto de areias movediças, similar àquele para onde Lilith se retirou (eu iria colocar fugiu, mas ela riu desdenhosamente de mim) e criou toda a sua descendência de demónios.

Há quem diga que Lilith unida a Samael seria o Leviatã; de qualquer forma, é uma idéia interessante.

Eles unidos formariam um andrógino demoníaco como Kether; Samael seria Chockmah, e Lilith, Binah. Voltando ao nosso mito bíblico, a Arvore da Vida é o próprio universo; a chave da imortalidade está no universo, mas, como dizem os gregos: “Homem, se queres conhecer os deuses e o universo, conhece a ti mesmo”.

Outra ferramenta da cabala é a numerologia; ela nos ensina que palavras com valores numéricos iguais têm um parentesco, comungam de significados iguais ou complementares. Serpente tem a mesma numerologia que sabedoria, Chockmah. E fácil imaginar que há bem mais nesse mito do que imaginávamos.

A Lilith hebraica é, como já vimos, derivação de divindades e demónios femininos mesopotâmicos. Na Idade Média, ela era a rainha dos íncubos. O sangue carrega muito prana, justamente como o esperma, e Lilith tem interesse em ambos.

Além da Lilith, um outro tipo de ser que merece a nossa atenção são os Nephilim; há muita especulação sobre o que eles seriam, por isso seleccionamos algumas teorias e passagens bíblicas sobre eles.

Naqueles dias, havia gigantes sobre a Terra, e continuaram existindo; os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens, e delas geraram filhos; estes eram os mais valorosos que existiram na Antigüidade, varões de fama. (Génese 6: 4.) Nephilim, traduzido do texto hebraico, seria caído, ou seja, como os anjos que caíram junto com Lúcifer. O Nephilim e o cruzamento entre anjos caídos e as mulheres humanas produzem uma raça de gigantes (leia-se seres poderosos). Eram conhecidos por sua força e coragem.

Possivelmente a história dos Nephilim começa com Shemhazai, um anjo de alta hierarquia. Ele desceu à Terra para instruir os homens, mas ao ver as fêmeas humanas, eles as desejaram. Após realizar o desejo, eles instruíram as mulheres na magia. O fruto desse acasalamento foi os Nephilim. Altos, mais que os homens comuns, de força incrível e com um apetite voraz, eles causaram extrema destruição, atacando inclusive os homens.

A história dos Nephilim encontrará paralelo em várias tradições: para os espíritas, eles eram os exilados de capela, para alguns ufólogos, o cruzamento entre ET’s e humanos, para os gregos, Semi-deuses. Encontraremos os Nephilim tanta na Bíblia como nos manuscritos do Mar Morto.

Como os Nephilim eram extremamente poderosos, os judeus os temiam e respeitavam.

(Fonte: Vampiros Rituais de Sangue, de Marcos Torrigo, cap7.)

 

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