-VAMPIROS- O VAMPIRISMO NALGUNS LOCAIS DO MUNDO Índia
A
Índia é um dos locais que, juntamente com o Egipto e a China, tem mais
elementos para esclarecer o fenómeno dos Vampiros. Asuras, Rakshasas e mais
uma infinidade de seres vampíricos fazem parte da mitologia indiana, sem
falar em várias divindades que têm facetas vampíricas evidentes, como a deusa
Kali e seu marido Shiva. Os Rakshasas habitavam locais de cremação, onde inúmeros
cadáveres eram cremados. Estavam sempre prontos a atrapalhar a consecução
espiritual dos ascetas. Datam da era védica, seu líder é Ravana, de dentes
pontiagudos e olhos sinistros, inimigo de Rama. Eles portam unhas longas e
venenosas, sua aparência é feroz, sua cor é o azul escuro, mas podem ser
verdes ou amarelos. Os
Rakshasas são senhores de grandes tesouros, guardiões de templos e palácios.
Vagavam à noite em busca de sangue de crianças, em especial dos
recém-nascidos. Também gestantes faziam parte de suas principais vítimas.
Eles se faziam acompanhar muitas vezes por sacerdotisas, que participavam de
seus sangrentos banquetes, as Hatu Dhana. Além dos Rakshasas, Asuras e as
Hatu Dhana, havia os Pisashas; eles se alimentavam dos restos da cremação e
transmitiam inúmeras calamidades. Outra classe de seres Vampiros era a dos
Bhutas, o espectro dos mortos. Os candidatos principais a se tornarem Bhutas
eram os que padeciam por morte antinatural, suicídio ou execução; eram
loucos, portadores de alguma moléstia ou deformados. Transformavam-se, após a
morte, em mortos-vivos. Em certas localidades da Índia, aqueles que morrem de
maneira semelhante às descritas são sepultados ao invés de cremados. De forma
alguma isso se restringe à Índia, já que em praticamente todo o mundo pessoas
que sofreram morte violenta ou tiveram má índole são fortes candidatos a
Vampiros. Os
Bhuta se alimentam de fezes e intestinos encontrados em corpos decompostos. E
também promovem
doenças nos seres humanos, uma forma de gerar o seu alimento. Eles também
vivem perto do local de cremação, transformam-se em corujas e morcegos, mas
igualmente aos Rakshasas atacam recém-nascidos. Podem obsediar uma pessoa, e
a pessoa assim obsediada viria a atacar outras, devorando-as. Sir
Richard Burton, um dos mais importantes aventureiros do século XIX, conta-nos
a história do livro Vetala Pachisi, os vinte e cinco contos de um Baital. O
narrador destas vinte e cinco histórias é um Baital, um Vampiro, um ser que
se apossava do corpo de um morto para executar suas atividades vampíricas. Esse
livro trata da história de um gigantesco morcego negro, vampiro ou espírito
maligno que habitava e animava cadáveres. É uma lenda antiga, cujo estilo de
narrativa influenciou As Mil e Uma Noites, O Asno de Ouro, de Apuleio, e o
Decameron e o Pentameron, de Giovanni Boccaccio. Essa narrativa tem como
personagem o Rei Vikram, que teve seu reinado por volta do século I. “O
ser pendia de cabeça para baixo, seus olhos, que estavam arregalados, eram de
um castanho esverdeado
e nunca piscavam. Seus cabelos também eram castanhos, e castanho era seu
rosto. Três matizes diferentes combinadas lembravam um coco seco. Tinha o
corpo magro e cheio de nervuras, como um esqueleto ou um bambu. Estava
pendurado em um galho como um morcego, pela ponta dos dedos, e seus músculos
contraídos ressaltavam como cordas de fibra.” “Não
parecia ter uma gota de sangue sequer, ou esse estranho líquido devia ter
escoado para a cabeça; quando o Raja (Vikram) o tocou, a pele era fria como o
gelo e viscosa como a de uma serpente. O único sinal de vida era o agitar
furioso de uma pequena cauda, como a de um bode. O bravo Rei deduziu — um
Baital, um Vampiro, um Vetala Pancha Vishnati!” (Baital é a forma moderna de
Vetala). Encurtando
a narrativa, Vikram faz inúmeras tentativas de capturar o vampiro, mas este é
esperto, e contando inúmeras histórias consegue sempre voltar a sua árvore.
Por fim, o Raja o leva até um Yogue que estava esperando por eles perto de um
crematório. A área era cheia de hienas, abutres e assombrada por espectros. O
vampiro havia se apossado do corpo de um jovem, e, ao se aproximar do Yogue,
mas não tão perto para que este pudesse ouvi-lo, avisou o Rei Vikram de que o
Yogue na verdade era um gigante monstruoso disfarçado. Após dizer isso, o
vampiro abandonou o corpo do jovem, que voltou a ser um corpo normal. O Rei
ficou em dúvida a respeito do que o vampiro havia falado. Ele tomou parte nas
cerimónias do Yogue a contragosto, sempre esperando o pior, e graças a isso
foi salvo. De fato, o Vampiro falara a verdade. O Vetala é um demónio vampiro
com características de semideus. Ocasionalmente, o Vetala pode promover a
possessão de um cadáver, animando-o para suas práticas hematófagas. Outros
dois tipos de vampiros importantes eram o Gayal e Churel. O Churel é um
Vampiro feminino, uma mulher que teve morte no parto ou menstruada. Ela
aparece como uma linda donzela, extremamente sedutora, drenando suas incautas
vítimas enquanto estas se encontram deleitando-se em seus braços. Outras
vezes, ela aparece com dentes caninos enormes, e de sua boca pende uma língua
negra, e sua cabeça é ornada com uma selvagem cabeleira igualmente negra.
Para prevenir-se dos ataques dela, são colocadas sementes em sua antiga casa,
pois se supõe que este vampiro feminino também tenha obsessão por contar
(dessa forma se esquece do ataque predador). O cadáver do Churel tinha os pés
presos em cadeias, os ossos quebrados e era enterrado em decúbito dorsal, para
impedir seus ataques. Já o
Gayal, o Vampiro do Punjab, assume características de Vampiro mais uma vez
devido a problemas no sepultamento, por ser uma pessoa sem família para zelar
por seu funeral, ou se a família por alguma razão não realizou as cerimónias.
Ele é enterrado sumariamente sem ritos póstumos. O Gayal ataca seus parentes
e os filhos de seus vizinhos. A destruição do Gayal é feita quando lhe fazem
os ritos póstumos e lhe queimam o corpo. As
pessoas se preveniam de seus ataques usando uma mistura de água do Ganges e
leite, na esperança de que ele assim se saciasse. Os
Ciganos Os
ciganos são originários da Índia, possivelmente descendentes dos dravidianos,
povo autóctone, expulso pelos arianos do Norte da Índia. Os dravidianos são
os pais do Yôga e do Tantra; sua civilização era matriarcal e Shiva era sua
divindade principal. Ao perderem a guerra contra os invasores, eles migraram
para o sul da Índia, mantendo os seus conhecimentos em sociedades secretas.
Da sua terra natal, os ciganos trouxeram Sara, Santa Sara, ou melhor, Kali.
Tanto ela, como seu marido Shiva, são retratados na arte hindu em actos
vampíricos, e nessas representações há ainda um forte apelo sexual, de uma
forma muito comum aos Vampiros. A Índia, como já vimos, conta também com
inúmeros seres vampíricos. Os ciganos Começaram sua migração por volta do ano
1000 da era vulgar (Cristã), e por volta do século XIV já eram vistos no
Ocidente, após uma estadia na Turquia. Duas
teorias sobre a origem da designação “cigano” são a do egiptano, ou seja,
egípcio, derivando em gitano, ou a que faz alusão aos atzigani, seita
herética do Oriente Médio. Para Voltaire, eles eram cultuadores da deusa Ísis
vindos da Síria. Muito curiosa foi essa associação com os egípcios, já que os
ciganos chegaram à Europa sem passar pelo Egipto. Talvez isso seja uma menção
ao pequeno Egipto na Grécia, ou esse lugar tenha esse nome justamente devido
aos ciganos. Os gregos desde sempre tiveram os egípcios como grandes mágicos
e adivinhos; será que notaram essas características quando os ciganos foram
seus hóspedes? Curiosamente,
os locais onde os ciganos tiveram influência mais proeminente estão no
epicentro dos casos de Vampirismo que varreram a Europa no século XVIII. Já
em 1700 há relatos na Grécia sobre a actuação de Vampiros (Vrykolakas). O
termo é de origem eslava, e igualmente no Império Austríaco são registrados
casos amplamente documentados. Por mais que esses casos tenham o século XVIII
como foco, eles não foram tratados como novidade pelas populações dos locais
onde se desenrolaram, o que faz pensar que não era algo incomum. Os
ciganos, como os egípcios, tinham ritos de oferenda de alimentos aos mortos.
Em troca, pediam sua protecção e outros favores. Eles também tinham uma
espécie de feiticeiro (xamã) chamado Kaku, que tinha posse do poder de domar
animais sem o uso da força, através do conhecimento dos poderes hipnóticos,
incluindo o uso do terceiro olho. Ao
que parece, eles guardaram a sabedoria ancestral indiana, incluindo a cerimónia
do Maithuna indiano, uma união sexual tântrica. O casal se uniria para este
fim, muitas vezes não se vendo nunca mais. Seu objectivo era a harmonia dos
opostos e o êxtase místico. Fazem uso de um asana, como o da Yôga, e
exercícios com os olhos (tratakas). Eles crêem que o corpo humano é
entrecortado de canais que levam energia para os mais diversos pontos, e
disso se deriva uma técnica usada em curas que também pode despertar intenso
desejo sexual. Um fato curioso é que os Kakus ciganos têm especial respeito
por Jacques de Molay, o último Grão Mestre Templário. O porquê disso é uma
boa pergunta, mas a lenda fala que Molay esteve em contacto com eles no
Oriente, em busca de conhecimento mágico. Os ciganos, em muitos locais, foram
tratados como heréticos, bruxos e vampiros. Sofreram com fogueiras e
torturas, além de não poderem ser enterrados nos cemitérios comuns, dentre
outras coisas. Como já vimos, os ciganos são místicos por natureza, e seu
universo é recheado de seres imaginários e mágicos. Os
Vampiros têm um lugar de destaque na religiosidade cigana, sendo que havia
até a profissão de “caçador de vampiros” (Dhampir). Esse
caçador era filho de um Vampiro, um elo entre o humano e o vampírico. Os
ciganos acreditavam que o Vampiro poderia gerar filhos mesmo depois de morto,
e alguns Vampiros inclusive teriam constituído novas famílias. Como
em outras culturas e nos casos de “almas” presas a Terra (ver o capítulo
“duplo etérico e corpos sutis”), o Vampiro era fruto de morte violenta,
falhas no sepultamento ou ainda influência de animais sobre o corpo do morto;
assuntos não terminados também eram relevantes. O
Mulo era a forma mais conhecida de vampiro cigano, um morto-vivo que atacava
durante a noite e voltava ao amanhecer para sua sepultura. Como a maior parte
de todos os vampiros ele era um ser etéreo. Podia assumir várias formas
animais, e seus ataques dizimaram algumas famílias e inúmeras cabeças de
gado. Alguns relatos sobre o Mulo mencionam as relações sexuais entre o
Vampiro e sua esposa, ou amante, ainda viva. Essas relações poderiam ir das
mais calmas às mais violentas. O
Mulo poderia gerar filhos dessas uniões, e eles eram vampirovic, vampiro
filho, ou lampirovic, pequeno
vampiro, em idioma sérvio-croata. Outro nome para o filho de um vampiro é
dhampir. Para os sérvios, o Dhampir, filho do vampiro, tinha poderes
especiais para detectar e destruir vampiros. Dessa forma, famílias que tinham
sangue vampírico se tornaram caçadoras de vampiros. No Brasil, os primeiros
grupos de ciganos chegaram no século XVII, no Maranhão. Roma No
Império Romano, o vampiro era uma bruxa que, em forma de coruja, atacava
crianças para sugar seu sangue. Elas eram chamadas de Strix, o que culminou
em strega, italiano para bruxa. A strega, mesmo durante o Império Romano, já
tinha características vampirescas. Voava à noite, sugava o sangue de crianças
e se envolvia sexualmente com homens que acabavam drenados. Muito
do que foi usado no combate ao Vampiro foi também usado contra a strega,
tanto é que Carlos Magno teve de promulgar uma lei que proibia queimar ou
canibalizar stregas. Ambas as práticas foram adoptadas contra o vampiro,
inclusive comer pedaços dele como forma de cura. O lobisomem também foi um
fenómeno conhecido em Roma e na Itália. Arábia
e os Muçulmanos Os
muçulmanos têm algumas entidades vampíricas, dentro elas os Ghouls. Ghouls
são seres de forma feminina que assombram sepulcros, atacam e devoram seres
humanos. São similares à Lilith, ou seja, um demónio feminino que se alimenta
de corpos mortos, infestando cemitérios. Escavam as tumbas para devorar as
carcaças. Muitas vezes esses Ghouls eram tidos como metade mulher, mantendo
uma vida marital sem que o esposo soubesse o que ocorria. Ele atraía suas
vítimas até uma ruína deserta, para então sugar o sangue de suas veias e
comer sua carne. Nas Mil e Uma Noites, há uma passagem que trata exactamente
sobre o Ghoul. Um
rapaz se casa com uma jovem de nome Amine, e ao jantarem ele nota que ela
come muito pouco, nem o suficiente para um pardal. O marido observa que ela
se ausenta à noite, até que um dia a segue. Ela entra em um cemitério, e o
marido se esconde atrás de uma parede, com visão suficiente do cemitério e do
local para onde sua esposa ia. Para sua surpresa, ela se metamorfoseia num
Ghoul, e outros desses seres se aproximam para uma reunião que acontece bem
ali. Ela e outros Ghouls desenterram um corpo, e prontamente o dividem em
bocados devorados por todos. Os Ghouls, com grande compostura, travavam uma
conversa em meio ao seu festim diabólico. Talvez mais fantástico que o prato
principal, tenha sido o tema da conversa. O marido, de seu esconderijo, podia
ver mas não ouvir o que se passava. Ao término, lançaram a carcaça de volta à
sepultura e a enterraram. Sidi
Nouman (o marido), esperou o próximo jantar com a esposa, que mais uma vez
mal tocava os alimentos. Ele perguntou se a carne de um homem morto era mais
saborosa que o jantar. O Ghoul se enfureceu e jogou uma maldição sobre Sidi,
transformando-o num cachorro. Através das artes mágicas de outra mulher, ele
volta à forma humana e ainda ganha uma poção mágica destinada à sua esposa.
Quando se defronta com Amine, lança a poção nela com a seguinte frase:
“Receba o castigo da maldade”. A feiticeira é transformada em uma égua, e
imediatamente conduzida a um estábulo. Na
Turquia, alguns Dervixes eram caçadores de vampiros. Eles podiam ver o
espectro do morto e caçá-lo. O seu equipamento consistia em uma longa barra
de ferro ter minada em ponta aguçada. Juntamente com eles, na profissão,
havia os Sabbatarians, pessoas que haviam nascido no sábado, “um dia
especial”. Estes
dois tipos de caçadores também eram encontrados na Macedónia. Em uma dessas
caçadas um Sabbatarian, perseguido por um vampiro, entra em um celeiro.
Sabendo da compulsão natural dos vampiros por contar, ele espera o vampiro se
defrontar com os cereais. Aproveitando a distracção do vampiro, ele o
destrói. Grécia
A
Grécia e a sua rica mitologia são um campo vasto para o estudo do fenómeno do
vampirismo. As Lâmias, Empusas, Mormo e a própria Hécate são representantes
clássicos desse fenómeno e suas histórias se perdem nos séculos. A
Lâmia é um ser vampírico dos mais antigos. Após a perda de seus filhos,
Lâmia, uma bela mulher, foi tomada de ódio absoluto e vingou-se de toda a
raça humana atacando crianças e sugando-lhes o sangue, história muito similar
à de Lilith. Esse espectro feminino também se revestia de sedução. Quando as
vítimas eram rapazes, o demónio aparecia como uma bela mulher. A história de
Menippus é um bom exemplo. Ele
conhece uma bela moça, em verdade Lâmia, cujo prazer era se alimentar de
jovens corpos, com sangue puro e forte. Apuleio,
em Metamorfoses, narra em uma passagem que as feiticeiras da Tessália podiam assumir
a forma de qualquer animal. No caso em questão, Telefron, um estudante, tinha
sido incumbido da tarefa do guardar um cadáver para que as feiticeiras não
dilacerassem com seus dentes a face do morto. A Stringla, uma espécie de
vampiro feminino especialista em drenar sangue de crianças, como espírito da
noite, vinha e atacava as crianças. A volta do reino dos mortos não era de
forma alguma algo desconhecido para os gregos. O
poder do sangue como agente materializador era também por eles conhecido. Ulisses
encheu uma cova de sangue para propiciar o aparecimento de Tirésias, um
vidente, com sangue fresco nutriu a aparição ajudando-a a adensar-se, e
outros espectros lambem se materializaram valendo-se desse sangue. Pausânias,
no século II, já mencionava a lei grega que mandava queimar os cadáveres de
quem quer que fosse acusado de visitar seus parentes após a morte. A esse
solo fértil foi agregada a cultura eslava, que principia por volta do século
VI sua entrada na Grécia. A
Grécia conta com inúmeros relatos de atividade vampírica. O vampiro grego
mais conhecido é o Vrykolakas. O termo é de origem eslava e possivelmente se
refere a algum ritual em que o sacerdote utilizava uma pele de lobo. Bem
entendido que, para os gregos, o licântropo não era, de forma alguma, uma
novidade. O
Vrykolakas, para os gregos, era o morto-vivo. Tinha a aparência de quando
estava vivo, e podia também entrar em corpos de animais ou assumir as suas
formas. Por mais que os vampiros do leste europeu tenham uma fama enorme, a maioria
dos casos de vampirismo ocorreu na Grécia. Quem
é atacado por um Vrykolakas se torna invariavelmente um deles. O Vrykolakas é
um dos vampiros mais vorazes e selvagens, e em seus ataques rápidos e assassinos
rasgam a carne com os dentes para se banquetear com o sangue. O nome
Vrykolakas talvez também seja uma referência à licantropia. No folclore
eslavo, lobisomens se tornam vampiros após a morte. Há referências (escassas,
todavia) de lobisomens gregos que se tornaram vampiros (Vrykolakas) após sua
morte. Os
Vrykolakas não atravessavam água, por isso muitos foram mandados para ilhas
desertas na esperança
de que por lá ficassem. Essa prática foi usada em Hidra, Kythnos e Mitilene.
“A ilha de Hidra antigamente havia sido infestada por vampiros, e um Bispo se
livrou deles ao mandá-los para Therásia, uma ilha desabitada, pertencente ao
arquipélago de Santorini, onde eles ainda caminham à noite, mas não podem
cruzar a água salgada”. Em outros locais da Grécia, em especial em pequenas
ilhas, o vampiro é conhecido como Vurvukalas, Vrukolakas, e os cretenses o
chamam Kathakanas. O
Vrykolakas era essencialmente nocturno, mas suas histórias incluem
manifestações em plena luz do dia. Sábado era o dia em que o Vrykolakas
ficava em sua tumba. Justamente no sábado eram exumados os corpos dos
suspeitos. Uma cerimónia de exorcismo era levada a cabo, e o corpo era
removido para alguma ilha distante ou queimado. O
Vrykolakas muitas vezes se comporta como um poltergeist, destruindo mobília,
produzindo sons e mais inúmeras manifestações associadas. Ele também pode
voltar para viver com a viúva, e até mesmo empreender as tarefas mais comuns
e tranquilas. O
vampiro grego por vezes visitava a viúva após a morte, e há relatos de
crianças geradas desta forma; ele também podia mudar para outra cidade, onde
constituía família. Na Grécia, o vampirismo era herdado. Crianças filhas de
vampiros poderiam ser vampiros, ou caçá-los. China
A
China é uma das possíveis pátrias dos vampiros. O mais importante nesse país
é que os vampiros são encontrados há mais de 2600 anos, já que em 600 a.C. já
havia relatos de vampiros em solo sino. Na China, um dos vampiros que mais
nos chama a atenção é o chiang-shih, com unhas muito longas, cabelos brancos
com tons de verde e olhos avermelhados. Esse vampiro podia voar, mas, como o
grego, não atravessava água e deveria voltar à sepultura após suas
actividades, como um morto-vivo. Tinha
igualmente capacidade de se metamorfosear em animais, em especial em lobo.
Era destruído pelo fogo, e o cadáver passava também por cerimónias de
exorcismo. Para os chineses, um demónio se apossava da alma do defunto,
causando a incorruptibilidade do corpo, e levando-a ao vampirismo. Ainda
segundo os chineses, o ser humano tem duas almas: a Run, ou alma superior, e
a P’o, ou alma inferior. Uma teria aspectos mais elevados, a outra, aspectos
animais. Essa alma inferior era a causa do vampirismo, e qualquer ínfima
parte do defunto poderia guardar o vampiro. Os chineses também têm várias
histórias de crânios que falavam, e eram animados pela alma P' o do defunto,
causando inúmeros problemas. O
Vampiro na China, como em outras partes do mundo, é activo ao cair a noite,
voltando à sua sepultura ao raiar da aurora. Uma lenda chinesa trata da volta
dos mortos e da destruição advinda disso. Um funcionário do governo chinês,
Chang Kuei, estava em viagem quando, em dado momento, um temporal se abateu.
Ele se refugiou em uma casa. Lá, encontrou uma bela dama. A princípio tomaram
chá, para mais tarde se unirem numa torrente de paixões. Ao despertar, no dia
seguinte, qual não foi a sua surpresa ao se encontrar sobre a lápide de uma
tumba, com seu cavalo a alguns metros dali. Ele o montou e saiu a toda brida
pela estrada. Ao chegar
a seu destino, foi interrogado devido à demora, e seu relato revelou onde
estava a tumba de uma jovem prostituta que havia se enforcado. O fantasma
dela havia seduzido inúmeras vítimas. O clamor dessa história chegou aos
ouvidos do magistrado da região, que mandou abrir a tumba, onde o cadáver foi
encontrado como se estivesse a dormir. Cremaram-no imediatamente.
Curiosamente, após a destruição do corpo da vampira, uma seca que grassava a
região teve fim. Outra
história de vampiros na China é a que se segue. Uma mulher foi acordar seu
marido e, ao entrar em seu quarto, viu-o sem cabeça. Não havia uma gota de
sangue em nenhum lugar, o que era muito estranho devido à decapitação, que
faria o quarto estar encharcado de sangue. Ela chamou as autoridades e foi
detida como a principal suspeita, apesar de alegar inocência. Algum tempo
depois, um lenhador encontrou um caixão semi-escondido pela vegetação, mas
com a tampa parcialmente levantada. Ele ficou tomado de receio e chamou
várias pessoas para juntos averiguarem o conteúdo. Dentro estava um cadáver,
mas com aspecto de vivo, e tinha um semblante horripilante. Sua boca tinha
dentes pontiagudos e vertia uma espuma avermelhada. Nas suas mãos estava a
cabeça do marido infeliz. Eles chamaram as autoridades; um guarda armado veio
rápido, antes do pôr-do-Sol. Os braços do vampiro tiveram que ser cortados
para libertar a cabeça, e o sangue escorreu em profusão. Tudo foi queimado, e
a mulher liberta. Malásia
Na Malásia
encontramos uma infinidade de vampiros; até os dias de hoje eles se fazem
presentes no folclore. Um tipo de vampiro malaio está associado à actividade
de um feiticeiro, que faz seus ataques enquanto dorme. O Mauri (a designação
deste tipo de vampiro) entra sorrateira casa adentro até o peito de sua
vítima, onde chupa o sangue. Esse feiticeiro pode continuar suas actividades
após a morte, pois há casos de cadáveres que adoptaram essa conduta. Outros
vampiros são o Bajang e o Langsuir. O Bajang lembra um furão enquanto o
Langsuir é similar à Strix Romana. Para libertar-se dos ataques do Bajang,
uma curandeira é chamada. A vítima sofre convulsões, delírios e mais uma
infinidade de mazelas. A curandeira induzirá a vítima, no momento do suposto
ataque, ao relatar o que está ocorrendo, e dessa forma detectará o vampiro. Sendo
confirmado o vampiro, este era morto, mas, com a dominação britânica, a
execução foi proibida. O Langsuir é uma mulher que morreu no parto, sendo que
o Langsuir original adquiriu o vampirismo ao ver que seu bebê havia nascido
morto. Quando uma mulher morria no parto, ao ser enterrada, ovos foram
colocados embaixo de suas axilas, suas mãos eram fixadas com agulhas e contas
colocadas em sua boca. Dessa forma, tinha-se a crença que ela não se
transformaria em vampira. Outras
formas de vampiros eram o Penanggalan e o Pontianak. O Pontianak é um
natimorto como o Ustrel descrito por James Fraser. Aparece também como uma
coruja, fazendo par com sua mãe Langsuir. Na península malaia, esses nomes,
em algumas localidades, eram trocados — ora o Pontianak era a mãe, ora o
inverso. A criança natimorta recebia o mesmo tratamento da mãe. Os malaios
têm toda um ritualística para proteger mulheres e crianças dos ataques de
vampiros. O
Penanggalan é um estranho vampiro, ou melhor, vampira, que tem o intestino e
o estômago expostos. Ele voa sobre habitações atrás de crianças. Uma
descrição interessante de um nativo sobre o Penanggalan foi tomada por Walter
Skeat em seu livro Malay Magic. Vamos a ela. No
princípio, o Penanggalan era uma mulher. Ela aprendeu as artes mágicas
directamente com um demónio, e se colocou a serviço dele com afinco. Passado
o prazo acertado, ela pôde voar, ou parte dela, já que o corpo ficava, e
apenas sua cabeça com os intestinos dependurados voava, em busca de sangue.
Suas vítimas tinham como certa sua morte. Se uma pessoa tocasse o sangue que
gotejava dos intestinos, contrairia uma doença séria e seu corpo ficaria
repleto de feridas. As vítimas prediletas do Penanggalan eram as mulheres no
parto. Para se defender, as portas eram fechadas e espinhos espalhados, nos
quais a vampira prenderia seus intestinos. Na
Polinésia, os vampiros deixavam as suas sepulturas para se refastelar com os
vivos, devorando-lhes o coração. Além disso, feiticeiros comiam a carne do
morto, criando dessa forma uma ligação com a alma do falecido, e essa ligação
era usada contra as vítimas do feiticeiro, que então sugaria a vitalidade do
vivo. Os
mongóis foram um dos povos que atravessaram o Leste Europeu juntando suas
tradições ocultas ao já extenso folclore local. Não podemos deixar de pensar
que os mongóis tiveram contacto com a Índia, Tibete, China, e uma infinidade
de países entre a Europa e a Ásia. E sabemos com certeza que na sua mitologia
havia entidades vampíricas. A entrada dos mongóis no continente europeu se
deu pelas terras do Leste Europeu. Leste
Europeu Montague
Summers narra a viagem de três cavalheiros ingleses, em 1734, pelo Leste
Europeu. Eles ouvem a narrativa do Barão Valvasor dizendo que algumas partes
do país sofriam uma terrível epidemia de vampiros. Os cavalheiros escutam que
os vampiros são os corpos de pessoas falecidas, animadas por espíritos que se
esgueiram para fora das sepulturas à noite. Esses seres vivem de se alimentar
do sangue dos vivos. Não há lugar mais associado ao vampiro que o Leste
Europeu. Por mais que sejam religiosamente diferentes, eles dividiram uma
mitologia e centenas de casos de vampirismo. Os
primitivos eslavos tinham como divindade, dentre outras, Swetovid, o olho do
mundo, deus negro, criador do bem e do mal. As cordilheiras dos Montes
Cárpatos, desde Brabilow até a Valáquia e Saxônia, separavam-nos das hordas
invasoras — os hunos, ávaros e búlgaros. Se, por um lado, os Cárpatos não os
deixaram ser destruídos, por outro, os povos que atravessavam a região
propiciavam uma mescla de culturas e folclore. Eles tiveram uma grande
mitologia ligada ao vampiro, que de uma forma ou outra influenciou e foi
influenciada por povos vizinhos. Na Albânia, o Vampiro era conhecido como
Kukuthi, Kukudhi, Lugat, Vorkolaka. Há a crença, na Albânia, de que se o
vampiro não for descoberto, por mais de trinta anos, ele adquire a capacidade
de andar à luz do Sol. Leva, a partir desse tempo, uma vida de humano — este
é o Kukudhi. A sua destruição é ou pela tradicional via da estaca e do fogo
ou pelos lobos. Fora esse tipo de vampiros, os albaneses também conhecem o
Vrykolakas. Na
Bulgária há o Vorkolaka, a alma de um criminoso que assombra o local de sua
morte, atacando e sugando o sangue dos que passam nas imediações. O Vorkolaka
é urna alma presa à terra, não podendo ir nem para o céu nem para o inferno.
O local é liberto da maldição com cerimónias religiosas e erguendo-se uma
cruz no local. Outra
forma de vampiro na Bulgária é o Obour, que nove dias após seu sepultamento
já emite seus primeiros sinais. A princípio como um fogo fátuo que brilha na
escuridão; quando passa por uma luz, uma leve sombra é projectada. Depois
disso, faz um enorme estardalhaço, agindo como um poltergeist, destruindo
pertences das pessoas e cuspindo sangue. Após quarenta dias, o Obour adquire
aparência humana sólida, podendo levar a vida de uma “pessoa normal”. Para
destruir o Obour, ele deveria ser atraído por iguarias que lhe excitassem o
paladar, como excremento humano, por exemplo. Isso era colocado dentro de uma
garrafa, e quando ele entrasse nela seria arrolhado e destruído. Ícones
sagrados podiam ser usados para compeli-lo a entrar na garrafa. Ustrel,
de acordo com James Fraser em Ramo d'Ouw, é uma criança nascida num sábado,
que morre sem baptismo. Nove dias após o enterro, o Ustrel sai de sua
sepultura e volta seu apetite contra um rebanho de gado que esteja nas
redondezas. Quando está suficientemente forte, não precisa voltar mais à
sepultura, morando nos corpos dos animais, ora nos chifres de um touro, ora
no úbere de uma vaca, ora na lã de um carneiro. Para combatê-lo, os aldeões
fazem num sábado duas grandes fogueiras numa encruzilhada, ossos são
colocados por onde todos os rebanhos passam, e todos os outros fogos da
comunidade são apagados. Quando
a manada vai passando entre as duas fogueiras, o Ustrel se lança de seu
animal hospedeiro e cai na encruzilhada. O local deve ser frequentado por
lobos, para que dessa forma a alcatéia destrua e devore o Ustrel. Os búlgaros
também acreditavam que o vampiro podia deixar descendência, fruto do
morto-vivo com uma mulher. Essa criança seria provida de dotes paranormais
muito estimados para detecção e destruição do Vampiro. Na
Eslováquia há o Nelapsi, um predador de gado e seres humanos, que pode trazer
uma peste e dizimar populações inteiras. No distrito de Zemplin, os aldeões
crêem que o vampiro tem dois corações e duas almas. As pesquisas sobre o
Nelapsi foram feitas por Jan Mjartan em uma viagem ao campo em 1949, e os
resultados foram publicados com o nome de
Povery de Vampirskev Zempline. Na
Polônia Oriental, o nome mais comum para um vampiro era Upier ou Upior. Os
mesmos nomes podem ser achados nos países vizinhos da Ucrânia e Bielorússia.
O vampiro polaco mantém estreita semelhança com os vampiros das nações
vizinhas. Dom
Augustine Calmet descreve a acção deste tipo de vampiros: “O oupire come a
mortalha feita de linho, que o envolve, como primeiro passo de seu
reavivamento. O oupire pode aparecer do meio-dia à meia-noite. A noite, ele
ataca seus amigos e especialmente seus parentes, abraçando-os e sugando-lhes
o sangue. O modo para destruir um oupire é exumar o cadáver e então
decapitá-lo e abrir seu coração.” O
sangue que escorria do ferimento servia para curar as vítimas dos ataques.
Essa prática não se restringia à Polónia, já que na Roménia se comiam pedaços
do vampiro, em especial cinzas do coração. Além do Upier havia a Upierzyca,
sua contraparte feminina. Na exumação do Upier, o cadáver muitas vezes
apresentava movimento dos olhos, língua e um bom estado de conservação geral.
Além de devorar a própria mortalha, devorava inclusive partes de seu próprio
corpo. John
Heinrich Zopfius, em sua Dissertação sobre Vampiros Sérvios, de 1733, diz: “Vampiros
vagam à noite, saindo de suas sepulturas, e atacam pessoas que dormem
tranquilamente nas suas camas, sugam todo o sangue de seus corpos e os matam.
Eles atacaram homens, mulheres e crianças, não poupando idade nem sexo. Esses
que estão sob a malignidade fatal da influência dos vampiros reclamam de
sufocação a uma deficiência total, depois das quais eles logo expiram. Alguns
a quem, quando às portas da morte, foi perguntado se poderiam contar o que
estava causando seu falecimento, respondiam que o morto retornou da tumba
para retirar a vida dos vivos.” Para
os sérvios, um lobisomem em vida seria um vampiro na morte, e assim os dois
são muito proximamente relacionados. Alguns distritos pensaram até mesmo que
pessoas que comiam a carne de uma ovelha morta por um lobo poderiam se tornar
vampiros depois de morrer. Porém, os eslavos mantinham bem distintos os dois
termos, sendo vampiro o morto que retorna para atacar os vivos e lobisomem
alguém que se transforma em lobo. Havia também o Mahr que, ao que tudo
indica, era a alma de alguém que retornava em busca de sangue. Poderia atacar
parentes ou não. O Mahr, que podia inclusive estar vivo, causaria obsessão. O
modo de destruí-lo é similar ao de outros vampiros, achando sua toca e
expondo-o à luz solar, e cravando uma estaca em seu coração. Na Bulgária, são
chamados Morava; na Polônia, Mora. África
e Países com Influência Africana Na
África, o fenómeno do vampirismo está intimamente ligado à magia e à feitiçaria.
Contrariando a opinião de alguns autores, o vampiro era bem conhecido dos
africanos, e para confirmar essa afirmação basta analisar a cultura africana
e dos países onde houve influência africana, como o Haiti. Asasabonsam
é um vampiro encontrado no folclore Ashanti, que vive no âmago das florestas
e tem forma humana. Só é avistado por caçadores que se aventuram nesses
territórios. Ele ataca puxando suas vítimas para o alto das árvores. Obayifo
é um feiticeiro (a) que deixa seu corpo para sugar o sangue. As crianças são
suas vítimas principais. Eles permanecem incógnitos na comunidade. Quando
saem do corpo, fazem-no na forma de uma bola de luz. No Haiti, Luisiana e
Jamaica, devido ao vodu e ao sincretismo (sendo o próprio vodu fruto do
sincretismo), onde inúmeras influências se encontram culminando em uma
tradição mágica poderosa e eclética, a figura do vampiro está intimamente
ligada a práticas mágicas, com nítida influência africana. Em
Granada, é chamado Loogaroo, uma corruptela de Loupgarou, lobisomem em
francês. Os Loogaroos geralmente eram mulheres praticantes das artes mágicas.
Todas as noites, elas saíam em busca do sangue de suas vítimas, deixando seu
próprio corpo na forma de uma bola de fogo. Qualquer fresta já era suficiente
para o vampiro entrar, mas uma maneira de desviar o ataque, mais uma vez, era
colocar arroz ou outra semente qualquer, pois o Loogaroo ficara entretido
contando. O Loogaroo ataca também a criação, em especial a de cavalos. Mesopotâmia
Mesopotâmia,
ou vale entre rios, no caso o Tigre e o Eufrates, foi o berço de inúmeras
civilizações: assírios, babilónicos, sumerianos, acadianos, entre outros.
Esses povos tinham uma extensa mitologia e demonologia. O enfoque dado até
hoje em inúmeros tratados sobre demónios nos faz lembrar os mesopotâmicos.
Para eles, os seres demoníacos eram terríveis, poderosos e assustadores.
Dentre todos, um demónio feminino terá vital importância para a vampirologia:
Lilith. Montague Summers narra o conteúdo de uma plaqueta sumeriana em que Lilith
é o tema. Summers
cita Dr. R. Campbell-Thompson, dizendo que muito possivelmente o objectivo da
plaqueta seria proteger contra as visitas nocturnas de Lilith e suas irmãs. O
tema Lilith será uma constante em praticamente todo este livro, mas especialmente
no Capítulo V. Ir para vampiros
(Fonte:
Vampiros Rituais de Sangue, de Marcos Torrigo, cap1.)
.... |
Anúncios a&e : Trabalhos de Magia Negra ou Branca Amarrações, feitiços para dinheiro, amarrar
amor, rituais. Relatos verídicos. Veja:
magianegra.com.pt
|
Portal
astrologia e esoterismo