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Espaço dedicado à Wicca
Saturno (Cronos)
Segundo filho de Urano e da antiga Vesta, ou do Céu e da
Terra, Saturno, depois de haver destronado o pai, obteve de seu irmão
primogênito, Titã, o direito de reinar em seu lugar. Mas Titã impôs uma
condição: a de Saturno fazer morrer toda a sua posteridade masculina, a fim
de que a sucessão ao trono fosse reservada aos seus filhos. Saturno esposou
Rea, de quem teve muitos filhos, os quais devorou avidamente, conforme
combinara com o irmão. Além disso, sabendo que um dia ele próprio seria
derrubado do trono por um de seus filhos, exigia que sua esposa lhe
entregasse os recém-nascidos. Entretanto, Rea conseguiu salvar Júpiter, que
já grande, declarou guerra ao pai, venceu-o e, depois de o haver tratado como
fora Urano por seus filhos, afastou-o do céu. Assim a dinastia de Saturno
continuou em prejuízo daquela de Titã.
Saturno teve três filhos de Rea que esta conseguiu esconder: Júpiter (Zeus),
Netuno (Posêidon) e Plutão (Hades), e uma filha, Juno (Hera), irmã gêmea e
esposa de Júpiter. Alguns autores acrescentam Vesta, deusa do fogo, e Ceres,
deusa das searas, ao número de filhas de Saturno e Rea. Saturno teve com
muitas outras mulheres um grande número de filhos, como, por exemplo, o
centauro Quíron, filho da ninfa Filira, o mentor da maior parte dos heróis
gregos.
Conta-se que Saturno, destronado por seu filho Júpiter e reduzido à condição
de simples mortal, foi refugiar-se na Itália, no Lácio, onde reuniu os homens
ferozes, esparsos nas montanhas, e lhes deu leis. Seu reinado, embora
represente o chumbo, foi a Idade do Ouro, sendo os seus pacíficos súditos
governados com doçura. Foi restabelecida a igualdade de condições; nenhum
homem servia a outro como criado; ninguém possuía coisa alguma exclusivamente
para si; tudo era bem comum, como se todo mundo tivesse tido a mesma herança.
Para lembrar esses tempos felizes celebravam-se, em Roma, as Saturnais. Essas
festas, cuja instituição remontava a um passado muito além da fundação da
cidade, consistiam sobretudo em representar a igualdade que primitivamente
reinava entre os homens. Começavam as Saturnais no dia 16 de dezembro de cada
ano; a princípio só duravam um dia, mas ordenou o Imperador Augusto que
durassem três; Calígula aumentou-lhes vinte e quatro horas. Durante essas
festas o poder dos senhores sobre os escravos era suspenso, e estes tinham
inteiramente livres a palavra e as ações. Tudo era prazer, tudo era alegria;
nos tribunais e nas escolas havia férias; era proibido empreender uma guerra,
executar um criminoso ou exercer outra arte além da culinária; havia troca de
presentes e suntuosos banquetes eram realizados. De mais a mais, todos os
habitantes da cidade paravam as suas tarefas e toda a população se dirigia ao
monte Aventino para respirar o ar do campo. Os escravos podiam criticar os
defeitos dos senhores, fazer-lhes caçoadas e, nesses dias, eram os senhores
que serviam os escravos à mesa.
Em grego, Saturno é designado pelo nome de Cronos, que quer dizer
"tempo". A alegoria é transparente nessa fábula de Saturno; esse
deus que devora os filhos é, diz Cícero, o Tempo. O Tempo que se não sacia
dos anos e que consome todos aqueles que passam. A fim de contê-lo, Júpiter o
acorrentou, ou seja, submeteu-o ao curso dos astros, que são como laços que o
prendem, isto é, sujeitou-o ao Destino, pois no Tempo é que este último
desempenha sua tarefa, e sem o jugo jupiteriano seria impossível, ademais,
que o Destino cumprisse sua tarefa.
Os cartagineses ofereciam a Saturno sacrifícios humanos; as vítimas eram
crianças recém-nascidas. Em Roma, o templo elevado a esse deus no Capitólio
foi depósito do tesouro público, em lembrança de que no tempo de Saturno, na
Idade do Ouro, não se cometiam furtos. Sua estátua permanecia amarrada com
correntes, que só eram retiradas em dezembro, durante as Saturnais.
Saturno era geralmente representado como um velho curvado ao peso dos anos,
erguendo na mão uma foice para mostrar que preside o tempo. Em São Paulo, no
muro externo do cemitério do Araçá, há uma escultura que o representa velho
com a ampulheta aos pés para recordar aos passantes que Tempus fugit
(o tempo passa). Em muitos monumentos, é apresentado com um véu, sem dúvida
porque os tempos são obscuros e cobertos de um segredo impenetrável, que só o
Destino ou Fado pode desvendar. Com um globo na cabeça representa o planeta
Saturno. Em uma gravura etrusca é representado com asas e a foice pousada
sobre um globo; é assim que representamos sempre o Tempo.
Em seu Estudos de Iconologia - Temas Humanísticos na Arte do Renascimento,
Panofsky assim se expressa:
"Na arte do Renascimento e do Barroco, o Pai Tempo tem
geralmente asas e está quase sempre despido. A foice e a gadanha, os seus
atributos mais freqüentes, são por vezes acompanhadas - ou substituídas - por
uma ampulheta, uma serpente ou dragão mordendo a cauda, ou o zodíaco; e,
nalguns casos, anda de muletas.
Algumas das características destas imagens mais elaboradas podem encontrar-se
em representações clássicas ou da Antigüidade tardia da idéia de Tempo; mas
nenhuma das combinações específicas que constituem tipo do Pai Tempo no
sentido moderno da palavra se encontram na arte antiga. Nela encontramos,
grosso modo, dois tipos principais de concepções e de imagens. Por um lado,
existem as imagens do tempo como 'Kairos', ou seja, o momento breve e
decisivo que marca um ponto crucial na vida dos seres humanos ou no
desenvolvimento do Universo. Este conceito era ilustrado pela figura
conhecida vulgarmente como a Oportunidade. A Oportunidade era representada
por um homem (a princípio nu) num movimento de fuga, normalmente jovem e
nunca muito velho, apesar de o tempo ser às vezes chamado 'de cabelos
grisalhos' na poesia grega. Estava provido de asas nos ombros e nos
tornozelos. Os seus atributos eram uma lança, originalmente em equilíbrio no
gume da uma faca, e, num período mais tardio, uma ou duas rodas. Além disso,
a sua cabeça exibia amiúde a proverbial madeixa pela qual se pode apanhar a
Oportunidade, calva. Foi devido a este carácter obscuramente alegórico que a
figura de Kairos ou Oportunidade atraía o espírito dos fins da Antigüidade e
da Idade Média. Sobreviveu até o século XI e depois tendeu a fundir-se com a
figura da Fortuna, fusão favorecida pelo fato de a palavra latina para
Kairos, ou seja, occasio, ser do mesmo gênero que fortuna.
Por outro lado, uma idéia exatamente contrária à de Kairos também é
representada na arte antiga: refiro-me ao conceito iraniano do Tempo como
'Aion', ou seja, o princípio ativo da criatividade eterna e inesgotável.
Estas imagens ou estão relacionadas com o culto de Mitra, caso em que mostram
uma figura severa e alada com cabeça e garras de leão, estreitamente
envolvida por uma grande serpente e levando uma chave em cada mão, ou
representam a divindade órfica conhecida normalmente como Fanes, caso em que
mostram um belo jovem alado, rodeado pelo zodíaco e provido com muitos
atributos de poder cósmico, (também ele está rodeado pelos anéis de uma
serpente).
Em nenhuma dessas representações antigas encontramos o relógio de areia, a
foice ou a gadanha, as muletas ou qualquer outro sinal característico de
velhice. Por outras palavras, as imagens antigas do Tempo são caracterizadas
quer por símbolos duma velocidade fugaz de equilíbrio precário, quer por
símbolos de poder universal e fertilidade infinita, mas não por símbolos de
decadência ou destruição. Como foram então introduzidos estes atributos
específicos do Pai Tempo?
A resposta reside no fato de a expressão grega para o tempo, Chronos,
ser muito parecida com o nome Kronos (o Saturno romano), o mais velho e o
mais temido dos deuses. Como patrono da agricultura trazia geralmente uma
foice. Como o mais velho membro do Panteão grego e romano, era
profissionalmente velho e, mais tarde, quando as grandes divindades clássicas
foram identificadas com os planetas, Saturno foi associado ao longínquo e
mais lento de todos".
A Saturno foi dedicado o sábado (Saturni dies).
Fonte: “Mitologia
Greco-Romana – Arquetipos dos Deuses e Herois”, de Márcio Pugliesi
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