VAMPIROS A Missa do Vampiro “O Vampiro, homem feito Deus, bebe sangue alimento dos deuses.” Frater Piarus “Ao ser apresentado a Isadora Duncan, o mago inglês Aleister Crowley perguntou se ela queria receber o “beijo da serpente”. Ela aquiesce, e Crowley pega o pulso da bailarina e o morde profundamente, sugando todo o sangue que jorrava da ferida. Agindo assim, repetia simbolicamente a atitude de um dos mais persistentes arquétipos da raça humana, o vampiro.” Paulo Coelho, revista
Planeta., n. 105. Aleister
Crowley foi um mago extremamente poderoso e mal afamado; suas práticas
bizarras e seu descaso para com os valores vitorianos (a hipocrisia reinante naquela
época, como agora) condenaram-no ao hall dos malditos, mas ele está em boa
companhia. Crowley vasculhou todos os rincões da alma humana, experienciou
incontáveis caminhos iniciáticos, viajou e estudou nas mais diversas partes
do mundo, como Índia, Egito, México e Rússia, só para citar alguns.
Pesquisador do saber arcano, navegador dos confins da mente, criador de um
sistema de magia que traz uma vasta gama de conhecimentos, das mais variadas
culturas e povos, incluindo o Vampirismo. Para
saber mais sobre a magia de Aleister Crowley, sugiro a leitura de meu livro
Rituais de Aleister Crowley, também pela Editora Madras. A missa da Fênix, a
missa do Vampiro, é o mais lembrado de todos os rituais criados por ele para
este tema, mas não é o único. Crowley estudou e praticou o Vampirismo, mas de
uma forma extremamente sublime, praticamente incompreensível para o não
iniciado. O sangue, como o sexo, é uma fonte incrível de poder, e a junção
dos dois é o elixir rubro dos alquimistas, o sangue dos santos na taça de
Nossa Senhora Babalon. A vida nasce do sangue, a junção do espermatozóide com
o óvulo, ou seja, da energia prânica e das entranhas do próprio ser. Este
ciclo é regado pela Lua de sangue, a menstruação; a Lua Nova, a face escura
da Lua; Hécate, a bruxa e feiticeira, Lilith. O sangue é usado em rituais
desde tempos imemoriais, fonte da vida, o fluxo que une mãe e filho. O melhor
sangue é o da Lua mensal, de acordo com o Livro da Lei, o grimório de
instruções mágicas da nova era. Há
um ritual da O.T.O. em que o sangue dos iniciados é transubstanciado dentro
da taça de Nossa Senhora Babalon, “a mãe das abominações”. Nossa Senhora
Babalon, em posse do sangue dos santos em sua taça, pode gerar incontáveis
filhos, que são alimentados indirectamente pelo sangue dos santos. Essas
técnicas de uso energético de terceiros são chamadas de magia da Lua, em
analogia ao fato de a Lua brilhar com a luz do Sol, e, em um plano simbólico,
ao uso da energia prânica, sem falar, é claro, da associação natural da Lua
com o feminino, a bruxaria, Lilith e correlates, não esquecendo a maternidade
e o parto — todos esses tópicos da magia lunar são também do Vampirismo.
Dessa forma, nesse rito, são unidos os símbolos do Pelicano e da Fênix. Na
mitologia, o Pelicano alimenta suas crias com o sangue de seu peito, uma
prova de seu amor abnegado. A Fênix é a ave mitológica que renasce das
cinzas, renasce da morte. O
que tudo isso representa é muitíssimo vasto para ser tratado neste breve
ensaio sobre Vampirismo, mas para termos uma pequena idéia de sua abrangência
imaginemos o seguinte: todas as religiões tiveram seus mártires e santos —
Cristo, Orfeu, Mansur el Hallaj, entre outros. Todos, de uma forma ou de
outra, tiveram que se oferecer, em sacrifício em prol do que acreditavam, não
necessariamente à morte violenta, comum a tantos, mas ao riso, à blasfémia,
ao descrédito e às perseguições de toda a espécie. Sacrificaram suas vidas,
seu sangue, para que novos pudessem vir, compartilhando de seu sangue, ou
seja, suas crenças, seus herdeiros, seus filhos. A yoni é a taça onde todo o
sangue deve ser vertido, ou seja, toda a força dos desejos, e depois disso só
resta o vácuo. É necessário que o corpo, a persona, morra para que possa
renascer na nova vida. O
bebé do abismo é gerado no ventre de Babalon (ou seja, Daa't, o ventre de
Babalon, a mãe das abominações). O iniciado morre e renasce, como a Fénix.
Para a mulher, é idêntico ao momento após o orgasmo, o fogo de pentecostes
consumirá o universo. Sujeito e objecto são fundidos no fogo sêxtuplo do
amor. Os egípcios entesouraram esse saber no livro dos mortos. Onde o morto
se transubstanciava em Fénix, ele se lançava na matéria primordial como
Khepra, remoçando, revivendo. Trazia em si a semente e as potências de todos
os deuses. A
Fênix é destruída pelo Sol, mas das cinzas nasce um verme que se torna a
Fênix, imortal. Ela é associada ao signo de Escorpião, que também tem como
animais a serpente e o próprio escorpião, e a águia, o mais elevado e
correlato da Fênix. Um signo ligado à morte e ao sexo, regendo no corpo
humano os órgãos reprodutores. Crowley, dentro da Ordo Templi Orientis, tinha
como nome mágico secreto Fênix, o que esclarece muito de suas intenções. A
Bíblia também é útil na descoberta de elementos sobre a missa do Vampiro, especialmente
Provérbios (30:14): “Há gente cujos dentes são espadas, e punhais suas
mandíbulas, para devorar os humildes da terra, e os pobres do meio dos
homens. A sanguessuga tem duas filhas: dá-me, dá-me”. Essas
passagens bíblicas são deveras interessantes, símbolos vampíricos
interpolados. Sugiro que o leitor leia o original, se possível da edição de
1982 da Editora Vozes e Santuário. O meu exemplar foi presenteado por uma
destacada personalidade eclesiástica que não convém ser revelada. A magia da Lua
é empregada para criar elementais artificiais, os famosos familiares das
bruxas, “filhos” astrais do mago, criados através de técnicas de magia
sexual. Em
Líber Ágape, Crowley descreve aos iniciados do IXo da O.T.O., a ação de um
Vampiro: “O Vampiro escolhe sua vítima com vigor e força, quando possível,
com o desejo magicamente dirigido de sugar essa energia para si próprio,
exaure sua presa com auxílio de seu corpo, notadamente pela boca”. A
missa da Fénix invoca a energia de Marte e Saturno, ambos considerados pela
astrologia medieval como maléficos. Marte é o deus da guerra, da força,
também associado ao sangue, e tem como animais o carneiro e o lobo, e a cor
vermelha. Regente nocturno de Escorpião e diurno de Áries. A Sephira de Marte
é Geburah, seu número é cinco. Saturno
é o antigo titã do tempo, compreensão, associado aos ossos, seus animais são
a cabra, o corvo, cor negra. Regente de Capricórnio e Aquário, sendo que hoje
em dia Aquário é atribuído a Urano, o planeta relacionado a Daat. Saturno e
Marte estão no pilar esquerdo da Arvore da Vida, o pilar feminino da
severidade. Para termos uma idéia da energia de Marte, compilamos uma parte
de um texto Sagrado da A:. A:. Líber
Stellae Rubrae, um ritual secreto de Apep Aleister Crowley: “Eu
sou Apep, ó tu, sacrificado, tu deves sacrificar-te sobre meu altar: terei
teu sangue para beber, pois eu sou um poderoso Vampiro, e minhas crianças
beberam o vinho da terra que é sangue”. O leitor
acostumado à leitura convencional sobre vampirismo pode estar um tanto
confuso, ou curioso, quiçá ambos, com o presente capítulo. O que lhe falo é
que os arcanos secretos do Vampirismo sagrado são auspiciosos, e os nomes
vampiro e vampirismo são meras designações. O
grande mar, que na verdade é de sangue, é a mãe desses seres inefáveis — os
mestres do templo, senhores da compreensão. O
amigo leitor terá um leve vislumbre desse conhecimento; espero que isso seja
um motivo para a sua busca. Líber XLIV A Missa da Fénix O
Mago, seu peito nu, conserva-se ante o altar no qual estão seu Cinzel,
Incenso, Turíbulo e dois dos Bolos de Luz. No Sinal do Entrante ele alcança o
Oeste através do Altar, e grita: Salve Rá, que vais em Tua barca Pelas cavernas das Trevas! Ele faz o sinal do Silêncio, e pega o
Sino, e o Fogo, em suas mãos. Leste do Altar veja-me em pé Com Luz e Músicka em minha mão! Ele bate Onze vezes no Sino 333-55555-333
e coloca o Fogo no incenso. Eu toco o Sino: eu acendo a Chama: Pronuncio o Nome misterioso. ABRAHADABRA. Ele toca o sino Onze vezes. Agora começo a orar: Vós, Criança, Sacro e imaculado é vosso nome! Vosso reino é vindo; Vossa vontade foi
feita. Aqui está o Pão; aqui está o Sangue. Trazei-me através da meia-noite ao Sol! Livrai-me do Bem e do Mal! Que Vossa coroa de todos os Dez Aqui e agora seja minha. Amém. Ele coloca o primeiro Bolo no Fogo do
Turíbulo. Eu queimo este Bolo-Incenso, proclamo Estas adorações de Vosso nome. Ele as faz (as adorações) segundo Líber
Legis, e novamente toca Onze vezes o Sino. Com o Cinzel ele então faz sobre seu peito
o sinal apropriado. Observe meu peito que sangra Marcado com o Sinal do Sacramento! Ele coloca o segundo Bolo no ferimento. Estanco o sangue; a hóstia com ele Se embebe, e o Sumo Sacerdote invoca! Ele come o segundo Bolo. Este Pão eu como. Esta blasfêmia juro. Enquanto me inflamo com oração: Não há graça: não há culpa: Esta é a Lei: Faze o que tu queres! Ele toca Onze vezes o Sino, e grita ABRAHADABRA. Entrei com pesar; com alegria Eu agora prossigo, e com acção de graças, Para tomar meu prazer na terra Entre as legiões dos vivos. Ele prossegue. Transcrevemos
algumas explicações de Aleister Crowley sobre a missa da Fênix, elas foram
publicadas originalmente no Book of Lies — capítulos 44 e 62,
respectivamente. 44. A missa da Fénix Comentário Este
é o número especial de Hórus; é o sangue em hebraico, e a multiplicação do 4
pelo 11, o número de Magick (Magia), explica 4 em seu sentido mais sutil. Mas
veja em particular as explicações em Equinox I, vii, das circunstâncias do
equinócio dos deuses. A palavra “Fênix” pode ser tida como se incluísse em si
a idéia de “Pelicano”, o pássaro que na fábula alimenta sua cria com sangue
de seu próprio peito. As duas idéias, apesar de cognatas, não são idênticas,
e “Fênix” é o símbolo mais acurado. Este
capítulo é explicado no Capítulo 62. Seria
impróprio comentar mais sobre um ritual que é aceito como oficial pela A:.
A:. 62.
Galho? A
Fênix tem um sino ao invés de som; fogo ao invés de visão; uma faca ao invés
de toque; dois bolos, um para o paladar e outro para o olfacto. Ele se
posiciona ante o altar do Universo no pôr-do-sol, quando a vida na Terra
empalidece. Ele conjura o Universo, e o coroa com a luz mágicka, para
substituir o Sol da luz natural. Ele ora para homenagear a Ra-Hoor-Khuit; a
ele então sacrifica. O primeiro bolo, queimado, ilustra o proveito tomado
pelo esquema de encarnação. O segundo, misturado com o sangue vital e comido,
ilustra o uso da vida inferior para alimentar a vida superior. Ele então toma
o sacramento e se torna livre — incondicionado —, o Absoluto. Queimando na
chama de sua oração e novamente nascido — a Fênix! Comentário Este
capítulo em si é um comentário do capítulo 44. Nota:
Galho? = Compreendeis? Também
a Fênix leva galhos para acender o fogo que a consume. Segue
na sequência tradução de excertos do livro The Tree of Life, de Israel
Regardie, tratando dos tópicos pertinentes a este capítulo. A presente
tradução foi feita por Edson Bini. A
Missa do Espírito Santo! Assim
é chamada esta técnica específica. E única em toda a magia, pois nela está
compreendida quase toda forma conhecida de procedimento teúrgico. Ao mesmo
tempo, é a quintessência e a síntese de todas elas. Entre outras coisas, diz
respeito à magia dos talismãs. Por meio desse método, uma força espiritual viva
é confinada numa substância teles mâtica específica. Não
se trata de telesmata morto ou inerte como acontece na costumeira evocação
talismânica cerimonial, mas sim de imediato vibrante, dinâmico e contendo em
germe e potencial a possibilidade de todo crescimento e desenvolvimento. De
uma maneira muito especial, refere-se, ademais, à fórmula do Cálice Sagrado.
Um cálice dourado de graça espiritual é utilizado, no qual a própria essência
e sangue vital do teurgo têm de ser derramados para a redenção não de sua
própria alma, mas de toda a espécie humana. A
eucaristia também está implícita e o cálice é usado como a taça da comunhão,
cujo conteúdo santificado — taumatúrgico e iridescente, em suma o vinho
sacramentai — tem de ser dedicado e consagrado ao serviço do Altíssimo. A
oblação a ser consumida com o vinho eucarístico é, em função dessa
interpretação, a essência secreta tanto do mago intoxicado quanto do supremo
deus que ele invocou. Neste método está presente também em larga escala a
técnica alquímica, visto que concerne majoritariamente à produção do ouro
potável, a pedra filosofal e o elixir da vida que é Amrita, o rocio da
imortalidade. O
leitor deve, acima de tudo, ter em mente a fórmula filosófica do
Tetragrammaton, que é o métododesta missa. Isso demonstra a necessidade de
uma familiarização prática com os princípios numéricos da Santa Cabala, pois
quanto mais conhecimento se possui, classificado no sistema indicador da
Arvore da Vida, mais sentido e significação se vinculam à fórmula de Tetragrammaton,
Na elaboração do que foi dito acima, os seguintes princípios podem ser
postulados. O Y do nome sagrado neste sistema é chamado de leão vermelho e a
primeira H é a águia branca. Concebe-se que essas duas letras sejam as
representações de dois princípios cósmicos, dois rios de sangue escarlate que
brotam dos seios da sereia para dentro do mar, duas torrentes distintas e
incessantes de vida, luz e amor que procedem eternamente da própria vida. Nelas
reside o poder de tocar e comungar, fazendo um novo do outro, sem nenhuma
ruptura das fronteiras sutis das torrentes ou qualquer confusão de
substância. Em sua natureza, são mutuamente complementares e opostas, e, no
entanto, nelas está fundada a totalidade da existência. Todas as operações
alquímicas, de acordo com as autoridades, requerem dois instrumentos
principais: “um recipiente circular, cristalino, precisamente proporcional à
qualidade de seu conteúdo “, ou cucúrbita, e “um forno teosófico selado
cabalisticamente” ou athanor, O athanor é atribuído ao Y e a cucúrbita ê uma
atribuição da H. A
fabricação do ouro alquímico, que é o rocio da imortalidade, consiste de uma
operação peculiar que apresenta várias fases. Pelo estímulo do calor e do
fogo espiritual para o athanor, deve haver uma transferência, uma ascensão da
serpente daquele instrumento para dentro da cucúrbita, usada como uma
retorta. O casamento alquímico ou a combinação das duas correntes de força na
retorta produz de imediato a decomposição química da serpente no mênstruo do
glúten, sendo este a parte do solve da fórmula alquímica geral do solve et
coagula. Junto à decomposição da serpente e sua morte surge a resplendente
Fênix que, como um talismã, deve ser carregada por meio de uma contínua
invocação do princípio espiritual compatível com a operação em andamento. A
conclusão da missa consiste ou no consumo dos elementos transubstanciados,
que é a Amrita, ou no ungir e consagração de um talismã especial. Nunca
é demais enfatizar que se os elementos não forem consagrados correctamente,
ou melhor, se a força invocada não se impingir ou ficar inseguramente
confinada dentro dos elementos, toda a operação poderá ser anulada. E poderá
facilmente degenerar às profundezas mais inferiores, resultando na criação de
um horror qlifótico que passará a existir como um vampiro actuando sobre os
não-naturalmente sensíveis e aqueles inclinados para a histeria e a obsessão.
Se o elixir for adequadamente destilado, servindo como meio ao espírito
invocado, então os céus serão franqueados, e os portais se voltarão para o
teurgo, os tesouros da Terra serão colocados aos seus pés. “Se o descobrires,
cala e o mantém sagrado. Não confia em ninguém, excepto em Deus”. Conduzida
dentro de um círculo adequadamente consagrado, após um perfeito banimento,
seguida por uma poderosa conjuração da força divina e o assumir da forma
divina apropriada, a cerimónia pode se revelar detentora de poder
incomparável para franquear os portais dos céus. Utilizando-se apenas a taça
e o bastão como armas elementares, em associação com o mantra ou a invocação
rítmica especializada, é raro que a missa falhe ou não produza efeito. Essa
união de duas armas mágicas diferentes, bastante divorciadas, como podem
ter-se afigurado num primeiro momento, aumenta a potência de cada uma delas,
já que combina numa operação única os melhores aspectos e as maiores
vantagens de ambas. (Fonte: Vampiros
Rituais de Sangue, de Marcos Torrigo, cap10.) Para
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