VAMPIROS Viagem astral, duplo etérico e corpos sutis A
primeira morte se dá nos domínios de Demeter, a segunda
tem lugar no além, nos domínios de Perséfone.
A primeira é brutal e violenta, a segunda lenta
e suave. Plutarco
Para
entender melhor o fenómeno do vampirismo e como se processam seus ataques,
iremos abordar os corpos sutis e a anatomia oculta dos seres humanos. Não se
trata em absoluto de uma novidade; a acupunctura e seus meridianos, o Yôga e
o processo de evolução através dos chacras se valem da anatomia oculta há
milénios. Grosso
modo, seria o corpo energético ou psicossomático, através do qual podemos
entrar em contacto com outras realidades, entre outras coisas. Estes
corpos ficaram muito mais conhecidos nos últimos anos, com a popularização da
técnica chamada viagem astral, que, creio, o leitor conhece ao menos em tese.
Na viagem astral ou projecção da consciência, o corpo físico fica em repouso
e o corpo astral é lançado. Todas as pessoas têm essa capacidade, umas mais
naturalmente que outras, mas isso pode ser melhorado através do emprego de
determinadas técnicas. Como já dissemos, não há nada de novo na viagem
astral, e toda noite nos projectamos, a maioria das pessoas
inconscientemente. As
reuniões ou sabás das bruxas eram feitos dessa forma, daí a capacidade de
“voar”; a viagem astral não se restringe aos praticantes da Arte dos Sábios
(bruxaria); xamãs, magos e yogues se valeram da viagem astral consciente para
o seu aprendizado. A glândula pineal tem um papel importante na fenomenologia
oculta — muitos viajantes astrais acham que esta glândula é a porta, ou, se
preferirem, o “lançador” do corpo astral. De médico e louco todos temos um
pouco, o praticante de magia em especial. Os
fenómenos paranormais muitas vezes causam uma ruptura com a pseudo-realidade,
levando o iniciado a ser dado como louco. O
sahasrara chacra tem uma relação especial com a pineal; o objectivo da
ascensão da kundalini, a iluminação, é conseguido ao se elevar a energia
ígnea (kundalini) até esse chacra. As pessoas que passaram por esse processo
narram tanto as maravilhas como os gigantescos terrores; a mente e a
realidade se tornam irreais e uma nova realidade se descortina, lembrando que
mesmo esses estados fantásticos não são o objectivo último. Os quatro
elementos são chamados pelo espírito para uma dança de roda, e este está no
centro — a dança de Shiva. A
fogueira acesa crepita vários metros, o som do ar e do fogo enche nossos
ouvidos, e a natureza ganha vida, tudo é vivo, e estamos em tudo. Quântico,
energia, mares de energia, nas mais variadas formas. Êxtase
infinito, o corpo treme como nos estertores da morte, mas ela é nossa amiga,
o derradeiro portal; juntas, de mãos dadas, as irmãs vida e morte caminhantes
rumo ao eterno. O medo, o terror, uma criança que nasce, uma nova realidade
milhões de vezes mais abrangente. Seres
espectrais, como demónios, elementais negros ou Asuras se aproximam. Mas o
que eles podem contra nós? São nossos irmãos, no seio da mãe cósmica. Um vôo
ao eterno, a sensação é de vertigem, não há palavras para descrever o
inefável. Mandalas tridimensionais, infindáveis, girando, girando, somos
recebidos por Ch’ien, o Dragão cósmico, o criativo. O ser atemporal,
infinito, tudo sei, tudo posso, sou uma criança e um velho. Mas vem a saudade
do ser encarnado, limitado no tempo e no espaço, e é o momento de voltar. O
vampirismo está associado à magia e à bruxaria em todo o mundo. Um praticante
de magia em vida, na morte pode se tornar um vampiro, ou mesmo estando vivo
pode se valer da projecção astral (duplo etérico) para drenar energia dos
vivos. Antes de prosseguirmos neste ponto, faz-se mister trazer à baila um
outro conceito, a energia prânica. Prana
é a energia do Sol; ela é encontrada em todos os seres. É fundamental para a
manutenção da vida. Para absorver a energia prânica usamos o duplo etérico,
que é um elo de ligação entre o físico denso e o corpo astral (nota: todos
esses corpos são físicos, na verdade não há diferença entre físico e
espiritual, são níveis diferentes da mesma coisa; para melhor compreender
isso, usemos a teoria da relatividade, onde a matéria equivale à energia). A
função do duplo etérico é captar a energia prânica durante o sono. Duplo
etérico é prana maya kosha, ou o veículo do prana. Em
projecções longas, o corpo físico fica em catalepsia, como um cadáver, a
respiração e os batimentos cardíacos caem a níveis mínimos. Tanto é que alguns
projectados já foram dados como mortos. Os
iogues conseguem levar essa prática às ultimas consequências; são enterrados
vivos por semanas, enquanto seu corpo astral vaga e ajuda a manter o físico.
Não esquecendo, é claro, os pranayamas e a meditação profunda. Um
faquir, na Índia, foi enterrado por um mês (!) sob a supervisão de Sir Claude
Wade. O faquir foi lacrado em uma caixa, e a chave dada a Sir Claude. Ficou
enterrado dentro de um túmulo de alvenaria e coberto de terra. Guardas
ficaram a postos pelos trinta dias. Transcorrido
o prazo, ele foi desenterrado. Aparentemente
estava morto, mas foi desperto pelos seus companheiros. O
duplo é o responsável pelo ectoplasma e grande parte da fenomenologia espírita,
ou seja, ele propicia materializações, ruídos e toda a sorte de
manifestações. Os
médiuns, após as sessões de materialização, ficam extenuados; ao que tudo
indica, muito da sua energia é gasta na materialização, mais um motivo para
que os magos negros se valham do vampirismo para abastecer-se de energia. Outro
fato relevante é que os médiuns apresentam alguns sintomas das vítimas de
vampirismo, mas de forma alguma esse fenómeno se restringe ao dito
espiritismo. Qualquer mago que tenha conseguido uma materialização saberá o
desgaste advindo, talvez menor que no caso dos médiuns, mas da mesma forma
presente. Z.
T. Pierart, um espiritualista francês e editor da revista La Spiritualiste,
foi um opositor do espiritismo e das idéias de Kardec. Achava que o vampiro
era o corpo astral de uma pessoa enterrada viva, que usava o vampirismo sobre
seu corpo enterrado para se manter vivo por mais tempo. Magos experientes
podem adensá-lo (materializando-o), e isto pode ocasionar um fenómeno chamado
repercussão, sobre o qual muito se falou. Uma bruxa está materializada (duplo
etérico). Se por acidente ela se fere, esse ferimento pode ser transmitido ao
corpo físico. Os
relatos desse tipo são inúmeros, e a literatura do ocultismo está cheia
deles, sem falar que o duplo podia tomar formas variadas, daí a licantropia e
a capacidade do vampiro de se metamorfosear em vários seres. Para os ciganos
alemães o Vampiro deixava seu esqueleto na tumba; daí vem a crença de que os
Vampiros não têm ossos. Possivelmente o duplo materializado tinha uma
constituição sólida, mas de uma solidez diferente da matéria vulgar. Toda
noite o duplo absorve a energia prânica do ambiente. Esse fato é deveras
contundente, basta para tanto imaginar que todos os seres ao dormir estão se
nutrindo dessa energia. Quando, por algum motivo, esse prana é absorvido de
outro ser, temos o vampirismo. Lembrando
que o prana no corpo humano se concentra em especial no sangue! No capítulo
II, falamos de uma crença na Roménia de que Vrykolakas são almas de pessoas
que saem à noite para alimentar-se da energia do Sol e da Lua. Elas lembram,
fisionomicamente, os suspeitos de Vampirismo. Esse relato é uma prova
bastante forte a respeito do porquê do fenómeno do vampirismo. Indagar
o porquê do vampirismo nos traz uma infinidade de motivos. O morto-vivo é
talvez o mais facilmente explicável, pois a morte romperia a capacidade
normal de absorção de prana, e isso se torna premente em espectros presos à
terra, para que não sofram a segunda morte. O caso do vampiro vivo é mais
complexo; de certa forma, são pessoas de índole vampírica, que tem sua
expressão das mais variadas formas, como jogos de poder, sadismo, fins
mágicos, ajuste de contas, sexo, etc. Lembrando que estamos falando de
projecção astral, e não do que poderíamos chamar de sanguessugas energéticas,
aquelas pessoas que nos deixam extremamente cansados após o contacto com
elas. Distúrbios
nos corpos sutis podem ocasionar o vampirismo, mesmo sem a pessoa ter
consciência do que faz. Para os reencarnacionistas, vícios de vidas passadas
podem ser uma motivação. Obsessão seria outra fonte: entidades agiriam como
“más companhias” para a pessoa. A gama de hipóteses é gigantesca; coloquei
aquelas com que entrei em contacto ou que são bastante lógicas partindo dos
conhecimentos que disponho. Collin
de Plancy, em seu Dicionário Infernal, menciona que os Vampiros podiam ser
animados pela luz da Lua, para daí sugar os vivos. A alquimia interior também
é trabalhada pelo uso da anatomia oculta do homem. Ela visa, entre outras
coisas, o elixir da longa vida. Um mantenedor da juventude, a escola tântrica
taoísta, é uma das que trabalham com essa fórmula. Na verdade, esse elixir é
feito com os próprios fluidos humanos — o recipiente, a retorta e o alambique
alquímico são o corpo. Grande parte do emprego da energia nas artes marciais
é advinda dessa escola e, para não ficarmos tão longe da nossa realidade,
Hélio Gracie, que pode ser chamado de pai do estilo Gracie de Jiu-Jitsu, é um
praticante dessa técnica. A
ligação do vampirismo com a sexualidade é proverbial, inclusive há vários
relatos da actividade sexual intensa de alguns vampiros, sendo que entidades
vampíricas das mais diversas culturas têm um grande interesse na energia
sexual dos humanos. Para
os chineses, o ser humano tinha dois corpos sutis. Um deles era irracional e
selvagem, e o outro, racional e composto pelos aspectos superiores da psique.
O corpo etérico superior poderia viajar pelas imediações. Se algo ocorresse a
esse corpo, seria automaticamente transmitido ao físico. O corpo etérico, às
vezes, tomava a forma de algum animal, o que nos faz lembrar do xamanismo e
seus animais de poder. O corpo físico inferior, chamado pelos chineses de
P’o, após a morte, em alguns casos se mantinha ligado ao físico, noutros
existia como cascarrão e não se desintegrava. Se persistisse nessa situação,
se tornava um Chiang-Shih, ou seja, um vampiro. Essa crença chinesa, muito
sofisticada, tinha ainda um detalhe: o hun ou alma superior encarnava no
momento do nascimento. Há uma crença bastante difundida no ocultismo de que a
encarnação se dá quando os pulmões se enchem de ar pela primeira vez. Parte
daí o fato de o mapa astrológico ser feito com a hora do nascimento, e não da
concepção. O
feto só teria o P’o ou alma inferior, vale salientar, e por isso estão
amplamente relacionados ao vampirismo os natimortos e todos os óbitos
advindos de problemas de parto. Este é um tema deveras interessante, e pouco
conhecido, mesmo no espectro de temas do ocultismo. O P’o não necessita do
corpo inteiro; basta-lhe uma parte do esqueleto ou, melhor ainda, o crânio. O
interessante é que os egípcios tinham uma compreensão idêntica, e não só
eles, várias outras tradições (o culto do vodu, por exemplo). De acordo com
convicção do vodu haitiano, toda pessoa tem duas almas: quando uma pessoa
morre, uma das almas segue para o céu. A outra alma fica nas proximidades do
cadáver, ou vagando pelo mundo. A alma que vaga é chamada no vodu de zumbi,
que pode ser a alma de alguém que teve morte violenta, um adolescente, ou uma
pessoa que por qualquer motivo não teve os ritos fúnebres. Os
egípcios tinham o Ba e o Ka, sendo que a unificação dos dois venceria a
morte, tornando a pessoa imortal, a quem nós interpretamos como sendo um iluminado.
Este fato era simulado ritualisticamente na entronização do Faraó como
governante do baixo e do alto Egipto. Sendo que ele unia em si através deste
ritual Seth e Hórus, havia uma peregrinação até Ombos, santuário de Seth, e a
Edfu, templo de Hórus. A alma da escuridão e a alma da luz, Seth e Hórus,
Crowley os representa pelas divindades Hoor-Paar-Kraat e Ra-Hoor-Khuit — um é
a sombra, a escuridão, o outro, a Luz, o Sol. Para a cabala Nephesch e Ruach,
respectivamente (isso será mais bem explicado no capítulo referente à
cabala). Os egípcios tinha um cuidado todo especial com o morto, tanto que
uma série de preparativos era feita no sepultamento. Após
a morte, o duplo do morto voltaria até o corpo, saciaria-se com as oferendas
de alimentos, e estaria amparado por toda a sorte de coisas que teve em vida
ou símbolos religiosos. As pinturas e estátuas eram representações que
visavam apaziguar o morto do choque decorrente da morte, e consolá-lo. De
forma alguma isso se restringiu ao Egipto; no Leste Europeu, pequenas
estátuas do sexo oposto do morto eram colocadas por vezes no caixão. Por toda
a história, temos os enterros colectivos, nos quais uma figura de poder se
fazia acompanhar por toda uma corte, incluindo a viúva, costume praticado até
hoje na Índia. O
Leste Europeu tem crenças similares; os sérvios acreditam que o Vampiro tem
dois corações e, por causa disso, duas almas. Essa crença também é comum à
Roménia. Na Eslováquia, dizia-se que o vampiro tinha um coração extra, sede
real de sua vida. Muldoon,
um dos maiores viajantes astrais de todos os tempos, menciona que o que faz
uma alma ser presa é a loucura, o desejo, o hábito e o sonho. Ele derruba por
terra a idéia moralizante a respeito dos espíritos presos à terra, já que são
as condições angustiantes da morte que motivam esse fato, não o carácter do
defunto. O trauma da morte é reencenado inúmeras vezes após o óbito, daí
grande parte das assombrações. Fechando o leque, vários Vampiros tiveram
morte violenta, e por isso se tornaram vampiros, uma alternativa para se
abastecerem de energia. Muldoon
também fala que o cordão etérico e a mente supraconsciente produzem grande
parte das manifestações, sejam elas os movimentos de objectos ou a descoberta
de coisas ocultas. Ou seja, uma pessoa pode assombrar uma casa, receber
espíritos e mais uma infinidade de coisas graças à sabedoria atemporal que
reside dentro de si mesma. Muldoon menciona Eusapia Paladino, uma médium que
conseguia tocar um instrumento musical pelo simples dedilhar, mesmo ele estando
a dois metros de distância. Por algum tempo, ela o fazia no ar, mas após
breves minutos isso era transmitido ao instrumento. Muldoon dá um exemplo
explicando essa capacidade, que para o nosso estudo é deveras importante. Ele
compara a capacidade mediúnica a um cachorro dormindo, que sonha que caça uma
lebre. Sonha tão intensamente que o fantasma do cão pode apanhar uma lebre no
campo e matá-la. Dá muito que pensar esse exemplo. As viagens astrais são
motivadas na sua maior parte por factores subconscientes; dessa forma, os
vários aspectos da vida têm um peso no condicionamento da viagem astral.
Fome, frio e preocupação podem gerá-la. O
sexo também é um dos grandes motivadores da viagem astral. Em uma de minhas
primeiras viagens com emprego de técnicas, deu-se dessa forma. Encontrei uma
amiga no astral e conversamos um pouco. Ao despertar no outro dia, fui ao
encontro dela sem falar-lhe nada. A primeira coisa que ela me contou foi o
sonho que teve comigo e a nossa conversa, cujos temas tinham sido coincidentes.
Na
Grécia antiga havia o costume de colocar-se uma moeda na boca do morto, uma
taxa para ser paga ao barqueiro Caronte. Caso isso não fosse feito, a pessoa
morta seria condenada a vagar, não podendo entrar no reino dos mortos.
Caronte era quem fazia a travessia do Estige, o rio odioso, que separava o
reino dos vivos do reino dos mortos, presidido por Hades. Essa crença
permanece viva até hoje entre os camponeses gregos, de uma forma modificada.
Nela, Caronte é senhor da morte, fantasmas e sombras. O
mais interessante em tudo isso é que a moeda naquela época estava associada a
algum pentáculo mágico, e era colocada na boca justamente por ser por onde o
espírito entra no nascimento, e sai, na morte. Dessa forma, o defunto estaria
livre de ter seu corpo (seja o físico ou o duplo) possuído por outro ser.
Tanto é assim que uma adulteração posterior colocava hóstia cristã na boca do
defunto, nítida adaptação do saber ancestral. Muitas dessas moedas são
cunhadas nos dias de hoje com os mesmos símbolos usados nas casas para
impedir a entrada do vampiro. Em
alguns locais da Europa, há uma crença que reforça o uso do duplo etérico na
actuação do vampiro: pessoas que nascem com uma membrana cobrindo suas
cabeças são vampiros em potencial. Estes recebem o nome de Kudlak, e reza a
tradição que suas almas abandonam seus corpos em forma animal para atacar
suas vítimas ou lançar sortilégios mágicos sobre a cidade onde vive. Após a
morte, são ainda piores. Mas há uma outra possibilidade: o bebé pode vir a
tornar-se um Kresnik, que sairá de seu corpo à noite, mas para lutar contra
os Kudlak e contra os mortos-vivos em geral. Um
fenómeno muito curioso é a combustão espontânea: estudos revelam que os
alcoólatras e as senhoras obesas de meia idade são os candidatos a ela. A
vítima queima sem explicação aparente, e nem peritos, legistas ou policiais
encontram explicações. O mais estranho é que muitas vezes a roupa do morto se
mantém intacta, e objectos ao redor também, apesar de ser bem sabido que,
para incinerar o corpo humano, são necessárias altas temperaturas que
tecnicamente destruiriam tudo à sua volta. Aparentemente, esse fogo brota do
interior da vítima, uma implosão ígnea. Incluo
este tópico devido ao fato de os vampiros em muitos relatos serem destruídos
pela luz do Sol, sendo consumidos em chamas; na casuística vampírica, há
também combustão em alguns casos de estaqueamento. O trabalho de ascensão da
kundalini pode provocar o despertar de capacidades como a clariaudiência, a
clarividência, entre outros. Uma parte importante no trabalho com a kundalini
é a dos nadis; são canais de energia que existem no corpo humano, os mesmos
da acupuntura. O
central chama-se sushumna; ele está no centro do corpo, mais precisamente na
coluna vertebral. Vai do muladhara chacra, na base da espinha, até o
sahasrara chacra, no alto da cabeça. Além desse canal central existem outros
dois canais, Pingala e Ida, solar e lunar respectivamente. Pingala, do lado
direito do corpo masculino, dinâmico e racional; Ida, do lado esquerdo do
corpo feminino, intuitivo, emocional associado ao rio sagrado Ganges. Esses
canais são conectados às narinas, só que invertidos, ou seja, Pingala na
narina esquerda e Ida na direita. Na
circulação sanguínea, o sangue arterial é solar, o venoso é lunar, e podemos
levar isso aos dois princípios: a alma solar e a lunar. Curiosamente, o
Pingala tem sua localização no umbigo, e Ida, no centro da cabeça (alguns o
colocam no palato). Uma
história ocorrida em uma vila da Bulgária nos fala sobre um vampiro que
ilustrará as explicações anteriores. Um rapaz chega até a vila, casa-se com
uma moça e leva aparentemente uma vida normal. Durante sua estada, o local
foi palco de estranhos ataques: cavalos e bois estavam morrendo, e não havia
sangue neles. A mulher do rapaz notava sua ausência todas as noites, e ele
voltava somente ao amanhecer. Os boatos das saídas noturnas do rapaz se
fizeram conhecer pela comunidade, e um grupo foi até sua casa e o prendeu.
Examinado, foi constatado que apenas uma das narinas era utilizada. Foi
levado até o alto de uma colina e queimado vivo. Alguns
relatos de vampirismo mencionam esse aspecto de uma única narina sendo
utilizada. Muito possivelmente, o vampiro está vinculado apenas à corrente lunar.
O fato em si levanta uma série de indagações, e nos leva a uma observação: a
de que o vampirismo está intimamente ligado ao feminino, e às energias a ele
relacionadas, sendo o fenómeno do vampirismo um desequilíbrio entre as duas
energias, feminina e masculina, lunar e solar, Seth e Hórus, etc. O
Bardo Thodol, O Livro dos Mortos Tibetano, é um compêndio de técnicas para a
boa morte, cujo objectivo seria conduzir o moribundo a vencer a Roda do
Samsara, o ciclo de nascimentos e mortes. Ele principia com técnicas que
visam fazer com que o moribundo veja a luz clara e liberte-se, e caso ele não
consiga isso nos primeiros dias, a partir do oitavo ele travará contacto com
as divindades irritadas, também chamadas de bebedoras de sangue. O curioso é
que são as mesmas divindades benevolentes, mas sob um novo aspecto. O
mais curioso ainda é que medo e fuga não são a saída, mas sim se fundir a
elas, encará-las como princípios divinos de grande sabedoria, e dessa forma o
estado búdico é alcançado. O Livro dos Mortos Tibetano, Bardo Thodol, nos
fala que devemos homenagear essas divindades bebedoras de sangue em vida,
para que possamos estar acostumados com elas na morte. E vai mais longe:
mesmo os que viverem de forma imperfeita alcançarão a salvação se conseguirem
assimilar esse princípio, e mais manifestações físicas de sua superação se
farão presentes no momento de sua morte, e visíveis a todos. Para imaginarmos
como era a visão dessas divindades bebedoras de sangue, descreveremos a que
surge no nono dia após a morte. A
divindade chama-se Bagavã Vajra Heruca, tem três rostos, seis mãos, quatro
pés. Em uma das mãos, segura um escalpelo, em outra, um dorjê, e nas demais
mãos, uma clava, um sino, uma relha e mais um escalpelo. Junto a ele está
Vajra Satva, a Mãe, que leva até a boca de Bagavã Vajra Heruca uma taça cheia
de sangue. Para o budismo os deuses eram seres poderosos, mas nem por isso
deixavam de ser ilusão. Ou seja, seus princípios deveriam ser absorvidos e
transcendidos. Ler
o Líber DCCCXIII Vel Ararita, de Crowley, nos leva à experiência directa; ele
se defronta com todas as divindades, e sabe que todas são Maya, ilusão,
etapas no caminho, não o fim da jornada. Uma das máximas thelêmicas é: “Não
há deus a não ser o homem”, e se pensarmos no budismo tibetano e no conceito
de Buda, ou seja, desperto, iluminado, aquele que sabe, ele é humano, um
humano que expandiu as fronteiras do si mesmo. Um homem que se tornou mais
que todas as divindades, indo à causa de todas elas e sendo sua causa. Ir para vampiros
(Fonte: Vampiros
Rituais de Sangue, de Marcos Torrigo, cap4.)
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